AD SENSE

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Sobre violência, Sofrimento e Perdão



Tenho um hábito que passei a cultivar há muitos anos atrás, e que aprendi lendo a Bíblia. O texto está em Efésios, 4:26-27 e diz assim:Mesmo em cólera, não pequeis. "Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.Não deis lugar ao demônio".  Interessante ler o capítulo inteiro, porque não se trata de uma lição de religião apenas, mas um tratado de ética e de moral, e mais que isso, um conselho de psicanálise, onde mais que fazer cessar a discórdia e buscar a paz, o texto propõe uma interrupção daquilo que nos leva ao sofrimento em cadeia, contínuo.

O sofrimento contínuo pode ter uma causa externa (prisão, maus tratos, doença, de muitas maneiras, enfim), ou interno, isto é, aquilo que está dentro de minha alma, de meus pensamentos, de minhas atitudes, e que consequentemente poderia ser mais fácil de ser mudado. Mas não é, infelizmente. Mudar o mundo é  mais fácil do que mudar a nós mesmos, uma uma razão bastante simples: Os outros nós podemos ver, mas a nós é mais difícil, pois ainda que tenhamos  um espelho que mostra nossa aparência exterior, até mesmo ele nós procuramos enganar, maquiando e penteando, porque espelho só mostra a superfície mais insignificante de nós mesmos, mas não é capaz de desnudar o nosso caráter, uma vez que conseguimos mentir até mesmo para o espelho, até mesmo para nós próprios.

Quando Sócrates dizia que devemos conhecer a nós mesmos, estava dando combustível para que Paulo de Tarso propusesse aos Efésios que modificassem suas características sociais, mas além disso, que deixassem de sofrer. E quem é  que sofre? Sofre aquele que remói mágoas, que remexe podridão do passado, e que alimenta contendas. Sofre aquele que pensa estar fazendo justiça incitando vingança, porque enquanto tal "justiça" não  ocorre, ele continua sendo infeliz, e quando a vingança acontece, nunca será suficiente para saciar sua sede por sangue, e assim, aquilo que propõe reparar o erro de um, torna-se adubo para as ervas daninhas do ódio do outro.

Quando estamos diante de um malfeito de alguém e respondemos com incitação um malfeito pior,não é  o agressor quem sofre os danos, mas somos nós que apodrecemos e não percebemos. Quando propusemos que uma atrocidade seja saciada com outra atrocidade ainda maior, não estamos reparando o mal que já foi cometido, este irreparável, senão pelo Justo Juiz que julgará vivos e mortos no Dia do Juízo, e dará a cada um a sua paga, segundo o mal ou o bem de seu coração. Porém, aqui e agora, mal nenhum se repara com mal continuado por outro, ainda que se denomine justiceiro.

Quando disse que aprendi algo e aqui divido este aprendizado com você é que eu sou aquilo com o qual eu me alimento, e em minha vida não há prato que aceite alimento estragado. Não sou bom o suficiente, mas nem mau que não possa reparar meus erros, e nessa escada, de degrau em degrau, procuro subir, um por um, para tropeçar menos, não porque querer dizer que sou bom, mas para que o mal não diga a mim que sou aliado dele.

Resolver suas questões antes que os tribunais precisem interceder é garantia de sono tranquilo. Talvez não se curem os males do mundo,mas ao menos dorme-se em paz.

Perdoar não significa dar razão ao agressor, mas tirar o morto de nossas costas para que não apodreçamos junto. Quem nos fere e não se arrepende disso, é um cadáver espiritual e exala mau cheiro, especialmente enquanto estiver agarrado às nossas costas, por isso, libertá-lo é certeza de que podemos nos banhar no perfume do perdão, que nos deixa dormir em paz e acordar mais leves.


Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.
Não deis lugar ao demônio.
Efésios 4:26,27
Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.
Não deis lugar ao demônio.
Efésios 4:26,27

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dpacard - Inteligência Criativa




Dpacard Inteligência Criativa é o nome Fantasia de minha empresa, até porque quem faz blog não vive de brisa. Quando eu anuncio, não é por vaidade nem pra me gabar do que eu faço, mas para dizer:Olha! Estou aqui!! Contratem meus serviços,porque vai ser bom pra sua empresa! Entendeu?  Não? então tá. Eu desenho!
















