AD SENSE

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Quando a Liberdade de Expressão se choca contra a Expressão da Liberdade

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Imagem: Internet (Sócrates)
Diariamente recebo sugestões de pauta, que nem sempre são do interesse editorial deste espaço, e examino com muita cautela qualquer manifestação em temas de natureza polêmica. Certa ocasião, quando ainda tinha um semanário, um antagonista foi procurar o Ministério Público, para exigir que eu publicasse as matérias tendenciosas que enviavam para a redação do jornal, e eu, como Editor revisava-as uma a uma, e na grande maioria, descartava, e não as publicava. Ora! O fato muito indignou meus adversários, que acreditavam, pelo poder da Justiça, forçar-me a publicar aquilo que eu não desejava e não estava em minha linha editorial. Não se tratava de que eu concordasse ou discordasse, pois nem sempre estou de acordo com aquilo que eu mesmo publico,m as o faço, pelo interesse do debate. Pois bem! A resposta do Promotor, que também não achava que eu fosse a pessoa mais agradável do mundo, e que disse-me com claras letras, que lia tudo o que eu publicava, e que no dia que eu publicasse algo fora da Lei, ele me processaria, foi que: "Ainda que o Presidente da República caísse morto na porta da redação, se eu não quisesse publicar, eu não tinha essa obrigação, porque quem escreve, é responsável por aquilo que escreve, e não pelo que deixa de escrever (e publicar)".

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Os tempos aceleraram a liberdade, e o excesso de liberdade, a liberdade descontrolada, sem responsabilidade, acelerou a libertinagem, os excessos, e o desmazelo com o maior de todos os atributos inerentes ao Ser Humano: A fala! É através da fala que nos tornamos uma civilização atrás da outra. São as línguas que separam ou unem as pessoas, e depois destas, os costumes, o comportamento social, e por fim, as leis do país ou do lugar. Mas tudo começa com a fala, e a escrita é a forma de armazenar as palavras para não esquecê-las, e falar delas mais tarde. Então, a escrita é a fala três vezes: A primeira, ao pensar. A segunda, ao escrever, e a terceira, ao ler e transformar vocábulos gráficos, em sons, e sons em palavras.

Como uma casa é erguida sobre esteios, seguidos das paredes, e finalmente o teto, assim também as palavras constituem a casa do pensamento compartilhado, e como tal, segue certas regras de construção, para que umas palavras sejam atreladas a outras, e neste comboio de vocábulos, andando, como uma locomotiva, sobre trilhos, é que comunicam-se os seres racionais, a saber, o Ser Humano, a saber, você e eu. Esta comunicação compreende a estrutura do funcionamento da vida em sociedade, e para o bom convívio nesta sociedade, há padrões que facilitam o entendimento entre as pessoas, no convívio equilibrado, sustentado pela justeza do que é dito para que de justeza se firme como justiça, e para que como justiça, pelo mau emprego das palavras, seja transformado o viver em conjunto como punição pela desestruturação de um sistema, que bem funciona, quando funciona bem com todos.

Os tempos mudaram, acelerou-se o saber, a ciência (conhecimento) foi esquadrinhado (meticulosamente investigado), e a ânsia por falar, mais do que ouvir, invadiu o comportamento, antes formal, para o informal, e a Última flor do Lácio, inculta e bela", vulgariza-se como um trem descarrilhado, e arrasta pelo caminho, como um vendaval, varrendo a delicadeza, a elegância, o esplendor das citações vernaculares, respeitosas, ainda que no contraditório, que varrem os tribunais e as tribunas, onde quem as ocupa, imaginam-se diante de uma panteão de iracundos titãs à espera de afrontas para libertarem a fúria que queima em suas entranhas, e neste linguajar tosco e pueril, encontrarem suas vitórias diante de estupefatos  pares e magistrados, que cada dia mais encontram-se perplexos e inaptos a promoverem aquela justiça que estudaram durante a jornada acadêmica.

Em tempos de outrora, ainda que sob o frágil manto da precariedade de conhecimento, era o cuidado com a agressão fortuita, com o aparato verborrágico, até mesmo a manifestação acusativa em tribunais, lapidada com o cuidado em bater firme na ação do sujeito, sem pisar na dignidade, ainda que cercada de culpa, do sujeito da ação, e mesmo que resultasse sua retórica refinada em condenação, tais floreios exaltavam o respeito à dignidade humana, ainda que sob a batuta da correção aplicada. 

O mais se agrava quando as paixões viscerais que floreiam os discursos, e seu relato, e o hálito incandescente ultrapassa as fronteiras que a liturgia do ofício demanda, no ato de tais oratórias. Quando a Justiça se torna palco de espetáculos burlescos, e o defensor vitupera o acusador, ainda que ambos e todos vistam portentosas Togas,  descem, no âmago da oratória ao mundo das trevas, no tocante ao respeito mútuo, invocando forças estranhas ao ambiente sagrado da Justiça e da Ordem.

Quando mesclam-se desejos de expandirem à sociedade sua ansiedade por defesa de seus pacientes, ao suporte inevitável dos meios de comunicação, esta amálgama é o abrir das cancelas de uma loja de departamentos em dia de promoção e queda de preços das mercadorias. Há uma invasão de emoções que impede o pleno raciocínio, em detrimento da busca por resultados, em muitos casos, no desespero de causa, com um último estertor de possibilidades de reverter a culpa e retirar as sentenças pela inculpabilidade arremessada ao olor das ofensas pessoas e interpessoais.

Ninguém se livra das paixões, combustível para a animosidade, assim como ninguém também é inocente quando a causa primária cessa, e acontece o rescaldo dos ofendidos, buscando justiçar os ofensores. Eis o que ocorre todos os dias, em todos os tribunais. 

