AD SENSE

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Voce precisa mesmo expulsar o candidato de sua casa? O eleitor medíocre

 

Li com tristeza, algo que foi compartilhado com protesto, e como escracho, como deboche da baixa popularidade dos políticos. Isso não é privilégio apenas dos políticos, mas de grupos religiosos, de vendedores, e de qualquer pessoa que esteja em situação de depender do gesto de boa vontade das pessoas..

Vi certa vez, uma placa de bom tamanho, no jardim de uma casa, os seguintes dizeres:
-"Pessoas das Testemunhas de Jeová, estão proibidas de entrarem nessa casa"

Soube, depois, que era um ódio intrínseco, pois um membro daquela família havia se convertido à esta religião, o que incomodou sobremodo os familiares, devotos de outra doutrina.

A disseminação do ódio é uma constante no mundo, mas em tempo de eleições, ficam liberadas as ofensas pessoais, as ilações (acusações vazias, insinuações), os ataques, até mesmo físicos, e verbais agressivos, no confronto entre duas pessoas, muitas vezes da mesma família, que divergem das opções um do outro.

O fato que descrevo é uma imagem compartilhada nas redes, de um morador, em Gramado, que instalou na sua casa, ou condomínio, não sei dizer, uma enorme faixa, com dizeres que deixam clara a exclusão de candidatos neste território particular.

Que triste isso. Não sei, e nem quero saber quem são estas pessoas, mas sou capaz de traçar um perfil delas, xingando, ao longo de quatro anos, os políticos, por qualquer razão, sendo que não tenham um, em espacial, a direcionar seus protestos, pois, quando eu quero reclamar de algo, procuro alguém, para que faça alguma coisa, mas, não posso reclamar de quem não me deve neda, nem mesmo sua palavra.

Como poderia eu, cobrar de um prefeito, um vice, e nove vereadores, por algo que não me prometeram, de uma reivindicação que não fiz, olhando nos olhos e selando o acordo com um aperto de mão?

Desse modo, quem não se compromete no caminho, não espere receber a chave da porta na chegada. O compromisso das autoridades é com o povo, com todas as pessoas, mas o compromisso de ouvir uma reclamação, deve ser direcionada, para que não se torne injusta, pois, como pode o Prefeito pagar por promessas feitas pelo vereador, sem que não tenha participado da conversa?
Quem não participa da campanha, seja como militante, buscador de votos, ou como eleitor que recebe o candidato para ouvir suas propostas, não tem o mínimo direito de reclamar depois, não tem a mínima condição moral de apontar ausência política de quem ele próprio, eleitor, nem mesmo se dispôs a ouvi-lo. Hipocrisia se responde com silêncio. É o que há.



terça-feira, 13 de outubro de 2020

O viajante dos ventos - O casulo das almas - ( Janela I )


 
O viajante dos ventos

Pacard

Janela Um


O casulo das almas



A brisa do mar regia o bailado das folhas secas que rodopiavam subindo e descendo, subindo e descendo, desafiando-se umas às outras, até que uma rajada marota soprava-as para o alto e de lá sumiam, ora para o mar, ora para as campinas.

Férias na casa de campo dos avós é um presente, um tempo esperado o ano todo. Fernando e Daniela chegaram no dia anterior ao feriado, mas já estavam de férias, e cada minuto deve ser aproveitado, o melhor que der.


- Levou meu chapéu! Gritou Daniela, rindo só por rir!

- Por que não pôs a mão na cabeça, sua tola? Era certo que voaria. Deixe que eu pego pra você!

- Você vai atravessar a cerca de arame farpado? É perigoso!


Fernando riu, envaidecido. Deu de ombros, e pulou a cerca com habilidade de um acrobata. Em poucos minutos, o belo chapéu de palhinha cor bege, ornado com um raminho de flores do campo, adornava os cabelos dourados, quase brancos, de Daniela.

- Eu não mereço nada? Nem vai me agradecer?

- Bobão! Valeu!

- Tá! Valeu. Na próxima vou deixar lá pra vaca mascar, o seu chapéu.

- O que vamos fazer agora? - Perguntou Fernando.

- Ah, sei lá. Não fazer nada não tá bom?

