AD SENSE

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Causos do Apolônio Lacerda - O jantar de Galinhas

Apolônio Lacerda, o Coiso 

O jantar de galinhas

Apolônio era conhecido por sua notória rapinagem. Sovina, pão duro, mão de vaca, rapace, seja o termo que for, o homem sofria muito para abrir a mão. Ou pior: não abria nunca a mão toda. Deixava uma fresta com o indicador aberto, o dedo médio querendo abrir, e o polegar regulando os demais. Tremia feito vara verde, ao ver uma moeda ou cédula saindo do seu bolso. Não era incomum ver-se uma lágima vertendo nestas ocasiões.
Um dia, porém, num lampejo de generosidade exacerbada, Apolônio chega no rancho de Carsulina, e avisa:
-  Amanhã, em meu estabelecimento, tereis um lauto banquete, senhôra! Teremos galinhas...
Nem pode terminar a frase e ganhou um abraço bem apertado da velhota, que gargalhava, batia com a palma da mão na mesa e repetia:
-Que almaaaa se salvaria, compadre? Que allmaaa (esticava a palavra “alma” com sonoridade e volteios) se salvaria? Tarei lá, compadre. Tarei lá.
- Dou-me por satisfeito, senhora! Também haverão mais comensais, seguro que haverão!
No dia seguinte, na hora combinada, a mesa estava servida com água, pão, e... bem. Havia água e pão. Apolônio então, quase sorridente e educado, faz um maneirismo e conduz os convidados à mesa.
Todos sentados, olhando para o pão velho, a água, olhavam-se entre si e olhavam para ele, com ar de interrogação. Nisso, entra o Birruga e pergunta:

- Já posso trazer as galinhas, tio Apolônio?
- Não, jovem. As pessoas ainda nem começaram a comer.
Nem foi preciso esperar falar pela segunda vez, e estavam todos de boca cheia de pão e bebendo água para ajudar a descer. Meia dúzia de mastigadas e só estavam algumas migalhas à mesa.
Apolônio estiva a cabeça e berra para o Birruga:

- Jovem! Traga as galinhas!
Todos arregalam os olhos e sorriem, esperançosos. Mas não dura muito. Poucos instantes depois, entra Birruga, com duas galinhos debaixo de braço e as solta sobre a mesa para que comam as migalhas que sobraram do banquete....


Causos do Apolônio Lacerda são causos apenas. Se alguém se ofender por que algum se assemelhe à sua história pessoal, peça desculpas ao Apolônio por plagiá-lo desavergonhadamente.

Porque não somos mais felizes como antigamente



Eu sou uma pessoa relativamente feliz. Não do tipo "bobo alegre", mas me contento com o sabor sutil das notas da fragrância da felicidade contida em cada perfume que aspiro todos os dias. Sou capaz de me sentir bem até em velório, pois considero as vantagens de estar de pé e não  deitado, ou sendo alguém muito querido, considero aquele momento apenas um breve até logo e não um adeus  definitivo. Portanto, ser feliz, não é uma questão apenas de ter ou ser, mas de simplesmente viver.

Sou velho, e já fui moço, dizia o sábio, que concluía dizendo jamais ter visto um justo a mendigar o pão, posto que aquele que busca na vida apenas o pão, o que vier a mais será lucro e luxo. Mas ainda assim, por que não somos mais  felizes do que éramos antigamente?

Creio que há muitas respostas: a primeira está em saber que antigamente éramos jovens, e jovem não tem tempo para ser infeliz. E mesmo assim, muitos o são. E ainda assim, ao chegarem à idade das lembranças, perceberão que havia um pouco, alguns raios perdidos de felicidade em torno de si, que só foram percebidos pelas lembranças do que já não volta mais.

Então, qualquer resposta que eu der, será muito subjetiva, porque a felicidade tem formas e pesos diferentes em diferentes lugares. A felicidade para uma criança na Suíça, por exemplo, é brincar pelas praças coloridas, esperando que cresçam logo para pagarem com satisfação seus impostos. A felicidade para uma menina na Arábia Saudita é a esperança que nunca cresça, ou quando isso acontecer, que tenha um ventre volumoso para conceber muitos filhos ao seu marido e senhor. A felicidade para um menino de cinco anos é poder brincar na piscina de bolinhas até que venha o sono e ninguém o obrigue a dormir. A felicidade para um menino de cinco anos na Síria é dormir e acordar ouvindo apenas o silêncio (pois passarinhos eles nem sabem o que é).

