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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Entre Baionetas e Gravatas - Um Homem, Um Rabino, Um Adeus!


Imagem: internet
Henry Sobel era um sujeito engraçado, pitoresco, exótico, de um sotaque absurdamente arrastado, o qual, confessa o próprio, em seu livro: "Henry Sobel - Um Homem, Um Rabino ", nunca desejou abandoar - Era sua marca registrada. Uma de tantas. "Em suas memórias, Henry Sobel revela episódios decisivos que testemunhou ou protagonizou, expõe suas contradições, dúvidas e temores. E seus deslizes. Mostra-se ao leitor como é: um líder religioso de extraordinário carisma, um homem de fé comprometido com os embates de seu tempo, um ser humano com a grandeza de reconhecer seus erros e acertos" - descreve desta forma o site "Estante Virtual" sobre o autor, não apenas do livro, mas de um dos episódios mais marcantes, e um dos capítulos mais vergonhosos da história política brasileira - A tortura!

Seria suspeito em escrever o que irei escrever aqui, considerando que seria um "judeu falando de outro judeu", porém, considerando que sou judeu de herança, de alma, de prática, de sentimento, mas não sendo reconhecido como tal pelos caminhos tradicionais do judaísmo, senão um apaixonado pela cultura e pelo povo judeu, coloco-me inteiramente à vontade para descrever um pouco sobre a importância que o Rabino Henry Sobel *Z"L, representa, não apenas para o senso de liberdade e exercício pleno do Livre Arbítrio que caracteriza o povo judeu, como para a reviravolta do movimento político dos anos da repressão política, e pelos excessos cometidos por alguns, onde culminou pela tortura e assassinato cruel do jornalista, judeu, Wladimir Herzog, declarado morto em 25 de outubro de 1975, "supostamente por suicídio", em uma cela do DOI-CODI, o braço opressor da Revolução de 1964.
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Aqui faço um breve parêntesis, onde relato os fatos e não minha relação com fato algum, tanto no passado, quanto no presente. Não entro em particularidades se foi golpe, se não foi golpe, quem foi e quem permanece culpado, e quem foi e permanece vítima ou inocente. Meu comentário diz respeito à ousadia de um Homem que ousou enfrentar as baionetas, e chamar de "mentirosas" as afirmações de suicídio do jornalista Herzog. Segue o comentário.

No judaísmo, assim como em qualquer outra cultura e religião, há certos princípios de conduta pessoal e pública, chamados de "Halaká", ou no plural, "Halakot", que determinam certos procedimentos de comportamento da vida religiosa e civil no tocante à este povo.  E uma destas normas, estabelece que os suicidas não podem ser sepultados do modo convencional em um cemitério israelita. E não é apenas o judaísmo que tem estas regras. Diversas religiões cristãs seguem normas semelhantes, no tratamento com suicidas de suas congregações.

Deste modo, como era o Rabino da CIP, Congregação Israelita Paulista, cuja Sinagoga era frequentada, tanto por Wladimir, judeu religioso, quanto por sua mãe, sendo ambos  íntimos amigos do Rabino Sobel, natural que o Rabino deveria providenciar o enterro, e todos os preparativos comunitários para tal. Ao ser informado de que Herzog havia cometido suicídio, a preocupação de Sobel aumentou, pois como trataria do assunto com uma mãe, que acabara de perder o filho, de forma violenta, em um ambiente maldito? 

Ao examinar o corpo, atestou de imediato: "Não foi suicídio! Ele foi torturado e assassinado. Irei sepultá-lo entre os justos!" Qualquer Pastor diz isso, para conforto da família e dos amigos, mas Sobel não ousaria chamar de "Tsadic" (justo), um suicida, diante de fuzis, fardas e baionetas, se não estivesse absolutamente seguro do que afirmava. O caso logo tomou proporções gigantescas, e à ele, aliou-se Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo da Catedral da Sé, onde organizou um manifesto de apoio ao Rabino, cercado com mais de 500 policiais, onde reuniu cerca de cinco mil pessoas em favor do ato, e desta forma, com este aparato (os tempos do ato e sepultamento são distintos, mas destaco a ação em si e os objetivos da mesma no relato) o judeu iugoslavo, Wladimir Herzog, foi sepultado dentro, e não fora do cemitério israelita de São Paulo.

Dali em diante, Henry Sobel tornou-se um destaque mundial, tanto a favor do Sionismo, quanto da volta á Democracia e Anistia no Brasil, país do qual nunca foi cidadão, senão honorário, pois jamais abdicou da cidadania norte-americana (o que o manteve a salvo), como de seu pronunciado sotaque.

Uma frase dita por Sobel, em uma palestra a um grupo de jovens Adventistas, no Rio De janeiro, onde foi o convidado de honra foi: "Não foram os judeus quem protegeram o Sábado, mas foi o Sábado quem protegeu os judeus". Apaixonado por sua religião, pela Democracia, pela cultura judaica e também pela cultura brasileira, Sobel transitou com intimidade entre São Paulo, Jerusalém, e Nova Iorque, onde será sepultado.

Não há, no entanto, como descrever um Ser Humano, sem lembrar seus erros, e o grande erro que descreve Sobel, é como "O Rabino que roubava gravatas". Ele próprio descreve este episódio como uma mancha execrável na sua belíssima e corajosa biografia. Desnuda-se na verdade para vestir-se na honra. Ninguém que conheça uma biografia tão imponente, ousará manchar esta história com algo tão sem significado, cometido por um homem velho, doente, completamente dopado por medicamentos, seria capaz de finalizar uma história desta forma. Mas Sobel não foi perdoado por seus adversário, que encontraram uma brecha para jubilá-lo, retirar suas prerrogativas de Rabino, e defenestrá-lo com "honra". E ele aquiesceu, e sublimou-se em vida, recolhendo-se à significativa vida dos que pouco significado deram para seu legado. 

Sobel perde a luta contra um câncer, mas o que é um câncer, contra todas as baionetas que ele enfrentou? Pois foi o câncer, a baioneta que o venceu. Em paz, na Shalom dos justos que esperam pelo Mashiach (Messias).

Le shana hava virushalayim, Rav Henry.

Gmar Chatima Tová l'Olam Habá!

*Z"L - Zicharon L'Brachá (De abençoada Memória)
Baruch Dayan HaEmet

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Bastidores de Gramado - O Barraco se armou, e Executivo e Oposição se distanciam cada vez mais




Raramente eu assisto a uma sessão inteira da Câmara de Vereadores de Gramado, talvez pelo mesmo motivo (um deles) que eu nunca quis candidatar-me a nada, nem mesmo à vereança. Não assisto, porque acho muito chato, entediante até, aquelas leituras cheias de salamaleques, vírgulas, linguajar decorado, e tricotar de egos. Não estou desmerecendo quem esteja no cenário dos acontecimentos, e até teço rasgados elogios, mesmo com minha obscura e medíocre eloquência, ouso tecer uma ou duas palavras em favor dos notáveis e respeitáveis Edis, desinteressados debatedores das soluções ou desmazelos, de minha amada Gramado. Admiro-os mesmo, por sua incansável retórica, e inegável senso comunitário, posto que tudo dizem e fazem, o seja em benefício da comunidade. Nobre! Nobre demais.

A sessão desta segunda feira, 18 de Novembro, no entanto, pareceu-se dissonante do cotidiano respeitoso e calmo que predomina ao longo das plenárias daquela casa, e isso sei, porque fui perguntar aos Vereadores, se é sempre assim, e a resposta, para meu conforto, foi: "Não! Ontem foi atípico!" Vou descrever um pouco, para firmar meu comentário nos fatos.

