AD SENSE

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O Inimigo que nos une - Do relativo ao absoluto na política de todos nós




Um observador que tenha chegado atrasado ao trem da história e do comportamento humano no convívio social, poderia ficar estupefacto ao ver que os petistas abraçam com tanto amor a causa e a defesa de seu arqui-inimigo Aécio Neves, enquanto este é execrado pelo Judiciário, naquela esfera intocável que todos temem e tremem ao se aproximarem, a Suprema Corte da justiça brasileira.
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Este súbito amor, porém, não é sem causa nem casual, mas próprio do desespero de quem vê suas entranhas saindo pelos poros, num momento em que um inimigo comum aparece no front. Desta forma, inimigo comum é aglutinador de medos e portanto promotor de alianças. Este modelo acontece também na Natureza, quando encontraremos certas espécies de predadores protegendo suas presas de outros predadores, e acreditem, não tem nenhum significado místico de amor ao próximo, mas de preservação do estoque de suprimentos de sua cadeia alimentar.

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O Homem é o único que promove alianças com as duas intenções: amor ao próximo (cada dia mais escasso), e sobrevivência ao poder (cada vez mais frequente). Daí, juntar antigos rivais e torná-los novos aliados, é uma questão de sobrevivência dos mais hábeis e dos mais ágeis, do tipo: quem pegar primeiro, leva! E pegar primeiro, aqui, significa aliar-se a quem possa fortalecê-lo mais adiante.

Gramado está nesta curva, e tem fatos relevantes para começar a pensar no dia seguinte, no ano seguinte, e no mandato seguinte. Uma aliança que reúna entre si dois partidos fortes, atrairá uma penca de pequenos partidos, nem por isso menos importantes e competentes, mas que tornam-se satélites que gravitam em torno daqueles que promoveram as alianças e possam oferecer segurança e probabilidades de sucesso na empreitada lá na frente.

A política torna-se a força tratora que impulsiona o comportamento social para promover as mudanças que necessita, e os políticos são os agentes, ou melhor dizendo, os peões num grande tabuleiro, onde nem mesmo o rei e a rainha tem poder de decisão, pois há uma mão maior manipulando todas as peças durante o jogo, e o sucesso ou fracasso, independe destas peças, e sim do tirocínio de cada jogador para a movimentação destes agentes.

Resta saber, em Gramado, quem são os jogadores, uma vez que os peões, reis, torres, cavalos, bispos e rainhas, já perambulam pelo tabuleiro. Resta saber quem são os articuladores, e se existem estes articuladores, ou as coisas estão acontecendo à revelia de estratégias nem ideologias, porque quando existem ideologias claras, sabe-se onde desejam chegar, mas neste cenário, não há nenhum tipo de ideologia exposta, e ao povo resta acreditar em si, para que saiba se defender de quem oferece aquilo que desconhece, promete aquilo que não vai cumprir, e pleiteia por causas sem causa alguma, a não ser por si próprios. Com o seu voto, seu dinheiro e minando a sua crença na Democracia.

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Pedro Bala absolvido - Chuva na lavoura do PP

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Foto: Travel (Retirado da internet)


Tenho batido na tecla do vazio existencial do PP, especialmente na crença de que existe vida após a eleição. Infelizmente, nem todos compartilham desta fé, e o desânimo tomou conta do Partido e na Coligação UPG, então, ninguém mais fala. Ficou acéfalo, pois por mais que o Ser Humano seja resiliente, com capacidade de reconstruir-se por si mesmo, resguardados os seus limites, a presença de um nome imponente, de um herói ou um ícone, faz a diferença na velocidade da resiliência e da reconstrução do que foi perdido. 
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Pedro Bala é um Ser Humano, e como tal, falível e afeto ao desânimo, primeiro, pelo conjunto de circunstâncias em que seu nome foi envolvido, e principalmente porque, provavelmente o processo movido contra ele que estava em curso normal, tomou uma importância fermentada por sua oposição, como uma carta na manga a ser usada em caso de emergência, então, tirar o Pedro da Prefeitura seria sim, uma grave emergência, e pelas leis de Maquiavel, os fins justificam os meios. Isso abalou Pedro, e principalmente abalou aqueles que viam nele esta esperança.