- Tá, né! Então tá. Um lugar lindo desses e você quer “não fazer nada”; Se fosse pra não fazer nada, a gente podia ter ficado em casa, jogando. Ou dormindo, ou vendo filme, ou jogando, vendo filme enfiado debaixo da coberta.

- Tá calor pra ficar debaixo da coberta.

- É.

- Vamos caminhar pelo bosque! Sugeriu Fernando. Tem uns caminhos super legais ali.

- Não é perigoso?

- Não. Bem tranquilo! Eu conheço tudo. Eu sei onde fica a cabana do velho maluco.

- Ela existe mesmo? Já ouvi falar dela. Eu tenho medo.

- Medo por que? Ele é inofensivo. Vovô já me mostrou a cabana dele, de longe.

- Temos que levar uma coisa pra ele comer, não temos?

- Ah, legal! Vamos levar umas frutas e pão; Será que ele come isso?

- Claro, né, tontinha! Ele é velho e velho come de tudo que colocar na frente deles.

Daniela ri muito.

- Vovô come umas coisas estranhas, de quando era criança; Eu já comi com ele. Algumas coisas são legais.

- É Ele já me ensinou a fazer umas daquelas comidas de roça dele. Um dia a gente pode fazer né?

- É.

- Vamos levar bananas? Será que ele come banana?

- Dãr! E quem não come banana?

- Meu amigo do terceiro B. Ele quase vomita quando vê banana.

- Tadinho. Pega pão novo ali e uma caixinha de leite. Será que ele tem intolerância á lactose?

- Ah, sei lá. Tá, se tiver, a gente trás de volta.

As folhas ainda bailavam à brisa que trazia o cheiro das ondas e causavam alguns arrepios. As crianças andavam a largos passos, carregando suas mochilas com alimentos e algumas roupas e cobertor para o velho da cabana.

O caminho dentro da floresta se bifurcava por algumas vezes. E tinham que escolher a qual caminho deveriam seguir. Subiam ladeiras e desciam trilhas. O perfume da mata fazia coro ao trinado dos pássaros, e dos insetos. As cigarras regiam uma orquestra de zumbidos, e o vento balançava a copa das árvores mais altas. A temperatura era mais amena dentro da mata, e um pequeno córrego serpenteava as colinas, por vezes se derramando em cachoeiras ornadas de pedras lisas pretas, e outras dançava em redemoinho em algum cantinho recostado do arroio, onde folhas cansadas caídas dançavam seu derradeiro bailado antes de serem tragadas pelo jorro imponente das espumas que caíam da cachoeira.

Um caminho de chão mais liso e firme mostrava a direção da choupana, e mais alguns passos, já ofegantes pela ansiedade do mistério, levavam à portinhola puída com um pequeno coração recortado ao centro, um visor da porta.

Uma velha cabana, com um banco de madeira rústica na varanda, e plantas do lado de fora: ervas, chás, hortaliças que cresciam entre ervas nativas, e um e outro pé de frutífera antigo, com frutas esparsas e cercadas de pássaros que bicavam nervosos, e saíam voando, desconfiados, a qualquer movimento brusco em sua direção.

- Vamos bater na porta? Perguntou, apreensiva Daniele.

- Acho melhor, que não. Vamos bater palmas daqui, que dá pra sair correndo. Fica preparada!

- Aham! Eu tou. Tou com medo.

- Fica atrás de mim, e se ele vier na nossa direção, sai correndo que eu te acompanho.

- A as coisas que trouxemos?

- Ora, são pra ele mesmo. A gente deixa e corre.

- Atá! Legal.

Demais Janelas

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……...Continua

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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O reino dos perplexos - Fábula

 

