AD SENSE

sábado, 18 de novembro de 2017

AIC - Associação Israelita Catarinense promove em Florianópolis Palestra, Recital e lançamento de livro sobre Músicas do Holocausto





Silvia Lerner, historiadora, pesquisou durante oito anos a produção musical no período do holocausto. São musicas compostas nos campos de concentração, nas florestas, nos guetos, nos movimentos de resistências. Você terá a oportunidade de ouvir algumas destas composições e debater, com a autora, como a arte sobrevive em tempos de absoluta brutalidade. Na data, lançamento do livro.



 ............




 Dachau
Artigo

Música em Dachau

por Reuven Faingold
A música nos campos de concentração nazistas sempre ocupou uma posição ambivalente, ora servindo como estratégia legítima de sobrevivência para as vítimas através do desvio da atenção da desgraçada situação em que se encontravam, ora sendo utilizada pelos perpetradores como uma tentativa perversa de as rebaixar e degradar.  em Dachau, para onde centenas de milhares de judeus foram deportados, essa situação não foi diferente.
Edição 90 - Dezembro de 2015

Não há dúvida de que tanto em Dachau como nos outros campos de concentração e de extermínio era comum que os mandantes usassem os prisioneiros com habilidades musicais para seus próprios propósitos e como meio de desumanizá-los e de quebrar, ainda mais, a resistência dos internos. Tampouco há dúvida de que para os presos a música funcionava como estratégia legítima de sobrevivência – física e espiritual. Alguns judeus conseguiram sobreviver à Shoá, pois os nazistas “apreciavam” seus dons musicais.
A música tornou-se uma forma de resistência à barbárie nazista, parte da denominada “resistência cultural”. Isto era parte das tentativas dos indivíduos em manter sua humanidade e integridade pessoal face às investidas nazistas para desumanizar e degradar todos os judeus e o judaísmo. O linguista e historiador iídiche, Zelig Kalmanovich (1885-1944), descreveu-a como “uma clara vitória do espírito sobre a matéria”.
Inaugurado o Campo de Dachau
Dachau não era um campo de extermínio como Auschwitz, Treblinka e Sobibor; foi criado como um “campo seletivo”, em 1933, para encarcerar alemães dissidentes do regime nacional-socialista. É importante ressaltar o fato.
É verdade de que o “componente essencial” de todos os campos nazistas era “o mesmo”: a fome, a privação do sono e de todo tipo de necessidade primária, brutal ritmo de trabalho, o sadismo incessantes por parte das SS, e a morte lenta por inanição, ou súbita e aleatória pelas mãos de algum nazista. Contudo, em cada campo os prisioneiros estavam sujeitos às condições específicas daquele local. Em suma, a categoria do campo e sua história individual eram decisivas não apenas para a chance de sobrevivência do prisioneiro, mas também para sua liberdade de participar ou não das “atividades culturais”. Comparado a Mauthausen, na Áustria, e a Auschwitz, na Polônia, Dachau, por não ser um campo de extermínio, oferecia alguma flexibilidade nas atividades cotidianas.
O campo de Dachau foi criado em 20 de março de 1933, após Hitler tomar o poder. Nessa ocasião, Heinrich Himmler anunciou à imprensa oficial:  “Na próxima 4ª feira, 22 de março de 1933, será aberto o primeiro campo de concentração na localidade de Dachau. Com capacidade para 5 mil pessoas, lá serão confinados comunistas e, se necessário for, a Reichsbanner (milícia de esquerda) e os membros do partido socialdemocrata, grupos estes que atentam contra a segurança do Estado. (...) Adotamos esta medida sem dar atenção às críticas insignificantes, tendo plena convicção de que esta ação certamente ajudará a restabelecer a calma em nosso país, realizando-se isto em benefício de nossa população”.
Dachau, cidade localizada a 18 km a noroeste de Munique, ficou famosa, no século 19, por ser um centro cultural e uma colônia de artistas. Ao eclodir a 1ª Guerra, em 1914, foi construída uma fábrica de pólvora na periferia da cidade, fechada ao acabar a guerra. A fábrica abandonada abrigaria as principais moradias do campo, durante os doze anos de seu funcionamento, entre 1933 e 1945.
Desde sua inauguração, os nazistas outorgaram a Dachau um papel central, funcionando primeiramente como base de treinamento das temidas SS (Schutzstaffel), e como modelo de organização para outros campos que foram sendo edificados.
Os prisioneiros reclusos em Dachau nos anos que antecederam a 2ª Guerra, seja para serem “reeducados”, seja para confinamento por “custódia preventiva (schutzhaft), eram principalmente membros de organizações antinazistas, grupos religiosos, movimentos de resistência ou indivíduos que criticavam abertamente Hitler, assim como também milhares de judeus. Depois de 1938, o campo de Dachau foi-se lotando gradualmente com outros prisioneiros austríacos, ciganos, padres e pastores protestantes, e Testemunhas de Jeová, de diferentes nacionalidades.
Submetido às exigências da “Administração Central dos Campos”, Dachau foi mudando consideravelmente ao longo de seu funcionamento, atendendo às loucuras dos comandantes alemães, assim como às necessidade bélicas decorrentes da Guerra que era travada.
Até 1941, ano em que os nazistas passam a autorizar atividades culturais, o “tempo livre” dos presos era limitado. Em 1943, quando o Terceiro Reich começa a explorar o trabalho escravo, as condições dos campos “melhoram” uma vez que o objetivo principal era incrementar a produção. Assim, os presos passam a receber porções adicionais de alimentos, e são permitidas algumas atividades culturais e esportivas. Mas, no outono de 1944, com as sucessivas derrotas sofridas pela Wehrmacht, as condições voltam a piorar, fazendo com que as atividades sociais e culturais passem à clandestinidade, dentre elas a música e a pintura.