Eis que o convidado, naturalmente é pressionado pelos Vereadores Volnei, Ubiratã, e Ronsoni, de forma bastante agressiva, e perde a compostura, partindo para o ataque, primeiro a ex Prefeito, Nestor Tissot, seguido por um vocabulário contido de adrenalina acima da dose habitual de um debatedor. Diante disso, a reação dos Vereadores mencionados, foi a de responderem não apenas no mesmo tom, mas o Próprio Ronsoni, ocupando a tribuna, destravou o verbo, em tom exageradamente agressivo, elevado, e nitidamente raivoso, não apenas contra o Secretário Convidado, como contra todo o Executivo do Município. Sem citar nomes, Ronsoni vociferou acerca do que considerou "incompetência, fracasso, e desleixo" do Governo de Fedoca, e Julio Dornelles, ali representando o Executivo.
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Ao final de sua fala, Ronsoni assumiu a Presidência da mesa, e encerrou os trabalhos, seguindo o protocolo da dia. Foi neste momento, aparteado pelo Vereador Daniel (PT), que solicitou, "Pela Ordem), permissão ao convidado para que fizesse suas considerações finais. Não teve jeito, Ronsoni, usando de suas atribuições e pelo protocolo elaborado pela manhã, não deu oportunidade, e encerrou os trabalhos, não sem antes arguir do Plenário, que prontamente negou o pedido de Daniel. Estes são os fatos aparentes, o vídeo mostra isso. Cheguei a comentar com um Vereador da oposição, que eles haviam pegado pesado com o convidado, e ele respondeu-me que há uma forte animosidade com este Secretário há mais tempo. Mais tarde, esclareceu-me as razões.

Ao que consegui apurar há um ódio visceral entre Ronsoni x Júlio Dornelles, Júlio x Nestor, e soma-se a isso o desentendimento completo acerca de duas matérias em curso:

1 - Projeto do empréstimo de 35 milhões para pavimentação de 30 Km de estradas do Interior.
2 - Projeto de venda de propriedades públicas, para investir os valores arrecadados em benfeitorias e obras sociais.

Vamos à reflexão dos fatos. Projeto do empréstimo de 35 milhões.
Minhas fontes dizem que a oposição fechou questão internamente e não aprovará o projeto, de forma alguma. No entanto, eu mesmo ouvi do vereador Luia Barbacovi, que o projeto passou com facilidade em sua comissão, na qual há mais integrantes do Partido Progressistas, e eu pode deduzir que, se a análise de mérito e outros pormenores de um projeto, é aprovada, nesta etapa, que esta comissão declararia abertamente que não seja um projeto "eivado de vícios" (termo que Fedoca gosta de usar), mas que sua aprovação ou reprovação, deva-se somente á uma questão política, no sentido de "gosto, ou não gosto". Assim, pela lógica, o voto de Luia (e mais alguém da oposição), seja suficiente para aprovação do projeto. isto é:| Seria, se não fosse o temperamento dos debatedores, de um e outro lado, pisando pelos calcanhares, o diálogo civilizado, necessário à negociação de um projeto sensivelmente necessário à comunidade, e ao mesmo tempo político, de um e de outro lados.

Outra leitura que faço de tal projeto é que, se quase todo o asfaltamento, que foi feito, segundo minhas fontes, todo na gestão Nestor e Luia, e isso colocaria Fedoca em condição de inferioridade no tocante aos pavimentos no interior, pois, alega a oposição, que tudo o que tem feito até aqui, sejam apenas reparos. Pois bem! Se Fedoca quer reparar essa lacuna, e para isso necessita de um empréstimo desta envergadura (vale dizer que poucos municípios do porte de Gramado conseguem este valor e nas condições oferecidas, de pagamento em 240 parcelas, o que vale dizer que a conta seria paga pelo próximo Prefeito, que pode ser o próprio Nestor, e que também, segundo análise feita pelo Jornalista Miron Neto, teria oportunidade de inaugurar a maior parte das obras), para avançar as obras que, pelas denúncias feitas aos berros, de Ronsoni, não fez ainda nenhuma.

Eu não seria o Pacard, se não provocasse um pouco de reflexão sobre o que está acontecendo nos dois poderes eletivos de Gramado, e o que está acontecendo é absolutamente desnecessário ao exercício de ambos os poderes: um descompasso total. Se de um lado, o Prefeito precisa de aprovação dos vereadores, para avançar seu planejamento e execução de obras, o que prometeu aos eleitores fazê-lo, se eleito, de outro lado, a população, que optou por dividir estes poderes, fazendo justiça de Salomão, partindo os poderes ao meio e equilibrando as forças, vê um jogo de revanches interminável, levando ao que descrevi, quase como um teatro de horrores, que por muito pouco, não levou os protagonistas às vias de fato. E não pensem que vai parar por aí, porque não vai mesmo.

Vamos entender o que acontece, de acordo com o que ouvi de todos os lados (tem mais que dois envolvidos). É política, e politicagem. Basta saber que se Fedoca não conseguir aprovação para o empréstimo antes do encerramento do ano Legislativo, que tem apenas mais quatro sessões, o interior não terá asfalto. Falo daquelas localidades contempladas na proposta. Fedoca precisa ainda da aprovação para venda de imóveis, tema amplamente debatido já, mas de resultado incerto, mesmo porque a oposição apareceu com uma "carta na manga", o Registro de um dos imóveis listados para venda, que não pertence à Prefeitura, de acordo com a oposição, e corroborado pelo documento do Registro de Imóveis, atualizado.


A explicação de um Vereador é que este terreno foi doado ao "Roupeiro da Criança Pobre", uma instituição que existiu de fato até algum tempo atrás, mas que, ainda que inativa, ainda pertence à esta entidade, e que não existe nenhuma cláusula que diga que tal imóvel volte automaticamente ao Município, em caso de extinção da instituição.

Não vejo como imoral a eventual venda deste imóvel, e nem tampouco a venda de qualquer imóvel pertencente ao Município. Trata-se apenas de questão opinativa, de natureza política, da qual desejo eximir-me, porque minha opinião é o que menos importa nesse momento. Importa é entender a motivação para tal. Então vejo que se Fedoca não conseguir  as obras que prometeu, Nestor volta com forte argumento de campanha que ele realizou tais obras, e que será ele a concluir o que seu (eventual) adversário não fez. O marketing e a propaganda de um e outro durante a campanha, decidirá em quem os eleitores irão aceitar como verdadeira: Se Nestor é de fato o Prefeito capaz de pavimentar o interior e realizar obras da envergadura do parque dos Pinheiros, ou se será Fedoca, que teve boa vontade, mas não teve articulação política para negociar com seus opositores.

Aqui a questão, nesta leitura, não está na capacidade de execução de obras, vomitada às cusparadas por Ronsoni, ou defendida por quem defende a atual administração, onde se diz que Nestor só entende por obra aquilo que se pode empilhar tijolos, ou  espalhar asfalto, sendo que há obras não palpáveis, como qualidade da educação, da saúde, da cultura, da segurança pública, e outras mais.

Não são estas opiniões minhas. São apenas constatações manifestadas por simpatizantes (ou antagonistas) de um e de outro lado. Mas torna-se minha opinião o formato de política que percorre os canais entre um e outro poder. Se de um lado, o Secretário Julio, tem liberdade para seu destempero diante de autoridades que estão, hierarquicamente acima de seu cargo, ainda que sem ingerência direta, por outro lado, a liderança Progressista tem se mostrado sonolenta, ondem, ainda segundo seus opositores, não sabe fazer oposição, pois entendem que oposição se faz à ideias e propostas, mas que esteja a oposição de Fedoca, ainda guardando ranço da eleição perdida, e fazendo oposição à Gramado.