Porque o povo precisa de heróis - Capítulos da política de Gramado



Estudei vários títulos para a chamada deste comentário, e confesso que estou escrevendo já o artigo e ainda não decidi o que escrever, tamanha a variedade de possibilidades, em se tratando de falar de heróis dentro da política. Mas vou evitar mais atalhos e seguir direto ao ponto: PMDB, PP, PSBD e PDT em Gramado (tive solicitações para lembrar também do PT, então está lembrado, embora eu prefiro falar dos bons nomes deste Partido no município, e esquecer a sigla o mais rápido possível, tantas foras as vezes que fui maltratado pelos seus correligionários na esfera nacional, que prefiro jogá-los no claustro dos esquecidos e sugerir que procurem outra ideologia para trabalharem por sua cidade, embora do PDT de Gramado eu também não guardo boas lembranças, mas vamos caminhar pra frente que fica melhor).

O Ser Humano precisa de referências desde que nasce. Ainda sem enxergar direito, o bebê precisa ouvir a voz da mãe para saber que está seguro. Isso também ocorre com os animais. Todo ser vivo é gregário, isto é, necessita estar ligado a outro semelhante para sentir-se seguro e uma vez seguro, buscar a felicidade. Assim também ocorre com a política. Precisamos de heróis, de líderes, de referência, de ideologias e quem as abrace como causa para que também as abracemos como objetivo. Assim, só na sociedade anárquica ou utópica (que dá na mesma, pois ambas são intangíveis) é que ninguém é de ninguém e todos fazem o que é preciso de forma sincronizada sem um comando central. Nada mais estúpido achar que um corpo caminha sem pernas, que olhos vejam sem um cérebro para processar as imagens, ou que mãos trabalhem livres sem sincronismo dos braços ou de uma com a outra, ou que uma civilização possa crescer sem seus herois e pensadores. Não pode, assim como também uma comunidade não se posiciona se não souber em que direção deseja ir e não chegará a lugar algum sem que se organize para a jornada.

Quando D-s quis livrar Seu povo da escravidão, poderia ter enviado anjos ( e o fez, mas apenas para punir o Egito), mas escolheu um Homem. Quando o Rei de Portugal quis alargar suas fronteiras, não lhe bastavam navios para transpor os oceanos, porque para comandar estes navios eram necessários Homens. Quando há uma lavoura por plantar e colher, D-s envia a chuva e a luz do sol sobre a terra que também concedeu, mas são os braços de homens e mulheres quem lançam as sementes e segam a safra depois de madura.  Assim também neste modelo quero mostrar que um Partido não se faz sem filiados, que uma eleição não se vence sem candidatos, mas que na linha de frente, partido algum caminha sem ter alguém em que possa se espelhar e a quem seguir. Nenhuma campanha se faz sem um líder por quem se faça até mesmo sacrifícios por segui-lo, se este representar mais que seu próprio ego, mas um projeto de libertação, de desenvolvimento, de orgulho para quem o siga e que ocupe no panteão da história um lugar acima dos outros heróis. Assim é que se fazem os grandes lugares no mundo e é assim que se edificam as civilizações.

O PMDB de Gramado, que nada tem a ver com a mesma sigla no cenário nacional, está avançando com estratégia bem direcionada, e é inegável que é desta legião de devotos pela fidelidade e pela honradez dos compromissos os levaram a trabalhar silenciosamente até alcançarem a vitória nas eleições de 2016, mas que muito mais que isso, crescerão muito nos anos que os separam da próxima oportunidade de ocuparem a cadeira que, deste partido, pertenceu a Nelson Dinnebier, cuja ausência arrefeceu o espírito, mas que começam a resgatar na presença de um novo líder que desponta pacientemente, e fielmente em escudar seu parceiro do PDT, a quem prometeu acompanhar, apoiar e honrar o compromisso e a confiabilidade outorgadas pelo seu Partido. 