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O processo andou no seu curso normal, no seu tempo regimental, e a Lei e seus agentes agiram dentro dos ditames da normalidade, permitindo que Pedro pudesse celebrar um momento de alívio nesta tempestade de cunho moral. Porém, o mal que acomete Pedro, respinga em Paulo, e como dizem os mineiros, pau que bate em Chico, bate também em Francisco, e aqueles que naturalmente deixavam-se embalar pela certeza e segurança de seu líder e mentor, também despencaram junto com eles nesta falta de ânimo, agora sentem-se novamente como uma terra seca num longo estio, que recebe as chuvas da primavera e fazem brotar a verdura dos campos da esperança. Este é o papel de um líder e os efeitos de sua liderança.

Em uma das eleições que compus a equipe de Pedro, lembro que na época, ele tinha fama de ser o candidato dos ricos. Porém, foram os pobres quem asseguraram a sua vitória, e ele entendeu este recado. Lembro que alguns puxa-sacos à volta queria promover uma churrascada entre os líderes para celebrar a vitória, ao que el negou imediatamente e respondeu de pronto: "Eu fui eleito pelos pobres e será com eles que irei comemorar!". Desde então, Pedro viu nas camadas menos favorecidas da sociedade, o amparo ao seu crescimento como líder, e o fez por merecer, conquistando, não apenas o respeito, mas acima de tudo o carinho das pessoas, dos velhos, das crianças, de todos, e sobretudo, o respeito dos seus adversários. Sua presença era imponente por onde andava, e isso contribuiu para o sucesso de sua trajetória.

Veio então a última eleição (e vou falar desta eleição, sim, o tempo que eu tiver vontade, e quem não estiver satisfeito com isso, pare de ler o que eu escrevo), e a derrota que chegou de uma forma que abalou todo o prestígio que Pedro havia conquistado. Foi chamado do pior dos pecados que um gestor público pode ser taxado: "Ladrão"!. E o seu Partido, os seus coligados, simplesmente desapareceram em massa. Jogaram a toalha. Abandonaram seu amor eterno pelo PP. Diziam, e ainda dizem que sua fidelidade era com o Pedro, e estando o Pedro fora de cena, não haveria mais motivo para continuarem. Passariam a cuidar de suas próprias vidas e negócios. Mas e não foi isso que fizeram enquanto estavam sob as benesses do poder, representado pelo seu líder? E era por acaso de graça que trabalhavam? Os cargos e oportunidades gerados na economia de Gramado pelas ações acertadas dos governos de Pedro, seriam apenas para os outros? ora, uma falácia isso! Todos eram beneficiados. Todos participavam do banquete de vitórias sob o estandarte de seu líder.É assim que funciona, e quando tudo está bem, bem permanece. Mas é só a locomotiva descarrilar, que o comboio despenca junto.

Isto explicado, retomo a leitura que o PP tem nas mãos uma oportunidade única para recompor-se, sob a liderança de Pedro novamente. Não estou falando de presidência de partido ou candidatura a Prefeito ou Deputado. Estou falando de uma liderança ideológica, contundente, e capaz de bater a poeira dos ânimos que se foram. Pedro, embora apaixonado pelas belas oliveiras que plantou, ainda é o Pedro que muito fez por Gramado, por seu arrojado modo de governar. Amado e odiado, mas jamais ignorado. Mediocridade nunca foi a sua marca. Cometeu erros e acertou muito mais, mas jamais se acovardou nem se deixou intimidar pelos desafios. Eu aprendi muito com ele, mesmo jamais tendo participado de nenhuma de suas gestões como Servidor Público. Tive altos e baixos em nossas ideias, mas jamais perdemos o respeito um pelo outro. Nem mesmo na sua aparente queda, imaginei abandoná-lo à sorte, até porque sorte pode ser construída por ações de caráter. Por mim, nada espero de Pedro, senão aquilo que espero de meus amigos todos. Mas o PP pode esperar muito ainda, porque Pedro está de volta. E voltou com força total. 

Quem sabe não seja o Pedro, o articulador da grande união que Gramado espera ver, começando pelo PMDB? Ele nunca foi contra essa ideia.



quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Pedro Bala inocentado - A inconsequência de uma calúnia e quanto Gramado já perdeu por isso

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Foto: NH  Retirada de Internet