Por esta razão, gosto mais de escrever do que falar, porque no teclado, posso ser gago, como sou, porque o tempo de buscar a palavra que falta ao texto é o tempo da reflexão se é aquela mesma palavra que eu quero usar no ensaio. Erro menos quando penso mais. Erra mais, quem dispensa a liberdade de acertar, não pensando nas consequências dos erros. 
Portanto, Pense!


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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Quando uma voz se multiplica por uma causa - A liberdade como Bandeira




Triste povo, o que precisa de heróis. Bem-aventurado o povo que faz de si próprio o herói que buscava. Heroísmo é aquela ação que excede nossas forças, ou as forças externas em nosso cuidado, em situação de extremo perigo. Ninguém nasce herói. A situação o torna herói. E nem sempre o herói é o que está certo, mas é o que ultrapassa seus e nossos limites para agir em tempos de crise. Herói nem sempre é inteligente, bonito, ou fala com timidez (a ser analisado pela psicanálise: por que todo heróis, no seu disfarce de vida real, é alguém muito tímido, o que nunca termina bem com a namorada, ou que tem uma situação em conflito não resolvida?). Às vezes o herói pode ser alguém que surge do inesperado e que toma atitudes desesperadas por causas impossíveis.
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Havia uma causa: "O veado desgarrado e apátrida, disputado e acolhido, sem entender nada do que estava se passando - O "Chico"! A causa era conseguir convencer a opinião pública a comover-se com o caso, e agir em favor da proposta de tomar o "Chico" de um lugar, porque fora tomado de outro, pela arbitrariedade da Lei, e fazê-lo ser devolvido, a quem quer que fosse, por força do coração, independente da razão. E a razão dava guarida ao hospedeiro escolhido, enquanto que o coração dos que o entregaram mansamente, ao perceberem o vazio deixado, e pela injusta desigualdade de forças que competiam pela guarda de "Chico", começava a gritar alto, tão alto, ao ponto de convencer-me, por aliados do primeiro hospedeiro, a tornar-me o agente desta convicção pública quanto ao ocorrido. Foi o que fiz: escrevi, do meu jeito de escrever, opinando sem opinar, mas dando minha opinião, escolhendo as palavras certas, para elaborar o texto adequado, e lancei ao vento, envolto em argumentos que colocasse meus leitores e seus amigos, em suas redes sociais, a adotarem para si a causa de  ampliar esta mobilização, até que chegasse aos personagens capazes de decidirem favoravelmente à ação proposta. Meu trabalho terminou ali. Fiz o que sempre faço: levanto perguntas que suscitam outras perguntas, e em poucas horas, milhares de pessoas, desconhecidas entre si diretamente, adotaram incondicionalmente a causa de "libertar o Chico" (acho que já vi isso em algum lugar, mas não lembro exatamente onde , deu um "vermelho" na minha memória). Bem, o "Chico" continua ainda recebendo brioches de aveia com leite de Rena da Lapônia, com sequilhos flambados e alpiste torrado caramelizado, em um cenário de conto de fadas, talvez até gostando da situação, contando como benefício acrescido o fato de que tem uma rena velha ali que talvez até durma ao seu lado nas noites quentes de verão, para espantar-lhe as moscas e lamber-lhe o cangote. Afinal, ele é um meninote ainda e precisa de conselhos sobre a vida ainda.

Mas, e o herói, onde fica? O herói é um corpo coletivo, capaz de dizer "sim" a uma causa, e mobilizar-se em conjunto com dezenas, centenas, e milhares de pessoas, não importando as consequências que acarretará para os envolvidos, começando consigo próprio. As pessoas não se mobilizam por pessoas ou animais. As pessoas se mobilizam e criam revoluções por causas. Se você quiser criar um ajuntamento, crie uma causa, e atire as galinhas às raposas. Depois, vá contar as penas, pois as raposas não estarão interessadas se as galinhas eram inocentes ou não. Raposas devoram galinhas, e pessoas militam em causas porque veem outras pessoas gritando as mesmas palavras de ordem, e como o Ser Humano tem pavor da ideia de sentir-se só, agrupa-se, e grita junto: "Mata, Esfola" Come as tripas!". E aí, as galinhas, cujas tripas fedem demais, já estarão sendo lambidas pelos bandos combinados de todas as raposas da floresta. Quando não houver mais galinhas para esfolarem, as raposas se dispersam, e cada uma sai trotando seus passinhos curtos, para suas tocas, á espera de um novo alerta de galinha para depenar, ou causa para participar.

Chico não é uma galinha, e as pessoas envolvidas não são raposas. Usei uma metáfora, para demonstrar que, antes de entrar numa causa, há necessidade de avaliar a dimensão daquela causa, o alcance dos resultados, e o poder de resposta dos adversários. Serei objetivo, prático, pragmático: O parque que recebeu o animal, não errou ao receber. A equipe da SEMA, não errou ao confiscar, nem tampouco errou ao encaminhar para quem, de acordo com seus registros, estaria legalmente apto a fazê-lo. Não errou a família que tomou atitude de denunciar o que considerava anti-ético, o fato do parque recebedor transformar o animal em espetáculo, e auferir lucro mediante sua apresentação durante os espetáculos que promove (acho que promove, nunca botei os pés no lugar), e tampouco errou quem começou a mobilização por devolução do animal à sua habitação de origem. Errou quem então?