O campo foi libertado pelas tropas americanas em 29 de abril de 1945. Pode-se ter uma ideia das terríveis condições de Dachau através do relato da libertação do campo feito pelo rabino-militar norte-americano, Eli Bohnen (1909-1992). Bohnen que participou na libertação de Dachau escreveu em suas memórias: “Eu tinha vontade de pedir desculpas ao nosso cachorro por pertencer à raça humana. Quanto mais adentrávamos o campo de concentração e víamos os esqueletos revestidos de pele e as instalações características do campo de extermínio, tanto mais eu me sentia inferior ao cachorro, porque, como pessoa, eu pertencia à raça responsável por Dachau”...
A música como instrumento de tortura
No campo de Dachau, assim como em outros campos nazistas, a música foi utilizada para degradar e brutalizar os presos. Um sobrevivente relembra que as atividades musicais existiam para enganar não apenas as pessoas que os nazistas para lá deportavam, pois os recém-chegados eram, às vezes, recebidos por uma banda, como também os possíveis visitantes.
Ele relembra que, “ao chegar uma personalidade para visitar o campo, ‘descansava’ após a refeição escutando uma banda musical composta de músicos famintos e esfarrapados, que se colocava em pé, sorridente, à porta do refeitório, tocando alguma marcha de tons suaves e cordiais”. Havia também uma “orquestra de cordas” que tocava aos domingos à tarde para entreter outras autoridades do campo.
Como acontecia em outros campos nazistas, o canto obrigatório era parte indispensável das temidas “chamadas prévias” por listagem e marchas cotidianas rumo ao trabalho forçado. Alguns sobreviventes, como Karl Röder, lembram-se de serem obrigados a cantar por longas horas após um dia extenuante de trabalho: “Nem sei quantas horas cantei no campo. Devem ter sido milhares. Cantávamos quando íamos trabalhar e ao regressar. Cantávamos horas inteiras durante o chamado das listas, para encobrir os gritos de outros prisioneiros brutalmente torturados ou violentamente espancados, mas também cantávamos quando o oficial do campo decidia que tínhamos que cantar... Os nazistas consideravam o ritmo muito importante. Tínhamos que cantar marchando a passo rápido e enérgico, e, acima de tudo, em voz alta. Depois de horas e horas cantando, já não conseguíamos emitir som algum. Os nazistas sabiam que esse canto era um castigo e por isso sempre nos faziam cantar...”. Na maior parte das vezes as autoridades do campo de Dachau exigiam que os prisioneiros cantassem marchas nazistas e canções nostálgicas alemãs.
Os SS obrigavam os prisioneiros a marchar pelas imediações do campo com um cartaz pendurado que dizia: “Estou aqui novamente”. Uma pequena orquestra os acompanhava. Röder recorda: “As canções que entoávamos eram sempre as mesmas. Eu nunca consegui cantá-las sem me engasgar. O ódio e a raiva me asfixiavam, sentindo-me afogado. Teria preferido o abuso físico”.
Os presos eram também frequentemente obrigados a tocar em concertos privados para os oficiais das SS. Cabia-lhes animar as festas de aniversário e entreter os convidados. O uso da música como forma de tortura em Dachau teve ainda outro aspecto: o “lager”1 foi onde o rádio foi mais utilizado para torturar seus prisioneiros. Durante as noites ou na hora das refeições, o comandante do campo interrompia bruscamente a programação do rádio e, pelos alto-falantes, colocava discursos de Hitler, notícias que falavam da “inevitável vitória” do exército alemão e canções que ironizavam o sistema de valores do comunismo. Era comum os nazistas baterem violentamente nos prisioneiros enquanto eram obrigados a escutar o rádio. A música dos alto-falantes se misturava aos gritos.
A música como “Resistência Cultural”
Além das atividades musicais forçadas, havia em Dachau o que podemos chamar de “música voluntária”. Sendo raramente permitida pelos SS, era em muitos casos informal e secreta. Corais, grupos musicais, quartetos de cordas, espetáculos e orquestras constituíam uma parte fundamental da “resistênciacultural” organizada pelos prisioneiros de Dachau. Diante da destruição física e mental de centenas de milhares de seres humanos, fortalecer o espírito com a música era uma forma de resistência àquela barbárie.
O canto comunitário era uma das atividades mais populares entre as lá praticadas. Prisioneiros políticos, judeus ou não, entoavam melodias comuns a militantes que faziam parte de movimentos revolucionários internacionais, tais como a famosa “Moorsoldatenlied” (Canção do Soldado). De fato, nos primeiros tempos de campo, a maioria das atividades musicais dos judeus incluíam melodias e hinos de movimentos juvenis ou movimentos radicais de ideologia sionista e nacionalista.
As canções de caráter nacionalista serviam não apenas para fortalecer o espírito como para estreitar os laços de solidariedade entre os presos. Todos compartilhavam lembranças do que haviam perdido. Nas barracas era comum cantar à noite, mesmo após um dia exaustivo de trabalho forçado. Um sobrevivente lembra: “Em voz baixa e depois um pouquinho mais forte, um preso entoou um canto eclesiástico. O homem era um cantor litúrgico de uma grande igreja da Polônia e tinha uma voz lírica excelente, de tenor. Ouvimo-lo com atenção. Logo, do cântico eclesiástico continuaram canções em iídiche, que eram bem mais solenes e trágicas”.
Esse sobrevivente lembra que naquela ocasião ninguém foi punido. O encarregado da barraca (prisioneiro, também) falou: “Quem mais quer cantar?’ Desta vez, a nova voz soava mais forte e firme. Cantou Valentine’s Prayer (Oração de Valentine). Um cantor de ópera de Praga acompanhava. Após uma passagem do Fausto (de Goethe) vieram outras árias de ópera. A última canção foi a pungente Mein Shtetele Beltz (Minha pequena cidade de Beltz), que ficou afogada em prantos. Tanto o cantor quanto o prisioneiro responsável pela barraca choraram ao lembrarem seus lares destruídos e seus parentes assassinados”.