Como não poderia ter sido diferente, a notícia de que Pedro Henrique Bertolucci, Ex Prefeito de Gramado, cuja integridade havia sido colocada em suspeição, por seus adversários políticos, e que ressurge com o seu "Alvará de Inocência", outorgado pela mais alta Côrte de Justiça do Rio Grande do Sul, cai como uma pá de cal sobre aqueles que, esquecendo que política é regida pela Terceira Lei de Newton, onde  "Para toda a ação, surge uma reação da mesma intensidade, mesma direção, e com sentido oposto", a reação dos leitores foi dentro do esperado, isto é, devoraram até meus erros de semântica e digitação não corrigidos a tempo, para tomarem ciência de que era mesmo verdade aquilo que já percorre como um raio pelos cafés e bares da cidade, pelas redes sociais e mais que isso, pelos grupos de whatsapp, mas que, uma  publicação deste escriba daria confiabilidade ao que é dito como informaçao periférica.
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Isto posto, passo a analisar brevemente a situação de quem foi espectador dos episódios ligados à campanha, onde os mesmos grupos e nos mesmos bares e cafés, circulavam as notícias em tom de catástrofe, que "Pedro Bala seria ladrão e que seria condenado, e caso vencesse, perderia o mandato", e aqui vejo dois grupos distintos: O primeiro grupo, interessado na desgraça alheia, correndo atrás do "quanto pior pra eles, melhor pra nós", e o grupo dos estupefactos, que se deixaram espancar a rodo, sem estampar a mínima reação de defesa. Mas não termino aqui,porque há um terceiro grupo remanescente e que em nenhum momento escondeu a cara, mas antes colocou-se em defesa das mesmas bases que havia militado, e neste grupo estão aqueles que, por natural reação humana, entraram em temporária letargia, catatonismo até, mas que ao sabor no vento e dos acontecimentos consequentes, passaram a despertar, abrindo um e outro olho, aos poucos, porque a luz na cara pode incomodar, portanto, cautela faria bem.

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Vamos analisar uma das perdas que Gramado teve com este episódio, não falo só da eleição perdida, ate porque isso poderia ser levado na conta de despeito, mas de uma consequência direta do episódio deste processo em particular: A evasão de divisas e empregos do Município, com a transferência da Dauper, outra protagonista deste processo, para a vizinha cidade de Canela. Então, se juntarmos a este, outros tantos que vieram, em efeito cascata desta inconsequência, quem vai retribuir os empregos perdidos, os impostos que se evaporaram, e a dignidade abalada das pessoas envolvidas?

Que resposta  dará à comunidade aqueles que fomentaram das ilações que deram origem a estas perdas? Quanto gastarão em sua defesa em processos, certamente já a caminho, por calúnia,injúria e difamação, a serem movidos contra elas? Em que contribuíram para a democracia, senão apenas que responderão pelos seus atos impensados e língua destravada? Isso nem Newton seria capaz de calcular.

Pedro Bala é absolvido por unanimidade - A Vez e a Voz da Justiça falou mais alto




Saber que a Justiça tenha sido invocada é umas das faces da civilização que entristece, uma vez que sempre que o Poder Judiciário necessite interferir entre dois querelantes para dirimir dúvidas de entendimento, seja processual ou de comportamento social, é um fato que diz que ainda há uma lacuna que  não foi devidamente preenchida nesta fase da civilização. Uma lástima.
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A boa notícia está em saber que o amargo gosto de jiló dos julgadores tenha sido trocado pelo suave aroma de uma boa fruta, quando exaustivamente tenha analisado  todas as provas e contraprovas, ouvido à exaustão  todas as testemunhas, os Advogados e a Defensoria pública, debatido entre os Magistrados todos os aspectos, e por fim, sentenciarem a inocência do Réu, que tem seu nome retirado do livro dos culpados e registrado no livro dos inocentes.
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Esta a parte boa da história. A parte triste diz respeito ao conjunto de ilações e acusações que foram levantadas contra a honra do personagem deste evento, o Ex-Prefeito, e então Candidato, Pedro Henrique Bertolucci, que pleiteava seu quinto mandato em Gramado. O resultado, que de opinião quase unânime foi atribuído às mensagens de blogueiros que circulavam pelos grupos de whatsapp, dando conta de que Pedro Bala seria culpado, e dando a certeza de que seria condenado, o que agravaria sua condição política. Eram penas jogadas ao vento que não se recolhem mais. Culpado, então, é quem é condenado. Inocente é quem é julgado e inocentado. Lógica simples, pelo viés da Justiça, mas infame e baixa, quando é espalhada como argumento de campanha. Este argumento foi usado largamente, e atingiu por algum tempo a honra do candidato e de sua família, que tentara demovê-lo de voltar à política. Mais que isso, foram poucos os que apostaram em sua inocência, entendendo que não deveriam correr risco com seu voto, e votaram no protesto, por aquilo que acreditaram ser a verdade. Não era. A verdade veio à tona hoje em forma de inocência, assinado e carimbado por um Colegiado de Juízes que avaliaram as supostas provas à luz da lei e não da paixão.