Então, não serei genérico, e vou concentrar minhas reflexões sobre ser feliz em Gramado, afinal, apesar de ter que provar a um ou outro burocrata alienígena de vez em quando, sim, eu sou gramadense, não de nascimento, mas de coração e ancestralidade.

O que é "ser feliz em Gramado"? Vou descrever minha historia, com brevidade. Pela natureza de meu trabalho e escolhas de vida, tenho que viajar muito. Isso faço há muitos anos. Então, mesmo tendo uma vida formal em Gramado, embora minha última  residência estivesse instalada a alguns poucos metros, já dentro do município de Canela, era em Gramado que eu  centralizava minha vida e afazeres. Mas antes disso, sempre vivi em Gramado mesmo. Quando menino, morava no final da Avenida Borges de Medeiros. Minha escola ficava no  centro, onde fica ainda hoje. Saía de casa todos os dias pela manhã, ou à noite, mais  tarde, e atravessava a avenida, cumprimentando muitas pessoas, em suas casas. Apertava campainhas, as poucas que haviam pelo caminho, e saía correndo, junto com meus amigos. Tomava café e comia um sonho ou torta de ricota, batia papo com os mesmos daquele horário, falava mal do governo com uns, combinava uma festa com outros, ouvia reclamações de alguém, reclamava com mais alguém, e a vida era assim.

A vida das pessoas era quase medíocre, se analisarmos pelo entendimento criativo evolutivo. As pessoas acordavam, tomavam café, saíam para o trabalho, voltavam, trabalhavam duro a semana inteira. Nos fins de semana, culto, missa, futebol com os amigos, um churrasquinho, um almoço na casa da tia, um encontro com os primos, os irmãos, os amigos. O fim de semana era um tempo sagrado. Reservado para os amigos e a família. Reservado para adoração à Deus, fosse ela católica, adventista ou protestante. Eram as religiões existentes. Eram os dias mais felizes que tínhamos na vida. A felicidade tinha data marcada. A vida tinha hora marcada com nossa historia. Nós tínhamos hora marcada para chegar em casa, e hora marcada para sairmos todos os dias. 

Conhecíamos todas as pessoas pelo nome. Todas nos conheciam pelo nosso nome. Uma traquinagem tinha castigo certo, porque conheciam nossos pais, e nossos pais conheciam nossas travessuras. Nossas mães conheciam a espessura do pão que nos serviam com "chimia" e nata. Não  eram pães fininhos. Eram espessos e saborosos, perfumados, nutritivos. 

Não  havia vadiagem em Gramado, pois todos eram fiscais do bem estar da comunidade. Quando não estávamos na escola, éramos empregados temporários nas fábricas de doces ou vime. Havia sim hora de brincar. Finalzinho da tarde. E nos fins de semana. Tínhamos compromisso sério com a pelada e as farras domingueiras. Assim éramos felizes. E sabíamos.

O tempo passou. Gramado cresceu. Descobriu o turismo. Enriqueceu. Tornou-se famosa. Nós crescemos. Descobrimos que havia uma brecha no  descanso dos outros por onde poderíamos enriquecer: os fins de semana! Muitos enriqueceram. A si mesmos e à sociedade. Gramado tornou-se uma sociedade rica, glamourosa, notável. Modelo para o Brasil. Copiada, desejada, sonhada. E infeliz.

Passei muitos anos sem ir à Gramado, e quando fui, fiquei assustado. Encolhido. Temeroso. A imponência das edificações me sobrepujava. A beleza das ruas me embevecia. A riqueza das vitrines me humilhava. O perfume das ruas me inebriava. E a saudade me corroía. Caminhava pelas ruas e não via as casas de minha lembrança. 

Está  bem, casas são apenas casas. Mas onde estavam as pessoas que habitavam aquelas casas? Muitos descansavam na eternidade. Outros, viviam enclausurados no progresso, sem paredes para perpetuarem suas lembranças. E eu caminhava pelas ruas e perguntava: onde estão todos? Onde estava eu quando isso tudo aconteceu?

Gramado não tem mais feriados para si mesma. Não  tem mais sábados nem domingos. Gramado  não tem mais pessoas na janela cumprimentando a quem passa. Não tem mais o pastel de carne do café  cacique para abastecer a fofoca da cidade. Não tem mais a pracinha bucólica onde os conhecidos se encontravam para o chimarrão. Injustiça a minha. Gramado tem tudo isso, só que de roupa nova, mais bonita, mais elegante. Tem mais cafés e bares, mais bistrôs, mais flores, mais perfumes nas ruas, mas gente para dar "bom dia". Então por que não somos mais felizes do que éramos antes, se tudo se multiplicou?