Errou e errou feio, errou vergonhosamente, o departamento de marketing do parque, ao tomar as atitudes agressivas que tomou:
1 - Com a enxurrada de críticas, lacrou a página nas redes sociais>
2 - Ao abrir novamente, deu respostas agressivas, antipáticas, ameaçadoras, falando em "medidas judiciais cabíveis", não considerando que não existem medidas judicias que caibam em críticas à comportamento de ambiente aberto ao público, senão por excessos eventualmente cometidos, tais como: ofensa à moral de pessoas, injúria ou difamação caluniosa por eventuais agressões ao patrimônio, ou por grave ameaça á pessoa. Não houve nada disso. Houve o desabafo triste, sofrido, melancólico, de pessoas que, ainda que não conheçam nem o "Chico", nem seus cuidadores anteriores, foram movidos pela sensibilidade tão frequente diante de injustiças à indefesos, visto tantas vezes nas redes sociais. Aqui, a sensibilidade dos envolvidos, dezenas de milhares deles já, compreendeu que faltou sensibilidade ao parque em, já no primeiro momento, promover ações que minimizassem o problema, tais como: Destinar parte dos ingressos em determinado dia à instituições filantrópicas de Gramado e de São Francisco de Paula; ou, promover o dia da "Visita ao "Chico", agora com outro nome, e promover aulas de educação ambiental, explicando para as crianças e jovens as razões porque não se deve ter animais exóticos sem o amparo da Lei; ou convidar a população para que visitem o "Chico", com ingressos facilitados e campanhas de doação de alimentos, ou tantas outras campanhas, que transformariam o limão em limonada. E todos sairiam fortalecidos. Mas não foi isso que aconteceu, e pela forma agressiva, antipática, prepotente, que a direção tratou o assunto, fez-se necessária a formação de um corpo de heróis, de audazes, de valentes, de letrados, de Organizações pelo Direito dos Animais se manifestassem, em lugar de um simples comunicado, uma declaração que amenize o assunto, escrita com palavras certas, pouco técnicas, mas tomadas de afetividade, e sobretudo com humanidade, mostrando que atrás dos murros e das cercas do lugar, batem corações e corações sinceros, pois parece à mim, e aos leitores, muito, muito estranho, que um lugar que cobre ingressos elevados para vender a ideia de um lugar feliz, repleto de amor, trate a realidade como um fórum, onde quem argumenta mais, desmerece quem argumenta menos.

Não seria o caso do corpo de heróis reconhecer que não haverá vitória judicial, mas que a quem não sabe o que é um sorriso, deve-se emprestar um?  A voz se multiplicou e a liberdade do Chico, é a bandeira. Só que Chico é um apátrida. Está condenado a ser confinado em um palco de luzes e purpurina. Não pode ser solto no campo, pois pode mesclar-se à espécies endêmicas, e procriar uma nova raça na região. Afinal, ele não é touro, cavalo, Galinha, Peru, ganso, todas espécias "nativas" e que "nunca se misturaram. E a outra solução, seria radical demais, um absurdo: Castrá-lo!  Isso o deixaria imenso de gordo, voz afinada, e sujeito a "bullying". Não! Melhor a prisão purpurinada. Pelo menso tem as tias e quem sabe uma delas não lhe tá uma chance e nasce mais um "chico", para que ganhem mais dinheiro? A ser pensado.

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domingo, 10 de novembro de 2019