É sempre bom que a Justiça prevaleça.Por coincidência, também eu tive uma ação com decisão e sentença favoráveis por estes dias. Que bom que mesmo que os homens sejam injustos, a Justiça não é  obra dos Homens e sim de D-s , O Justo juiz.

Parabéns, amigo  Pedro! Não errei ao investir confiança na tua proposta. Não errou o eleitor de Gramado, quando errou na conta e sessenta e dois ficaram de fora. Errou quem acreditou na difamação e nos difamadores. E agora, como ficam? Terão decência e hombridade para pedirem desculpas pelo mal feito e no devido Foro, reparado?


Saiba mais clicando aqui


Quando plantei Cerejeiras (e comi Araçá, Goiaba Serrana e outras delícias do mato) - Gramadense Raiz sabe o que são elas





Quando era menino, eu vi um filme,muito antigo, que contava a história de um homem, na China, que foi buscar uma esposa na aldeia vizinha. Embora os atores fossem todos americanos, maquiados de forma muito caricata, o filme era muito lindo.

Butiá

Durante a viagem de volta, após haver encontrado sua esposa, passou na feira e comprou alguns belos pêssegos, e seguiram viagem de volta, a pé. Ela alguns passos à frente. Então ele deu um pêssego à ela, e seguiu em frente. Quando terminou de comer seu pêssego, jogou fora o caroço,mas ela juntou e guardou a semente da fruta. Ele viu, mas não fez nenhum comentário. Ao chegarem à casa, ela plantou todos os caroços que guardara.

Amora preta
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Os anos se passaram, e os pessegueiros floriram. Envelheceram, e ela morreu. Enfim, o filme termina com ele olhando os pessegais floridos que ela havia plantado, porque não deixou que fosse jogado fora um caroço de pêssego comido pelo caminho. Isso me sensibilizou muito, porque eu tinha já  uma grande afeição pelas coisas da roça, do mato, e da Natureza em geral.

Amora Branca

Não tínhamos terra mais, quando eu estava na idade de saber dar valor ao chão onde pisava. Mesmo assim, por crescer próximo aos matos, todos sabem que mato onde um menino sonhador adentra, é terra de ninguém,portanto, sua. Portanto minha. E foi nas matas que eu comi as mais deliciosas frutas que se pode comer quando menino. Goiabas serranas, verdinhas e suculentas, mais doces ainda quando tiverem bicho dentro. Araçás, então, conhecia cada pé desta frutinha, pelos matos onde brincava. Guabiroba, haviam apenas quatro ou cinco pés, mas carregavam e eram generosos com a gente. Ingás, então, eram um prêmio, conseguir um pezinho carregado. Haviam dois pés, que eu me lembro. E amora branca? Quem ja comeu amora branca? Por misericórdia! Que delicia. Que perfume! Claro que a amora preta tem também seu valor. Azedinha, mesmo madura, deixa a boca cheia d'água. 

 Araçá amarelo
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Morango silvestre ou (ou moranguinho de sapo) era outra iguaria de menino pobre. Um morango menos doce, que comíamos com açúcar e água. Só quem comeu sabe como são.

 Morangos silvestres (Moranguinho de sapo)

E Mixiricos (É Mixiricos com "I" mesmo)? Quem já ficou com a língua preta de tanta doçura, comendo punhados de Mixiricos pelos matos?  (Desta, infelizmente não encontrei imagens para ilustrar).

Mais uma fruta era o Maracujá do mato. Preferido por dez entre cinco sabiás. E guris também.

Maracujá do mato


Da Goiaba Serrana (Feijoa Sevillana), a gente comia até a pétala branca da flor. E quando mais bichada, mais doce era a fruta. As de casca lisa eram as melhores.

 Goiaba Serrana

Enfim, tantas e deliciosas foras as frutas de minha infância. Mais uma frutinha que colhíamos no mato, era o Esporão-de-Galo, confundido com outra muito parecida, o "Pula-Pula", que não era comestível. 



 Esporão-de-Galo

Porém, há uma que tem um lugar reservado na minha memória: São as Cerejas do Mato! Estas pequeninas frutinhas são umas espécie de prêmio pelo primeiro lugar, uma recompensa pela persistência e pelo respeito ao sabor das frutas de árvores que não plantamos. Quer dizer, aquelas que comemos quando crianças, nós não plantamos, porque isso pode ser corrigido a qualquer tempo. 
Não quero ser injusto esquecendo de alguma, porque eram muitas, mas as Gavirovas (Guabirobas) são inesquecíveis. Colher no pé amarelinhas, durinhas, e fazer espocar na boca o sabor sem igual, que só crianças pobres do interior conhecem.