Eu quis entender a origem deste rancor, e fui perguntar diretamente aos personagens deste imbróglio todo, e a resposta que obtive de Dornelles foi que, durante a administração de Nestor, ele, Dornelles, era Diretor Técnico da Corsan, e foi convidado por Nestor, juntamente com a ex-Senadora Ana Amelia Lemos, para filiar-se ao PP. Por ser alinhado com à Esquerda, o PT, Dornelles declinou do convite, e segundo ele próprio, dede então, sentiu o distanciamento de Nestor e seus parceiros políticos.

A mesma pergunta, fiz a Nestor, que optou por não participar do debate, e apenas frisou que o que foi dito na sessão de ontem, na Câmara, traduz seu sentimento e dos Progressistas.

A conclusão é que não há conclusão, e que temos apenas uma pequena amostra do que Gramado irá enfrentar durante a campanha que se aproxima. Que visão terá o meu querido leitor, e minha perfumada leitora, da cidade que tem o oitavo lugar entre os dez municípios com melhor desempenho no índice FIRJAN de Gestão Fiscal de 2019, avaliado por 2018, a cidade que tem o maior e mais belo espetáculo natalino do mundo? A cidade que tem o requinte de uma metrópole de alto nível, desejável de nela morar por oitenta por cento dos brasileiros, e tantas outras maravilhas publicadas todos os dias pelo mundo afora, e que nas suas entranhas abriga dois poderes incapazes de conversarem entre si, sem que ofensas, gritos, menosprezo, seja a tônica destes embates, em lugar de sóbrios debates?

Que triste ter que escrever esse tipo de reflexão. Não gosto disso. Prefiro escrever meus contos, minhas crônicas, meus "causos", mostrar a humanidade que pontua minhas letras, os amigos que ajudaram a construir este patrimônio moral. Que tristeza perceber que a vaidade e a falta de modos no diálogo termine por revanchismo sobre revanchismo, e que aqueles que necessitam das obras, dos recursos, da fiscalização, das boas Leis, das ideias, sejam esquecidos e desprezados a cada encontro entre um e outro poder, ou entre cada sessão da Câmara.

Não foi isso que ouvi durante a campanha. Ouvi ambos os lados prometeram conciliação, paz, harmonia. Isso é conciliação, paz e harmonia? Então o mundo está girando para outro lado e eu perdi a vez de entrar nele.

Quanto à aprovação do projeto dos 35 milhões, a situação fica assim: Os Progressistas não estão dispostos a aprovarem o projeto, e a bancada da situação, e o Líder do Governo, Vereador Professor Daniel, diz que fará de tudo para que o projeto saia aprovado, e para mobilizará todas as comunidades envolvidas na atenção do projeto, para que lotem e superlotem a Câmara no dia da votação, e vê que é muito difícil que a oposição saiba dizer não diante desta pressão. Vamos ver o que acontece.

Fica desde já aberto o espaço desta página para respostas. E tomara que as tenha.



segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Crônicas de Gramado - O Legado e Crime do Zé Tristão PARTE 1



Corria solto, feito traque em bombacha, o "Anno da Graça de Nº.Sr. Jesus Christo" de 1912, penso que lá pelo mês de Março, eu presumo, porque a "edade da creança" era de cerca de oito meses, e considerando que a lactente havia nascido no mês de Julho de 1911, chega-se à março de 1912. Isto dito, sigo o relato.

Estamos no Quinto Distrito de Gramado do Mundo Novo, ou apenas Mundo Novo. o lugar era um rancho, onde durante muitos anos foi o "Motel Balneário", ou "Tênis Clube", como era chamado, por abrigar, por empréstimo, as dependências do clube com o mesmo nome. Ali vivia o próspero "garanhão", cujo nome de "baptismo" era Vítor Pereira Dias, genro do afamado Intendente, Tristão José Francisco de Oliveira, ou como diz a rua que leva seu nome, "Tristão de Oliveira".
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Tristão tinha uma penca de varões e varoas, de sua prole com a Senhora Dona Leonor Gabriel de Souza. Uma de suas filhas, então, era a Dona Francisca de Oliveira, nome dado, possivelmente em honra à Princesa Dona Francisca, Princesa de Bourbon e Bragança, filha de Dom Pedro II. Outro Filho era um tal de José Francisco de Oliveira, mas que em razão do pai, Tristão, era chamado também de José Tristão. Costume judaico, ainda seguido pelos "Cristãos Novos" (judeus convertidos ao cristianismo, para fugirem do duro braço da inquisição), ainda que subjetivos.

José Tristão, ou aqui, na economia de letras, "Zé Tristão", era um moço de singular sapiência, inteligentíssimo, e talentoso em muitas artes e ciências.. Um erudito, para o seu tempo. Notabilizou-se no ofício de "Agrimensor", ou "Topógrafo", como queiram chamar. Homem de bem, e um devoto cristão exemplar.

Já sua elegante "senhôra", ao que declinarei o nome, tinha certa fraqueza no quesito de individualidade do matrimônio, e caiu na lábia do supracitado Vítor, seu concunhado. E foi então, aquele "aqui-te-pego-aqui-te-largo", de tal monta, que a coisa vazou dos pelegos e foi parar nos ouvidos de Zé Tristão. É o que passou a saber-se depois do feito que relatarei com fidelidade ao ocorrido.

Certa hora do dia, que não saberei precisar, mas creio que tenha sido à noitinha, após a dura faina, que Vítor abandona-se ao aconchego sagrado do seu lar, e toma nos braços, a pequenina Maria Elisa, sua caçula, com então, já mencionado, a "edade" de oito meses (aqui trava minha memória imaginativa, pois não consigo ver Maria Elisa como um bebezinho fofo, mas como uma velhinha, debochada que era, envolta em um cueiro, fazendo gracinhas, e pequenina, de colo).

A alegria de Vítor, e da inocente esposa, "Senhôra Dona Francisca" terminava naquele momento, pois um estampido vindo do telhado (de tabuinhas) do rancho, de modo certeiro no crânio de Vítor, cujo anjo da guarda foi de prestimosa ação, protegendo a inocente de um fragmento do tiro. E ali, sem saber o porque, nem quem, chega ao fim a jornada pecaminosa, mas também justa (este paradoxo é o que nos mantém pela vida), do Don Juan, que saboreava voluptuosas curvas, da mulher do cunhado Zé Tristão.

O atirador fugiu rápido como quem mata (desculpem o trocadilho, mas achei ótimo), e o cadáver foi levado para autópsia, em Taquara, sede do Distrito. O tempo passa e as horas correm. A notícia se espalha, e como era de costume, os homens se reuniam no galpão, onde o mate corria solto, e a prosa também. Estre estes, estava Zé Tristão, consternado pela morte do "Ente Querido", e em dado momento comentou:
- A cabeça do morto deve estar cheia de pregos, coitado!"
E estava mesmo. A carga utilizada foi de cabeça de pregos e fragmentos de metais. O problema é que isso não havia sido divulgado ainda, mas quando chegou pelo Delegado, o resultado da autópsia, lá estavam os pregos prenunciados por  Zé Tristão. Ele era o assassino! Foi então condenado, passou alguns anos em uma cela chamada de "17", que pingava água, e quando saiu da cadeia, a família foi recomendada pelo Delegado, que tirassem o rapaz daquele lugar, para evitar vingança. Eram tempos duros. Mas pensa que termina aqui o caso? Pois não termina aqui!