Leviatã - O Tamanho do Estado e a Transformação Política




Leviatã é o livro mais famoso do filósofo inglês Thomas Hobbes, publicado em 1651. O seu título se deve ao monstro bíblico Leviatã. O livro, cujo título por extenso é Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, trata da estrutura da sociedade organizada. 
Hobbes alega serem os humanos egoístas por natureza. Com essa natureza tenderiam a guerrear entre si, todos contra todos (Bellum omnia omnes). Assim, para não exterminarmo-nos uns aos outros será necessário um contrato social que estabeleça a paz, a qual levará os homens a abdicarem da guerra contra outros homens. Mas, egoístas que são, necessitam de um soberano (Leviatã) que puna aqueles que não obedecem ao contrato social. 
Nota-se que um soberano pode ser tanto uma pessoa quanto um grupo, eleito ou não. Porém, na perspectiva de Hobbes, a melhor forma de governo era a monarquia — sem a presença concomitante de um Parlamento, pois este dividiria o poder e, portanto, seria um estorvo ao Leviatã e levaria a sociedade ao caos (como na guerra civil inglesa).(Fonte: Wiki)
O Estado tornou-se agigantado com tal dimensão, que a autoridade fragmentada torna-se por si só, uma ditadura, um totalitarismo, e à medida em que se emaranha na própria teia, um autoritarismo despótico irreversível, causando, com isso, insegurança jurídica, instabilidade social, e desânimo patriótico. O que vemos nos acontecimentos recentes vai muito além das paixões por um e outro lado das diferenças tão gritantes que levam às ruas a resultante destas paixões acéfalas.
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O agigantamento do Estado faz gerar impostos excessivos e injustos. Suga da produção, da qualidade de vida, do posicionamento e competitividade de mercado, tanto interno quanto externo, de tal modo, que os governos, em lugar de se preocuparem em prover investimentos e melhoramentos ou manutenção da infraestrutura do Estado, consome-se em justificativas jurídicas, em embates ideológicos, que passam longe do âmago da questão, e ainda mais da defesa da honestidade em xeque de um e de outro lado, fazendo com isso, esvair-se o rendimento, e avolumar a discórdia. É como um paciente em estado avançado da doença, que necessita, de um lado, tomar antibióticos poderosos para não sucumbir à próxima febre, mas que no outro braço tem conectado um litro de nutrientes, para que o corpo sobrevida ao ataque, tanto da doença, quanto do remédio forte, e cheio de efeitos colaterais.
O Estado brasileiro e latino-americano foram apanhados num tsunami esperado e previsto, mas sem força nem aparato de reação. É como avisar que uma represa vai desabar sobre uma casa, e a fenda se abre a olhos vistos. Não se pode fazer nada para impedir, e não é uma questão de "se", nas de "quando" o desastre vai ocorrer. Assim funcionam as profecias, que são sobrenaturais, mas também as previsões, que usam métodos científicos, para anteciparem certos acontecimentos, ainda que inexoráveis, e tudo o que resta ao povo é aumentar a fé, e acreditar que desgraça só acontece com quem está longe, mas que quando cai sobre a própria pessoa, é perguntar-se: "Por que comigo?".
Na minha leitura otimista dos fatos, Direita e Esquerda perceberiam que o que fazem é danoso ao Estado, ao Povo. Que a Direita seria menos paixão e mais empenho em restaurar sua ideologia com moldes de inteligência, para elaborar um projeto cinquentenário de estabilidade, justiça, e tranquilidade. Já a Esquerda, neste modo de examinar as coisas, seja ela de oposição ou situação, perceberia que a veneração de ícones e pseudo-mártires, defendendo impunidade para uns e punição exemplar para outros, contanto que "uns" sejam de suas fileiras de luta, e "outros", os adversários. Só que, infelizmente não está acontecendo assim, não porque veja que este ou aquele grupo seja melhor pu pior, mas porque vejo que que este e aquele grupo estão insuflados pelo ódio, um pelo outro, e que ódio mútuo nunca foi cenário para diálogo, e o caos, como uma chama imorredoura, prolifera-se nos barris de pólvora espalhados pela nação.
Aqui, Hobbes, bem descreve o Leviatã como o Estado, que se agiganta, mas não supre suas necessidades, e que seus filhos servem como alimento para que o mesmo Estado continue vivo. E o Estado não se sustenta mais nesta dualidade destrutiva, que de democracia nada mais tem. E então Hobbes propõe que o absolutismo seja a solução para o caos estabelecido. E a solução de Hobbes está sendo aplicada já na América latina, por exemplo, no Peru, onde o Presidente em um canetaço, fechou o Congresso, e a Suprema Corte, porque estavam, a olhos vistos, mancomunados e acorrentados pela corrupção, engavetando inclusive processos da Lava-Jato brasileira, que denunciava propinas às suas autoridades e políticos.
O eventual fechamento das casas legislativas e do judiciário, seria até mesmo um alívio a eventuais políticos e magistrados enredados em chantagens de seus próprios atos vergonhosos, pois com o fechamento temporário, para investigação por uma corte militar, o que é constitucional, libertaria estes também corruptos e subornados eventuais, do jugo de seus corruptores.
É uma situação hipotética, mas factível e no pensamento de Hobbes, necessária, para que o Lobo pare de devorar outro Lobo, e também o povo, como sobremesa. Talvez sejam as Forças Armadas, requisitadas pela população, o "audaz cavaleiro em seu cavalo brando de Justiça", que deceparia a cabeça deste Leviatã, para alívio dos encarcerados em leitos de hospitais, em corredores sobre trapos ao chão, para os aposentados com seus minguados proventos á mercês de lobos escroques que  lambem gota a gota de seus proventos antes mesmos de serem retirados pelas financeiras famintas, em lugar de libertarem os enjaulados por mal-feito aos inocentes, por corrupção, por crimes hediondos, que se beneficiam de arrastão porque cinco juízes se blindam na auto-divindade, e destroçam o direito de justiça por parte dos inocentes, dos que pagam impostos, dos que não fazem arruaças, e que edificam, com sangue  e suor, os pilares de uma nação, cuja criança deva amar com fé e orgulho a terra onde gostariam de viver livre e soberana. Mesmo porque, em caso de abuso de autoridade, e má gestão pública, é mais fácil destituir um governante indigno, do que tentar transformar centenas de parlamentares com esta má índole, em um Parlamento confiável. Note-se que até mesmo os ditadores se consubstanciam pelo Parlamento e Judiciário manipulável. Deve sim, haver um supremo mandatário, com mandato de quatro anos e impedido de reeleição. A qualquer tempo.

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sábado, 9 de novembro de 2019

Não precisamos de heróis terceirizados- Precisamos ser os nossos próprios heróis



Nem vou filosofar de saída. Vou direto ao ponto. Esmagadora maioria de contemporâneos meus, de juventude, dos tempo da guaraná com rolha, que atravessaram os anos 70, e eram, assim como eu, deslumbrados pelos cabelos compridos dos rapazes, os vestidos coloridos e floreados das moças, mas principalmente pela ideia de que se nos rebelássemos contra o regime militar, se contássemos piadas infames de milicos, à sombra do anonimato, estaríamos contribuindo de corpo e alma para uma contra-revolução, uma libertação do regime, e a tradução de uma pátria livre, de uma América livre, hoje, esta esmagadora maioria, que como eu, acreditava no socialismo moreno, já não pensa mais deste modo. E não, não fomos subornados. Ninguém nos pagou para reavaliarmos nossos conceitos, e redesenharmos nossas opiniões. Mas não pensam mais assim, como eu não penso mais do modo que pensava.

Nunca fui comunista, mas devo confessar que a ideia de uma sociedade equilibrada, onde não haveria miséria, nem riqueza absurdamente distante do alcance de que qualquer pessoa que, por meritocracia, alcançasse sucesso, era algo que fascinava. E, e muitos amigos meus. Mas o tempo mudou. Nossos valores se transformaram, à medida em que nos casamos, geramos filhos, e construímos a sociedade que éramos capazes de construir. Fizemos sim, a nossa revolução, mas bem diferente do modo que as palavras emaranhadas dos intelectuais de então desenharam para que as repetíssemos. Até as repetimos, por certo tempo, mas o choro dos bebê no meio da madrugada, e as contas batendo à porta, logo cedo, pela manhã, pouco a pouco foram nos afastando dos ideais poéticos, e nos encaixando na realidade factível.