Gavirova  (Guabiroba)


Então, lembrando do filme e dos pêssegos, adquiri o hábito de, na medida do possível, nunca destruir sementes (em apartamento fica complicado), e sim jogá-las no mato. Isso mesmo! Não estou falando de jogar lixo por aí, porque semente não é lixo. Tem vida dentro delas. Então eu jogo as sementes, porque se os pássaros as devorarem, devoradas estarão. Cumpriram seu papel na Natureza. Mas caso escapem dos bicos dos emplumados, elas germinarão, e novas árvores crescerão, que darão frutos, e destes, novas sementes.



 Ingá

Outra fruta do mato a quem presto meu tributo, são as Quaresmas, que alimentaram minha avó nos dias da fome, quando ela deixava a comida para nós, e saía pelo mato à procura de Quaresmas. Comia quantas encontrasse, mas as mais bonitas, ela trazia pra mim. Sim senhor,as quaresmas tem história comigo.
 Quaresma

Pois algumas destas sementes de Cereja do Mato, eu plantei. Foram três, na verdade. Na primeira, cuidei da plantinha por quinze anos. Foi na casa de minha avó. Os anos se passaram, e as casas foram alugadas. Mas os inquilinos sabiam de meu caso de amor com as árvores, e com aquela cerejeira. Um dia, fui chamado para ir comer as primeiras frutas da árvores, que já estavam maduras. Fui correndo, e fiquei sabendo que ninguém havia colhido nenhuma frutinha, sem que eu tivesse a honra de comê-las primeiro. Um tributo. Uma mostra de respeito e dignidade quase ímpar. Fiz então as honras: comi duas frutinhas e agradeci pela deferência, liberando o restante da colheita para os inquilinos de minha avó. O mesmo aconteceu com uma cerejeira que plantei na casa de minha mãe, que diz que eu tenho um tal de "Dedo Verde", em referência ao livro do francês Maurice Druon, que relata a história de Tistou, um menino que tinha um notável dom de fazer brotar toda árvore em que punha as mãos, por isso diziam que ele tinha dedo verde. Eu tenho então dedo verde, mas uma sorte incrível de encontrar pessoas de caráter que valorizam meu carinho pelas plantas. Plantas não são pessoas. Não as trato como tais. Não converso com as árvores, nem me amarro quando uma está por ser derubada. o máximo que posso fazer é usar minha habilidade em convencer pessoas, que as árvores possuem um atributo especial, de aproximar gente. Gente que gosta de árvores também.



*Todas as imagens foram retiradas da Internet




segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A prenhez do Menelau Quaresma - Causos do Apolônio Lacerda




Este caso é sigiloso. Não deveria estar contando isso aqui. Mas vou falar em códigos então. Isso. Serão códigos e segredos. Mas depois que ler, ponha fogo no seu computador ou celular para apagar as provas. Caso conte para alguém depois, ponha fog...Não" Nem pense nisso. Mas por favor, mantenha em sigilo,porque foi muito humilhante pra família da pessoa que deu-se o acontecido. Eis o caso:

Menelau Quaresma era aparentado do bolicheiro "Dedão". Coisa de um primeiro casamento de uma prima lá de Brejo Bermêio, dos tempos de escolinha. Quaresma foi agregado dum tal de Ataliba, que cuspia enquanto falava, e falava enquanto comia, e ainda gostava de comer revirado de couve com farinha de mandioca, e contar vantagem na cara das pessoas. Tinha por isso, poucos amigos.

Pois Quaresma apareceu na calada da noite na casa do Dedão, pedindo pouso. Trazia consigo um peçuêlo, uns "mijado", e uma quarta de farinha pra contribuir com as despesas do pouso. Entrou desconfiado e fechou imediatamente a porta, olhando de revesgueio pela fresta da janela, fechando-a em seguida. Só então estendeu a mão pra dar "adeus" de boas vindas, como manda o respeito.

- Se chegue, vivente! Conte as novidades!
- Nenhuma, cumpadre! Fale baixo, por obséquio!