Além do repertório existente, havia prisioneiros que compunham novas canções e músicas sobre a terrível realidade, falando do sofrimento, às vezes dando conselhos práticos de como sobreviver àqueles tempos difíceis. Muitas ainda se baseavam em músicas pré-existentes, enquanto havia outras composições com melodias desconhecidas. Paralelamente ao canto informal dos grupos, havia uma variedade de corais, alguns clandestinos e outros oficialmente permitidos.
ORQUESTRAS E BANDAS
Em 1938, com a chegada das primeiras vítimas da Anchlüss (Anexação da Áustria), as apresentações musicais passaram a ser frequentes em Dachau. No início, a ideia de fazer apresentações no campo parecia absurda, mas, gradualmente, tornou-se algo importante para os presos. Em maio naquele ano Herbert Zipper (1904-1997) decidiu organizar uma pequena orquestra para tocar secretamente para os presos de Dachau. Sua “orquestra” fazia performances para os internos aos domingos à noite.
O prisioneiro Bruno Heilig descreve: “Cada domingo, diversos artistas do campo de concentração apresentavam um espetáculo musical... Neles participavam Fritz Grünbaum, Paul Morgan, Hermann Leopoldi e o cantor berlinense Kurt Fuss. Leopoldi teve êxito cantando melodias vienenses. Kurt Fuss compunha baladas sofisticadas... A música From early youth the cunning band has had me on the string (Desde a juventude a banda esperta me prendeu pelas cordas), que nunca teve sucesso, havia ressurgido no campo de Dachau, virando tema favorito. Estas apresentações geravam uma ilusão de liberdade. Durante uma hora ou duas, tínhamos a sensação de estar em casa”.
O historiador Milan Kuna documentou a existência de três conjuntos musicais em Dachau durante a 2ª Guerra Mundial: uma orquestra de músicos checos criada em 1941 e oficialmente autorizada pelas SS, uma banda uniformizada de instrumentos de sopro e uma terceira regida por um prisioneiro de nome Von Hurk. Esta última contava com músicos profissionais e tocava para os oficiais e staff do campo temas clássicos variados, incluindo peças de compositores proibidos por não serem arianos.
A composição e funções das orquestras e bandas de Dachau eram parecidas às dos outros campos. Os músicos tocavam com os instrumentos disponíveis. Eles trabalhavam dentro da rádio do campo e escreviam suas próprias partituras e arranjos musicais, tendo direito assim a receber porções adicionais de comida.
Como mencionamos acima, os espetáculos musicais eram, na sua maioria, apresentados para os comandantes e oficiais das SS ou para visitantes convidados. Geralmente, os repertórios incluíam uma variedade de marchinhas alemãs e melodias populares. Os presos não tinham acesso a essas performances, mas com a devida autorização dos SS era comum fazer sessões especiais para eles.
HERBERT ZIPPER E JURA SOYFER
Herbert Zipper, compositor e diretor de orquestra, teve forte reconhecimento internacional. Nascido em Viena, em 1904, em uma família judia assimilada, seu pai era filho de um cantor litúrgico (chazan) e sua mãe filha de um rabino. Apesar disso, eles o criaram numa atmosfera laica e, como seus amigos, ele se identificava muito mais com austríacos do que com judeus. Os Zipper adoravam a música e por isso seus filhos receberam ótima educação musical.
Estudou na Academia de Música de Viena de 1923 a 1928 e, após graduar-se, batalhou para obter seu primeiro trabalho de tempo integral numa Áustria em crise. Em 1930, foi para a Alemanha e aceitou uma vaga como professor em Düsseldorf, mas na hora em que os nazistas tomaram o poder na Alemanha, a situação mudou drasticamente para os judeus. Amigos e colegas começaram a se afastar dele. Como outros artistas, Zipper decidiu voltar a Viena, com a esperança de escapar do regime nazista. Foi nessa época que ele conheceu o escritor Jura Soyfer.
A Áustria foi anexada ao Reich em 1938. Zipper e família estavam planejando a saída do país, porém era difícil obter os documentos necessários, quando ele foi preso pela polícia austríaca e enviado à prisão junto com seu irmão Walter e outros 20 colegas. Em poucos dias, todos foram enviados a Dachau, aonde chegaram em 31 de maio de 1938. Ele se relembra: “O traslado de trem foi brutal, houve socos, humilhações e escassez de comida e água”.
Durante o tempo que passou no campo, a música era para Zipper uma fonte de inspiração e de resistência. Como vimos acima, como forma de tortura, os prisioneiros eram obrigados a cantar individual ou coletivamente. Nessa circunstância, Zipper escolhia cantar “Ode à Alegria”, numa tentativa de dar força aos demais.
Em Dachau, Zipper era obrigado a transportar uma barra de cimento pelo campo. A vantagem estava no fato de poder falar com os outros. Assim foi que reencontrou Jura Soyfer. Sobre o tempo que passou em Dachau, ele conta: “Poderia suportar ter que carregar sacos de feijão de 100 quilos sobre minhas costas, mas jamais poderia suportar que roubassem minha vida”. O desejo de manter alguma normalidade em sua vida o fez recitar poesias para outros prisioneiros. Dessa forma, conseguiu conhecer músicos judeus e convenceu marceneiros a construírem instrumentos de corda com madeira roubada.
Em início de julho de 1938 já havia reunido 14 músicos para dar concertos aos domingos à tarde. Nesses concertos, os músicos tocavam peças clássicas conhecidas, mas também obras do próprio Zipper ou de Soyfer, compostas por eles após o trabalho.
Certa vez, Zipper pediu a Jura Soyfer que criasse um poema baseado no slogan nazista “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta). Ele  guardou de cabeça a letra que Soyfer lhe havia recitado, memorizou a música que havia preparado e, junto com outros, começou a cantarolá-la a músicos prisioneiros. Desta forma surgiu “Dachaulied” (Canção de Dachau). Rapidamente, os músicos judeus difundiram a letra dessa marcha pelo campo, que virou uma canção extremamente popular. A canção teve uma vida dupla, pois agradava tanto os nazistas como os presos. Agradava a oficiais das SS por sua qualidade e ritmo, mas para os prisioneiros do campo a composição encobria uma mensagem de resistência e perseverança. Foi uma das poucas músicas cantadas pelos prisioneiros com o aval das autoridades do campo.