Cabe ao jovem Evandro Moschem a tarefa de resgatar o PMDB para o PMDB, assim como cabe a um dos postulantes de seu adversário, o PP, mostrar quem é digno de ocupar a cadeira que foi de Pedro Bertolucci, e aqui menciono Pedro, quando poderia igualar outros prefeitos da mesma bandeira desde que Gramado se fez independente, mas estou falando de carisma pessoal e não de registros eleitorais. Seja Nestor, duas vezes Prefeito, seja Ubiratã, três vezes o mais votado, Seja Luia Barbacovi, que tomou uma rasteira ao ser preterido para a cabeça de chapa, ou no mínimo vice de Pedro na campanha, ou seja ainda Jorge Drumm, que também silenciosamente promove o crescimento intelectual e estratégico do PSDB, todos eles, tem a oportunidade e a dura tarefa de resgatarem os heróis que o povo  busca para que as bandeiras políticas, sejam quais forem, sejam desfraldadas com galhardia e mostrem às novas gerações que política não é algo ruim, e que é a boa política quem motiva o povo a seguir a jornada, pois tal como Canaã, que esperava logo depois de um deserto, assim também Gramado espera por aqueles que queiram ser os líderes do povo, e que assim o sendo, queiram gravar em pedras na história os seus feitos, mas sobretudo gravarem no coração das pessoas as suas marcas de liderança.

Quanto ao PDT, insisto que é um Partido de um nome só, e que não reciclou suas ideias, o que tem uma ótima oportunidade para fazê-lo, dada a crise moral que assola o país. Um Partido que produziu tantos líderes, esvaziou-se nisso. Lideres demais e conexão com o povo de menos. Prova disso é o que venho dizendo há tanto tempo sobre Gramado: PDT tinha o que os outros não estocaram para a crise e soube afinar o passo para ocupar o vazio deixado pelos líderes que gravaram suas marcas na história, mas deixaram de compartilhar seus segredos com as novas gerações, e liderança tem segredos, tem maneirismos, tem estratégias e tem sobretudo paixão. Mas sempre é bom lembrar que paixão é  uma faca de dois gumes se não for transformada em amor. 

Hoje Gramado paga o custo da acefalia política e urge que se faça escola de heróis, pois nunca se sabe quando virá a próxima crise ou oportunidade que sejam revelados.

Para ser um herói não é preciso andar com a cueca sobre o pijama e voar com uma capa vermelha, mas é preciso caminhar entre a multidão e fazer-se notar pela sabedoria e confiabilidade.  Este líder tem um povo à sua espera. Quem se habilita?



domingo, 26 de novembro de 2017

A história das religiões de Gramado até os anos 90 - Católicos que eram judeus e não sabiam, Umbandistas, Luteranos e outros


Quero começar uma serie de histórias dentro da própria historia de Gramado, abrindo alguns parêntesis de certas particularidades que construíram Gramado até o presente momento, embora, por tratar de minha memória pessoal, sem me preocupar com a exatidão das datas ou nomes de todos os envolvidos, tratarei daqueles que conheci de perto e travei algum tipo de relacionamento com seus personagens.

Vou começar pela origem de Gramado, eminentemente católica, trazida pelos seus primeiros moradores, a saber, Tristão José de Oliveira  e sua esposa, Leonor Gabriel de Souza  (Gabriel é sobrenome), ambos descendentes de Cristãos Novos, que eram judeus convertidos ao catolicismo pela truculência da Inquisição, por meio de seus ancestrais, e que vestiram as sandálias do cristianismo católico até o fim da vida. 

Deles foi a doação do terreno onde hoje fica o Cemitério Católico, e seu jazigo é um dos primeiros próximos à entrada.Portanto este ramo da família chega Católico e assim, com a vinda da demais famílias (Benetti, Bertolucci, Corrêa, e outros), a fé católica tem suas raízes firmadas no lugar.