Porque vendemos nosso bem mais precioso, criado para servir ao Homem: O tempo. Há uma quadrinha que diz: O  tempo não me dá tempo, de bem o  tempo fruir, e nesta falta de tempo, nem vejo o tempo fugir! Vendemos nosso tempo. Vendemos nossa alma, que eram os encontros. Vendemos nossa família, porque os entregamos e nos entregamos a oferecer prazer às famílias dos outros, porque elas nos pagam por isso. Nossos sábados e nossos domingos não são mais nossos, são  delas. Nosso sorriso não é mais de nossos amigos, mas de nossos hóspedes. Nosso "bom dia" é técnico, obrigatório, profissional. Talvez por isso tenhamos mais "antigamentes" do que tínhamos antigamente. Só para sermos um pouco mais felizes. Mesmo que seja nas lembranças. Entre um hóspede e outro.





terça-feira, 22 de novembro de 2016

Você realmente quer um cargo público?




Toda honraria tem um preço, e às vezes, muitas vezes, o preço é alto. Somo humanos, frágeis no caráter e sensíveis nas necessidades. Somos "casca-grossa" no sofrimento, mas muitas vezes fracos como papel de arroz na tentação. 

O que nos derruba do pedestal da glória não é a dor, mas o detalhe. Para estarmos lá, carregamos pedras nas costas, mas deixamos de costurar os bolsos por onde levamos a fina areia. Desejamos a fama e o poder, mas esquecemos que junto dela vem a cobrança desmesurada dos que desejariam estar em nosso lugar.

Não tenho nenhuma base para dizer o que vou dizer. É apenas palpite meu. Sem fontes. Uma ilação, vou admitir. Mas penso no porquê do silêncio de Fedoca e Evandro para formarem sua equipe. Não acredito, sinceramente, que estejam preparando uma surpresa bombástica em relação à nomes, deste ou daquele possível Secretário, ou alto escalão. Não estão. Simplesmente porque não existem tais nomes. Não existem "Pop Stars" disponíveis para as circunstâncias e para ocuparem tais funções. Todos os bons nomes são conhecidos em Gramado. E faço a leitura que, pelas circunstâncias da longeva administração, e pelos altos salários, alguns dos nomes desta envergadura já tenham sido aproveitados pela atual administração e seus antecessores. Então, repito: Não haverá nenhuma surpresa, porque também possíveis nomes com competência, já estão muito bem colocados em suas carreiras profissionais, e a política não lhes desperta muito interesse. Conheço muitos profissionais de primeira envergadura em Gramado que certamente cumpririam com êxito qualquer função dentro de suas competências que lhes fosse outorgada. Mas não querem se promiscuir com a vida pública, na velha crença que o poder corrompe, ou proporciona oportunidade para que fale o corrupto dentro de cada um. Não estão errados. Trocar o certo pelo inconsistente é um erro de cálculo. E as universidades não preparam pessoas para a vida pública, exceto também funções específicas. Mas estamos falando de cargos, chefias, secretarias, benesses que a caneta do Prefeito pode gerar.

Então, Fedoca não tem gente para preencher a tabelinha de funções. Não tem. Assim como Nelson Dinnebier, em determinado tempo também Não tinha. E Pedro Bala também não os teve. E Nestor, a mesma coisa. Então, estão  faltando pessoas que combinem capacidade com confiança do Prefeito eleito, e anuência dos aliados. Tem mais isso. O Prefeito manda, o partido desmanda, e os aliados fazem barulho. E Fedoca não vai começar o mandato dando canetaço. Mas não vai mesmo. Vai cozinhar em fogo lento e observar o comportamento dos aliados (os adversários que se lasquem), para devagarinho instituir seu modo de governo, se é que tenha algum até o momento, ou está ainda lambendo a gengiva do banquete da vitória.
Faço então a pergunta do título à você, que está coçando para ganhar um carguinho ao lado do novo comando de Gramado: Quer mesmo este cargo? Está preparado (a) para assumir o posto de saco de pancadas da imprensa, da oposição, dos partidos (que não são  o seu, e por isso estarão de olho nas suas rateadas, pois não se esqueça que a oposição sabe que não vai ganhar o seu cargo, e vai se concentrar na coisa pública de forma mais abrangente, mas seus aliados serão os seus piores pesadelos, pode imprimir isso, guardar num papelzinho e ler todos os dias para não esquecer desta observação)?