Em setembro de 1938, Zipper e seu amigo Soyfer foram transferidos a Buchenwald. Ao tempo da deportação, os pais de Herbert Zipper haviam fugido para Paris, lutando para libertá-lo e a seu irmão. Em fevereiro de 1939, após uma curta estada em Viena, os pais foram informados que ambos os filhos seriam liberados. Finalmente, em Paris aconteceu o reencontro da família Zipper. Em maio do mesmo ano, Herbert recebeu um convite para fundar e dirigir a Orquestra Sinfônica de Manila. Durante o período que esteve na capital das Filipinas, ele conseguiu visto para residir nos Estados Unidos com sua família.
O Japão invadiu as Filipinas em 8 de dezembro de 1941, destruindo a força aérea norte-americana. Em janeiro de 1942, Zipper se alistou no exército local, mas os filipinos o prenderam por sua amizade com os EUA. Após breve reclusão, foi libertado para organizar uma orquestra que colaboraria com a propaganda japonesa. Mas o projeto da orquestra foi postergado e Herbert se uniu à resistência clandestina, repassando informação militar importante aos americanos. Em março de 1946, Zipper e sua esposa decidiram reunir sua família nos EUA, onde trabalhou como compositor, diretor de orquestra e docente.
GRÜNBAUM E LÖHNER BEDA
Era 31 de dezembro de 1941, o artista Fritz Grünbaum, já muito doente, encerrou seu último espetáculo em Dachau frente a um público de prisioneiros moribundos.
Grünbaum nasceu em 1880, completou seus estudos em Direito, mas rapidamente foi seduzido pela música. Em 1906 fez a primeira apresentação. Até a ascensão de Hitler, em 1933, teve uma carreira ativa em Berlim e Munique. Depois emigrou para Viena, sendo membro do quadro do “Kabarett Simpl”. Em poucos meses, fazia parte do seleto grupo de artistas que despontavam na vida cultural da capital austríaca.
Grünbaum especializou-se em musicais políticos, encenando peças que ironizavam Hitler e seus comparsas, bem como a falta de liberdade sob seu regime, e a impossibilidade de viver dignamente na Alemanha ou na Áustria. Em março de 1938, o artista judeu realizou sua última apresentação no “Kabarett Simpl”. Ao se abrir a cortina, sob um cenário totalmente escuro, apareceu Fritz Grünbaum gritando: “Não enxergo nada, absolutamente nada; com certeza estou navegando pela cultura nacional-socialista”. Um dia depois, foi proibido de se apresentar na Áustria. Após a “Anschlüss”, Grünbaum tentou fugir para Bratislava, mas foi pego, deportado e encarcerado, com sua esposa, em instalações das SS.
Em maio de 1938, ele chegou a Dachau. Lá encontrou Fritz Löhner-Beda, que havia sido deportado ao campo em abril. Um sobrevivente lembra que Grünbaum contava piadas dizendo que “sozinho iria acabar com o Reich”. Para levantar o ânimo dos prisioneiros, costumava dizer que “a privação total e a fome sistemática eram as melhores defesas contra o diabetes”. Certa vez, um oficial das SS negou-lhe um sabão, e ele ironicamente lhe diz: “Quem não tem dinheiro para sabão não poderá arcar com os custos dos campos de concentração”. Rapidamente, foi transportado a Buchenwald, lugar em que também teve participação ativa na vida cultural.
Acabou sendo enviado novamente a Dachau. Lá fez sua última atuação às vésperas do Ano Novo de 1940. Gravemente doente de tuberculose, decidiu fazer um espetáculo para entreter os prisioneiros da enfermaria do campo. A mensagem de Grünbaum aos presentes: “Peço que lembrem que não é Fritz Grünbaum quem está atuando diante de vocês, mas o prisioneiro No.... [ele mencionou seu número], que pretende transmitir um pouco de alegria a vocês neste último dia do ano”.
Depois desse derradeiro espetáculo, Grünbaum tentou o suicídio, mas não teve sucesso e foi “resgatado” pelos oficiais das SS. Duas semanas depois, em 14 de janeiro de 1941, foi encontrada sua certidão de óbito. Para os nazistas, o artista faleceu de um ataque cardíaco.
Löhner Beda nasceu em 1883 e foi um dos maiores roteiristas e cantores líricos de toda Viena. Em parceria com o compositor Franz Léhar, o roterista Ludwig Herzer e o cantor Richard Tauber, ele produziu, entre outros, a opereta Friederike (1928), Das Land des Lächelns (O país do riso, 1929) e Giuditta (1934). Fritz Löhner Beda foi preso em 1 de abril de 1938 e deportado a Dachau. Em 23 de setembro foi enviado ao campo de Buchenwald. Lá compôs com o prisioneiro Hermann Leopoldi o anátema do campo “Das Buchenwaldlied”  (O canto de Buchenwald):
[Oh Buchenwald, eu não posso te esquecer,
porque és o meu destino.
Só aquele que te abandona,
pode apreciar quão maravilhosa é a liberdade!
Oh Buchenwald, não choramos nem reclamamos,
seja qual for o nosso destino,
no entanto vamos dizer “sim” à vida;
pois chegará o dia da nossa liberdade!]
Em 1942, o poeta Löhner-Beda foi enviado ao campo de Monowitz (próximo de Auschwitz-Birkenau), falecendo em dezembro de1942.
Dois anos após sua morte, a música Buchenwaldlied ressoava durante a entrada triunfal do exército americano no campo de Buchenwald. Os prisioneiros entoaram a canção, pela primeira vez em liberdade.
PALAVRAS FINAIS
Esta pesquisa deixa nitidamente claro que a música esteve presente em Dachau com uma conotação positiva, mas também negativa. A música ouvida pelos prisioneiros neste lager teve momentos difíceis, de desespero e torturas, mas serviu também para relembrar vários instantes de heroísmo, resistência, luta e superação.
Os poucos poetas, cantores, compositores e músicos que atuaram em campos como Dachau, preencheram um papel crucial, alentando os demais prisioneiros nas horas mais difíceis de suas vidas.
Durante o Holocausto, a música de Dachau e outros campos nazistas representou uma forma de resistência, a denominada “resistência cultural”, um tema significativo que somente agora começa a ser devidamente pesquisado e revelado ao grande público.