Pitoco Monarca e Paulico Pitoco - Personagens por Pacard
Era uma vez um reino. Havia nele tudo o que era preciso para fazer daquele lugar um belo reino. Rios, montanhas, florestas, planícies, mar, lavouras, jardins, palácios, aldeões, príncipes, cortesãs, vassalos, cozinheiros, mordomos, tudo. Tudo mesmo. Ou quase tudo, pois o reino não tinha um rei. Nunca tivera, desde a sua fundação. Não um rei do tipo que usasse coroa ou morasse em um palácio; Sim, como disse antes, havia palácio, mas nele viviam intrusos. 
Uns se intitulavam amigos do rei. Outros inimigos do rei, mas circulavam pelo reino com ampla liberdade porque nesta condição, asseguravam o respeito da nobreza e o receio que além de oponentes, também pudessem tornar-se inimigos, e pior que inimigos são inimigos que conhecessem a rotina da alta corte. 
Todos, de uma forma ou de outra, falavam em nome do rei. Chegavam a ser mais reais que a própria realeza. Criavam e ditavam regras em nome do rei, que nem o próprio rei, se as tivesse ele mesmo ditado, não ousaria ser tão real em suas decisões como eram pela boca de seus emissários. 
Só que havia um problema: ninguém conhecia o rei. Havia um decreto proibindo que a face do rei fosse vista e o súdito, fosse ele príncipe, nobre ou plebeu, que encarasse o rei nos olhos, deveria ser condenado à prisão pelo resto da vida. 
Desta forma, os lacaios serviam-no em sua câmara por uma passagem onde havia uma roda por onde eram colocados os alimentos, roupas limpas e necessidades do monarca, mas jamais encarar-lhe o rosto. Quando se tornava necessário cuidar da limpeza do lugar, o rei se retirava para outra câmara ao lado e assim a vida seguia no palácio. Os seus decretos eram estabelecidos todos por escrito e selados pelo próprio rei.
Neste reino havia um homem velho e sábio, mas muito pobre. Vivia de mendicância pelas ruas, que de tempos em tempos assentava-se à porta do palácio para coletar esmolas de quem entrasse pelas portas reais. Uns viam aquela figura silenciosa observando o movimento, e cautelosamente achegavam-se e atiravam algumas moedas na canequinha do mendigo. Outros, empinavam o nariz e mudavam de direção para não sentir-lhe o fedor. 
Apenas as crianças tinham coragem de se aproximarem dele e arriscar um momento de prosa, enquanto depositavam as esmolinhas cautelosamente com uma mão, e a outra  estendida para os adultos que permaneciam distantes com olhar de orgulho pelos filhos generosos que haviam gerado. 
Não era isso. Ter uma criança que levasse a esmola tão perto era uma forma segura de não precisarem olhar o velho nos olhos, Era perigoso olhar a miséria nos olhos, pois poderiam ver a si mesmos espelhados neles.
Todo primeiro dia do mês, lá estava o velho assentado naquele degrau. Mês após mês. Ano após ano. Um dia, ele não apareceu no degrau. Não havia uma canequinha e um par de mãos encardidas para recolher as esmolas. Uma fila de senhoras em busca de conselhos demonstrava sua decepção e lamúrias, ora procurando saber o que tinha acontecido com o velho, ora praguejando sua ausência.
Mas naquele dia, um fato surpreendeu à todos daquele reino: o rei mandou avisar que mostraria seu rosto ao seu povo e que a partir daquele dia todos poderiam vê-lo quantas vezes tivessem vontade, pois ele faria um passeio diário pelas ruas da cidade e seu cortejo de nobre estaria recolhendo as petições dos seus vassalos para que ele pudesse atendê-las ao seu tempo e condições.
A partir daquele dia, aquele reino tornou-se o reino mais feliz daquele continente, porque viam um rei real e não uma sombra imaginária que se escondia nas sombras.
E o velho? Sei lá. Sempre dá certo colocar um velho mendigo com jeitão de sábio nas fabulas. E o rei? Criou uma fanpage nas redes sociais, entrou para uma academia de fitness e deu plenos poderes aos seus lacaios para que fizessem o que bem entendessem, contanto que ele não tomasse conhecimento de nada.
*PS: Só que não!
Fim
(Estado de Alerta - Pacard, 2015)

sábado, 10 de outubro de 2020

O Velho Bracatinga, e os impertinentes




 Não se deve confundir "impertinente", com "incontinente", embora, muitas vezes, residam no mesmo corpo, e compartilhem o mesmo caráter, maus, mas nem sempre. Ansioso, talvez. Agradável, nunca.

O impertinente é um ansioso em terceiro grau, um sofredor missionário, que tem como missão, levar aos outros, as suas angústias.

- Tem uma nuvenzinha tímida no céu, e não há vento. Podemos passear um pouco, tomar uma fresca! - Comentou o enfermeiro.