A população pegou um gostinho todo especial pela Justiça (alheia). O Poder Judiciário vem dando claras demonstrações que quer depurar a política, e ao assumir um cargo político, o político alvo será você, porque derrubar um prefeito é muito difícil, mas derrubar um cargo comissionado, é um estalar de dedos, uma faísca solta, e o barril no qual você quer se assentar vai explodir. E você vai voar alto, mas sem asas para voltar. Então, vou perguntar de novo:
Você quer mesmo um cargo público? Acha-se indispensável para transformar Gramado naquilo que você prometeu ao seu vizinho, enquanto era cabo eleitoral? Tem certeza que vai suportar as críticas que virão no exercício da função? Seu emprego estará garantido quando for demitido em circunstâncias que terá que se explicar, e provar sua inocência por muito tempo após esta eventual demissão? Saberá suportar a ideia de perder o emprego, mas também as amizades dentro do próprio Partido, que irão tratá-lo como "persona non grata", uma vez que "se foi  demitido, alguma coisa fez"?


Se responder "sim" à tudo, parabéns. Você está preparado para servir de saco de pancadas e será um ótimo administrador público. E terá um salário condizente com seu cargo (independente da sua produtividade), por quatro anos.

Elegia à Mediocridade



Nobre Edil, que em sutil ardil
leva ao seu covil
as virtudes que tens.
Pobre de mente,
mas mente o demente
engana a si
e aos outros também.

Pacard


Minha avó era uma velhinha de grande sabedoria. Ensinou-me a respeitar, acatar e temer as autoridades, porque lá estão por permissão divina. Não são divinos. Alguns até diabólicos o são. Mas mesmo assim, são autoridades e merecem respeito. E eu as respeito também. Mesmo que não concorde com seus métodos, seu caráter e seus malfeitos, quando for o caso. Louvo aos bons, e critico os mais afoitos. Critico, no entanto as ideias, e as atitudes. jamais a pessoa. Isso também aprendi de minha velha e sábia avó. Viveu em paz até quase cem anos. Mas jamais dobrou a espinha nem baixou a cabeça para prepotência. Eu faço o mesmo.

Minha reflexão de hoje está endereçada aos edís. Às "éminences grises" que se esvaem em abraços em busca de sufrágios, para que num quadriênio eternal possam regurgitar verborrágicos impropérios e elegias à própria mediocridade, elevando-se à crença que isso os torna loquazes e, como tais, ainda mais viris ou sensuais. 

Evidente que não são todos. Assim o fosse, voltaríamos às cavernas e nossa comunicação seria por grunhidos e lambidas (evidente que é uma ironia, pois não acredito que tal civilização tenha sido a origem de tudo, embora certas sessões ordinárias de legisladores me levem a pensar que eu deva reconsiderar meus conceitos a respeito da historia.

Há edis eruditos, respeitosos e respeitáveis, a quem me curvo em reverência à sua índole e brilhantismo. Eu os conheço bem. Assim como conheço também os ogros que se fantasiam com imponência, mas o bafo que deixam nos microfones é inconfundível, pútrido, não pelas pobres bactérias salivares, mas pelos absurdos e vazios que conseguem enfiar nos mesmos discursos. Felizmente isso está mudando. Nem tudo está perdido.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A nova oposição



Quando um rei morre, em países onde a monarquia é o regime de governo, o sucessor do rei come à mesa do próprio soberano todos os dias, porque é alguém de sua própria família, geralmente o filho mais velho, o que também não é uma regra, será o próximo rei. O povo sabe que seja quem for o rei que use a cora e assente-se no trono, o povo continuará sendo o povo e o rei, seja ele quem for, continuará a ser o rei. Então, cunhou-se a frase: "O rei (antigo) está morto! Viva o (novo) rei!