.....Acompanhe nova publicação com a sequência dos fatos.

domingo, 17 de novembro de 2019

Seitas, Partidos, ou Religiões?



Eu estava saindo de Israel, já no portão de embarque, quando um agente do Serviço de Defesa do aeroporto Ben Gurion abordou-me e pediu meu Passaporte. Examinou por alguns segundos, olhou pra mim, e fez uma pergunta em hebraico. E só soube responder: "Ani lo ivrit" (eu não falo hebraico). Perguntou-me então em inglês, quantos idiomas eu falava. "Um tantico só de inglês, um bocadinho de espanhol, e se falar bem devagarinho, talvez eu conheça alguns palavrões em italiano" (Evidente que respondi apenas "inglês, e um pouco de espanhol, e italiano, bem serio). Não se brinca com um agente da Mossad, com quase dois metros de altura, uma metralhadora a tiracolo, dentro de um aeroporto mais guardado que filha de estancieiro, cujo país precisa de uma redoma de mísseis e tecnologia para proteger, sob ameaça real de guerra por mais de vinte países à sua volta. Não se brinca mesmo. Então eu disse que era brasileiro, que estava no país à convite de uma empresa, para receber um treinamento, e que o dono da empresa era a pessoa que estava ao meu lado, um brasileiro, que vive em Israel há cerca de 40 anos. O varão examinou mais uma vez meu passaporte, olhou pra mim, apontou pra minha cabeça, e perguntou, de chofre: "Por que você está usando Kipá?" (Aquele chapeuzinho redondo, usado por judeus religiosos (ou não). Fiquei completamente estático, o sangue circulou ao contrário, e dava pra ouvir meu coração disparado, ecoando pelo imenso hall do aeroporto. Meu amigo então, percebendo que eu teria que trocar de cuecas logo a seguir, interviu, e disse ao agente: "Ele é de uma seita judaica, no Brasil!" O moço deu um sorriso, balançou a cabeça, e desejou-me uma boa viagem, devolvendo meu passaporte. É que na cabeça dele, é impossível imaginar que um judeu, fora de Israel, não saiba falar hebraico. Mas encerro aqui o relato, e digo, que pela primeira vez, na vida, fiquei feliz por dizer que eu pertencia a uma "seita".

Não guardo segredo da minha fé. Nunca guardei, mas também, nunca senti-me confortável em fazer proselitismo. Nunca gostei de debate doutrinário, e se em algum momento da minha vida, flertei com a apologética, já lembro pouco disso, porque defesa de doutrina nunca foi do meu agrado, defender aquilo que milhares de renomados teólogos o tenham feito de formas tão diversas e inteligentes, que qualquer coisa que eu disser a favor, ou contra, estaria apenas repetindo jargões, que deixar-me-iam em trapo, ao primeiro argumento desconhecido por, de alguma outra escola teológica contrária. Até mesmo dentro de minha própria convicção religiosa, percebi que existia uma apologética dentro da apologética, que defendia então minúcias dentro de minúcias, e tão bem argumentadas, que faziam-me parecer um idiota, culpado por minha absoluta ignorância, e inferior no proceder de minha conduta. Assim, esquivei-me tanto, que ao largo de certo tempo, dei-me por conta que estava cada dia mais e mais emaranhado numa teia de conceitos e preconceitos, que estava me esquecendo de D-s. Foi desta forma, que tirei o manto, outrora branco, mas agora encardido e amarelado, de minha busca pela santidade e pureza espiritual, e descobri que debaixo dele, havia um homem desnudo. Peladão, se quiserem fazer gracinha. Era eu. Sem roupagem religiosa, nem tampouco partidária, para proteger minhas vergonhas, do mundo.

De modo algum quero que seja interpretada esta leitura sobre intimidade com o debate em círculos, que é o debate apologético, com minha relação com o conjunto de doutrinas pelas quais entreteci minha trajetória moral e espiritual. São coisas absolutamente diferentes. Um coisa é o "modo de ser", e outra é a "razão por crer". Aqui estou no plano religioso, no qual sinto-me absolutamente confortável em me pronunciar, porque procuro manter a coerência entre o que eu penso, o que eu digo, e o que eu tento fazer. Então, não estou trazendo nenhuma doutrina nova, nenhuma nova "verdade", antes estabeleço que as verdades que construíram minha formação espiritual, sejam suficientes para manter-me em voo solo, como faço, sem a interferência mastigada de que "por pertencer à este ou aquele grupo deva pensar deste ou daquele modo". Absolutamente não. Quero meu livre arbítrio desimpedido para quando eu tiver que prestar contas de meus atos e de minha consciência diante do Criador, eu o faça com a solenidade do momento e com a esperança de uma vida inteira. Simples assim.

Estou, com isso, dizendo que aquilo que faz bem pra mim, deva ser do mesmo modo para meu querido leitor, ou minha perfumada leitora? De modo algum. A beleza do pensamento está na originalidade, ainda que seja esta orientada por esta ou aquela forma de agir, viver ou pensar. Não há demérito algum buscar modelos de outrem para consubstanciar nossas experiências, e como nosso tempo é exíguo, nada melhor do que ter outras experiências para agregarmos, e as chamarmos de "nossas". Então, sempre iremos encontrar uma causa à tudo o que vivemos, e causa, não no sentido de motivo, mas no sentido de origem, ato causador. E isso pode ser encontrando tanto em lições de contemplação na Natureza das coisas, quanto em exemplos deixados por quem tenha vivido da forma que desejamos viver.