- Não se engane! Nuvens assim carregam mau agouro! - Disse João Marmota.

- Não chove hoje! Vamos tomar a fresca - berrou Bracatinga, já procurando o chapéu, com a ponta da bengala.

- Eu acho que não vou, e acho que também vocês não deveriam meter o nariz fora de casa hoje. 

- Meta-se com sua vida!

- Já que ninguém me escuta, levem umas galochas e um agasalho!

- No verão, a trinta graus? 

- Pode cair uma saraivada de chuva de granizo!

- Aí a gente volta pra dentro!
- A roda da cadeira pode enguiçar!

- Num passeio de concreto, a dez metros da varanda?
- ...Que pode desabar com o temporal!

- Mas quem foi que disse que vai chover? Até a nuvenzinha já se foi. Céu azul, de brigadeiro!

- Foi chamar outras nuvens. Essas efemérides tem parte com "demônho!"

- Velho caduco! Fique aí então!

- Já estão me excluindo, estão? Discriminação racial?

- Você é caucasiano, e nós também! Quem discrimina gente da mesma origem?

- Agora querem se igualar a mim? É isso que querem? Me arrastar pro buraco com vocês? No meio da chuva? Querem que eu pegue uma "pontada" e morra?

- Tu é doido. Tá um calorão, e o céu tá azul, já falei!

- Isso até que chova! E o céu tá muito baixo! Pode dar temporal.

-Eu desisto!

- Desiste? justo agora que eu tinha me preparado pra dar um passei, tomar uma fresca? O que foi agora? Não me querem junto? Digam na minha cara!

- Tá com a corda toda no azedume, ô...

- Leve algo pra comer o passeio, e uma ferramenta pra consertar a roda da cadeira.

- Por caridade! Nós só vamos aqui na frente do asilo, a dez metros da varanda, pela calçada, e não tem degrau!

- E por que não fizeram um degrau? Querem que a gente ande numa lombada e se esborrache debaixo de uma diligência?

- Não existem mais diligências, nem cabriolés há muitos anos, Marmota!

- Era só o que faltava. Então o senhor Dom Pedro vai ter que andar a pé, com essa lacaiagem toda atrás deles?

- Dom Pedro já morreu, João!

- Chega! Eu não falo mais com vocês! Gente mentirosa! Do Pedro nem doente estava quando soube a última notícia dele.

- E onde foi que você soube dele, Marmota?

- Na aula de história, na terceira série, com dona Jurema.

- Para! Calça tua pantufa e vai olhar filme de bangue-bangue na tevê.

- Vou mesmo, antes que comece a trovejar e eu tenha que desligar o aparelho. Acha mesmo que vai chover?

- Não sei, tenho ouvido muito falar disso na última hora. Pelo sim, pelo não, vou pegar um guarda-chuva.

- Leve também um casaquinho, que depois do granizo, pode cair a temperatura.

- Enfermeiro! Traga meu capote de chuva, e um naco de rapadura. Se chover, posso me entreter mascando um docinho.

- Vamos cancelar o passeio, Seo Bracatinga! O tempo fechou e acho que vai chover.

- Que tempo maluco. Não faz nem meia hora, o céu estava tão azul, e só tinha uma nuvenzinha no firmamento.

- Mas estava muito baixo. Eu disse, eu falei, eu avisei! - Emendou João Marmota lá de dentro, que tinha ouvido de tuberculoso e escutou toda a conversa.

Em breve* (Continua após a Publicidade)

- O senhor estava certo, Seo João! Melhor tirar uma pestana. Vamos colocar a fralda, por causa da sua incontinência.

- Que pestana? Vamos sair lá fora e tomarmos uma fresca.

- Não dá, João! Talvez chova!

- Que nada, Bracatinga! o Céu está azul e só tem uma pequenina nuvem no firmamento, sem vento nenhum!

- Eu mereço. Tudo de novo! - Choramingou baixinho, o Enfermeiro.








sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A Comenda do Velho Bracatinga




Seo Bracatinga nem sempre foi largado num asilo pra esperar a morte chegar. Não senhor. Bracatinga já foi importante, fez coisas importantes, e teve ao seu lado, pessoas importantes. Assim foi, sim senhor.