Nenhum rio de águas límpidas e calmas é por inteiro cristalino. A terra, detritos, poeira, tudo se decanta no fundo, enquanto as águas permanecerem calmas. Assim é também um movimento político. Dizia Eric Hofer, Pensador norte-americano do Séc. XX, que quem faz uma revolução é a Classe Média. Quando esta classe sente dor de barriga, faz logo uma revolução, porque os miseravelmente pobres não tem tempo sonhar sonhos. Sobreviver é sua verdade presente, e o que passar disso é luxo, ou assunto proibido.Assim, como as águas límpidas do rio, se movimentadas, tornam-se barrentas em poucos instantes, também qualquer tipo de oposição pode perturbar o sossego do momento, e turvar possibilidades de benefícios com o novo poder, em permanecendo límpidas e silenciosas. Assim me parece a atual oposição em Gramado. Quieta, soturna, sorrateira, silenciosa, temerosa, e assustada.

Parece implicância, continuar falando em pós eleição, quando deveria estar falando em nova administração, ou movimentos oposicionistas. Mas a verdade é que nem uma, nem outra, até agora, mostraram cara. Uns, pelo mistério da dificuldade de composição de seu elenco governante. Outra, assustada e temerosa, mas também expectante, haja vista a possibilidade (pouco provável) que muitos nomes possam ser aproveitados no novo governo. Silenciosamente, sorrateiramente, uns e outros se articulam, seja pelos encontros fortuitos e discretos, seja pelo silêncio cortês que visa demonstrar respeito aos vencedores.

Lembro de uma historia que ouvi contar certa ocasião, por um português-angolano, a respeito de algumas espécies de macacos quando se enfrentam em luta por disputa de território ou fêmeas. Um pitoresco faz perceber quem é o dominador, e quem é o dominado, pois os que perderam a luta, viram-se de costas para os vencedores, e num gesto de plena e total submissão, oferecem o traseiro aos vencedores, que cheiram, e vão embora, satisfeitos com o gesto. Ainda bem então que não somos descendentes de macacos, pois se assim o fosse, teríamos situações deveras constrangedoras no mundo político.

Temos então uma nova oposição muito tímida por enquanto, o que causa estranheza, pois para que esta timidez faça sentido, principalmente no período, onde as dores da derrota, ainda deveriam ser lancinantes, esta oposição não faça nenhum tipo de manifestação que demonstre seu  descontentamento, em defesa das ideias que ha bem pouco tempo atrás defendia com unhas e dentes, de forma apaixonada e com uma voracidade que lembrava o despertar de uma revolução. Não  era. Parece ter sido apenas gases. Nada mais.

Temos aqui duas correntes opositoras, que agora parece que se dissipam pela timidez. A primeira, o povo, em geral, que foi aquecido no calor da campanha, e que terminada a festa, recolheu-se aos seus compromissos do dia a dia, porque governe que governe, as contas precisam ser pagas.

De outro lado, aquela oposição ferrenha, feroz, apaixonada, dos que temiam pelos seus empregos, calou-se subitamente, o que faz parte da prudência. Até mesmo porque, conforme já mencionei aqui mesmo em outro comentário, corre o risco de ser convidada a continuar suas atividades (bem remuneradas )dentro do novo governo. Então, sendo assim, "O  rei está morto! viva o rei!". E até que tudo seja acomodado, ou melhor, que todos sejam acomodados ( é uma esperança que resta), silêncio é ouro. Até mesmo para a nova oposição. Mesmo que pífia e oculta.



sábado, 19 de novembro de 2016

Lula, Hitchcok, e Moro



Alfred Hitchcock contou, em uma entrevista, o segredo de seus filmes:  A expectativa. De fato, nos filmes de Hitchcock, sabemos já nos primeiros minutos, quem será o assassino, a vítima, e o modo do crime. O sucesso da bilheteria está então na expectativa que é criada porque não sabemos em qual momento ocorrerá a tragédia.
Conta ele, o cineasta, que descobriu o poder da expectativa, quando era ainda menino, e aprontou uma travessura em casa. Seu pai o chamou, escreveu um bilhete, dobrou, e mandou que ele descesse a rua e entregasse aquele bilhete ao Delegado de Polícia, seu amigo, e que aguardasse pela resposta. O menino obedeceu prontamente, desceu a rua correndo e entregou o bilhete ao delegado, que lendo o conteúdo da carta, tomou o meno pelo braço e o colocou no xadrez até o fim do dia. O conteúdo do bilhete era este pedido do pai.
Conta Hitchcock que foi o dia mais angustiante de sua vida, pois não sabia o que havia na carta, e muito menos o que aconteceria depois.

Acho que o Juiz Moro é fã de Hitchcock. Lula sabe bem disso. Todos sabem, querem, anseiam pela prisão do petista. Moro já tem muito mais elementos para prender Lula do que tinha para prender a corriola de menor monta. E o fez. Desarticulou todos os tentáculos possíveis para que o molusco ficasse encurralado em seu próprio ódio misturado com pavor.

