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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

As nossas pegadas

 



As nossas pegadas

Pacard

O que são caminhos, senão lugares ao longo de uma terra usados para unir pessoas de outros espaços? O que são as pegadas senão os passos repetidos gravados no chão que se torna mais firme a cada pisada que recebe? O que são ainda os caminhos senão trajetos usados por muitos anônimos, que transitam ali com seus pensamentos e seus objetivos, e que em tudo pensam durante o trajeto, exceto no próprio caminho? O que são caminhos então, senão o lugar onde nos tornamos vivos e móveis, porquanto não fomos criados com raízes e sim com pés e pernas para que nos levem onde nossa vontade ou necessidade ordenarem?

Somos como caminhos. As pegadas sobre nós são os passos que alguém deu sobre nossos próprios passos. Nos pisaram, porque nos encontraram em seus próprios caminhos e não souberam contornar, optando pelo trajeto mais econômico: passar por cima. Somos como pegadas de alguém sobre o barro, que nos tornam mais firmes cada vez mais e quanto mais nos pisarem, mais rijos estaremos para os passos que virão depois de nós. Somos como a terra que se compacta porque sobre ela levam os homens e animais as cargas, cujo dorso final são muitas vezes nossos ombros. Somos como os caminhos que saem de lugares e levam outros a outros lugares. Uns são largos e carregam fama. Outros são estreitos e levam o necessário. muitos são intrincados, como também somos intrincados. Outros são largos e vazios, e há ainda aqueles que se emaranham entre outros caminhos, pisam sobre outras pegadas, vão e voltam, e não chegam a lugar algum. Apenas pisam, enrijecem vidas, abrem sulcos de tantos caminhares, e cauem no vazio.

Somos pegadas de nossas pegadas. Passos de nossos passos e sendas de nossas sendas. Os estreitos e os amplos. uns levam à vida. Outros levam á morte. Uns caminham solenes. Outros caminham serenos. Uns espargem flores por onde passam, e ao voltarem, inspiram perfumes. outros semeiam espinhos, e deixam dores por onde passam. Mas todos somos caminhos. Passos e pegadas. Em linha reta ou emaranhandos, somos caminhos e caminhantes. Caminhamos sós ou nos permitimos caminhar juntos. A chegada nunca acontece antes do fim, mas sempre caminhamos rumo ao fim, embora nossa vontade seja de caminhar de volta ao começo. A isso chamamos “saudade”. Caminhos atrás de nós por onde não sabemos mais voltar.


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

O preço e o valor da arte

COVID-19, Pacard, 2020

"Artista é tudo louco!", diz a crença popular. Arte é coisa de desocupado, e o preço duma obra de arte é caro, ainda que seja de graça. "Artista, tendo dinheiro pra cachaça, fica satisfeito!"

Parece deboche, mas é uma das realidades que se encontra no árduo caminho do campo as expressões por meio de manifestações artísticas, pelo qual atravessa diariamente o artista que não se ocupa de transformar suas habilidades em dinheiro, até porque quem faz essa parte são os marchantes, os negociantes, que em geral entendem de negócios com arte, mas são incapazes de manipular um pincel, um formão, cinzel, ou até mesmo um lápis. E nem precisam, pois monetizar o imaterial é uma arte tão arte quanto qualquer outra. Cada um na sua competência. Porém, infelizmente, nem todo artista tem a grata ventura de andar à tiracolo de um mercador de fantasias, e por vezes precisa fazer o trabalho sujo de ganhar cliente. Aí mora a encrenca da coisa, porque nem todo comprador de arte tem sensibilidade para ler as entrelinhas da obra, e avalia apenas o aspecto estético. Outros, veem apenas o intangível, e ao comprar uma peça, a expõe ao lado de peças de estilos opostos, levando o espectador a traçar desnecessários comparativos ao trabalho de artistas que nem sabiam, um, da existência do outro. Seria mais ou menos como expor, lado a lado, um talentoso jogador de futebol, e um filósofo. 

Daí, certo dia, saí a visitar empresários com a firme intenção de mostrar e vender uma das minhas obras, o que seria, para mim, uma fortuna, para eles, troco de charuto cubano, e dos baratos. Fui recebido por um destes robustos endinheirados (eu sei que era, porque eles fazem questão de demonstrar pelos cordões de ouro e relógios suíços), que olhou com certo desdém para meu trabalho, e saiu da sala por uns instantes, voltando com um rolo de telas (acrílico, penso eu), clássicas, nítidas reproduções feitas por alunos de escolas de arte, principiantes, e bem educados no uso das cores e traços, e perguntou-me:
- O que tu achas disso?
- Legal! - Foi só o que achei para responder.

Com um garbo à vista plena, exclamou:

- Isso sim, que é arte. Comprei na China. Paguei 500 dólares cada um!

Fingi que ia ao toilette, e saí à francesa. Vai que pega uma doença dessas...



Michelangelo

Antoni Tapies

Joan Miró

Guernica - Pablo Picasso


Conheça meus trabalhos






domingo, 17 de janeiro de 2021

Clusters turísticos e culturais - Vetores para turismo equilibrado



A cultura é o perfume que convoca os insetos à polinização das flores. Sob esse prisma, classificamos as flores, como o atrativo visual, sustentadas pelo caule, protegida pelas folhas, e suportada pelas raízes.
Jamais a raiz, o caule e as folhas de uma rosa, produzirão goiabas. Talvez, se um paciente jardineiro japonês determinar-se a faze-lo, não seria eu a duvidar que isso fosse capaz. Mas naturalmente não é assim que acontece. 
Por esta leitura, faço-me saber que Cultura e Turismo são partes do mesmo corpo cidadão, sendo que a cultura trata do comportamento das pessoas, e o turismo é a ação de trazer outras pessoas para que usufruam deste comportamento e ação. Simples assim.