Foi um filantropo muito conhecido, e patrono das artes e literatura. Teve dinheiro, fama e poder, e uma esposa, a quem foi fiel enquanto ela deixou. Mas sabe como é, todo homem  precisa ter uma fraqueza e a fraqueza de Bracatinga era..."jogar truco ca cumpanherada!" Embora prometesse à Casturina que havia largado o vício, de fato não havia, e mal era virava as costas, e ao longe se ouvia: 

- "Truco!"
- "Te retruco!"

- "Mão de onze!"
- Mão de ferro!

- "Guascaa!"
- "Ah, la frescaaa!"

E voltava assobiando, com a mão no bolso da bombacha, contando os pila que amealhou.

- Adonde tu tava, Carniça?

- Fui ali, bombeá umas linha de jundiá.

- Mas o rio fica do outro lado, mintiroso!

- Pra tu vê o trabaio que dá caminhá nesses brejo pra trazê um peixinho pra fritura. E tu, já fez a polenta?

- Fiz de manhã, caduco! Agora é metade da tarde!

- Recebi uma carta.

- Carta de quem?

- Consulado da Espanha!

- Que que querem?

- Me fazer uma homenagem por serviços que prestei durante a revolução de 35.

- O que tu fez em 35?

- Nasci. Isso é um préstimo inestimável à coroa espanhola.

- Tu é loco!

Tá aqui a carta. Pode oiá com teus zóio, encrenca!

De fato, era mesmo uma carta do consulado geral da Espanha, mencionando uma homenagem, por serviços prestados, ao entregar uma carta, cujo teor, decidiu uma questão importante no país. Bracatinga is passando na rua, e viu que o carteiro deixara cair a tal carta. Juntou e correu atrás dele, mas não o alcançou. Como viu que era destinada ao consulado da Espanha, que ficava perto, passou lá e entregou a um sujeito magricelo que estava entrando no prédio. Era o Cônsul. Fez um gesto de reverência em gratidão, perguntou o nome, e entrou. Isso foi tudo.

Chegou o dia da entrega da comenda, e um belo jantar foi servido. Bracatinga se fartou de Paella. Repetiu várias vezes. Saiu de pança lustrosa. Chegado o momento, foi chamado ao púlpito e recebeu a comenda, uma bela medalha suportada por uma faixa com as cores da Espanha. Bem bagual mesmo, pensou Bracatinga. Isso feito, chegou o momento de descontração, e foi servida uma sangria - uma bebida à base de vinho e frutas. Bem docinho. Bom demais. E sendo o convidado de honra, Bracatinga desatou a beber o quanto podia. Bebeu muito. Depois veio conhaque, vinho, enfim, festa é festa.

Já com o pé redondo, e a cabeça girando, Bracatinga chegou a uma mesinha, onde estava exposta a bela comenda. Olhou aquilo, chegou bem perto, examinou bem, ainda que borracho, e comentou:
- Que negócio tão lindaço. De quem é esse pinduricáio?

- É sua, Señor Bracatinga!  O señor recibyó  la Comenda de la cuerte de España! LO más alto honor de la Casa de Los Bourbon Y Aragón!

- E quando é que eu fiz encomenda de corte pra uma espanhola? Me tira disso! Eu não vou pagar por uma coisa que não encomendei.

Teria sido apenas arroubo de um borracho, mas quem respondeu isso foi o próprio cônsul, vermelho de raiva... Só se ouviu, ao longe, um:
- Conõ! Qué me caga la madre!

- Seu Bracatinga! Acorde! O senhor está tendo um pesadelo...

- Vai à merda, enfermeiro! Adonde tá minha comenda? Tava aqui na minha mão agorinha mesmo..deixei cair no café..

- O senhor estava comendo bolachinha com café, Seo Bracatinga. Quer mais uma?

A tarde estava fria, e embora enrolado em um cobertor, Bracatinga foi recolhido ao seu quartinho triste e sombrio.


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Olá 
Eu, Pacard,  e o Apolônio Lacerda, meu simpático Alter Ego Intestino queremos convidar você, a participar deste projeto literário, que desenvolvemos (ele é o autor, e eu só entro de metido)desde 2013, quando foi lançada em algumas plataformas, a Primeira edição do livro Teoria da Criatividade.