O tempo passou. Passaram as crises. Passou a vida, e continua a passar, não por nós, mas em nós. Nos instruímos, cada um a seu modo e lugar. Hoje nossos sonhos são contrastados com a possibilidade de os realizarmos por nós mesmos, sem esperar por milagres sobrenaturais (milagre é sempre sobrenatural), mas estribados no alcance de nossas pernas, na resistência de nossos braços, e na ânsia pelos sonhos dos que vieram depois: os nossos filhos.
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Hoje, através deste movimento alucinado de "Nós contra Eles", em que Direita e Esquerda se digladiam, vemos como espelhos do passado, os nossos próprios retratos, e são as nossas mãos quem seguram as mãos dos que sonham em nosso lugar, e nos defrontamos com contemporâneos que permaneceram congelados no tempo, e tornam-se os novos guias cegos, que gritam para que sejam ouvidos, e sejam seguidos por outros que ouvem, sem nada dizer. É decepcionante o paradoxo de vermos quem antes nos apaixonava, hoje nos apiedar, não o sabemos se por ignorância ou má fé. É decepcionante encontrarmos nossos ícones do passado, amordaçados pelo cego fanatismo, hibernando sobre livros mofos resgatados dos porões da ignomínia, e entregando-se em sacrifício por semideuses da discórdia, por brados de guerra que desejam ver, por gente que já esteve em nossas doces lembranças dos tempos de nossos próprios sonhos.

O mundo mudou, e nós nem sempre fomos capazes de mudar com a escola do pior do mundo. O mundo mudou porque pessoas mudam o mundo. Algumas, buscam doar-se para melhorar a sociedade. Outras buscam roubar a ânsia pela vida daqueles que necessitam de heróis. Não precisamos de heróis. Precisamos ser nossos próprios heróis, cada vez mais. Não precisamos de heróis inflados, que são levados pelo vento, e estouram na primeira adversidade que encontram. Nossos heróis não são aqueles que apenas um elementos os torna vulneráveis, uma "Kriptonita", mas somos os heróis onde tudo à nossa volta é "Kriptonita", e apenas um ponto nos torna vencedores: O nosso caráter! Não precisamos de mártires vazios de decência e cheios de ódio acumulado para construir a nossa sociedade. O que precisamos é de regarmos a semente que nos moveu na juventude em busca de equilibrio social e moral, e adaptarmos à sabedoria que a experiência nos legou.

O mundo muda a cada tecla de nossas cartas à vida, e são as mesmas letras que usamos para compor novas canções a cada dia. As mesmas letras, mas em novas palavras. Dia a dia, olhamos para o passado e tentamos localizar o "erro matriz", o nosso "pecado original", e o que encontramos são apenas sulcos e pegadas que deixamos atrás de nós.Até ai não há problema. O problema parece estar em que os que vem atrás de nós, não tenham discernimento ou vontade para abrirem seus próprios caminhos, e sigam os nossos mesmos erros, repitam as mesmas palavras, cantem as mesmas canções, em um dissonante coro que apenas  encaixa seu ritmo, tempo, e voz, nos madrigais regidos por outrem.

Não precisamos de novos maestros que movimentem suas batutas e nos ordenem que cantemos do jeito que eles determinarem. O que precisamos é sermos solistas de nossa inquietude, ainda que mil solistas nos cerquem com seus próprios solos. Verdade, que parecerá dissonante em um coro, mas o mundo é dissonante em suas ideias também. Precisamos cantar as nossas próprias canções, com a experiência da maturidade, com o mesmo vigor da juventude.

Não precisamos de heróis terceirizados pelos Partidos, mas precisamos terceirizar nossa identidade para que nossa voz seja ouvida, ainda que entre outras milhares, milhões, ou bilhões de outras vozes, cujos cantos são livres e cuja ,liberdade não vá além da liberdade dos que cantam ao nosso lado.







sábado, 2 de novembro de 2019

O Espelho das Opiniões - Quem somos nós e quem desejamos que sejam nossos ícones?




Fui professor de desenho por muitos anos, e o tema mais procurado, era o Desenho de Perspectiva. (Baixe gratuitamente minha apostila clicando aqui). Gosto muito de desenho, de perspectiva, e de ensinar desenho de perspectiva. E quando eu explico o sentido da perspectiva, e digo que nesta modalidade de ilustração, temos que fazer a combinação de elementos reais, com elementos virtuais. Mas o que são elementos reais e virtuais, no desenho?

Você, querido leitor ou perfumada leitora, é um elemento real. Você pode ser dimensionado, ou dimensionada. Você também, pode ser identificado pelo seu peso, sua altura, sua voz, suas configuração genética, enfim, há muitas maneiras de determinar a sua existência na sala ou no ambiente onde se encontra. Assim, você é tão real quanto um pacote de biscoitos recheados, embora tenha, talvez, sabor um pouco diferente dos biscoitos. É um palpite, mas creio que sim. O preço também sobe um pouco, nesta análise. Mas ambos são reais, ainda que um seja quem coma o outro, continuam sendo reais.