BIBLIOGRAFIA
Baaske, A., Musik in Konzentrationslagern, Freiburg im Breidgau: The Projektgruppe 1991.

Braun, S.A., From Concentration Camp to Concert Hall, Los Angeles: Alex Braun 1985.

Buechner, Howard A., Dachau - The Hour of the Avenger. Thunderbird Press 1986.

Cummins, P., Dachau Song: The Twentieth Century Odyssey of Herbert Zipper, New York: Peter Lang, 1992.

Dunin-Wasowicz, K., Resistance in the Nazi Concentration Camps 1933-1945, Warsaw: Polish Scientific Publishers, 1982.

Heister, H. & Klein, H., Musik und Musikpolitik im Faschistischen Deutschland, Frankfurt/M.: Fischer, 1984.

Marcuse, H., Legacies of Dachau: The Uses and Abuses of a Concentration Camp, 1933-2001. Cambridge University Press 2001.

Silverman, J., The Undying Flame: Ballads and Songs of the Holocaust, Syracuse University Press 2002.

Stompor, S., Judisches Musik- und Theaterleben unter dem NS-Staat, Hannover: Europaisches Zentrum fur Judische Musik, 2001.
Prof. Reuven Faingold é historiador e educador, PHD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. É também sócio fundador da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil e, desde 1984, membro do Congresso Mundial de Ciências Judaicas de Jerusalém.


 Fonte: Morashá


Associação Israelita Catarinense


Fundação em 2 de junho de 1990
Missão
Promover atividades culturais, espirituais e sociais relacionadas com o judaismo e suas tradições, promovendo a paz entre os povos.
Atividades regulares promovidas: Curso de hebraico, Estudos sobre Judaismo, preparação para Bat e Bar-Mitzvah, celebração dos principais datas do calendário judaico e shabat (mensal).
INFORMAÇÕES DE CONTATO
Ligar (48) 3232-7377
Associação Israelita Catarinense

 ............

Silvia Lerner
 Veja outros trabalhos da Jornalista Silvia Lerner clicando aqui







 

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Traição ou Ego exaltado - As dores de envelhecimento do PP de Gramado



Recebi, às dez horas da noite de ontem, pelo  próprio Dr Ubiratã de Oliveira, a notícia que ele estava deixando a Executiva do PP de Gramado, e que na próxima segunda feira, dia 20, também anunciará seu desligamento do Diretório Municipal do Partido, motivado por descontentamento com atitudes de seus companheiros, às quais classificou como "traição", e que a irrevogável decisão desencadearia seu também desligamento do Diretório, mas ainda não do Partido. Eis a notícia, agora nem tão nova, uma vez que disse a Ubiratã que ainda não divulgaria o fato, porque poderia ser revertido pela decantação dos ânimos. Porém, como a mesma notícia, em um "copiar-colar" foi enviada também para outros veículos, em menos de uma hora depois, o Jornalista Caíque Marquez publicou o fato, agora sim, mais perto do irrevogável. 

Conversei com outros personagens envolvidos na ação deste desligamento, e recebi uma solicitação para que ainda não divulgasse, o que também foi solicitado, acredito, aos demais jornalistas.Mas como cada veículo tem seus próprios critérios editoriais, a notícia vazou, ou melhor, foi autorizada pelo autor, e agora então resta-me a análise, que é meu escopo de trabalho. Vamos aos fatos.

Dentro de poucos dias, torno-me um velhinho sexagenário, a caminho da caduquice, e como tal, também usufruindo desde já das benesses do envelhecimento, que são as dores, daí dizer que estamos na "Idade do Condor - Com dor aqui, com dor ali". De fato, acordar sem dor requer a imediata ação de beliscar-se,uma espécie de auto mutilação necessária para assegurar-se de que ainda esteja vivo, o que logo é corrigido e as dores voltam. 

Em nossa vida, atravessamos várias etapas de dores específicas. Elas vem como vagas na praia, e também deixam tempos de calmaria. Insatisfeitos como somos, não acreditamos na quietude, e buscamos novas dores pela adrenalina, pelo sabor da luta, pelos percalços e desafios da existência. Assim, nos primeiros anos de vida, sofremos as dores de crescimento, especialmente nas pernas. Na adolescência, vem as dores existenciais, as incertezas, o descontentamento sem saber a razão, e logo depois começa a interminável dor da paixão, que em certos casos transforma-se em amor, em outros, em ácido sofrimento pela desilusão. Ao longo da vida,há muitas dores: A dor da saudade, do desemprego, do fracasso financeiro,da política, das guerras, da violência, dos filhos que já voam alto e aumentam a dor das preocupações, enfim, o Ser Humano é um especialista em dores, e seria bastante desgastante e desgostoso começar o dia falando de um tratado sobre dor, então, resigno-me a tratar apenas das dores do envelhecimento da política, e através dela, motivados por ela, dos Partidos Políticos, e como ainda estas palavras são dirigidas à minha perfumada Gramado, será ela o palco desta reflexão. Pensem comigo então.

Já disse aqui que o PP de Gramado nasceu pelo ajuntamento de pessoas e não de ideias, haja vista que quando as mesmas pessoas mudavam a sigla do Partido, todos ou quase todos seus correligionários seguiam junto. Aquilo que foi uma vez ARENA, tornou-se PDS, e depois PPB, e finalmente PP. Novas siglas, novas diretrizes partidárias nacionais, mas as mesmas pessoas. Não! Não há nada de errado nisso. Chama-se fidelidade apenas. Fidelidade a amigos, ao  grupo, e em determinado momento, ao poder. E foi desde ajuntamento partidário de muitas siglas, quem mais tempo ocupou a cadeira majoritária de Gramado,e seu séquito de sustentação. Assim, nada mais óbvio que também tenha sido por muitos anos, e ainda seja, o maior ajuntamento de filiados de Gramado. Isto, nesta leitura é então, um Partido na avaliação de Gramado.

Os tempos mudaram. As dores migraram, e a moda acompanhou as tendências. Onde antes haviam caixas com imensos tubos de vidro, tornou-se a Televisão um fino papel de parede. Onde haviam ornamentadas portas e sobrecarregadas salas, hoje há um vazio minimalista. Onde haviam discursos em palanques e comícios, hoje temos as Redes Sociais. Onde eram ensaiados discursos inflamados, hoje restaram os conchavos, os conluios, as confusões. Aliás, tudo que começa com a raiz "CON", não me parece coisa boa: Conchavo, conluio, contenda, confusão, contradição, condição, condensação, embora existam também neste contraditório as que equilibram, e uma destas é "Consenso", e a outra é "Concerto", cujo homófono seja "Conserto", e ambas se encaixam perfeitamente nesta análise,  uma vez que seja o consenso que possa levar a um conserto e seja feito novo concerto, porque consertar é reparar ideias e conceitos em vista do bem maior que é  o bem comum, e uma vez consertado, faz-se novo concerto, novo acordo, e assim prossegue a boa política que o mundo precisa.