A pergunta que abre este ensaio é se você segue uma Seita, um Partido, ou uma Religião? Vamos entender cada uma destas manifestações ideológicas, e saber em quais nós nos encaixamos, então.
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1 - Seitas
Aqui, irei transcrever a definição clássica de seita, mesmo porque não estou buscando locupletar-me em originalidade plena textual, mas trazer ao estudo as definições estabelecidas, para adiantar meu trabalho.
"Seita (latim secta = "secionar", "dividir", "sectar) de forma geral é um conceito complexo utilizado para grupos que professem doutrina, ideologia, sistema filosófico, religioso ou político divergentes da correspondente doutrina ou sistema dominantes.
O termo “seita” é usado amplamente e é aplicado a grupos que seguem um líder vivo que promove doutrinas e práticas novas e não-ortodoxas.
Segundo Peter L. Berger, seita seria a organização de um grupo contra um meio que consideram hostil ou descrente. O grupo então se fecha em um corpo de doutrinas e vê o restante da sociedade como inerentemente má ou pecadora, passível da ira divina, que inevitavelmente sobrevirá sobre eles. As seitas de orientação cristã usam as noções de pecado e santificação como forma de dar legitimidade discursiva aos neófitos e manter os que já são seguidores. A saída do grupo pode acarretar diversos efeitos psicossociais em decorrência do sentimento de solidão, de autoculpabilização e da hostilidade advinda do grupo que se está deixando. Sair de uma seita nunca é fácil porque ela exerce controle sobre toda a vida individual e coletiva dos indivíduos. As seitas, assim como as religiões instituídas, são agências reguladoras do pensamento e da ação, mas com a diferença de que na seita a regulação tende a ser mais totalizante, devido ao rígido controle que exercem sobre os sujeitos.
Embora o termo seja frequentemente usado apenas às organizações religiosas ou políticas, estende-se também à adesão a grupos militantes minoritários em tensão com a sociedade ampla."
Aqui quero discordar de Berger, quando diz que apenas pode ser chamado de "Seita" aqueles grupamentos, cujo líder ainda vive. Não é assim. Grande parte das seitas, nasce como tal após a morte de seu líder, e que em muitos casos, começa com doutrinas bastante mais simplicidade do que aquelas empregadas por seus sectários. O autor abraça firmemente a ideia que o cristianismo seja uma seita, e aqui preciso concordar, porque nasce a partir de um Líder, a quem denominam de Messias, e não vou entrar neste mérito, mas comprovar que é a partir desta referência que brotam todas as demais vertentes, e estas, sim, com seus ícones, vivos ou não. Os sectários constroem um "calvário", falso, ou verdadeiro, enaltecem o martírio, em lugar das vitórias, para com isso, constrangerem seus prosélitos, neófitos ou não, a ignorarem as ofensas, e enfrentarem os desafios, com bravura, ou com doçura, seja qual for a circunstância, ou o modelo empregado. Estes sectários chegam à extremos, e muitos deles chegam a provocar a ira dos antagonistas, para que os façam sofrer pelas injúrias, sejam elas físicas, ou morais, e este sofrimento é o fermento que ativa a massa, e as massas, dispostas a qualquer sacrifício, já não mais pela causa, mas pelo líder supremo que gerou a causa.
2 - Partidos
Partido político é um grupo organizado, legalmente formado, com base em formas voluntárias de participação numa associação orientada para ocupar o poder político.
É um grupo organizado de pessoas que formam legalmente uma entidade, constituídos com base em formas voluntárias de participação, nessa "democracia", segundo professor Lauro Campos da Universidade de Brasília; quando faz referência ao espectro ideológico, em seu livro, História do Pensamento Econômico, em uma associação orientada para influenciar ou ocupar o poder político em um determinado país politicamente organizado e/ou Estado, em que se faz presente e/ou necessário como objeto de mudança e/ou transformação social. Porém, segundo Robert Michels, em seu livro publicado em 1911, Sociologia dos Partidos Políticos, por mais democráticos sejam esses partidos, eles sempre tornam-se oligárquicos, esses partidos estão sempre sociologicamente ligados a uma ideologia, porém, nem sempre essa ideologia é pragmática e/ou sociologicamente exequível ou viável, pois muitas vezes carece de ambiente para seu desenvolvimento, o que demonstra segundo Lauro Campos, que os chamados Líderes partidários não se sintonizam perfeitamente com o povo e como que, como diz: "… tentam governar de costas para o povo e suas necessidades…".
Acho suficiente o conceito, e apenas esclareço, que nem todo Partido é uma "Seita", e nem toda "Seita" torna-se em Partido. Classifico aqui duas situações de atuação dos Partidos; Na primeira, os Partidos agregam militantes espalhados, que defendem determinada causa, ou candidato do momento, em caráter nacional ou regional, e que depois de passada a paixão da campanha, sublima-se sem alarde, e cada um volta pra sua função, ao seu "status quo ante", ou, como estava antes da eleição. Vou além, e na minha leitura não encontro mais partidos com ideologia plena, senão ajuntamento de políticos que buscam o poder, seja direto, ou de forma periférica, e que segundo a lei exije, há necessidade da criação de uma agremiação, à qual dava-se o nome de Partido, e hoje nem mais isso.
A ideia de "Partido" parece-me configurar motivo de vergonha, senão me digam, por que o Partido Progressista, agora se chama apenas "Progressista? Ou outros, a saber: Podemos? Patriotas, MDB, e por aí segue? Não são os mesmos integrantes, as mesmas lideranças, o mesmo estatuto, a mesma ideologia de antes, com apenas alguns ajustes? Não estou dizendo que está errado, apenas estou fortalecendo que a política começa a levantar as velas para outros ventos, onde os velhos costumes estão sendo, aos poucos, substituídos, modernizados, melhor ajustados com as novas tendências do povo de quem se servem.
Já partidos com ranço de tradição, fazem questão de manter o "P" para começar suas siglas: PDT, PRN, e por aí segue. O PDT mesmo, já nasceu como uma mágoa de não ter sido PTB, o Partido de Brizola e de Getúlio Vargas, criado por este último, como "um anteparo entre sindicatos e comunistas", segundo suas próprias palavras, e que foi extinto em 1964, com a Ditadura Militar, vindo ressurgir após a Anistia de 1982, onde Brizola perde a sigla para Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, e desde então seguem separados, onde aqui os classifico como seitas da "sociedade dos poetas mortos", porque cada um destes partidos tem o seu próprio panteão de divindades, mas não conseguiu prosperar, apesar de manterem suas ideologias intactas desde que foram criados.
3 - Religiões
"Religião (do latim religio, -onis) é um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. Muitas religiões têm narrativassímbolostradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do universo. As religiões tendem a derivar a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana.
A palavra religião é muitas vezes usada como sinônimo de  ou sistema de crença, mas a religião difere da crença privada na medida em que tem um aspecto público. A maioria das religiões tem comportamentos organizados, incluindo hierarquias clericais, uma definição do que constitui a adesão ou filiação, congregações de leigos, reuniões regulares ou serviços para fins de veneração ou adoração de uma divindade ou para a oração, lugares (naturais ou arquitetônicos) e/ou escrituras sagradas para seus praticantes. A prática de uma religião pode também incluir sermões, comemoração das atividades de Um Deus ou vários deuses, sacrifícios, festivais, festas, transe, iniciações, serviços funerários, serviços matrimoniais, meditação, música, arte, dança, ou outros aspectos religiosos da cultura humana."
Neste formato de agrupamento, posso acrescentar que quando um grupo de prosélitos, que tanto podem ser chamados de fiéis, ou militantes, age em defesa de suas crenças fundamentais (a cartilha de um partido, por exemplo, é uma crença fundamental),tendo, ou não um líder máximo, mas mata e morre por aquela filosofia (não sei se cabe aqui a palavra filosofia, que por si só não reconhece algo como verdade única, enquanto que uma religião defende sua apologética como redentora, única, e virtuosa), torna-se uma religião, mesmo porque, no extremismo da militância político-religiosa, viver ou morrer, tem o mesmo peso de importância, e quando prefere que outros morram para que sua causa sobreviva, e não existe uma crença fundamental ancestral entre o "certo e errado", nada se pode esperar que diga respeito à civilidade, no tocante ao respeito ao Ser Humano na sua integralidade, senão que ele é apenas humano enquanto servir à sociedade, trabalhando pelo Partido, e sendo necessário, morrendo pela causa. Nas religiões, os prosélitos matam e morrem por, e em nome de seus deuses e suas doutrinas. Na política acontece o mesmo. Por isso, talvez, que o adágio popular diz que "política e religião não se discute".
Quem é você neste contexto? Um sectário? Um político, ou um religioso? Ou ainda apenas alguém que faz parte dos três grupos, e espera ansiosamente pelo início da próxima campanha para vingar-se de seu político odiado, ou extorquir seu político generoso, ou finalmente, identificar-se com aquela pessoa que sintoniza com suas aspirações, e o representará junto aos demais, no lugar adequado para chamar de "Casa do povo"?
Está você disposto a empunhar uma bandeira, e cerrar os dentes em batalha por alguém que nem sabe o seu nome, onde você mora, ou quantas colheres de açúcar põe no café? Está disposto a defender com unhas e dentes uma agremiação que tem um perfil na sua comunidade, e outro completamente diferente no cenário nacional? Sabe você quanto está contaminado este candidato, pela ideologia que você mesmo abomina? O quanto irá beneficiá-lo, com seu envolvimento comunitário, a saber, trabalhando para tornar realidade as suas aspirações?
Seita, Partido, ou Religião? À qual delas você vai dedicar seu tempo, sua honra, seus valores, seus bens, e sua integridade, a defender?
Nas sociedades de pensamento totalitário alinhado ao antropocentrismo individualista, contrária ao Teocentrismo Universalista, não é muito pensar em que ou o indivíduo serve à causa, ou a causa defenestra o indivíduo, condenando-o ao ostracismo, tornando-o um pária, ao ponto de expropriar-lhe bens, valores, e família, como medida protetiva dos valores constituídos pelo Partido, tornando-o neste ato, e nos demais mencionados, como uma religião, cujos clérigos não passariam nem na grande porta da esperança, quanto menos no fundo de uma agulha.