Pois bem. Mas caso, você resolva esconder-se de uma visita inesperada, digamos, no seu quarto (eu ia dizer banheiro, mas é meio estranho ir comer biscoito recheado - o tal que não é você, dentro do banheiro). Então, ao adentrar no recinto, você dá de cara com aquele enorme espelho, com moldura laqueada, do tempo da sua avó. Certo! Você está diante de um legítimo espelho de cristal com 76 anos de existência. Que super! Uau! E o que está na sua mão? Ele, o pacote de bolachinha recheada, que não é você, já garantimos isso, e instantaneamente você começa a refletir sobre seu próprio reflexo: a sua imagem virtual! Eis o mistério do tempo e do espaço, resolvido pelas leis da física, a Reflexão! É ela quem coloca você instantaneamente em outra dimensão, onde você percebe através da visão, que seu cabelo está rebelde aquele dia, e que o espelho provavelmente esteja com desvio de superfície, pois sua barriga não pode ser tão grande quanto aparece na imagem. Certamente não era esta a imagem que você gostaria de encontrar, caso pudesse viajar de uma dimensão á outra, e encontrar-se consigo mesmo. Mas gente! Você acaba de promover este encontro, graças á sua determinação em não ter que dividir as bolachinhas recheadas do pacote, com as visitas comilonas que apareceram de última hora. Gente mal educada! Assim, você, beliscando-se, para sentir-se ainda você, se defronta com a sua imagem, que também se belisca (nunca vire de costas para uma imagem que pegou gosto por beliscar, pois sua bunda é a parte beliscável mais próxima desta imagem de si mesmo, além do fato de acidentalmente olhar pra trás e reconhecer-se aquele bundão de quem falava tanto mal há poucos dias atrás.

Às vezes, nós colocamos os outros, dentro de espelhos imaginários, onde podemos moldá-los à nossa imagem e desejada semelhança. Estas pessoas são aquelas com as quais nutrimos certa simpatia pelo que fazem, pelo que dizem, pelo que mostram, por suas ideias, por sua bela voz, por seu carisma, seja ele político, artístico, cultural, religioso, ou moral. Criamos os nossos ícones a partir daquilo que há em nós que nos identifica com tais pessoas. Chamamos isso de "tietagem", mas "tietagem", não é amor, não é afeto, não é admiração pelo valor da pessoa, do ícone, em si, mas porque ela é formada das nossas moléculas reflexivas, porque quando as vemos, vemos a nós mesmos dentro destes espelhos onde as colocamos para vê-las melhor, para manipulá-las melhor, para moldá-las cada vez mais à nossa semelhança, não semelhantes ao que somos, mas ao que desejaríamos ser.

Somos sedentos por heróis. Somos famintos por audazes que vistam uma capa de poder e deem-nos outra capa, para que voemos lado a lado em suas missões de salvamento de algo ou alguém, pois quando nossos heróis voam, voamos junto com eles, e quando nossos heróis são atacados, é em nós que batem as pedras dos ataques. Quando adotamos tais ícones, cobramos deles perfeição, aquela que nós não somos capazes de alcançar, porque somos reais. Estamos sujeitos às leis da gravidade, da biologia, da química, da física, de todas as leis que nos sustentam vivos e livres. Então, intensamente desejamos confrontar-nos com nossos espelho, porque quem está do outro lado do vidro, mergulhado na superfície de prata daquela moldura, é nosso "EU", livre destas leis, mas atrelado à nossos movimentos, e principalmente à intensidade da luz que fornecemos para a concretização deste encontro virtual.

Como eu escrevo sobre política, pergunto: E o que um ser que arde em incertezas, buscando respostas diante do espelho, tem a ver com política aqui neste ensaio? Talvez eu não dê a resposta, como de fato não gosto de encerrar uma questão, fato que encapsularia o leitor no círculo vicioso de perguntas e respostas, e um circulo vicioso jamais será resposta a nada. Assim, pergunto eu, para que a perfumada leitora e o distinto leitor, debatam com seu travesseiro e troquem ideias com seus botões: O que você espera da pessoa a quem, no mais profundo de sua intimidade, permitirá que seja o portador de sua vontade, soberana, graciosa, determinada, a não ser que o represente tão bem, que não seja ela a ver-se como real, e você como um fantoche virtual, que só existe quando há luz do outro lado, para refleti-lo do melhor modo visível?

Não seria o eleitor, enquanto cidadão, sujeito às determinações daqueles em quem votaram, durante os quatro anos, apenas uma imagem refletida, sujeita ao querer e ao efetuar daqueles que se sentem de fato, reais, por terem peso, passo, e pensamento, revestidos da terceira dimensão da sua (falo com você, presta atenção, ou quer levar uns tabefes pra acordar?) imagem, que pensa que os manipula, mas que na verdade o espelho é deles?
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Falei difícil: Era a intenção. Se não entendeu, leia de novo. Eu não estou emprestando minhas ideias e palavras para gente sem cérebro. Você tem um. Use-o, senão alguém vai fazer uso dele. Para manipulá-lo, por exemplo. Para fazer de seu voto, um espelho, para suas patifarias, se for esta a sua imagem refletida do lado de lá do espelho. Vai votar errado, ou vai examinar com lente grossa cada movimento de seus candidatos? Ou vai deixar para escolher na última hora, tirando a sorte?

Vai você esperar que apareçam candidatos, ou vai tomar a iniciativa de escolher e promover você mesmo a candidatura de quem você acredita que possa fazer melhor por sua cidade, sua família, por você? Ou quem sabe, seja você mesmo no espelho, dos dois lados, e comece o seu tempo de determinação própria?