Dedão não contradisse o visitante, mas arregalou o olho e esticou o pescoço em diagonal, o que significava desconfiança súbita. Quaresma assentou-se, quieto, ensimesmado e de olho arregalado de revesgueio, como que implorando para que o anfitrião insistisse mais no assunto. estava entalado. Tinha que falar com alguém. Dedão percebeu, e puxou assunto.

- Não sou intramitido, cumpadre, mas se o varão quiser confiar num amigo pra uns concêio, não se apoquente e abra o verbo com seu amigo aqui!

Quaresma arregalou o olho, encolheu os ombros, como que concordando, mas envergonhado e com dificuldade de dar início à prosa.  Dedão entendeu e propôs:

-Fazemo ancim, cumpadre: Aperpáro um cuscuis mexido e um chá de mate, e enquando tirêmo o bucho da miséria, o amigo me conte o que se passa com vosmecê...

Ah pra quê..mas PRA QUÊ ele tinha que que usar esta palavra:Bucho! Nem terminou a frase e Menelau caiu no choro convulso. Os ombros do amigo se tornaram almofadas e a coisa veio. Chorava aos prantos e soluçava parecido com um peru inticado pela piazada. Erguia o pescoço e dava dois ou três gritinhos, e voltava ao choro. Isso foi por um bom tempo, até que Dedão foi se esgueirando de fininho,porque tava demais a coisa.

- O cumpadre continue aqui no choro, que vou ali mexer o chá de mate porque tá quaje derramando.

Duas cambucas de cuscuz depois, ambiente mais calmo, e Quaresma começa a contar:


-Não faça pagodeira de mim, cumpadre, mas a côsa é cabulosa. Nem sei como foi acontecê, mas eu to prenho!

Não é comum que uma cumbuca caia sozinha da mão da pessoa, mas Dedão tremeu. Pensou: "Eu deixei que ele chorasse no meu ombro...". E saiu se esfregando e cuspindo, sapateando e batendo a poeira do pala véio, na parte que tinha enconstado no chorão.

- Não é o que o cumpadre tá pensando, não! Eu sou um Ôme dereito. Não faço essas côsa. Foi um milagre.

Instintivamente Dedão correu o olho dereito ao santo na parede, benzeu os dedos, e fez o sinal da cruz. Bandaiêra até dava de entender, mas heresia é demais. 

- Não cumpadre. Eu lhe digo. Foi a madrinha Carsulina mesma quem atestou a prenhez. Cumpadre  Apolônio tava junto. Foi quando me cramei de inchaço no bucho e pedi um chá pra madrinha. Ela mandou o Apolônio na lavoura buscar umas ervas, e disse a ele que era porque eu tava embuchado de fratulênças.

Dedão segurou o riso. Não entendeu o significado da tal "Fratulênça", mas quando Carsulina tinha um dedo no assunto, era bandaiêra. E da braba. Continuou ouvindo.

- Pôus então, bebi o chá, mas falei pra ela que não sou ôme afeito a essas bobajada que anda por aí. Ela se riu e me disse que justo por isso, era um milagre com minha peçôa. E vim embora proseá com o amigo e contá a maravía...

Dedão se segurava e espremia o beiço já roxo para não rir. Fingia que ia ali beber um caneco d'água e ria aos frouxos, bebia a água e voltava vermelho, mas controlado. E Quaresma lá num canto segurando a pança como uma mãe, arqueado pra frente, e a outra nas "cadeiras", já se sentindo uma mamãe. "UM mamãe", melhor dizendo, porque ele não era mesmo ôme de fazer bobajada por aí.  Mas a revolução no bucho continuava, até porque Carsulina deu-lhe um chá de folhas de umbuzeiro para resolver as flatulências do efebo. Num dado instante, a coisa anunciou, e Quaresma berrou:
-É agora, cumpadre! Veja panos limpos, uma gamela d'água e uma carneadêra afiada pra tosá o imbigo da cria! E foi à capoeira....

- Dedão se finava de rir la dentro, assim, de faltar o fôlego, enquanto lá fora se ouvia os gemidos do Menelau, falando dengoso com seus gases:

- Increnca do mamãe! Venha logo, criatura! Força no imbigo, que o mamãe aqui dá conta do recado, chê!


E a coisa veio. Eram gases de muito tempo. Foi um estrago no miarálhi.... Quando percebeu o que estava acontecendo, voltou envergonhado pra dentro, mas não deu o braço a torcer. Encontrou o Dedão com olhos vermelhos de tanto chorar de rir, mas mais controlado, perguntou:

- Cadêle a cria, vivente?