No final da década de 1920, missionários luteranos provenientes de São Sebastião do Caí, levam à Gramado os ensinos da Reforma Protestante, e desta forma obtém a conversão de um filho de Tristão, José Francisco de Oliveira, também conhecido com "Zé Tristão", por causa do pai, que torna-se incentivador da fé luterana, e por meio dele, nasce dentro da família , um grupo de sobrinhos de José Francisco, que são são convertidos à fé protestante, os filhos de Vítor Pereira Dias e Maria Francisca de Oliveira. Entre estes, estão minha avó, Maria Elisa Dias (Cardoso), seu irmão João Vitor Pereira Dias, e as irmãs Maria José Dias (Zezé), Lucinda Pereira Dias, Margarida Pereira Dias, Lina Pereira Dias e Leonor Pereira Dias. Todos eles, juntos, reuniam-se em casa para seus cultos, ainda que a contragosto de Tristão, que mantinha-se devoto ao catolicismo.

Era interessante que Tristão, devoto católico, cultivava, assim como sua família, dos costumes ancestrais do judaísmo. e tais costumes foram preservados pelos filhos. Querem ver? A grande maioria de seus descendentes casaram-se entre a própria família. No caso das netas aqui citadas, as mulheres que tinham "Pereira",não tinham "Maria" no nome, costume judeu de preservação em caso de prisão pelos inquisidores, e ainda que o "Santo Oficio" tenha sido oficialmente extinto em 1823, o medo perdura até hoje, pois perseguir judeus é quase um esporte de tempos em tempos, e todo cuidado era necessário. Mais que isso, a repetição de nomes, hospitalidade familiar, e outros tantos costumes que seguiram sem que as pessoas soubessem a razão.

Assim, João Vitor descobriu uma religião cristã que guardava o Sábado judaico, e junto com Maria Elisa, passaram a seguir este costume, após terem permanecido algum tempo na doutrina luterana.. Outras famílias que  chegaram mais tarde também seguiam esta crença, e assim, nasceu a Igreja Adventista em Gramado.

Mas, o restante das irmãs permanecia na fé luterana, ainda que sem uma igreja para praticarem seus cultos. Porém, neste tempo chegaram missionários metodistas que implantaram sua pequena comunidade e logo construíram um humilde templo para seus cultos, especialmente com as crianças, que necessitavam de uma escola, a qual chamavam de "Escola Dominical", e conquistaram a simpatia também dos luteranos, que enviavam seus filhos para esta escolinha, para que aprendessem o catecismo e as doutrinas bíblicas. Assim foi que na casa da família Moura, filhos de Maria José e Olídio Elias de Moura, os filhos todos tornaram-se metodistas até o presente momento, com algumas exceções, e a mãe, com parte dos filhos, permaneceu na fé luterana, iniciada por José Francisco, o "Zé Tristão".

Ainda na fé metodista havia as famílias Bertolucci, Benetti e Beux, que certamente poderão enriquecer este conteúdo com suas próprias lembranças.

Já que evoquei o velho "Zé Tristão" do passado, lembro que ele foi também o fundador, junto com sua irmã, Maria Virgínia de Oliveira, os precursores dos cultos africanos em Gramado. Maria Virgínia morou até o fim da vida, na mesma casa do pai, Tristão, e no porão desta casa, havia um Terreiro de Umbanda, de onde foi disseminado pelo município desde os anos 60 em diante.

Da mesma família Moura e também Corrêa, nasce a Sociedade Torre de Vigia, conhecidos os seus membros como Testemunhas de Jeová, levada à Gramado por Francisco Vaz Corrêa Filho, e sua prima em segundo grau e esposa (curioso costume judaico) Cândida de Moura, filha de Maria José (Zezé). Originalmente membros da fé metodista, Francisco um dia, segundo seu próprio relato, enre um mate e outro, recebeu um folhetim de alguém, à porta da igreja, e após lê-lo por várias vezes e atentamente, dirigiu-se ao Pastor, em momento de culto, com os livros pertinentes ao seu cargo na igreja, atravessou a nave sob os olhares da congregação, colocou-se em frente ao pastor, depositou os livros sobre o púlpito e disse: "A partir desse momento em diante não professo mais esta religião. Sou Testemunha de Jeová!". Virou as costas e foi-se embora, de braços com a esposa. Hoje, com mais de noventa anos de idade e ainda lúcido e estudioso, Francisco conta esta história, enquanto Cândida ri e faz seu crochê, acompanhada de uma cuida de chimarrão.