Há aqui um porém que precisa ser reparado, que é o aparente motivo desta cisão em curso: O ego! É inconteste a opinião de que Ubiratã, por seu histórico de ser o mais votado em três eleições, siga seu ego na busca de espaços mais vistosos na tribuna, e julgue-se por isso merecedor de atenção à sua liderança inconteste até aqui, ocupando espaço nobre em uma oposição que desconhecia, e que de um momento para outro, busca germinar notícias de que tenha sido traído em sua honra de guerreiro do Partido. 

O PP deixou uma lacuna muito grande com o fim da era "Pedro Bala", e assim como foi com Alexandre (guardadas as diferenças e proporções), também os generais do PP engalfinham-se à estreita porta de entrada no patamar da glória, no ímpeto de ocuparem uma liderança que não foi construída desta forma. Há grandes nomes no PP, tanto na política de frente, quanto nos bastidores, mas tanto os velhos  caudilhos dos bastidores, quanto os generais da linha de frente, não perceberam que os velhos aparelhos de TV pesados e espaços deram lugares, repito, às telas planas das tevês à base de LEDs, e que não se faz mais políticas na base do empurrão e do berro, mas da sutileza e da negociação. Bira não entendeu o recado de Jânio Quadros, e está a um passo de blefar no jogo onde não tem certeza que possa ter a melhor "mão", e que não tem nenhuma carta na manga, o que poderia ser uma possibilidade. E o que seria esta carta na manga, senão a possibilidade de ingresso em outro partido? Muito difícil, pois Ubiratã não oferece nenhuma característica que possa interessar aos partidos com viés de Esquerda, bem como também ofereceria um grande risco àqueles que intentam uma cabeça de chapa em 2020, o que inviabilizaria seus planos com um tricampeão de votos a fazer-lhes sombra dentro de suas próprias casas. Então, não, Ubiratã não pretende sair do PP, mas sim, agora livre das pressões de liderança, pode agir como um cavaleiro solitário, tornando-se um "coringa" em decisões de cunho antagônico, podendo favorecer,ora a oposição, ora a situação. 

Ubiratã ganha momentaneamente seus holofotes, mas perde na sequência do jogo político, porque dependendo de sua postura daqui pra frente, pode ser apenas um partidário arrependido que volta à casa de onde nasceu, ou um amargurado gladiador dentro de sua própria casa, ajudando a desmantelar o Partido que o acolheu deste sua chegada à Gramado.

Por outro lado, começa a surgir o trabalho silencioso e proativo de outro vereador, que até de traidor já foi classificado no período pós eleitoral, por sua amizade com o também egresso e atual gestor do Hospital de Gramado, mas que com grande humildade e envolvimento nas boas causas da saúde e da comunidade, vem se destacando dia após dia no Legislativo, o Vereador Volnei Desian. 

Gramado perde quando suas forças políticas se deixam enfraquecer. Perde a oposição, mas perde também o Governo, que pode trabalhar mais livre, e nem sempre o excesso de liberdade é  produtivo para uma administração que ainda não acertou seu rumo. Perde ainda o povo que vê-se desamparado pelos que o representa nas letras miúdas das Leis que o governa. 

É a política. Uns vão, outros ficam e outros ainda emergem para ocupar os vazios. Quem sabe não seja esta a oportunidade que Gramado precisa para desabrochar novas lideranças? Talvez você!



terça-feira, 14 de novembro de 2017

O Salão de Festas do Condomínio e Capela Mortuária do Cemitério



Que relação pode haver entre uma coisa e outra? Aparentemente nenhuma,pois enquanto o  salão de festas é um lugar onde pessoas se reúnem para celebrar a vida, a capela mortuária é um espaço onde reina o quase silêncio para enganar a morte. Tanto é assim, que em todo regulamento de condomínio tem uma cláusula que proíbe terminantemente duas coisas: Culto religioso e velório!

Não vou entrar no  mérito dos direitos dos condôminos em submeterem-se aos ditames do mundo  e não se permitirem criarem suas próprias regras e costumes. Apenas analisar o efeito disso na vida das pessoas. Falar da vida e da morte de forma natural. E ambos os ambientes, ambas as circunstâncias, unem as pessoas. No prazer e na dor. Na alegria e nas perdas. Ambos os casos tem uma origem comum: A sala de visitas da casa! Eu explico.

Não sou  tão velho assim (nem tão novo), mas quando eu era ainda jovem, as pessoas eram recebidas e recebiam dentro de casa. A casa era muito mais que o espaço com portas e janelas que os protegiam da intempérie ou dos perigos oferecidos por outras pessoas, aquelas que não eram recebidas pela porta da frente, os bandidos. Era na sala que as visitas eram recebidas, e era na cozinha que os mais íntimos se encontravam. Falavam da vida e evitavam falar da morte. Mas era também na sala que a morte mostrava a cara, e ali eram velados os queridos, a partir de então chamados de "Entes". Da sala se despediam, ou eram despedidos,uma vez que nada mais viam nem ouviam, sem sequer pensavam, nem ao menos sentiam. Mas ainda estavam ali, de corpo presente e alma dispersa. 

Era na sala que à noite falava-se baixinho, ainda que o morto nada ouvisse, mas pela reverência, pelo respeito à dor da família e pela saudade do que ali esperava o último toque de quem o amasse. Da sala, saíam todos nesta ocasião, e era a sala a última testemunha da perda, e o vazio da mudança.

Era no entanto também na sala que as grandes alegrias da vida eram contadas. As canções eram cantadas e as festas vividas por quem motivo encontrasse. Era na sala que primeiro estavam os grandes receptores de rádio à válvula, que espargiam notícias e valsas para as famílias reunidas após o jantar e antes do adormecer. Era na sala que os aparelhos de televisão eram instalados e recebiam toda a vizinhança pobre para assistir e chorar nas telenovelas, ou encantar-se com seus artistas preferidos nos programas de auditório. Era enfim, nas salas que pessoas iam e vinham e a vida caminhava entre elas, como água que escorre por entre as mãos.

Capela Mortuária e Sala de Estar: dois lugares onde vida e morte coexistem. Só que a capela é a parte que foi retirada das salas para esconder e controlar a dor da perda. Na capela, e apenas dentro delas, as pessoas choram,pois lá  fora a vida é mais exigente e enquanto uns verificam suas contas pelo banco digital,outros fazem selfies e escrevem LUTO, para que se lhes dê alguns momentos de condolências, até mesmo por que nunca ouviu o bater do coração, ou desconhece seu tom de voz embargada. A capela tirou a sala de dentro das vidas e levou as vidas pelos corredores frios da modernidade, esfriando a alma e amortecendo a dor por criogenia voluntária. A sala de estar ficou mais vazia, porque os salões de festas dos condomínios adequaram um lugar perfeito para recebermos com frieza técnica aqueles que antes ocupavam nossas velhas e surradas poltronas em frente ao receptor de rádio para compartilhar nossas valsas e ouvis nossas histórias.

