Ilustração: Seaart AI
O Shabat: Um Tempo de Encontro com Deus, na Perspectiva de Heschel e Jesus
Paulo Cardoso*
1. A Santidade do Tempo
O conceito de Heschel1 sobre a santidade do tempo como lugar de encontro com Deus, comparado ao conceito de Jesus sobre a “hora de Deus” (João 4:23).
Abraham J. Heschel trata do Shabat em sua obra homônima, “O Shabat” muito mais que um dia de descanso e guarda, adoração, reverência, mas busca uma resposta metafísica, chamando-o como “Um Templo no Tempo”, e na seguinte analogia diz que, quando o Ser Humano deseja encontrar-se com sua divindade, constrói um templo no espaço, com suas mãos e recursos, porém, esta edificação pode, com o tempo, ou com ações mecânicas através de intempéries, erosão, corrosão, ou pela ação do próprio Homem, ser destruído, diferente do templo construído no tempo, pelo Criador, que o torna impossível de ser destruído, com a finalidade de encontrar-se com a Sua Criação, cuja joia mais brilhante é o Ser Humano.
Notadamente cria, primeiro, D-us, o Tempo, estabelece limites tangíveis (dias, noites, semanas, meses, e anos), e neste “território” delimitado por movimentos dos corpos celestes, endereça o lugar com o número “Sete”, semelhante ao que fazemos em uma casa, situada no terreno, na rua, na quadra, no bairro, etc.
É nesta casa de número sete, que haverá o encontro ininterrupto e interpessoal, entre O Criador e a Criatura. Entre D-us, e o Ser Humano.
2. O Sábado como Dom de Deus
O Shabat foi instituído como um presente divino, e Jesus ensina que o sábado é “feito para o homem” (Marcos 2:27).
Temos já arraigada na mente a ideia de que Dons de D-us sejam apenas os nove mencionados por Paulo de Tarso, ignorando que há muitos outros , como os dons da beleza e da arte dados De acordo com a Bíblia, Bezalel e Aoliabe receberam de Deus o dom de ensinar e de trabalhar em diversos tipos de arte, como:Gravura, Projeção, Tecelagem, Bordado, Trabalho com ouro, prata e bronze, Lapidação e montagem de pedras preciosas, e Entalhe de madeira.
Assim, também, podemos entender que Dom de D-us pode ir muito além de um talento especial, mas também uma situação não tangível, porém perceptível: a capacidade de fazer “parar” o tempo para um encontro com O Altíssimo, em um território de neutralidade, um lugar que não possa ser transformado, redesenhado, ou corroído.
Mais do que um dia a ser lembrado, Jesus diz que o Homem é senhor do sábado. Aqui há um “solavanco” nas interpretações que desvirtuam a essência da expressão “Jesus é Senhor do Sábado”, ao mesmo tempo em que diz que “ o Sábado foi feito por causa do Homem, e não o Homem por causa do Sábado”. Aqui se aplica, por outras leituras do texto sagrado, que “Jesus é O Filho do Homem”.
A expressão "Filho do Homem" aparece em várias passagens da Bíblia, especialmente nos Evangelhos, onde é utilizada por Jesus para referir-se a si mesmo, destacando aspectos de sua humanidade e divindade. Vamos encontrar diversas citações dos versos mais notáveis do Antigo e do Novo Testamento onde encontramos esta expressão:
No Antigo Testamento
Daniel 7:13 - “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do Homem; e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele.”
Este é um dos versículos mais proféticos, onde o "Filho do Homem" é descrito como alguém que receberá domínio, glória e um reino eterno.
Até aqui, temos ainda uma leitura messiânica da expressão “Filho do Homem”, porém, vamos encontrar outro significado no livro de Ezequiel, 2:1 - “E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo.”
Em Ezequiel, Deus se refere ao profeta como "filho do homem" em várias ocasiões, enfatizando sua condição humana em contraste com a majestade de Deus.
Então, vemos que Filho do Homem, também pode ser traduzido como “Ser Humano”. Assim, tanto podemos entender que o Sábado foi feito por causa do Ser Humano, da mesma forma que entendemos que dentre todos os seres humanos, há Um que domina completamente, e torna-se nesse contexto, “O Senhor do Sábado”, Jesus!
No entanto, devemos notar que a relação humana de Jesus, é dessa forma mesmo: Humano! Leia-se portanto que o Sábado é uma criação divina, com endereço Humano.
No Novo Testamento
Mateus 8:20 - “E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.”