Quaresma não se deu por vencido e lascou:

-Era um milagre, cumpadre. Era só ispríto. Saiu cantando e foi-se pro mundo!

Pelo sim, pelo não, Carsulina apareceu logo depois com um caneco de Lambança de café com mandioca, procurando pelo Menelau Quaresma. Com aquele olhar de quem fez o que não devia...



domingo, 24 de setembro de 2017

O Perfil do Novo Brasil após a crise




O problema de estar dentro de um  furacão, sendo jogado de um lado a outro, tentando sobreviver, agarrando-se à qualquer coisa que pareça firme, até que a tormenta cesse, é que não se tira tempo para refletir sobre as possibilidades e eventual cenário que será desenhado depois que a tormenta passar.

O Brasil, assim como as vidas dos brasileiros, está se segurando de palanque em palanque, na expectativa de que o relógio do tempo e das desgraças seja acelerado, e que ainda mais aceleradas sejam as soluções para seja encontrada a paz, ou no mínimo um certo descanso nesta desenfreada tentativa de manter-se de pé enquanto milhares caem ao nosso lado. Aqui o Salmo que diz: "Mil cairão à tua frente e dez mil à tua direita", parece fechar a página antes que leiamos o final do verso que diz: "..mas tu jamais serás abalado!"
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O problema está no furacão. Mas em algum momento, o vento cessa, e resta o rastro de devastação pelo caminho. As crises são assim. A crise brasileira é assim também. Estamos no fim dos ventos. Esta é a parte pior, porque não sabemos quanto ainda falta para chegar esse fim. E depois do fim, o que vamos fazer? Depois do fim, o que será de nós? O que será de mim? O que vai restar para recomeçar, se o começo é difícil, então o recomeço é um começo sem a esperança do vazio à frente, porque resta a ainda fresca lembrança de que o sucesso dos primeiros sonhos acaba de ser varrido pelas crises, onde os ombros amigos do alento são cabeças que buscam nossos próprios ombros para reclinarem suas dores? 

Como recomeçar quando há tão poucos cacos para juntar após uma crise que não guardou reservas para acender novas chamas? Como recomeçar quando tudo o que se conhecia por democracia, aquela ensinada nos livros, foi engolida pela ganância e pelas teorias dos loucos que pregam a completa destruição para esvaziar a história e propor um recomeço como nos tempos das cavernas? Como recomeçar quando sobreviver é mais importante que sonhar e calar é proteger-se se males que ainda não se esgotaram em meio às rajadas de vento que ainda tiram o sono de quem não dorme mais há tanto tempo? Como recomeçar, quando tudo parece um cenário de guerra, onde não há vencedores, apenas vencidos, e portanto não há a quem apelar por clemência?

Não é talento meu dar respostas. Só provocar perguntas. Então pergunto diferente: Por que não recomeçar como se tivesse pela frente um novo vendaval, só que desta vez de oportunidades? Por que não ver nos rastros do vento desolador, a possibilidade de refazer de outra maneira aquilo que não estava preparado para o vento e a tempestade? Por que não estar preparado para sair na frente assim que o Brasil voltar a existir, mesmo que nem toda a justiça se faça do jeito que desejaríamos fosse feita? Por que não emprestar os braços em lugar dos ombros para que ao nosso lado se levante conosco no despertar de novas oportunidades? 

Estamos condicionados, desde a infância, a nos prepararmos para o pior. Mas por que não nos preparamos também para o melhor? Nos preparamos para a velhice, mas por que não nos capacitamos para fazer do que nos resta de vigor, e muitos, de juventude, um banco de oportunidades onde depositaremos nossos talentos e investiremos nossa ânsia pela recuperação daquilo que foi perdido, mas além disso, pela possibilidade de conseguirmos aquilo que nunca tivemos antes?

Os vendavais são desgraças, mas a calmaria que vem depois é o sinal para que aceitemos novos desafios. Já perceberam que mesmo depois de certas calamidades, as pessoas reconstroem aquilo que foi perdido no mesmo lugar onde estavam antes de tudo acontecer?Já perceberam que  os ventos levam aquilo que não estava firme, mas o chão permanece, porque o chão é tudo o que nos resta em qualquer circunstância. Até mesmo na morte, o chão será a nossa última morada aqui nesse mundo.