Nos salões de festas não se contam histórias,pois o tempo é compartilhado, então temos que gritar o máximo e ao máximo volume para que os vizinhos saibam o quanto estamos felizes e contentes, e que sintam o aroma da comida encomendada entregue em caixas de papelão, em lugar da panelada de sopa que as avós faziam e do arroz de forno que as mães ornamentavam com galhos de salsa para estimular o apetite e ouvirem elogios rasgados de seu talento culinário.

A vida moderna setorizou alegria e dor. Uma em um espaço, e a outra, bem longe, no outro. Não é politicamente correto suspirar por uma saudade no mesmo espaço onde cantamos uma tarantella ou o hino de nosso clube de futebol. O mundo setorizou o amor e a dor, e ambos não tem mais lugar dentro das casas. Salas de estar são  apenas espaços minimalistas onde emprestam paredes para as telas planas de LEDs e um quadro ininteligível ao fundo, expressando algo que jamais iremos compreender.

Salões de festa servem então para festas. Capelas mortuárias servem para dar fim às festas. E a sala de estar não serve mais para nada, porque aquilo que a TV de LED mostra, a telinha do smartphone mostra também. Debaixo das cobertas. Esperando a vez de usar a capela mortuária. O resto é o vazio. Porque um e outro expulsaram as pessoas de nossas vidas.

Apolônio Lacerda e a Teoria da Constipação - O fim do mistério do papai Noel (Um conto absurdo de Natal)




Eu sei que muitos não vão acarditá,  porque eu mêmo não acardito. Não acardito nem mêmo que estou tô contando isso, quando devia guardá segredo.Mas fazer o que? Meu nome é LAM-BAN-ÇA!

Pous o aconticido se deu-se a si  quando acordei com um barúio na cozinha. É gambá, pensei! Mas despois considerei que não era, porque eu tinha armado trêis aripuca pros bicho, gastado dois galão de canha do alambique, e que a gambazada sentindo o xêro de pinga, ia dereito às aripuca. Então, não era gambá. Tarvêis rato. Mas de todo modo, eu tinha que oiá. 

Tava frio uma barbaridade, e eu carcei uma pracata e fui lá fora mijá. Mijei.Inté peidei. Fechei a cerôla com cuidado, não sem antes dá umas chacuaiada pra não saí passando recido. Xerêi os dedo e tava em órde. Então garrei um porrete que sempre deixo do lado de fora da porta, e entrei passo por passo na cozinha pra pegá o bicho no pulo. Me agachei devagarito e comecei a bombeá cos zóio desconfiado. Negaceei, negaceei, ispiculei aqui e ali, quando oiço uma risadinha abafada: Hou-Hou-Hou!


Pulei em riba do bicho e por pouco não táio ele em dôus! por munto pouco mêmo! Não era rato e nem gambá! Era o CRISQUINTI! o Papai Noéle! O véio do saco! O barbudo! Peguei ele cá mão no armário campiando um quêjo e uma linguíça pra módi fazê um fristíque!

Fiquemo um tempo se oiando um pro ôtro, ancim desse jeito, de bocó! Eu oiei pra ele. Ele carcô os zoião nimim. Se oiêmo, e apertêmo as mão, como havéra de sê o custume de peçôas dereita, ele xerô as mão, e eu fiz o mêmo, por inducação. Se dêmo adeus e logo aperparei um mate, e a prosa correu sôrta.

-Eu achava que vosmecê sêsse só pagodêra da táli txiuría da constipação, chê!
- Hou Hou Hou! - Gargaiáva ele, e enfiava os dois dente num naco de pão, seguido de outra dentada no quejo. Hou hou hou! Nham!
- Pous me conte então como fonciona a côsa dos presentilho, e táli...

- Hou hou hou! vou contar meu segredo, filho, HOU HOU HOU, NHAM, GLUB, GLUB (som do vivente bebendo um caneco de chá de mate). A côsa acontece ancim, filho: Eu garro dois veado (de quatro pata), arreio eles na charrete, enche de mimo, avôo por riba dos rancho, e ergo umas tabuinha do teiádo, entro pra drento, deixo os mimo debaixo do pinheirinho, e dispôis garro rumo à despensa pra módi campiá umas goloseima, porque ninguém trabáia de grátis, filho. E dispois, já refestelada de banduio cheio, garro o mundo, filho.

Tudo estava muito bem,  exceto por dois detalhes, que fizeram Apolônio cafifar com a coisa: A primeira é que o tal "Crisquinti" chamava ele de filho. A segunda, é que usou o modo feminino para contar de sua fartura gastronômica.  Ora! Essas mudernidade de trocá macho por fêmea ainda não haviam chegado no Cêrro do Bassorão, então isso significava só uma coisa: O Papai Noel era a Carsulina disfarçada!!! Mas Apolônio não disse nada. Apenas lembrou da infância e da sua mamãe Apologética, que cantava pra ele dormir, enquanto esperava o Crisquinti, olhando o céu estrelado, e penteando os bigodes.



terça-feira, 7 de novembro de 2017

Tropeços e Espirais





Vivemos em um mundo e um tempo onde somos cobrados por aquilo que não temos: Perfeição!

 Desde que nascemos, a parteira olha e diz: É perfeito! Isto é, Temos dois olhos, dois ouvidos, pernas, pés, dedos, apesar de que as mãos ainda  não dominem um teclado, os pés não dançam uma valsa, e os olhos mal distinguem vultos a meio metro de distância, ainda assim, naquela condição,somos perfeitos.

 No entanto, este é o nível de perfeição ao qual somos capazes de nos trair e causar preocupação, se dentro de um ano, estivermos na mesma condição. 

E se dentro de dez anos não estivermos exatamente na condição de alguém que tem os dez anos, seremos imperfeitos, mas se nossos dentes de leite já tiverem caído, e tivermos dois dentões mais protuberantes, então sim, continuamos perfeitos, bem como perfeitos seremos se aos quinze anos formos rebeldes e entediados, ou aos dezesseis atravessarmos incertezas quanto às escolhas de nosso futuro profissional. 