Olá!
Sou Pacard (Paulo Cardoso), Escritor, Gramadense de adoção e coração, e às vezes, gosto de pensar que D-s me fez andar por muitos caminhos, atravessar muitos pântanos, tropeçar em muitas pedras, isso tudo, como um conjunto de oportunidades para meu amadurecimento pessoal, interpessoal, humanitário, político, ético, e religioso. É o que chamamos de "Escola da Vida". E hoje vejo-me com a graciosa oportunidade de servir à minha comunidade, ao meu chão amado, à minha querência natal, com as letras que tanto amo, sob a forma de crônicas, ensaios, e aconselhamentos coletivos. É assim que vejo meu trabalho. E meus valores são: D-s (Deus), Família, Gramado, e o resto do mundo, se sobrar tempo.



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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Acangaú - Voltar à cabeça do poço - As revoluções de uma "civilização" chamada "Gramado"


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Foto: Nascente do rio São Francisco - Picture of Parque Nacional da Serra da Canastra, Sao Roque de Minas - TripAdvisor

Acangaú, uma palavra de origem Tupi-Guarani, que é traduzida como: Voltar à Cabeça do Poço. Vale com isso, dizer, retornar às origens. Buscar a nascente do rio, onde se bebe água limpa. Tive oportunidade de criar um seminário no Norte Catarinense, um dos maiores polos moveleiros do Brasil, onde fui chamado para criar um projeto de inovação e gestão de design, cujo objetivo era capacitar empresários deste setor ao retorno ao mercado brasileiro, a partir da gestão de design para inovação tecnológica. Isso foi lá por 2009 a 2012. Isso aconteceu porque o polo de São Bento do Sul, que engloba também os municípios de Rio Negrinho, Campo Alegre, além de São Bento do Sul, havia deixado de atender o mercado brasileiro por cerca de 40 anos antes, em razão de seu grande preparo e tecnologia com suficiente capacidade para atender o mercado internacional, motivado também pelo Dólar convidativo, e seu potencial de produção em larga escala. o enfraquecimento do mercado interno, pelo baixo volume e concorrência com as empresas ditas de "fundo de quintal", que tinha certa paixão por esquivar-se de tributar suas vendas, aliado à inadimplência contumaz dos clientes, o que permitiu com grande facilidade a tomada de decisão de deixar de fornecer aqueles que pagavam mal e compravam pouco, em benefício dos que compravam muito, em quantidades repetitivas, favorecendo o crescimento rápido, e pagavam em moeda verde, o Dólar. Assim, por quatro décadas, o Brasil deixou de comprar móveis de São Bento do Sul, e pulverizou seu fornecimento em outros polos, como Bento Gonçalves (RS), Linhares (ES), Arapongas (PR), e não, Gramado nunca chegou a preencher sequer uma fração do mercado moveleiro, com exceção de privilegiada camada com melhor poder aquisitivo, em âmbito regional.

Quando falo de mercado consumidor, faço referência a cerca de 100 milhões de pessoas, na época, em crescente situação de consumo, com poder aquisitivo baixo, que necessitava de produtos de larga produção, e baixo preço, condição que Gramado nunca teria, por diversos fatores. Assim manteve-se como fornecedor regional, de mobiliário de maior valor agregado, e com estilo próprio, denominado "Móvel de Gramado", razão de ostentação em casas de campo e  fazendas, por sua rusticidade e estilo, e mais tarde, migrando para estilos mais urbanos, mas ainda com certa rusticidade, e fabricação quase artesanal, necessitando de profissionais bem treinados, e tempo extra para acabamento e pintura, uma vez que o clima de Gramado não oferece acolhida favorável à pintura e acabamento em ambiente natural, devido o clima temperado e frio, chuvoso, de umidade elevada.

Associado ao clima desfavorável, à falta de espaço para um distrito industrial, a mão de obra tornou-se cada vez mais rara, considerando que outras oportunidades de trabalho e emprego, em condições mais favoráveis, tornaram-se como o lendário "Flautista de Hamelim", o vácuo que tirou das fábricas, e os enviando para a hotelaria, comercio, serviços ao turismo, os fortes braços que antes "paleteavam" pranchas pesadas, cedo de manhã, sob temperaturas negativas, e diante destas novas alternativas, não pensaram duas vezes e trocaram, de contínuo, o barulho das máquinas, pelo perfume do café da manhã nos hotéis, e a alegria dos hóspedes que deixavam agradáveis gorjetas em troca desta amabilidade. Assim de uma a uma, as fábricas de móveis de Gramado, foram sendo fechadas, e permaneceram aquelas que investiram em tecnologia, design, e bons salários, para manterem-se no mercado, agora ainda mais competitivo que antes.

Falei dos móveis, mas associo a esta inundação de novas oportunidades, a diversificação de ofertas e entretenimento ao turismo, como a criação de parques temáticos, a fabricação de chocolate caseiro, a abertura das comunidades rurais como valor agregado de permanência dos turistas em Gramado, assim como, e principalmente, os eventos, pequenos e grandes, que pulverizam motivos e oportunidades de enriquecimento comercial, profissional, social, e cultural, que a cidade construiu como uma câmara de descompressão para enfrentar as grandes crises nacionais.

Gramado criou em si e para si, uma legendária fama de paraíso na terra, onde centenas de milhares, e por que não dizer, milhões de pessoas, ainda que não acreditem, ou desconhecem as profecias que  falam em um paraíso restaurado na Terra, com a chegada do Messias, tem como sonho de consumo, se não morar, ao menos visitar Gramado, pelo menos uma vez na vida, assim como todo devoto islâmico deve visitar Meca,  e aproveitar o máximo de suas delícias.