No alto do lugar chamado de "Morro dos Cabritos", no fim da rua, vivia um casal que não tivera filhos e por esta razão, adotaram um menino, a quem o educaram amorosamente na fé da Igreja Assembleia de Deus. Eram Arquimimo e Manoela , e o menino chamava-se Adão, moço educadíssimo e um virtuose de memória no conhecimento das sagradas Escrituras. Citava de cor capítulos e versículos com extrema naturalidade, ao recitar a Bíblia, e eu tive a honra de ter sido  colega de escola no primário, lá na Vila Moura, e ambos, alunos de minha mãe, Ester Cardoso (Fauth), que além de professora do ensino primário, era também nossa professora de religião na escola pública.

Falei da Igreja Luterana, mas convém que eu defina, pois há em Gramado duas correntes do luteranismo: A primeira, citada, era a IELB - Igreja Evangélica Luterana do Brasil, e mais tarde chegou sua prima, IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, sendo que uma seguia orientações de sua central norte americana em Missouri e a outra em Ohio. A primeira, é a igreja que ficava em frente (ou quase) ao Hospital de Caridade Santa Terezinha, na Avenida Borges de Medeiros, sentido norte, e a segunda, IECLB, é a belíssima igreja do relógio, no alto de um morro que outrora foi alcatifado por hortênsias, mas hoje está espremida entre prédios, hoteis e restaurantes.

A forte atuação da IELB, que é pouco proselitista, está na áera social, onde é a mantenedora do Instituto Santíssima Trindade, na Linha Moreira, um Lar que acolhe crianças e idosos da região.

Embora minha família tenha sua ascendência judaica, nunca praticou judaismo enquanto religião, senão pelos próprios costumes, e disso tenho conhecimento pelas longas (e saudosas) horas de conversa com minha avó, que as repetia e repetia e repetia, para que eu viesse a fazer o que estou fazendo hoje: registrando, para que não se percam e meus filhos e netos as possam um dia contar também. Não tenho nenhum compromisso cartorário coma exatidão dos fatos, uma vez que eu não sou historiador, mas um contador de histórias. Apenas conto o que sei e aquilo que me contaram, do jeito que foi contado. E como dizia o personagem "Chicó", da peça "O Auto da Compadecida", do saudoso Ariano Suassuna, o que eu conto, eu não sei porque é assim, só sei que é.

A partir dos anos 80 começaram a chegar novas congregações em Gramado. Com a construção do CTB  Centro de Treinamento Bíblico de Gramado - Janz Team, onde tive o privilégio de iniciar meus estudos de Grego Bíblico, e frequentar na condição de amigo e colega de alguns alunos, em outras áreas, tornei-me simpatizante do lugar e tenho até hoje, dali, grandes e queridos amigos.

Deste seminário, nasceram congregações como Cristianismo Decido, de uma linha evangélia ou Pentecostal, e outros Ministérios que se espalharam pela região, porque muitos pastores foram formados neste educandário da fé.

Hoje há um belo templo da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecidos como Mórmons, e também da IURD - Igreja Universal do Reino de Deus, além de muitas filiais dos Adventistas e Assembleanos que se disseminaram pelos bairros e interior(De tudo que relatei, fixei como território apenas a parte urbana do Município).

Um fato bastante curioso e  que o gramadense, de maneira geral, é bastante conservador no tocante às religiões. Não há um grande número de conversões, e o crescimento dá-se por imigração, o por nascimentos. Um caso a ser estudado pela antropologia, ou de uma resposta talvez bastante simples: Todas as religiões e seus representantes são respeitados, e quando as coisas estão indo bem, ninguém muda de religião. As conversões em massa acontecem no campo do sofrimento e da miséria. Então não posso afirmar que haja certa mornidão religiosa em Gramado. Apenas que até o momento,não houve necessidade de migrações.Time que ganha não se muda.

Quando ao judaísmo, Gramado começou a receber as famílias judias, provenientes de Porto Alegre, que passavam temporadas de verão e inverno em suas casas no Bairro Planalto, mas nunca houve uma Sinagoga, nem movimentos de cunho religioso, nem mesmo sionista em Gramado, o que não significa que não haja manifestações desta cultura e religião na cidade. Apenas com discrição, entre encontros familiares e bastante  reservados.