Jesus usa "Filho do Homem" para destacar sua condição de humildade e itinerância.
Mateus 9:6 - “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados...”
Aqui, Jesus se refere ao "Filho do Homem" para afirmar a sua autoridade divina.
Mateus 24:30 - “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.”
Este versículo enfatiza o "Filho do Homem" no contexto de sua segunda vinda, simbolizando poder e glória.
Marcos 10:45 - “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.”
Jesus utiliza "Filho do Homem" para ilustrar sua missão de serviço e sacrifício.
João 1:51 - “E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.”
Neste versículo, Jesus fala da sua conexão entre o céu e a terra como o "Filho do Homem".
Atos 7:56 - “E disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus.”
Estas são as palavras de Estêvão, enquanto era martirizado, ao ter uma visão de Jesus exaltado.
Esses versículos mostram como a expressão “Filho do Homem” é central tanto para a identidade de Jesus quanto para seu papel no plano de salvação. É uma maneira de Jesus se identificar, relacionando-se tanto com a humanidade quanto com a sua natureza divina e messiânica, sendo assim, Senhor do Tempo, e Senhor do Sábado.
Podemos perceber que em todas as citações onde “Filho do Homem” aparecem, relacionadas à Jesus, mantém sempre a forma humana, tangível, material, porquanto foi pela sua materialidade que Se fez presente no fechamento do Plano da Redenção, porém, em nenhum momento reduziu o testemunho espiritual da presença humana. Aqui Jesus contesta Platão, que pregava ser a carne inimiga do espírito, mas Jesus diz que não, e mantém o Elo imaterial de sua relação com O pai, manifesto no tempo dentro do tempo, que é o Shabat.
3. O Sábado e a Criação
Jesus remonta ao princípio da criação, valorizando o descanso e a harmonia no relacionamento com Deus.
D-us moldou o pó da terra, e soprou em suas narinas o perfumado hálito da vida, um cicio, um sopro suave, implementando suavidade no corpo embrutecido sem vida, transformando um “Gólen”, um boneco de barro bruto, em alguém capaz de flutuar pela vida, pela suavidade da Centelha divina dentro de si.
4. Jesus e o Cumprimento da Lei
Como Jesus vê o sábado não como um peso, mas como um caminho para o descanso espiritual (Mateus 5:17-20).
O Shabat está na primeira parte do Decálogo (ha zeret ha dibrot”, em hebraico (As Dez Palavras), sendo que encerra o quarto mandamento, imediatamente precedido pelo quinto mandamento, que ordena honrar pai e mãe. Ordena honrar os portadores humanos do sopro divino, atrelando desta forma O Criador (retratado do primeiro ao terceiro mandamento), O Tempo (quarto mandamento) à essência humana, a coroa da Criação, o Ser Humano. Assim, o tempo, intangível, indestrutível, liga os Mundos Superiores ao mundo inferior, tornando-se o “portal de acessibilidade ao divino”, cuja chave é o aomor e o temor à D-us, através do reconhecimento de Sua Majestade.
5. A Presença de Deus no Sábado
Heschel vê o sábado como presença divina, e Jesus traz essa presença viva ao ensinar no sábado (Lucas 4:16).
6. Liberdade Espiritual no Sábado
Jesus cura no sábado, demonstrando a liberdade e o cuidado divino no descanso (Lucas 13:10-17).
7. O Sábado e a Cura da Alma
Tal como Heschel valoriza o sábado como restauração, Jesus faz do sábado um tempo de cura (João 9).
8. A Santidade no Cotidiano
Jesus incorpora o sentido do sábado para além de um dia, para que a presença de Deus se manifeste na vida diária.
9. Shabat como uma Recordação do Paraíso
Jesus, como novo Adão, vive o sábado como um vislumbre do reino de Deus (Lucas 23:43).
10. Descanso e Carga Aliviada
Jesus convida os cansados a encontrarem descanso n’Ele (Mateus 11:28-30), ecoando a paz do Shabat.
11. Espaço Sagrado de Comunhão
A prática de Jesus em compartilhar refeições e momentos de comunhão no sábado.
12. A Cura no Sábado como Atitude de Amor
Jesus cura no sábado, desafiando as normas e mostrando que o amor está acima das leis (Mateus 12:12).
13. Santidade Interior vs. Aparência Externa
Heschel e Jesus apontam que a verdadeira santidade está no coração, não em atos externos (Mateus 23:23).