sábado, 16 de novembro de 2019

PACAIO, e o Futuro das Redes Sociais , no Primitivismo da Nossa Ansiedade


Imagem - Digital Zombie (Internet)

Quando eu era menino, tínhamos, em sala de aula, uma brincadeira muito bobinha, chamada PACAIO, que era um acróstico de: Paixão, Amor, Casamento, Amizade, Ilusão, e Ódio. Funcionava assim: Alguém passava ao seu grupo de amigos (panelinha mesmo) uma folha de caderno, onde deveriam anotar o nome de seis amigos, em ordem crescente numérica, de um a seis. A folha era devolvida, e então, o fator surpresa era identificar o número correspondente à letra, e assim, o primeiro da fila, correspondia à paixão, e assim por diante.

Devo testemunhas que tal lista nunca correspondeu aos fatos, e até onde sei, nenhum nome citado na lista correspondeu à expectativa do enunciado, ou seja, ninguém casou com outro ninguém, e também, qualquer relação de ojeriza entre colegas, ficou no passado e não caracterizou uma profecia das ciências ocultas de gurizada ingênua, ocupando as horas ociosas, entre as enfadonhas aulas de matemática ou geografia.
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Era um princípio de relacionamento virtual. Só acontecia no faz de conta de folhas soltas de papel, e assim que eram descartadas, ninguém mais lembrava qual posição ocupada na ordem dos vaticínios sentimentais uns dos outros.

O tempo passou, as crianças cresceram, os velhos descansaram, e outras crianças nasceram. Os ciclos e os círculos continuaram a se mover, e a tecnologia acelerou nossas vidas. E a vida nos emprestou mais, muito mais conhecimento. E nosso conhecimento nos fez embarcar em novos costumes. E os novos costumes criaram as redes sociais. E as redes sociais criaram novas formas e dinâmicas de relacionamento. E nós percebemos que estávamos sós, isolados por bits e bytes, dominados por Smartfones, e nos embrenhando em grupos imaginários de amigos débeis, de amizades estéreis, e de repetição de nossas necessidades de pertencermos à grupos que antes nem sabíamos que existiam. E muitos nem existiam mesmo. Então nós os criamos. Quando não há uma guerra para um exército, este exército não tem mais razão de existir. então criamos expectativas de guerra, e aceleramos a ansiedade coletiva, para motivar nossos generais que sejam de fato generais, e para que nossos soldados se tornem guerreiros. E para que nossos líderes, se empenhem em fortalecer suas lideranças. E para que criemos um medo coletivo, para assegurar-nos de que será pelo coletivo que libertaremos os medos. Os medos que nós mesmos criamos. Como uma vacina de uma praga que nunca aconteceu.

Nós somos os geradores do medo, assim como robôs cibernéticos criam o gerador de "lero-lero", uma máquina virtual que gera discursos sem sentido, nosso gerador de "lero-lero" coletivo gera fatos hipotéticos, que nos levam a buscar soluções virtuais. Nas no fim de tudo, somos as mesmas crianças tentando descobrir pelo sortilégio das coincidências, quem nos ama e a quem supostamente odiamos.

O mundo mudou, a tecnologia mudou, o saber se multiplicou, as casas subiram umas nas outras, e não pisamos mais no chão de nossas aventuras pueris. Não corremos mais dos vira-latas das ruas, antes os recolhemos para que as ruas não lhes sirva de mortalha.

Não procriamos mais ao modo convencional, porque há os que procriam irresponsavelmente por nós, e tal como num grande supermercado, podemos optar pela adoção de um Ser Humano, que pensa, questiona, recusa, aceita, age, interage, trai, ama, simula, protege, decepciona, ou por um patudo cheio de pelos, que pula em nós, se enrosca, lambe, ronrona, late, e que sem o menor pudor iremos chamá-los de "filhos", seremos, não mais seus "donos", mas seus "tutores", e nos dirigiremos à nós mesmos, nas redes sociais, como "humanos", e não mais pessoas, crianças, homens, velhos, mulheres, moças, rapazes, e outros adjetivos que nos classifiquem como tal. Diremos deles em relação à nós: "O meu humano". Ora, não é isso uma completa inversão de valores? Não é isso um completo deboche do Criador, D-s (Deus), que nos criou à Sua Imagem, conforma a Sua Semelhança, para que nos tornássemos senhores deste mundo, que o guardássemos, que o protegêssemos, e que o tornássemos um lugar melhor? Ou será que a descrença em Um Criador nos transformou em parasitas do vazio, cujos valores possam ser simplesmente jogados ao lixo, em nome do "Politicamente correto", enquanto que politicamente correto deveria ser tratarmos em primeiro lugar daqueles que se assemelham à nós em comportamento, mas são iguais em espécie humana?

O mundo mudou, mas a solidão fez brotar um reino diferente do animal, vegetal, mineral, e fungi, o reino inanimado mental. Inanimado mental é a espécie de seres que perambula como aqueles arbustos secos que passam rolando pelo chão nos filmes de faroeste, secos, sem vida, inúteis e mortos, que apenas se movimentam porque estão no modo automático. E estes seres que nos tornamos, estão no último suspiro de sua humanidade, ansiosamente buscando uma superfície para respirar, como alguém que afundou na água, e não fazem ideia de como isso pode acontecer, não sabem quando nem como será esta grande virada. Pois eu digo à você, que a virada começa quando começamos a pensar, questionar, formular perguntas, sem preocupação com as respostas.

Quem somos? Onde estamos? De onde viemos? Para onde iremos? São estas as perguntas que deveríamos fazer e não fazemos, então os teóricos de conspirações tomam nosso lugar em nossa mente, e mentem descaradamente, sobre nossas origens, nossa existência, e nosso destino. E nós nos desesperamos em percorrer os buscadores da web, nos deparando com bilhões de respostas, que não respondem a nenhuma das perguntas que deveríamos fazer.

Nos debatemos com minhocas do pensamento, cujas cabeças e cloacas são iguais, e o que entra numa e sai na outra, tornam-se idênticas, quando não sabemos o que buscar. Uma flecha solta no espaço, sem origem, não vai a lugar algum, e se não houvesse o efeito gravitacional, permaneceria girando continuamente em ziguezagues excêntricos por todo o infinito. Nomos estes ziguezagues, mas que em algum momento amargamos as consequências da inanição e do ostracismo, e mergulhamos no vazio existencial que este mundo caótico nos oferece.

Estou exagerando? Os suicídios dizem que não. O esvaziamento da família me diz que não. O distanciamento da justiça, da espiritualidade, e da vergonha de admitir que existe um certo e um errado a nos guiar, são respostas à essa inquietude das almas sonolentas ao nosso redor, à nossa própria alma tão inquieta quanto letárgica que conflita consigo mesma, no vai e vem vazio das tardes e das manhãs que nos arrastam para uma ladeira enlameada, cujo final é um penhasco sem volta.