A religião é o que administra o ânimo de uma comunidade, pois esta sempre começa e cresce à volta de uma igreja (ou Sinagoga, Mesquita, etc), e a partir de seus valores, sua comunidade arquiteta sua história. Esta é a minha. Talvez um dia eu conte também a sua.

Religião, fé, religiosidade são sentimentos muito pessoais, onde uns acomodam-se à fé dos pais, e outros buscam seu próprio caminho. Uns aceitam rótulos, e outros preferem enriquecer seu conteúdo. Perguntam-me se eu me "tornei judeu". Não, não me tornei judeu, porque eu sempre fui judeu. O que fez a diferença foi que depois de certo tempo, assumi esta identidade, e fui resgatar as minhas raízes. Isso nada tem a ver como minha crença doutrinária,uma vez que eu nunca busquei reconhecimento formal de judaísmo, pois não preciso de reconhecimento. Quero apenas conhecimento. Mesmo porque, se reconhecimento bastasse, eu deveria ser católico, pois fui batizado nesta religião por causa de meu pai, ao nascer, mas como fui criado na fé Adventista, aos dez anos de idade, fui reconhecido como tal, através do batismo. Porém, casei na Igreja Luterana (IECLB), em 1979. Assim, na visão de uns, tenho uma salada missionária, e na minha própria visão, sou hoje um "Dati", um estudioso das Escrituras, tentando conhecer melhor um pouquinho das maravilhas legadas pelo Criador, o D-s (Deus) de Abraão, Isaac (nome de meu tio e meu filho) e Jacó.


O Passado, o Futuro, e o Caráter do Presente



Nossa história relata aquilo que nós fomos, o que fizemos, por onde caminhamos, e as coisas que vimos pelo caminho. Então, história é aquilo que você não tem capacidade de mudar, ainda que conte uma história diferente daquela que viu acontecer, ela ainda será uma história mal contada, mas será a história, ainda que oculta.

Sua história é única, mesmo que tenha sido compartilhada com outros, porque suas decisões também foram únicas, ou as decisões tomadas em seu nome, pela eventual falta de liberdade, aconteceram na sua esfera de ação, mesmo que não no seu domínio, e mesmo que tenha sido você um entre uma multidão de semelhantes, aos quais foi determinado um destino semelhante (escravidão, prisão, torcida de futebol), uma massificação, ainda assim você foi único e seu momento foi, embora compartilhado nas ações, único no sentir. Seu coração pulsou para bombear sangue apenas para o seu corpo. Os seus pensamentos foram apenas seus, enfim, você foi, é e continuará a ser único, mesmo depois de sua morte, porque as lembranças a seu respeito serão únicas, e até mesmo o esquecimento de sua existência terá também sido único. O seu esquecimento, a sua insignificância ou a sua relevância, são seus. Isto foi o seu passado. E o seu passado, embora relacionado a você, não foi propriamente seu, ou melhor, não é definitivamente seu, porque na minha crença (e talvez na sua), o Tempo pertence à D-s, que É O que Vier a Ser, acima e além de todos os parâmetros que conhecemos ou que jamais viremos a conhecer. Mas Ele É O Dono de seu passado, porém, há outro personagem que se infiltra na sua história e diz-se dono de seu tempo, ou já que sabe que não pode ser dono daquilo que não tem capacidade para mudar, diz-se dono das lembranças que o seu tempo podem beneficiar aos propósitos escusos dele, e resgata nas suas memórias aquilo que já deveria estar engavetado no passado, as piores memórias, as memórias ruins, tristes, sofridas e que fizeram, eventualmente alguém sofrer. É o Diabo. Ele rebusca na sua vida coisas que já foram perdoadas, apagadas da lembrança, exterminadas, e abarrota o seu Presente com objetivo de mudar aquilo que ele também não tem nenhum poder de mudar ou administrar: o Futuro.