O Brasil que eu vejo florescer depois da crise será um lugar melhor do que todos os anos que vieram antes. o Brasil que vejo ser levantado o será desta vez pela experiência ou pela vergonha, mas será levantado. O que era torto, será endireitado, e o que caiu será novamente levantado. Não será erguido por mãos de outros mas pelas nossas próprias mãos. Serão os nossos braços quem limparão os caminhos e as nossas pernas quem nos guiarão por novas veredas. Porque este é  o nosso chão. esta é a nossa terra. Nenhum lugar do mundo é tão nosso. Mesmo encruado de defeitos, eivado de imperfeições, polvilhado de erros, ainda assim, este é o nosso chão. De ninguém mais. Aqueles que nos roubaram, serão vigiados. Aqueles que nos traíram, serão punidos. Aqueles que nos enganaram, serão desmascarados. Este é o nosso país. De ninguém mais.


Dois Causos do Apolônio Lacerda (Quem não ler é bobo e feio. Se for muié, tem bigode)





O jantar de galinhas

Apolônio era conhecido por sua notória rapinagem. Sovina, pão duro, mão de vaca, rapace, seja o termo que for, o homem sofria muito para abrir a mão. Ou pior: não abria nunca a mão toda. Deixava uma fresta com o indicador aberto, o dedo médio querendo abrir, e o polegar regulando os demais. Tremia feito vara verde, ao ver uma moeda ou cédula saindo do seu bolso. Não era incomum ver-se uma lágrima vertendo nestas ocasiões.
Um dia, porém, num lampejo de generosidade exacerbada, Apolônio chega no rancho de Carsulina, e avisa:
-  Amanhã, em meu estabelecimento, tereis um lauto banquete, senhôra! Teremos galinhas...
Nem pode terminar a frase e ganhou um abraço bem apertado da velhota, que gargalhava, batia com a palma da mão na mesa e repetia:
-Que almaaaa se salvaria, compadre? Que allmaaa (esticava a palavra “alma” com sonoridade e volteios) se salvaria? Tarei lá, compadre. Tarei lá.
- Dou-me por satisfeito, senhora! Também haverão mais comensais, seguro que haverão!
No dia seguinte, na hora combinada, a mesa estava servida com água, pão, e... bem. Havia água e pão. Apolônio então, quase sorridente e educado, faz um maneirismo e conduz os convidados à mesa.
Todos sentados, olhando para o pão velho, a água, olhavam-se entre si e olhavam para ele, com ar de interrogação. Nisso, entra o Birruga e pergunta:

- Já posso trazer as galinhas, tio Apolônio?
- Não, varão. As pessoas ainda nem começaram a comer.
Nem foi preciso esperar falar pela segunda vez, e estavam todos de boca cheia de pão e bebendo água para ajudar a descer. Meia dúzia de mastigadas e só estavam algumas migalhas à mesa.
Apolônio estica a cabeça e berra para o Birruga:

- Varão! Traga as galinhas!
Todos arregalam os olhos e sorriem, esperançosos. Mas não dura muito. Poucos instantes depois, entra Birruga, com duas galinhos debaixo de braço e as solta sobre a mesa para que comam as migalhas que sobraram do banquete....
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Certa manhã..

Olhando de longe, era bem possível ver-se o horizonte bipartido em camada de climas, como aqueles doces vendidos nos bolichos, feitos de gelatina açucarada, de um colorido barato cor laranja com vermelho, que parecia um arco íris, pra ser comido pela piazada.
Até certo ponto, a neblina esfumaçada pelas chaminés cuspidas pelas casinholas de madeira pálida esbarrava no gélido azul do primeiro céu, numa luta desigual por esvair-se na imensidão do alto. 


Abaixo, lúgubres e tremulantes fogões cutucavam o aurorescer silente, encorajando os quero-queros a despertarem o resto da passarada, acoitando zorrilhos atrazadios já zonzos pela ofuscante raiada do amanhecer rumo às tocas quentinhas para o pernoite do dia. Uns, cheiravam aqui e ali, tentando recuperar a noite perdida sem caça, enquanto outros lambiam as fuças para aproveitar o ultimo gostinho da preá recém servida de desjejum. E assim amanhecia no Cerro do Bassorão. Naquele dia, foi assim que amanheceu.


Apolônio dedilhava as tetas de uma vaquinha espremendo o queijo do dia e a coalhada para o cuscuz, enquanto resmungava algo cantarolante cujo significado se perdia na retórica apolônica em dissonantes resmungos em compasso ritmado acompanhando a ordenha. E assim, neste despertar campeiro, Apolônio peidou.

(Imaginava o que? Em se tratando do Apolônio e da Carsulina juntos, espere qualquer coisa, menos qualquer coisa que faça sentido).
.....




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