Demos sorte que não fomos formados á imagem de um macaco, que encolhe-se e joga bosta naquilo que teme, mas somos forjados do mais duro barro, moldados como a mais fina porcelana, pelas mãos do Criador dos mundos, que criou um espelho vivo, e neste espelho gerou Sua imagem  semelhança, e chamou de Paulo, Pedro, Joana, Maria, Elisabeth, e assim bilhões de outros espelhos, que refletem cada um uma imagem diferente em um modelo único, chamado de "Humanidade".

Assim, as redes hoje sociais, tendem a voltar-se às redes individuais, não mais binárias e frias, mas  multicelulares e vivas, pulsantes, necessárias. Deste modo, talvez, ao menos por resgate de nosso humanidade diluída, tornemos às folhas de papel, buscando nomes para preenchermos as pessoas, cujos sentimentos sejam de novo PACAIO.

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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Quem são os nossos heróis?



Quando eu era pequeno, que me enfiava na casa dos amigos mais abastados, ricos, mesmo, e nos meus valores, eram ricos aqueles que tinha TV na sala, geladeira na cozinha, e uma prateleira cheia de "Vidros-Veeck" na sala, como um painel de sabores a encherem os olhos das visitas. Não apenas me enfiava, como sentia-me um membro da casa, da família, com direito a pedir mais uma fatia de salame e queijo durante o jantar, fato bastante corriqueiro, nas saudosas lembranças de meu crescer feliz. Eu me beneficiava desta relação, especialmente porque podia  assistir meus programas favoritos (todos os programas eram favoritos, pois não havia muitas opções, com apenas dois canais de Tevê disponíveis), e meus programas mais favoritos ainda, eram os que tinham heróis, daqueles com máscara e capa mesmo. Suas armas poderiam emitir raios laser (eu nem sabia o que era um raio laser, mas adorava ouvir o "bzzzz" que sincronizava com o feixe luminoso que fritava monstros do espaço). Então haviam outros heróis, mais selvagens, como o Tarzan, que voava entre as árvores, suspenso em cipós, que pareciam ser quilométricos, e vestido apenas com uma tanga de pele de tigre, com uma faca na cintura, e uma força descomunal, tacava-le pau na bandidagem, sempre assessorado por uma macaca, chamada "Chita". Daí, minha concepção que para dar de pau na mediocridade, você não precisa de um grande aparato tecnológico do futuro, mas uma tanga, para cobrir as vergonhas, uma faca, para dosar as palavras e cortar os excessos, e uma macaca, como conselheira, você é um herói de enorme grandeza.
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Eu era menino, pobre, fraquinho, sujinho, dos pés empiriricados, orelhas sujas, e fedendo a mijo, mas eu queria ser um herói. Os anos passaram. Tarzan foi guardado nos rolos de celuloide de algum galpão que já nem existe mais. O raio laser tornou-se corriqueiro, e eu até tenho alguns aqui nos meus computadores, então nem há mais necessidade de vestir roupas prateadas cm capacete de vidro inquebrável, para manusear o raio, e os heróis, outrora inocentes, foram transfigurados em vilões com máscara, para saciar a sede de sangue das vítimas que clamam por justiça. No meu tempo de menino, os heróis nunca matavam ninguém, e toda a pancadaria que sofriam, os fazia parecer de silicone, porque não se via sangue. Até matavam, pra dizer a verdade, mas matavam de longe, em tiroteio, que não mostrava cérebros explodindo em 3 dimensões. Já os heróis de hoje, passam o filme inteiro no analista, tendo "flashbacks" (aquelas lembranças dos filmes) sobre as cachoeiras de sangue e pancadaria destruidora que promovem em seus confrontos. Nossos heróis, ainda que tenham os mesmos nomes de antes, são mais como personagens da série "Mad Max", onde estourar cabeças é a dinâmica de cada cena. O que aconteceu com nossos heróis? Por que mudaram tanto?

Nossos heróis nunca mudaram, porque heróis de nossa imaginação são as nossas frustrações espelhadas debaixo das máscaras que não ousamos arrancar, pelo medo de desnudarmos a nós mesmos debaixo delas, e não sermos capazes das proezas que os vemos fazer, porque cremos naquilo que não conhecemos, em lugar de conhecermos àqueles em quem devemos crer, nesse quesito de heroísmo, ou seja, à nós próprios. Nossos heróis não usam mais espadas, porque a invasão de facilidades na oferta de armamentos tão mais ousados nos seus efeitos, torna os objetos pontiagudos que faziam companhia à capa e máscara, completamente obsoletos. Daí, nossos heróis de hoje, não os da tela, mas o da realidade que é quase tão assustadora quanto a ficção, senão ainda mais, são aqueles pelos quais continuamos a sofrer, nos angustiamos em cada episódio que assistimos, porque, diferente dos filmes e das séries de nossa infância, não importava quais seriam os desafias, mas sabíamos que no fim, tudo sairia bem, tudo daria certo. Nossos heróis reais tem a solidariedade de nossas incertezas, com as suas, pois nem eles sabem, e nem nós imaginamos qual será o desfecho de suas façanhas. É aí que entram em cena os outros heróis, os heróis auxiliares, os combatentes pelos flancos: Nós mesmos, heróis de nossos heróis, que nos transformamos, de vitimas indefesas, à gladiadores invencíveis, e em nosso socorro defendemos aqueles que desejam nos socorrer, quando na verdade são eles apenas agentes de nossa vontade debaixo das máscaras que não usamos mais. Máscaras escondem nossa identidade, mas ousadia revela nosso caráter, Nossos heróis nos chamam de seus heróis e nós, heróis de nós mesmos, nos chamamos do jeito que quisermos. Como eu já disse outro dia, todos os heróis são tímidos, mas nossa intrepidez pisoteia a timidez que nos acovarda, para nos transformarmos de cordeiros em leões, num piscar de olhos, quando somos chamados à ação.

Tudo isso é lindo, mas e como se aplica esta definição em tempo de eleição? Como defino se a pessoa em quem vou depositar minha confiança, pelo voto, tem vocação para heróis, ou é um impostor bem produzido? Não tem, porque ninguém que se apresenta como "libertador", Salvador da Pátria", "Exterminador de corruptos e Marajás", ou "Seu amigo pra todas as horas", nem de longe passa pela prateleira dos heróis, para buscar sua capa e espada, mesmo porque, máscara ele já tem. O verdadeiro herói é silencioso, não se manifesta, senão pelos efeitos de seu heroísmo, e ninguém que busca a honra irá encontrá-la, senão aqueles que fogem dela, serão pela honra procurados, diz antigo ditado talmúdico. Então, ninguém é herói por antecipação, senão pela sua participação e determinação em submeter-se ao pente fino de caráter circunstanciado pela sua conduta, ainda que em silêncio, pois ética é aquilo que se faz quando ninguém vê, é a boa educação quando não há recompensas a receber. Ninguém usa faixa da vitória antes de começar a corrida, embora muitos candidatos gabam-se do que fizeram, como se fosse isso motivo de glória, pois se o fizeram e precisam lembrar as pessoas de seus feitos, não o fizeram com intenção de servir, mas de cobrar aquilo que não lhes devem. Servir é um ato de generosidade, mas quando você precisa ser lembrado, passa a ser uma marca de egoísmo, em lugar de heroísmo. São palavras homófonas, mas que se confrontam principalmente em tempo de campanha.