O Futuro não é seu. O Futuro é de D-s, o Criador. A Ele e unicamente à Ele são as coisas que ainda serão, e que somente Ele também pode resgatar as coisas que já se foram para que você as administre em seu tempo, que é o Presente, e que nesta administração você se torne coparticipante da administração do seu futuro. Assim, se o Diabo remexe naquilo que causou desgosto um dia para continuar a desgostar sua vida hoje e amanhã, D-s pega estes desgostos e os transforma em experiências de perdão, ensinamento, vivências, e dá à você a chave capaz de abrir as gavetas do amanhã e depositar estas lembranças como um tesouro a ser guardado para sua reserva moral daqui até as portas da Eternidade. Então, se o Passado é a arma do Diabo para desanimá-lo, e o Futuro, a esperança de transformar as mágoas em alegria, cabe à você, dono do Presente, este instante cristalino e volátil, etéreo, a possibilidade de negar os efeitos do passado e aceitar as possibilidades do futuro. Cabe à você encarcerar o inimigo das almas em sua insignificância daquilo que aconteceu lá atrás, e abrigar-se às Asas do Altíssimo para que o Futuro seja um vale de certezas onde jamais haverá passado a lembrar, mas presente a desfrutar.

Shalom

sábado, 25 de novembro de 2017

O milagre da multiplicação dos Queijos e convites - Lembrança dos Festivais de Cinema de Gramado



Essa aconteceu com dois grandes amigos meus, cujos nomes declinarei em beneficio da honra das pessoas,  mas os fatos são fiéis ao acontecido.

Pois o caso deu-se durante uma edição do Festival de Cinema de Gramado, num tempo onde a tietagem ainda não conhecia Instagram, facebook ou zap-zap. Era no bico que a coisa funcionava mesmo. O fato deu-se numa Noite de Queijos e Vinhos da Galeteria Mamma Mia, cujo evento era o mais concorrido dentre os não menos famosos coquetéis e desfiles do Festival de Cinema.

Artistas, políticos, autoridades, empresários, socialites, imprensa, cineastas, e até pessoas normais eram convidadas a participar e refestelar-se nestes eventos memoráveis. Noutra ocasião, contarei outros, de outros tempos. Mas por ora, serve esse que vos passo a relatar (adoro essa linguagem narrativa medieval), porquanto verdadeiro, como descrevi.

Eram cerca de onze ou onze e meia da noite, e havia uma fila quilométrica de pessoas que acreditavam no destino e que o tal destino iria providenciar um convite de acesso ao paraíso dos glutões, onde vinhos, queijos e guloseimas à farta, jorravam pelas mesas, e quem quisesse poderia devorar de tudo e o tanto que desejasse e pudesse comer.

Meu amigo era o coordenador técnico do Festival, e estava no hall de entrada do restaurante, pelo lado de dentro, observando o movimento do lado de fora. Assustador. Gente de todo lado, desejando entrar. Mas para entrar, só com convite, e convites não eram vendidos e som entregues pela coordenação, pelos patrocinadores e pelo Gabinete do Prefeito. E quem meu amigo vê naquele instante, do lado de fora, cercado por populares, cumprimentando  abraçando um por um? O Prefeito (o qual recuso-me a citar o nome para não difamar a pessoa, ainda que por uma boa ação)! 

De chofre, meu amigo não pensou duas vezes! Passou a mão numa pilha de convites já recebidos, mas não inutilizados, enfiou no bolso do casacão, saiu lá fora, passou pelo prefeito, enfiou a pilha de convites no bolso dele, se piscaram, e ele saiu de fininho. Em poucos instantes, a felicidade de certo tanto de gente mais sortuda pela  proximidade fez brilhar a noite estrelada, pelos sorrisos e abraços, seguidos pela lepidez com que adentravam no lugar e escorregavam rapidamente para as mesas adornadas de refestelos.

Sim senhor. Naquele dia e em outros tantos desta natureza, perceberam o tamanho do carisma que o tal Prefeito tinha com seu povo. Fizeram uma coisa errada naquele dia, mas nunca foi tão legal errar como daquela vez, disse meu amigo. A bem da verdade, o Prefeito não perguntou de onde saíram os convites, e meu amigo considerou que se não havia pergunta, então também não tinha que contar de onde os recolhera.

Coisas de Gramado.Coisas de Gramado, sim senhor, senhora ou senhorita.