14. O Sábado e a Contemplação
Inspirado por Heschel, o sábado é um tempo para contemplar a criação, algo que Jesus também faz na sua comunhão com a natureza.
15. Fé como Descanso em Deus
A confiança em Deus, como Jesus ensina, permite-nos descansar de todas as preocupações (Mateus 6:25-34).
Em nenhum lugar, na Bíblia, cita que guardar o sábado é pressuposto de salvação eterna. Se seguirmos essa linha, vamos imaginar que D-us não tem cuidados com seus filhos na presente vida, e que relega a paz apenas para a eternidade. Não é isso que nos dizem todos os Salmos e todas as promessas aos profetas, mas mostra que os cuidados de D-us são constantes e nessa vida, nesse dia, nesse momento. A função de propor um dia de encontro com O Criador não é nada mais senão a recarga de paz que necessitamos continuamente.
Quando Jesus nos ensina, na Oração do "Pai Nosso": "Dános o pão de hoje", demonstra isso com clareza. Assim, o Shabat é a paz perceptível no tempo que é imperceptível, apresentando o amor do D-us Invisível, mas Onipresente, cuja Natureza é a Luz Infinita, o "Ein Sof", a Bondade Infinita, para o homem finito, dentro de um mundo mau.
16. O Sábado como Testemunho da Esperança
Jesus aponta o sábado como símbolo de um mundo restaurado, do Reino de Deus em ação (Marcos 2:27-28).
17. Respeitar o Sábado com Autenticidade
Jesus critica o legalismo e exorta à verdadeira prática espiritual do sábado (Mateus 12:11-12).
18. A Paz de Deus em Meio à Tribulação
Jesus ensina que o descanso em Deus é possível, mesmo durante provações e desafios.
19. A Alegria do Sábado
O sábado é um tempo de alegria e gratidão, ecoando a prática de Jesus de celebrar com os discípulos.
20. Shabat como Alinhamento com a Criação
O sábado relembra o equilíbrio da criação, e Jesus vive em harmonia com essa ordem divina.
21. Sábado e Liberdade da Ansiedade
A prática do Schabat oferece liberdade da ansiedade e do trabalho incessante, algo que Jesus também exemplifica.
22. A Paixão de Jesus como Ato de Descanso Redentor
A morte de Jesus é um descanso que liberta a humanidade, simbolizando o sábado eterno.
23. A Ressurreição como Oitavo Dia
Assim como o sábado termina no novo dia, a ressurreição é o início da nova criação. O número oito simboliza, na numerologia bíblica, a Eternidade de D-us. Aqui esta eternidade está implícita na sua ressurreição definitiva.
24. O Sábado como Renovação da Aliança
Jesus institui o Zicharon Ha Mashiah (“Em Memória do Messias”) como um lembrete de que o descanso e a salvação são contínuos. Lembrando que renovar não é reformar. É lembrar, enfatizar, aspirar o perfume do mesmo frasco.
25. Tempo para Escutar Deus
Jesus muitas vezes se retira para orar, um ato de comunhão íntima com Deus, demonstrando isso como um modelo para o sábado.
26. O Sábado e a Humanidade Restaurada
O sábado é um tempo para ser plenamente humano, um ideal que Jesus sempre ensina.
27. Jesus, o Senhor do Sábado
Jesus declara ser o Senhor do Sábado, mostrando que Ele é a fonte do verdadeiro descanso.
A declaração de que não é necessário guardar o Sábado, porque “a lei foi cumprida e derrubada na cruz” é uma falácia de severa pobreza gramatical, haja vista que pelo fato de que Jesus “cumpriu” a Lei, ela não se tornou desnecessária por isso, antes, isso reforça um testemunho de que O Próprio Filho de D-us se submeteu a ela, não esperando com isso a sua própria salvação, mas por amor Ao Pai e à Sua Lei.
28. Serviço e Amor no Sábado
O sábado não é apenas um tempo de inatividade, mas de serviço amoroso, como Jesus demonstra curando e ensinando.
Aqui residem interpretações também exacerbadas, e em lugar de tentar explicar caso a caso, há uma definição talmúdica que bem define isso:
A expressão "a vida precede o mandamento" encontra-se na tradição do Talmude, especificamente em contextos que discutem a preservação da vida como um valor fundamental no Judaísmo. A fonte mais notável para esse princípio está no Talmude Babilônico, tratado Yoma 85b, onde se discute que preservar a vida (em hebraico, pikuach nefesh) é tão importante que permite a transgressão de certos mandamentos para salvar uma vida.