Há dois tipos de ambiente para o desenvolvimento do turismo regional:
1 - Polo Âncora
2 - Região satélite
O polo âncora, geralmente, é pioneiro em determinada oferta, e com o passar dos anos, e o crescimento do âncora, a região do entorno passa a usufruir, de forma periférica, dos transeuntes, cujo destino é o âncora.
Há, no entanto, um conjunto de oportunidades visíveis, que viabilizam um crescimento paralelo, e em determinado tempo, a oportunidade de firmar esteios em propostas de sustentação regional, tanto das localidades satélites, quanto do próprio âncora, que a esse tempo, já multiplicou sua oferta hospedeira e gastronômica, e principalmente comercial, e que necessita de suporte estratégico da circunvizinhança, para fortalecer sua economia, sedimentar seus eventos, e magnificar seu marketing regional nacional, e internacional.

Ambas as diretrizes, possuem limitadores ao crescimento, se não houver um planejamento de crescimento e mutações graduais, onde sua ausência, testemunhará de possíveis gargalos existenciais e político, com o passar dos anos, e o somatório do crescimento econômico, demográfico, políticos, e comportamental destes localizadores geográficos.

Desequilíbrio ambiental, crescimento demográfico e urbano, demanda maior que oferta de fatores de subsistência energéticos, hídricos, de saneamento, de mobilidade urbana e rural, e de desequilíbrio humano, com consequentes mudanças de paradigmas sociais, familiares, educacionais, e jurídicos.

Todo crescimento é inevitável. Todo crescimento oferece dores, e toda dor busca diferentes recursos de lenitivo (alívio). As dores comportamentais, brotam no seio familiar, em parte, motivados pelo desequilíbrio da oferta generosa de enriquecimento econômico, com o inevitável desdém e descuido da plataforma familiar.

Depois das dores familiares, começam as dores educacionais, com a crescente demanda de novas tecnologias para atender às variáveis pedagógicas, principalmente depois do processo pandêmico, que contribuiu significativamente para as mudanças aceleradas em todos os parâmetros da biosfera humana desta demanda.

As mudanças pedagógicas acentuam as diferenças estruturais da família anterior, e da família sobrevivente, não apenas à pandemia, mas ao conjunto de transformações, que determinaram, não apenas mudanças, mas também, novas variáveis, novos algoritmos, e novas estruturas de ação, reação, e pensamento.

Começamos a construir a nova sociedade, a nova ordem mundial, tão temida, tão preconizada pelos canais de conspiração, e que surge, voraz diante de nossa porta, cuja chave é digital.

Aqui entram os valores culturais e as opções do turismo como refúgio para estes paradigmas famintos. E nestes refúgios, é de fundamental importância a descentralização do turismo, considerando que todo excesso tende à má qualidade do que propõe.
Não quero com isso dizer que uma cidade que enriquece dia após dia, não ofereça qualidade, muito pelo contrário, a sofisticação à olhos vistos oferta o que há de melhor no mundo do lazer, em condições individuais. Eu explico:

Um excelente restaurante é um excelente restaurante, e quem dele servir-se, será tratado como uma majestade, enquanto dentro daquele excelente restaurante. Porém, quando em uma rua, com milhares de excelentes restaurantes, que se digladiam pelo acolhimento de um cliente, naturalmente, com grande oferta, há grande disputa, e tanto preço quanto condições tornam-se mais e mais favoráveis ao cliente. Porém, o conjunto de milhares e milhares de restaurantes, necessita atrair centenas de milhares de clientes, e que necessitam de milhares de hotéis e pousadas para se acomodarem, e ruas, e sinais de trânsito, e infraestrutura urbanística, fiscalização, estacionamento, pago ou de cortesia, segurança, porque onde há muito mel, virão também muitas abelhas, e algumas possuem ferroadas, enfim, o excesso e a concentração, apagam o plano inicial de repouso e contemplação, conhecimento da cultura local, pelo estresse da busca por vagas e mais vagas. 

Este é o cenário para formação dos clusters do turismo satélite, periférico, que usufruem do potencial do âncora, canalizando meios para que o mesmo cliente distribua sua carga de expectativa de lazer, com ofertas menos pomposas, porém mais adequadas à real necessidade do turista, de modo geral, que é repouso, alívio de estresse, e naturalmente, turismo de aventura e contemplação.

Enquanto o âncora multiplica suas ofertas gastronômicas, internacionalizando seus cardápios, os satélites oferecem gastronômicos cultural, pratos típicos locais, menos variados, mas originais e com sabor associado à paisagem e à arquitetura étnica local.

Há muitos anos atrás, minhas esposa e eu, fomos contratados por uma rede de hotéis, em uma pequenina cidade servida por mananciais hidrotermais, e nossa tarefa foi estabelecer um setor de eventos.
Por não conhecermos a região, organizamos um trabalho de reconhecimento dos municípios vizinhos, e seu provável comportamento diante de uma demanda regional, que não estava em seu planejamento local. O trabalho foi bem sucedido, e hoje, aquele município é um polo regional de referência turística, e de lá partem grupos diários para pontos turísticos regionais, que tiverem seu crescimento proporcionado por este compartilhamento.

Regionalizar clusters no turismo e na cultura é uma forma de manter o crescimento, compartilhando oportunidades, e permitindo ao visitante uma maior permanência em sua rede hoteleira.

O tempo do individualismo teve seu limite antes da pandemia. Agora é pensar e fazer diferente. Fazer mais, gastando menos, e obtendo o melhor.





TENDÊNCIAS 2025 BOLET'ILLEVERT ANO 1 - EDIÇÃO 1

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