Imagem ilustrativa de internet

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A cobrança do Apolônio Lacerda



Parafuso solto é um eufemismo para destrambelhado, sem noção ou amalucado. Não que Apolônio Lacerda fosse isso tudo,mas ele tinha métodos, digamos, pouco convencionais para cobrar um devedor, e quando o fazia, era em público mesmo para constranger a pessoa, e como deram a ele um emprego de cobrador, tinha que se virar feito bolacha em boca de véia pra cobrar os cabortêro.

O grande problema é que Apolônio tinha uma péssima memória visual e confundia as pessoas, levando ambos a constrangimento desnecessário, mas que saía-se muito bem, tenho que admitir. o Matuto era ligeiro no tirocínio.

Certa ocasião, conta ele próprio, que entrou num restaurante da cidade grande, e caminhou em direção a um casal muito elegante, sentado próximo ao balcão, e de longe, erguendo o dedão, berra:

- Mãs chê! Tu me morre tão cedo (acentuando o "tão", viu? Tou te percurando!(Acentuando também o "viu?")! Tava memo te percurando, veiáco cachorro! Jaguara desmamado!


Todos param, arregalam os olhos assustados, olhando aquela figura com os cabelos lambidos de banha e bigodes imensos caídos pelo queixo, e faz-se silêncio total á espera de uma reação do ofendido. Não houve. Ficou tão pasmo e inerte quanto assustado e desinformado.

-Mas e continua me oiando a plasta, como se não tivesse nada pra me dizêri, animáli (acetuando o "animáli")! Tu é um animáli, jaguara!
- Desculpe, senhor, mas está falando comigo?
- Não, veiáco! Tou falando co garrão da bota que vou te enfiá nas venta! Mas a vontade que me dá d te metê o relho e um soco nos beiço, que é pra tu aprendê a não sê veiáco!
- Agora o senhor já está passando dos limites! O que tem contra mim? Nem lhe conheço!
- Pous não conhece memo, mãs, chê! A minha ermã tu conhece bem, e fais seis meis que tu não paga a pensão do guri, nem a prestaçã da  geladêra dela, coitada! E o guri, que sente tanto a falta do pai (aqui Apolônio chega às lágrimas de tanta ternura). Ele prigunta: Cadêle meu páaaai? Mas cadêle meu paaai? Taí! Se escondendo das conta, se escondendo do mundo, trocô até de cara. Era cabiludo e agora tá careca! Era barbudo e tá aí com essa cara de bunda de piazote! Andava de bombacha e guaiaca e agora anda só de cola fina, gravata!
- Senhor, penso estar me confundindo, eu nunca....(nem terminou a frase e de canto de olho olhou pra esposa, que já ajeitava a mão num sapato pra meter nas fuças do adúltero). Eu nunca usei barba comprida, nunca usei bombacha, pois nem gaúcho eu sou...
- Mâns chê(falou de modo mais paternal agora)! Tu pensa! Quantas veis tu chegô lá e ele mandava simbora os outro só pra te fazê bilu? Quantas vêis tu saiu de lá borracho cas cerôla dela na cabeça no lugári do chapéu, e ela foi atrais ajeitá, pra módi tu não passá verguenza em casa ?  Tu devia honrá o nome do teu pai, o teu nome, Guajarino! 
- Guajarino? Mas que guajarino? Meu nome é Leopoldo!!!!
- Ah la fresca! Mãns chê! Inté de nome tu trocô também, patife? NUNCA MAIS dirija a palavra à mim, maleva!
 (Dito isso, tal como entrou, misteriosamente, virou as costas e se retirou do lugar, deixando o pobre Leopoldo procurando um lugarzinho pra se enfiar, uma toca de rato, um buraco qualquer, enquanto todos o olhavam com olhar B-52 carregado até o bico).

Lá fora, apolônio olha para o lugar que entrou e observa o número do prédio: 69!

- Mãns chê! O bietinho dizia 96! Ah la fresca! Nunca mais eu boto as fuça aqui por perto.....

Bella Ciao e Modelo Econômico de Crescimento - Táticas e Estratégias que modelam o Pensamento Político

Imagem: Bing IA Pacard - Designer, Escritor, e Artista, que tem nojinho de políticos vaidosos* "E sucedeu que, estando Josué perto de J...