Neste trecho, os sábios talmúdicos explicam que quase todos os mandamentos podem ser suspensos para preservar a vida de alguém. Dizem que a Torá foi dada para que "viva por ela" (Levítico 18:5), e não para que alguém morra por ela, afirmando que a observância dos mandamentos visa proteger e promover a vida.
29. Celebrar a Vida no Sábado
Jesus valoriza o tempo de celebração e convívio, exemplo para as práticas do sábado.
No Novo Testamento, encontramos diversos episódios em que Jesus valoriza o convívio, a celebração e o bem-estar das pessoas, muitas vezes desafiando as restrições rígidas do sábado (Shabat) para enfatizar a importância da compaixão e da comunhão. Estes trechos ilustram como Jesus coloca a necessidade humana e a celebração da vida acima das interpretações estritas da lei, tornando-se um exemplo de como praticar o sábado com alegria, convivência e cuidado com o próximo. Eis alguns dos principais exemplos:
Marcos 2:23-28 – Os discípulos colhem espigas no sábado
Jesus e seus discípulos estavam passando por plantações e, ao colherem espigas para comer, foram criticados por fariseus por violarem o sábado. Jesus respondeu: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado" (Marcos 2:27). Este versículo é central para mostrar que, para Jesus, o descanso sabático existe para o benefício das pessoas, permitindo a celebração e o sustento humano.
Lucas 13:10-17 – A cura da mulher encurvada no sábado
Jesus cura uma mulher que estava encurvada há dezoito anos. Quando o chefe da sinagoga critica a cura no sábado, Jesus responde que até eles cuidam de seus animais nesse dia, libertando-os para beber água. Ele reforça que "não deveria esta mulher... ser liberta desta prisão no dia de sábado?" (Lucas 13:16). Esse milagre demonstra a prioridade de Jesus em celebrar a cura e o bem-estar sobre a mera observância ritual.
João 2:1-11 – As bodas de Caná
Embora este episódio não mencione o sábado diretamente, o milagre de transformar água em vinho nas bodas de Caná é um exemplo da importância que Jesus dá à celebração e à comunhão. A ação de Jesus de prover vinho, um elemento de celebração e alegria, demonstra seu apreço pelo convívio social e pela alegria da vida, que são essenciais também na prática do sábado.
Mateus 12:9-14 – A cura do homem da mão ressequida
Jesus cura um homem com uma mão ressequida no sábado, e ao ser questionado, ele responde: “É lícito fazer o bem aos sábados” (Mateus 12:12). Este episódio mostra Jesus enfatizando o bem-estar e a celebração da vida humana sobre as restrições sabáticas, apresentando um exemplo de prática compassiva.
Esses relatos reforçam a ideia de que Jesus valoriza a vida, a celebração e o convívio, colocando a prática do sábado como um tempo de bondade e de cuidado com o próximo, em vez de uma observância rígida de proibições. Jesus oferece uma visão em que o sábado é uma ocasião para comunhão, cura e alegria, demonstrando que a essência desse dia está em seu impacto positivo na vida das pessoas.
30. Shabat como Antecipação do Reino
Para Heschel, o sábado é um vislumbre do mundo vindouro; Jesus nos convida a viver em expectativa do Reino, desde agora, mas com a certeza de que o “Olam habá” (mundo vindouro) é um manancial de delícias, que já pode ser sentido ao fecharmos os olhos e abrirmos o coração aos cuidados do Criador.
Esta reflexão convida os fiéis a viverem o descanso de Deus com gratidão e reverência, não como uma regra, mas como uma experiência de renovação e celebração da presença divina, em sintonia com a memória do Messias.
1 - Abraham Joshua Heschel (1907-1972) foi um proeminente rabino, teólogo e filósofo judeu polonês-americano, conhecido por suas obras sobre espiritualidade, justiça social e o papel da religião na vida moderna. Com profundo interesse pelo conceito de santidade no tempo e a prática do Schabat, Heschel enfatizou a importância da experiência espiritual e moral. Foi um forte defensor dos direitos civis nos EUA e engajou-se no diálogo inter-religioso, especialmente com cristãos. Ele encontrou pontos de conexão entre o Judaísmo e o Cristianismo, defendendo a colaboração para promover a paz e a compreensão mútua, sem abrir mão de suas convicções judaicas.
Paulo Cardoso é Daati (estudioso das Escrituras), Temente à D-us, Palestrante, e esperançoso da breve volta do Messias Yeshua.