Há poucos dias, percebemos que os leitores estão em busca de respostas à questão criativa no ambiente de pandemia, e pós pandemia, e entendemos que seria necessária uma revisão e atualização, além de uma melhor diagramação da obra.
 
Assim, apresentamos o projeto da Edição Revisada e Ampliada 2020,  e contextualizada para o momento. Trata-se de uma obra conceitual, filosófica, autobiográfica, e que levanta questões diretamente ligadas à necessidade criativa e na sua importância na sociedade moderna.
A obra será vendida, inicialmente, de modo direto, a um grupo seleto de amigos, e mais tarde, através das plataformas na web.

Você adquire uma cópia digital codificada ao valor de R$ 10,00, e ao adquirir acima de 50 cópias, pode acrescentar uma peça publicitária de seu interesse, e distribuir as cópias aos seus amigos e clientes livremente (ela não poderá ser impressa, mas poderá ser compartilhada com senha)

Esta é uma forma de participar de meu projeto literário, pois tenho muitos outros livros em andamento neste formado. 
Também aceito projetos especiais, biografias, ensaios, e redação publicitária.

Contato: 48 999 61 1546  apenas whatsapp ou email - dpacard@gmail.com


https://www.kickante.com.br/campanhas/livro-teoria-da-criatividade.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Bracatinga e Apolônio



Apolônio deu de mão na viola de três cordas, e um dente de ouro, e foi visitar o velho Bracatinga, no asilo onde aguardava o susto.

- Mãns chê! Cuaje não me deixam entrar, por causo da viola. 

- E o que a viola tem de errado?

- Foi qualificada como instrumento de tortura. Mãns só quando eu toco.

- Trouxe a encomenda?

- Tá aqui. Só tinha a Tertúlia.

- É da boa. Deixa ali atrás do banco. Tomemo um mate?

- Tomemo um mate. Mãns não se apoquente. Já truche pronto aqui nos apetrecho.

- Adonde tá?

- No saco da viola!

- E a viola?

- Deixemo guardada. Não toco nada mêmo.

- Guardada adonde?

- Na portaria do asilo.

- Quem era o porteiro?

- O Polaquinho.

- Bagual ele.

- Bagual, bagual!

- Vou ali tomar um mate a já venho.

- Não vai me servir um?

- Não posso. Tenho que respeitar as lei.

- Aqui dentro tem lei que proibe mate?

- Pois não sei.

-Vamo quebrá essa lei.

- E nóis semo ôme de quebrá lei? Sou ôme de bem!

-Vou me candidatar.

- Vai?

- Vou!

- A que?

- Não sei. Me candidato, e depois eu decido.

- E o que vai prometer? Candidato tem que prometer!

- Uma ponte!

- Adonde?

- No Itaimbezinho. Um feito!

-Como tu é inguinorante. Uma ponte em riba do Itaimbezinho contradiz a Lei da gravidade!

- Eu passo um decreto e anulo essa lei.

- Não dá, ôme! Não se mexe com essas côza! A Lei da Gravidade é uma lei federalh!

- Sirva um mate!

- Não dá. Só pode matear de másquera.

- Então coma um biscoito.

- Perciza vortá aqui com a viola.

- Eu não sei tocá.

- Cheia de erva e biscoito.

- Bem alembrado.

- Me voy!

....

- Enfermeiro! Venha cá! Tou lhe chamando!

- Diga Seo Bracatinga!

- Quero mijá!

- Pode fazer na fralda, Seo Bracatinga!

- Enfermeiro!

- O que é, Seo Bracatinga?

- Me sirva um mate!

- Aqui não tem mate, seo Bracatinga!

- Chame o Apolônio de volta e ele que devolva meus apetrecho de mate!

- Quem é Apolônio, Seo Bracatinga?
- O maleva, com o violão de trêis corda que saiu daqui.

- É meia noite, Seo Bracatinga, o senhor está no seu quarto, e não vem ninguém aqui visitá-lo há mais de três meses...

...

- O senhor está chorando, Seo Bracatinga?

- Não mesmo, varão! Sou "ôme de bem!"

- Enfermeiro!

- O que é agora, Seo Bracatinga?

- Posso peidá na fralda também?