Moro, pacientemente está cozinhando petistas,e peemedebistas, e outros "ístas" em fogo lento. Saboreando o momento. Degustando o pavor dos enjaulados, para que esvaziem suas culpas e confessem tudo o que fizeram, sabem quem fez, ouviram falar do que foi feito, ou imaginaram que alguém pudesse fazer.

Depois que terminar a catarse, o expurgo de pecados, aí então Moro chama o japonês, pois sabe  nele pode confiar, porque sabe onde está em tempo real  (é pra isso que serve uma tornozeleira eletrônica), e determina que traga o convidado de honra: Lula!


Ah, não mencionei Dilma, não foi?  Mas, depois de Lula enjaulado, quem é Dilma?





sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Justiça ou ira?


Muitos podem imaginar que escrevo o que escrevo para patrulhar a política e os políticos. Não faço isso. Não sirvo para tutor moral de ninguém. nem de mim mesmo. Fosse assim, não precisaria ler a Bíblia, Ética do Sinai, ouvir conselhos, observar as pessoas, ou olhar pra mim mesmo, vasculhando pontos por corrigir em minha conduta ou modo de pensar todos os dias. Então minhas reflexões continuam sendo minhas reflexões apenas, e se quem as lê puder se identificar com alguma delas, que as leia novamente e reflita nelas, porque eu também posso estar errado.

Em minhas reflexões, é inegável que as más ou boas  notícias que recebemos todos os dias, no tocante às ações da justiça que a mídia nos serve todas as manhãs, pelos noticiários, nos remetem a pensar que finalmente a justiça brilha neste país, e que após esta catarse que está resultando no expurgo dos corruptos menos cautelosos, antes crédulos de sua blindagem através do poder, e que um a um caem, em todas as instâncias e esferas, oferecendo a esperança de que, logo a seguir, teremos um novo paraíso na Terra, que em breve retomaremos o crescimento, e novos governantes purificados promoverão o bem estar, a felicidade, e a justiça social, por meio de promessas que se cumprirão, e que finalmente o povo estará no lugar a que tem direito: no poder.

Fico preocupado, pois embora deseje o expurgo do que é sujo na política, na religião, na sociedade, mas principalmente dentro da minha própria vida,que também tem telhado de vidro, e também está sujeita ao vento das oportunidades, ao mesmo tempo em que percebo que a justiça não é mais justiça; A elegante senhora de vendas nos olhos trocou de posição com outra senhora, menos elegante, que também esconde o rosto, mas que carrega na mão direita um alfange. Ora, na simbologia filosófica, a mão direita simboliza a justiça. Nesse caso, a mão é a mesma, mas os efeitos mudam de autoria. Onde antes presumia-se a recuperação do condenado pelo isolamento social e privação da liberdade, hoje só a extinção do culpado sacia o frêmito que traveste a morte com aura de justiça, e esta justiça, com o nome de decência, e esta decência com o nome de liberdade.


Vejo as cenas de um ex-governador preso, debatendo-se como um animal perseguido e encurralado, e leio os comentários que se seguem às publicações nas redes sociais, e fico estarrecido com o êxtase quase sanguinário das multidões que não se contentam apenas com sua prisão e expropriação de bens, numa eventual condenação, mas que desejam sua humilhação completa, assim como desejam a completa humilhação de qualquer um de nós que tenha sido vítima da cobiça, ou agente de injustiças, as mesmas que cometemos quando  desejamos que a justiça, a quem clamamos, se exceda e se torna ela própria injustiça, da qual fugimos.

Não entendam que apoio o erro e a corrupção, muito menos os corruptos. Não apoio e não coaduno com desmandos. Apoio que a justiça seja feita, e que se sou temente à D's, como penso que sou, ou busco ser, acredito que o próprio Altíssimo (Bendito Seja) diz com claras letras que não  deseja a morte do ímpio, antes move céus e terra para que ele se arrependa e se converta, e retorne ao caminho que é direito. Só que quando falo do ímpio, estou achando que é do vizinho que eu falo. às vezes não é.

Bella Ciao e Modelo Econômico de Crescimento - Táticas e Estratégias que modelam o Pensamento Político

Imagem: Bing IA Pacard - Designer, Escritor, e Artista, que tem nojinho de políticos vaidosos* "E sucedeu que, estando Josué perto de J...