Bezalel e Aoliabe são figuras centrais na construção do Tabernáculo descrito nos livros do Êxodo, onde a Bíblia destaca que ambos receberam dons específicos diretamente de Deus para a realização dessa obra. Este ensaio abordará a natureza desses dons e a importância das habilidades artísticas e espirituais outorgadas por Deus para a construção do santuário, conforme relatado nas escrituras bíblicas e interpretado pelo Talmude, uma das principais fontes de ensinamentos judaicos.
### Os dons outorgados por Deus: Sabedoria, Entendimento e Conhecimento
A Bíblia menciona em Êxodo 31:1-5 que o Senhor escolheu Bezalel, “enchendo-o do espírito de Deus, com habilidade, inteligência e conhecimento, em todo tipo de trabalho artesanal". Bezalel é descrito como o artífice principal, capacitado para trabalhar com materiais nobres como ouro, prata e bronze, além de saber esculpir e engastar pedras. A escolha de Deus de alguém com estas habilidades específicas sugere que, no serviço divino, o talento e o trabalho artístico são igualmente sagrados e necessários para a comunhão com Deus.
O Talmude, particularmente no tratado *Berachot* 55a, comenta que as habilidades de Bezalel ultrapassavam a mera técnica: ele possuía um conhecimento espiritual profundo, compreendendo “como unir as letras com as quais os céus e a terra foram criados.” Esta referência simboliza que Bezalel entendia os mistérios da criação e poderia traduzir a harmonia cósmica e espiritual no Tabernáculo, tornando-o um verdadeiro local de encontro entre Deus e o povo.
### Aoliabe: Complemento e Cooperação no Trabalho Divino
Aoliabe, da tribo de Dã, foi o parceiro de Bezalel na construção do Tabernáculo, como indicado em Êxodo 31:6: “Eu designei Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, para ajudá-lo.” A inclusão de Aoliabe como assistente é significativa, pois indica que a construção do Tabernáculo requeria mais do que habilidades individuais: exigia colaboração e a capacidade de trabalhar em comunidade. A tradição talmúdica ressalta a importância da unidade entre diferentes tribos e habilidades, mostrando que, embora Bezalel fosse o principal, a obra sagrada também dependia do apoio e da habilidade de Aoliabe.
### O Valor da Habilidade e do Trabalho Manual no Serviço Divino
O fato de Deus ter conferido dons específicos a Bezalel e Aoliabe evidencia o valor da habilidade manual e da arte no serviço a Deus. Para os rabinos, este exemplo transmite que o trabalho manual pode ser uma expressão elevada de serviço divino. A criação do Tabernáculo, como ensina o Talmude, precisava de precisão e dedicação, transformando habilidades comuns em um serviço sagrado. O Talmude enfatiza que cada aspecto do Tabernáculo, dos materiais usados até o desenho dos utensílios, possuía um significado profundo e era considerado “kodesh” (santo). Assim, cada ação de Bezalel e Aoliabe na construção era, em si mesma, uma oração e uma oferenda a Deus.
### O Papel da Inspiração Divina e a Humanidade dos Artífices
O dom conferido a Bezalel e Aoliabe, conforme descrito em Êxodo 35:31-34, sugere que a inspiração divina se manifesta não só na espiritualidade mas também em habilidades práticas e artísticas: “E os encheu de sabedoria para realizar toda a obra do engenheiro, do projetista, do tecelão.” Esta passagem reforça a visão de que Deus pode inspirar o ser humano a criar beleza e funcionalidade, um conceito que o Talmude frequentemente interpreta como a conexão entre o divino e o material. A espiritualidade, neste contexto, é também uma habilidade, revelada na capacidade dos homens de participar na obra de criação ao usarem os dons concedidos por Deus.
### Conclusão
Bezalel e Aoliabe representam a intersecção entre a arte e o sagrado, demonstrando que os dons dados por Deus têm um propósito profundo e podem ser expressos em diferentes formas de serviço e trabalho. A habilidade artesanal é elevada a uma forma de adoração, onde cada ato e cada ferramenta têm um propósito espiritual. A mensagem deixada por Bezalel e Aoliabe é que qualquer trabalho, quando feito com dedicação e em comunhão com o divino, se torna um ato de devoção. Segundo a tradição bíblica e o Talmude, a verdadeira sabedoria reside em reconhecer e aplicar os dons que Deus dá para o bem comum e a glorificação do nome divino.
Fonte adicional: Chat GPT*
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