O velho Bracatinga, o centenário


Imagem: Internet

Pois não é exagero afirmar que o velho Bracatinga já havia passado dos cem anos de idade. Era ele mesmo que afirmava isso, com muita segurança.

- Quanto é noventa mais dez, Seo Bracatinga?

- Duzentos!

- E o senhor tem mesmo cem anos de idade?

- Carcule o senhor! Nasci na revolução de trinta e cinco.

- Mas então não são cem anos ainda, Seo Bracatinga. São oitenta e cinco..

- Mil oitocentos e trinta e cinco! Conheci Bento Gonçalves e ajudei a dar uma coça no traíra do Canabarro.

- Mas nesse caso, Seo Bracatinga, o senhor deveria ter cento e oitenta e cinco anos.

- E "seis meis", pois nasci no mês de abril, logo depois da Somana Santa.

- Seo Bracatinga, quem sabe o senhor tenha nascido em 1935, e tenha mesmo 85 anos?

- Vassuncê quer saber mais que eu, que tava lá quando nasci? Alembro como se fosse treisontonte, do cavalo manco do Assis Brasil.

-E eu desisto. o senhor tem mesmo cem anos.

-O senhor é louco? Acabou de admitir  que eu tenho cento e oitenta e cinco..

- ...e seis meses!

- Viu só? Contadinho nos dedos!

- E o que sente, aos cento e oitenta e cinco anos?

-...e" seis meis"!"

- Isso!

- Sinto que ninguém mais fala a verdade nesse mundo!

- Ninguém mesmo!

- Ouviu falar das políticas?

- Me respeite! Sou "ôme" de bem!

-Está faltando um caudilho que bote ordem no governo.

- Os "caudilho"  já morreram tudo!

- Estava pensando no senhor mesmo.

- Largue de ser puxa-saco! Já falei que sou "ôme de bem!"

- Como está a familia, seu Bracatinga?

- Me mandaram umas bolachinha no natal.

-Só isso?

- Só isso. Erva eu já tinha. Fiz um mate. Tomei com bolachinha.

- Lhe tratam bem aqui no asilo?

- Me tratam como véio.

- Mas o senhor não é velho?

- Claro! Nasci na revolução de 35!

- E lhe tratam bem aqui?

- Tu é caduco? Já fez essa pergunta.

- Quero saber se lhe respeitam.

- Respeitam o meu facão "treis listra"!

- O senhor tem um facão aqui?

- Não.

- Entendi. Mas pensam que tem, né?

- Sei lá o que passa na cabeça dessa gente. São tudo lôco!

- Por que, Seu Bracatinga?

- Acreditam que nasci em 35, na revolução.

- E lhe tratam como louco então?

- Claro! Senão como acham que não me tiram pra uma justa de adaga?

- Aqui já saiu alguma justa de adaga, Seo Bracatinga?

- Claro que não! Isso é um asilo e não um bolicho. Não teria a mesma graça.

- E namorada, Seo Bracatinga?: Tem alguma?

- Não! Aqui só tem véia.

- E as enfermeiras?

- Enfermeiros! Não sou desse tipo. Sou "ôme de bem!"

- A comida como,é, Seo Bracatinga?

- De comer. O resto é de beber.

- Eu desisto!

- Frôcho!

- Bom, é tarde, e eu tenho que voltar, Seo Bracatinga!

- Voltar de "adonde?"

- Daqui. Tenho que ir embora.

- Se é pra sair, porque chegou?

- Para visitá-lo, Seo Bracainga.

- E quem é o senhor?

- Seu filho, Manuel!

- Desde quando?

- Acho que desde que nasci.

- Muito prazer! Demiciano Rodrigues! Mas pode me chamar de Bracatinga! Seu criado!

- Muito prazer, pai!

....

- Enfermeiro!

-Diga, Seo Bracatinga!

- Simpático aquele rapaizinho que saiu daqui? 

- Parecia que sim, Seo Bracatinga. Quem era ele?

- Não sei, disse que era meu pai. Mas achei muito novo pra isso. Eu tenho pra mais de cem anos. Nasci na revolução de 35. Nos braço de Bento Gonçalves.

- Bem conservado ele, Seo Bracatinga.

....

- Seo Bracatinga? O senhor está dormindo?

.....






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