O mundo é cíclico, e todas as grandes civilizações já se foram. Delas restam apenas fragmentos enterrados na poeira dos anos, e que retrata duas coisas muito simples: Sua cultura e sua religiosidade É por meio destes vestígios encontrados, que os arqueólogos desenham o possível desenvolvimento humano sob os costumes destas civilizações. É por meio de um fragmento de estátua ou tijolo, que é possível desenhar-se o cenário e o dia a dia daqueles povos. cujas civilizações tiveram seu princípio, seu apogeu, e seu declínio. Após este prefácio, segue a pergunta do dia: Gramado, dentro do contexto de identidade nacional, e em comparação à milhares de outros municípios, tem já demarcados os seus limites do coletivo, e iniciado o seu rascunho de uma pequena civilização , ou começa aos poucos a se redesenhar para a história? Em qual lugar você, meu querido leitor e minha perfumada leitora, estará neste mural de originalidades e grandes feitos, quando for descortinado o passado, em algum tempo e lugar no futuro? Quem é você e qual seu papel em desenhar uma história, cujas páginas já se desenham a cada manhã que você sai de sua casa para edificar uma cidadela? Quem é você neste livro, e em quais páginas suas digitais tocaram, para que possa receber o merecido registro nesta civilização?

Acangaú diz que somos uma volta à "cabeça do poço", num tempo em que o certo e o errado se mesclam, em que o aceitável substitui  o bom, e que o ótimo é apenas uma figura de retórica. Diz que precisamos cessar por algum tempo, ainda que pouco, aquilo que estamos fazendo, e pensarmos no que representa o que fazemos, para enobrecer aquilo que outros encontrarão daquilo que nós deixamos.

Quando visitamos as páginas da história em nossos livros, ali encontraremos nomes de pessoas com as quais nunca trocamos um cumprimento, mas que, ainda que mortos, tornaram-se imortais nos registros das civilizações que construíram, e hoje conduzem até nosso modo de pensar e agir. Então, que nomes deixaremos nesta história? E caso não tenhamos as respostas, não deveríamosvoltar ao "Acangaú", para descobrirmos, pela limpidez da água, de que água bebemos até aqui, e que água beberemos daqui em diante?

Assim como o polo moveleiro de Santa Catarina, a seu tempo, entendeu necessário reciclar-se antes que os desejos do rio de sua história contaminassem sua nascente, como deveríamos visitar nossas própria nascente, e ali colhermos da melhor água, aquela que nos refresca a alma, mas nos molda o caráter e norteia nossa busca pela felicidade?

Acho bom pensar, antes que descubram este poço de águas límpidas, e o cerquem, para vendê-lo aos pedaços, como souvenir de um tempo e um lugar que não tem mais fonte para voltarmos.

Acangaú é o "Reiniciar" do computador que trava sem parar. Esfriar o processador. Limpar o lixo digital. Refrescar a memória. E bola pra frente!







terça-feira, 22 de outubro de 2019

AS SOMBRAS DA JANELA





Apenas pássaros. E pássaros que não podem voar,
não podem ser pássaros, pois voar é preciso
para que sejam cada vez mais.

Ouvia Debussy.
Em plena metade da manhã, ele ouvia Debussy.
As manhãs não foram feitas para Debussy. Talvez
Vivaldi. Debussy, não. Este tem seu lugar ao entardecer.
Chopin, vem logo mais adiante, no alto da escuridão. Mas
para as manhãs, Grieg poderia fazer companhia a Debussy.

No entanto ele ouvia Debussy enquanto a mão
trêmula desenhava algo no vidro suado da janela. Desenhava
ou escrevia. A água condensada pelo calor da mão escorria
fazendo borrar o que já havia desenhado. Pareciam círculos,
repetidos, mecânicos.

O seu olhar não mirava as mãos que pareciam
mecânicas, no gesto hipnótico de circular no vazio. Olhava
num ponto perdido entre o infinito de seus pensamentos e o
horizonte avermelhado.
Uma lágrima verteu enquanto premia os lábios
contendo o choro. Mas a alma já chorava havia muito tempo
antes.

Lá fora, o sol brincava de ir e vir entre nuvens
apressadas, e o riacho murmuravam quebrando o silêncio.
Um pássaro perdido buscava gravetos com pressa próprios
dos pássaros, compensando o inverno que avisava de sua
chegada. Com chuva. Fina e fria.
Fechava-se o céu. As cores mudaram e cada vez mais
embaçado o vidro ficava.

Debussy no velho toca-discos continuava a tocar
numa interminável homilia ao amor perdido. Numa elegia à
solidão.

Numa compensação pela dor, apenas se quebrava a
mágica combinação da música com a paisagem e o
pensamento, o ruído das falhas do disco de vinil antigo.

Ele havia sonhado voar alto, mas calculara errado o
alcance do voo. Suas asas, como as de Ícaro, se partiram,
escoaram no sol da realidade, e o levaram a estatelar-se no
chão. Restava agora o recomeçar. Sem as asas, que eram seus
sonhos. Com a dor da queda. Apenas ainda o olhar aguçado,
para que distante pudesse ver e sofrer pelo que havia
perdido.

Seus sonhos eram tantos. Uns tangíveis, outros eram
brumas.

Pequenos sonhos povoavam sua alma como uma
multidão de pequenos pássaros voejando em sua existência.
Eram pássaros pequenos e nada mais. Apenas pássaros. E
pássaros que não podem voar, não podem ser pássaros, pois
voar é preciso para que sejam cada vez mais pássaros. E livres
possam voar...

A música acabou, mas o disco continuou a girar. A
agulha travou e o último acorde se repetia
interminavelmente da vitrola...
Seus pensamentos se repetiam em pequenas partes.
Apenas as partes boas de serem lembradas.


Bella Ciao e Modelo Econômico de Crescimento - Táticas e Estratégias que modelam o Pensamento Político

Imagem: Bing IA Pacard - Designer, Escritor, e Artista, que tem nojinho de políticos vaidosos* "E sucedeu que, estando Josué perto de J...