E aos sessenta anos, se enfrentarmos crises existenciais, tentando encobrir o tempo restante, mas não desejando desnudar os anos passados, sim, também ainda seremos perfeitos, porque a perfeição que buscamos não é a perfeição que atingimos e nunca será.

Tropeçar é uma constante de quem caminha, do movimento, da quebra de uma fractal dos passos que damos. Estátuas não tropeçam, e muitas delas nunca caem. Mas todas são decoradas por cocô de pássaros. O simples fato de caminhar, e com isso estar disponível aos tropeços, é a prova mais viva de que D-s tem você em grande conta, que você tem um lugar pra ir e levantou da zona de conforto para chegar neste lugar.

O mundo gira como uma espiral. É o que torna a vida interessante, pois se este giro fosse em círculos, em pouco tempo a vida seria um tédio completo. Assim, se como as galáxias ou a água que escorre pelo ralo da pia giram em espirais, assim também nossa vida é uma espiral em contínuo movimento.

A água que escorre pelo ralo da pia, anda em torno de si mesma, e gira em direção às profundezas. Se esvai pelos esgotos. A galáxia também giram em torno de si mesma. E sabe onde vai parar? Num buraco negro, sugando tudo à sua volta e se autodestruindo, sem levar nada, sem deixar nada.

Não sabemos porque esta autodestruição das galáxias acontece, nem por que a água que saciou a sede também terminam na escuridão. Só o  que sabemos, e isso sabemos  pela fé, é que nossa espiral gira ao contrário. Isso vai contra todas as Leis da Física. Contra todas as Leis da ciência. Já parou pra pensar nisso? Existir está de acordo com o resto do Universo, mas viver, contraria tudo o que se sabe da Ciência. Não podemos  viver senão neste planeta. Não podemos viver senão em circunstâncias especiais, sob cuidados especiais, sob temperatura especial, comendo comida especial, vivendo de modo especial, único.

Todas as criaturas vivas dependem de um modo único, de um alimento específico, de um ambiente preparado para que vivam, e se isso for mudado, em pouco tempo desaparecerão. Assim também somos nós, únicos, especiais, preparados para sermos felizes. O Ser Humano foi criado para ser feliz, e foi colocado em um ambiente que reúne todas as coisas para que esta felicidade aconteça.

Só que o tempo todo, queremos mudar as coisas. Queremos  fazê-las de um modo que não é natural, queremos transigir as Leis que D-s criou para que nossa felicidade fosse natural. E aí, tropeçamos.E tropeçamos, e tropeçamos até cair.

Mas ainda que tropecemos em todos os passos que nós dermos, podemos ter a certeza que temos Alguém para nos  levantar em cada queda. Isso  não acontece com o resto do Universo. Se um planeta tropeçar na sua órbita, ele bate em outro e ambos serão destruídos. Se um único elétron de um átomo sair de sua órbita, ele vai esbarrar em outro, e outro, e e vai desencadear uma reação em cadeia que pode destruir um mundo inteiro. Mas se nós errarmos (e nós erramos), ainda assim, podemos ter a certeza que nada na nossa vida, bem como a própria vida, são naturais, são ocasionais, e que podemos ter a certeza que há Um Técnico ao nosso dispor para reparar nossas falhas. 

Só o que temos a fazer para tropeçarmos menos, é lubrificar nossas articulações, especialmente as articulações  do coração, para que possamos compreender que todas as pessoas foram feitas da mesma substância e preenchidas com o mesmo Espírito, e que Aquele que soprou em nós Seu Fôlego de vida, continua a soprar,  como uma brisa suave, o seu carinho e a Sua compreensão diante dos passos de bêbados que damos todos os dias.

E por sugestão de meu netinho querido, o Lucas, quero lembrar aos meus queridos internautas que também tenho um blog. O endereço está nos comentários logo abaixo.
Shalom





sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Festival Estudantil de Cinema - Não! Não é Gramado. É em JOIA, RS. Assista e de seu like!


Não esqueça de entrar no  Youtube e dar seu LIKE! É muito importante para a equipe.
Clique aqui

Joia é um pequeno município com cerca de oito mil habitantes, cercada por plantações até onde a vista alcança, e gente que tem orgulho de sua história. Tanto é que motivou os alunos de suas escolas a participarem de um projeto regional de vídeo entre estudantes, e concorre com o trabalho de um grupo de alunos com o vídeo: A Colonização - Nossa História Oficial, onde meninos e meninas desempenham os papéis dos personagens que construíram a história do município, desde a chegada dos imigrantes italianos,embora a região tenha sido povoada, segundo historiadores,  desde o século dezessete,por índios,portugueses e espanhóis.

O evento, Festival Estudantil de Cinema, é um projeto apoiado pelo MinC, e incentiva alunos a que se envolvam com a Cultura. Brilhante ideia, e Gramado poderia inspirar-se neste evento e fazer também o seu, agora com o Educavideo. Sensacional!

O detalhe é que a escola nunca havia participado de nada, e agora, com este trabalho, necessita de muitos "likes! no vídeo, que está competindo no Youtube.Mas é importante dar o like, não apenas visualizar, para que vençam a competição.

A Escola participa de Documentário no gênero Infanto-Juvenil. Uma gracinha os pequenos atores encenando seus antepassados com a vida na roça. Fica aqui uma sugestão ao Alan Lino e ao Nespolo, respectivamente Secretário de Cultura e Presidente da Gramadotur, que convidem dois representantes deste Festival a assistirem o Festival de Gramado, e conhecerem o projeto Educavideo e Gramado.

Seguem imagens da Escola, dos alunos e dos cenários do documentário. 


Não esqueça de entrar no  Youtube e dar seu LIKE! É muito importante para a equipe.
Clique aqui

Fotos: Divulgação













Assista o vídeo depois da publicidade

Não esqueça de entrar no  Youtube e dar seu LIKE! É muito importante para a equipe.
Clique aqui

Bella Ciao e Modelo Econômico de Crescimento - Táticas e Estratégias que modelam o Pensamento Político

Imagem: Bing IA Pacard - Designer, Escritor, e Artista, que tem nojinho de políticos vaidosos* "E sucedeu que, estando Josué perto de J...