Se estamos falando de candidatos, vale observar os que gastam a maior parte de seu discurso forçando sua memória a lembrar o que eles fizeram, mostrar ruas que abriram, leis que promulgaram, creches que abriram, valores que implantaram. Estes jamais serão heróis, porque precisam de auto-elogios do passado para justificarem o futuro. Não há nada de errado em usar os feitos do passado como testemunho de competência e caráter, mas que sejam outros que o digam, e não eles próprios. Que invistam seu tempo e a paciência dos eleitores a debaterem suas propostas para o futuro, e que saibam que uma investigações breve nos anais de seus mandatos e vidas profissionais ou empresariais, descortinam suas entranhas até à última dobrinha do intestino, e é o que sai de suas bocas, e não o que entra nos seus ouvidos, que fará a diferença e os avaliará, pela história, no tipo de heróis que foram: O que sonhavam ser, ou o que necessita da máscara para não mostrarem quem são. Para este tipo de "heróis", que tem peçonhas para beijar pessoas, a melhor máscara é a verdade, que quando cai, nem eles mais se reconhecem no espelho.

Que tipo de herói é você? Para quem você é herói? Quem é seu herói? O preço do que fez e joga na sua cara, vale o seu voto para vê-lo repetir tudo de novo? Vale pensar!


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Quando a Liberdade de Expressão se choca contra a Expressão da Liberdade

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Imagem: Internet (Sócrates)
Diariamente recebo sugestões de pauta, que nem sempre são do interesse editorial deste espaço, e examino com muita cautela qualquer manifestação em temas de natureza polêmica. Certa ocasião, quando ainda tinha um semanário, um antagonista foi procurar o Ministério Público, para exigir que eu publicasse as matérias tendenciosas que enviavam para a redação do jornal, e eu, como Editor revisava-as uma a uma, e na grande maioria, descartava, e não as publicava. Ora! O fato muito indignou meus adversários, que acreditavam, pelo poder da Justiça, forçar-me a publicar aquilo que eu não desejava e não estava em minha linha editorial. Não se tratava de que eu concordasse ou discordasse, pois nem sempre estou de acordo com aquilo que eu mesmo publico,m as o faço, pelo interesse do debate. Pois bem! A resposta do Promotor, que também não achava que eu fosse a pessoa mais agradável do mundo, e que disse-me com claras letras, que lia tudo o que eu publicava, e que no dia que eu publicasse algo fora da Lei, ele me processaria, foi que: "Ainda que o Presidente da República caísse morto na porta da redação, se eu não quisesse publicar, eu não tinha essa obrigação, porque quem escreve, é responsável por aquilo que escreve, e não pelo que deixa de escrever (e publicar)".

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Os tempos aceleraram a liberdade, e o excesso de liberdade, a liberdade descontrolada, sem responsabilidade, acelerou a libertinagem, os excessos, e o desmazelo com o maior de todos os atributos inerentes ao Ser Humano: A fala! É através da fala que nos tornamos uma civilização atrás da outra. São as línguas que separam ou unem as pessoas, e depois destas, os costumes, o comportamento social, e por fim, as leis do país ou do lugar. Mas tudo começa com a fala, e a escrita é a forma de armazenar as palavras para não esquecê-las, e falar delas mais tarde. Então, a escrita é a fala três vezes: A primeira, ao pensar. A segunda, ao escrever, e a terceira, ao ler e transformar vocábulos gráficos, em sons, e sons em palavras.

Como uma casa é erguida sobre esteios, seguidos das paredes, e finalmente o teto, assim também as palavras constituem a casa do pensamento compartilhado, e como tal, segue certas regras de construção, para que umas palavras sejam atreladas a outras, e neste comboio de vocábulos, andando, como uma locomotiva, sobre trilhos, é que comunicam-se os seres racionais, a saber, o Ser Humano, a saber, você e eu. Esta comunicação compreende a estrutura do funcionamento da vida em sociedade, e para o bom convívio nesta sociedade, há padrões que facilitam o entendimento entre as pessoas, no convívio equilibrado, sustentado pela justeza do que é dito para que de justeza se firme como justiça, e para que como justiça, pelo mau emprego das palavras, seja transformado o viver em conjunto como punição pela desestruturação de um sistema, que bem funciona, quando funciona bem com todos.

Os tempos mudaram, acelerou-se o saber, a ciência (conhecimento) foi esquadrinhado (meticulosamente investigado), e a ânsia por falar, mais do que ouvir, invadiu o comportamento, antes formal, para o informal, e a Última flor do Lácio, inculta e bela", vulgariza-se como um trem descarrilhado, e arrasta pelo caminho, como um vendaval, varrendo a delicadeza, a elegância, o esplendor das citações vernaculares, respeitosas, ainda que no contraditório, que varrem os tribunais e as tribunas, onde quem as ocupa, imaginam-se diante de uma panteão de iracundos titãs à espera de afrontas para libertarem a fúria que queima em suas entranhas, e neste linguajar tosco e pueril, encontrarem suas vitórias diante de estupefatos  pares e magistrados, que cada dia mais encontram-se perplexos e inaptos a promoverem aquela justiça que estudaram durante a jornada acadêmica.

Em tempos de outrora, ainda que sob o frágil manto da precariedade de conhecimento, era o cuidado com a agressão fortuita, com o aparato verborrágico, até mesmo a manifestação acusativa em tribunais, lapidada com o cuidado em bater firme na ação do sujeito, sem pisar na dignidade, ainda que cercada de culpa, do sujeito da ação, e mesmo que resultasse sua retórica refinada em condenação, tais floreios exaltavam o respeito à dignidade humana, ainda que sob a batuta da correção aplicada. 

O mais se agrava quando as paixões viscerais que floreiam os discursos, e seu relato, e o hálito incandescente ultrapassa as fronteiras que a liturgia do ofício demanda, no ato de tais oratórias. Quando a Justiça se torna palco de espetáculos burlescos, e o defensor vitupera o acusador, ainda que ambos e todos vistam portentosas Togas,  descem, no âmago da oratória ao mundo das trevas, no tocante ao respeito mútuo, invocando forças estranhas ao ambiente sagrado da Justiça e da Ordem.

Quando mesclam-se desejos de expandirem à sociedade sua ansiedade por defesa de seus pacientes, ao suporte inevitável dos meios de comunicação, esta amálgama é o abrir das cancelas de uma loja de departamentos em dia de promoção e queda de preços das mercadorias. Há uma invasão de emoções que impede o pleno raciocínio, em detrimento da busca por resultados, em muitos casos, no desespero de causa, com um último estertor de possibilidades de reverter a culpa e retirar as sentenças pela inculpabilidade arremessada ao olor das ofensas pessoas e interpessoais.

Ninguém se livra das paixões, combustível para a animosidade, assim como ninguém também é inocente quando a causa primária cessa, e acontece o rescaldo dos ofendidos, buscando justiçar os ofensores. Eis o que ocorre todos os dias, em todos os tribunais. 

Por esta razão, gosto mais de escrever do que falar, porque no teclado, posso ser gago, como sou, porque o tempo de buscar a palavra que falta ao texto é o tempo da reflexão se é aquela mesma palavra que eu quero usar no ensaio. Erro menos quando penso mais. Erra mais, quem dispensa a liberdade de acertar, não pensando nas consequências dos erros. 
Portanto, Pense!


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Laodicéia é aqui - A hipocrisia que rasteja pelas igrejas

  "A igreja de Laodicéia é mencionada no livro bíblico do Apocalipse como uma das sete igrejas da Ásia Menor. Ela recebe críticas sever...