AD SENSE

sábado, 25 de julho de 2020

Véio de Alguel

Funny old man - Finished Projects - Blender Artists Community

Porfírio andava cismado com o isolamento. Não podia sair de casa, não podia matear com a cumpanherada, nem dar um tapa num talagaço com os amigos da bocha, nada. E ademais, os pila se iam como mijo perna abaixo quando se passa da medida na cerveja. Tinha que pensar em alguma coisa, pois nem tinha pensão do istituti pra receber, nem guardara uma reserva pros dias de penúria.  Paciência haja, mas fazer o quê?

Foi num desses dias, ouvindo as nutícia, onde o repórti contava que pela tal de infernéte, dava de vender e alugar de tudo um pouco.  A côsa parecia promissora, e foi aí que Porfírio engenhou a ideia de alugar véios.

- Mas e quem é que alugaria um véio, Porfírio? -  Perguntou Carsulina, enquanto passava um café cheiroso.

- As pessôa, cumadre! As pessôa! A cumadre indéie cá comigo ancim: Os guverno vão caborteá os véio, que vão acabá morrendo cuáje tudo, ancim, em lote. E o mundo vai entrá numa carestia de véio, porque véio é de percizão das pessôa, só que só vão se interá disso dispôis que adubarem o campo santo com tanto de véio que ainda vaí pra lá. Então, os moço vão se dá conta de que vai fartá concêio, vai fartá contadô de causo, e o mundo vai sisquecê de tudo o que aconticeu em priscas eras, e lhe digo mais: isso não vai pará, inté que os moços não vão sê mais moço, e não vão tê causo pra contá pros outros moço que nasceram. E o mundo vai repetir todas as bandaiêra que já tinha feito antes, porque não vai tê véio pra ralhá com eles, nem dá os concêio de que percizam. É aí que eu entro, como meu emprendimento de aluguel de véio.

- Mãns, e como o amigo vai qualificá os véio pra podê botá preço nas mercaduria?

- Pous é aí que entra a serventia de sê véio, cumadre. Elabore comigo ( ele ouviu isso de uma entrevista com uma psicóloga, e gostou da expressão: "elabore comigo!") ancim: véio pode ralhar com os jovens, peidar quando tiver vontade, levantar o volume da tv, pra que saiam da sala, experimentar a comida com a colher que mexe na panela, contar trinta vezes a mesma história..no mesmo dia, discutir até amanhecer sem perder o sono, nem a vontade de parar, e se a pessoa concorda, aí ele contra-argumenta tudo ao contrário, só pra continuar discutindo, e ainda ter o amparo de lei, se tiver necessidade de fincar uma bengalada na canela dum desaforado. 

- Mãns ainda não vi a serventia da côsa, filho, retorquiu Carsulina.

- Pous acôsa tá em carregá um véio consigo, quando percisá fazer uns mandados em alguma repartição, onde os atendente são meio levados da casquêra, relapsos, e se botá a boca neles, é desacato ao servidô público, o que dá cadeia. Pôus nesse causo, o véio fáis as honra, e despeja o verbo nos maleva, e por ser véio, não chamam os puliça, e pra que o véio não vorte de novo, eles resolvem os pobrema ligerinho.
É só pagá os onorário do véio, e tocá pro buteco ganhar o resto do dia numa mesa de isnuque ca cumpanherada.

Carsulina deu uma baforada no cachimbo de taquara, e ria, ria, ria.


Se ocê gosta de recebê paiassáda, e também côsa céria, me persiga no facebuque ou no zápelape.

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quarta-feira, 8 de julho de 2020

E se der tudo certo? - A teoria do seixo no sapato


O que significa dizer que algo é uma Pedra no sapato? - Dicionário ...


Imagem: internet
"Esteja preparado para os dias difíceis", diziam os antigos. Durante toda a vida, somos alertados para as consequências das falhas. Tornamo-nos especialistas em expectativa de fracasso. Somos mestres em espremer o tubo de pasta até ver o fundo saindo pelo bico. Temos plano para todas as falhas, e até nome ele tem: Plano "B". Mal nos preparamos para o plano "A", já sabemos que se der tudo errado, o plano "B" é a saída. Pois é. Mas, que plano vamos seguir se, por uma fatalidade, o plano"A" funcionar, se o tempo todo trabalhamos pelo sucesso, esperando pelo fracasso?

Acho que este é o caco de vidro entre o sapato e o piso vitrificado, que range tão alto, mas não passa de um grão de areia que se apegou à nós, ao ter sido pisado. Temos grãos de areia por tudo onde passamos, que incomodam mais os ouvidos, do que o chão que é pisado.

Outro incômodo grande é um pequenino, quase milimétrico seixo, dentro do nosso sapato. Não é uma grande pedra na nossa cabeça, nem uma montanha que temos que subir. É apenas um seixo, entre o pé e o sapato. Pequeno, mas que governa nosso caminhar. Determina o modo que devemos pisar, e se não for removido dali, nossa caminhada terminará em breve tempo.

Não são as grandes coisas que nos assustam, mas as pequenas que se colocam em lugares estratégicos de nossa vida. Os Homens aterram lagos, constroem represas, dominam rios e até o mar, em alguns trechos. Enganam as profundezes, com pequenas embarcações que flutuam, planam sobre as ondas, e usam o mar como caminho. No ar, constroem gigantescas aeronaves, capazes de transportar de um lado a outro do mundo, a terra removida das montanhas. Tudo isso o Homem é capaz de fazer. Tudo é calculado, medido,  preparado para grandes vitórias. Exceto o grão de areia entre o sapato e a porcelana, ou o milimétrico seixo entre o pé e o sapato. Estes não foram e nunca serão dominados.

Assim, se tudo der certo, se as montanhas forem aplanadas, os outeiros nivelados, ainda assim, restará o que não vemos, mas sentimos, mas só sentimos quando não há mais montanhas a galgar, nem mais mares por dominar, porque teremos novamente o domínio sobre o que é menor, e seremos nós, os gigantes incomodados pelo que é menor, infinitamente menor que nós. Como um vírus, por exemplo. A pedra do nosso sapato, a areia sob nossos pés, mas que nos fazem lembrar do quanto pensávamos que éramos fortes, e descobrimos quão estúpidos nos tornamos.

E se der tudo certo, ao final de tudo? Aí passaremos a procurar grãos de areia e seixos, e novamente vamos nos esquecer quem somos: Os que desmancham montanhas, atravessam o Universo, mergulham nos mares, que matam crianças, que roubam dos pobres, e perguntam, por fim: Onde foi que os outros erraram?


segunda-feira, 6 de julho de 2020

O casulo e o novo mundo

Borboleta - ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais
Sempre fico impressionado com a natureza. Descubro que o nada que eu me achava ser, desaparece na ignorância das coisas simples que D-s criou, e eu não consigo compreendê-las como lógicas e naturais. 

Minha avó, Maria Elisa, dizia, em casos assim: "Eu não tenho alcance, meu filho!". Nem eu. Meu alcance é curto e meu entendimento beira entre o pasmo e o embasbacado. A borboleta, por exemplo. A borboleta.

Veja o caso da borboleta Monarca, que chega a viajar quase 4 mil quilômetros distante do lugar onde nasceu, para arrumar um namorado, e mais curioso ainda, é que o namorado viajou a mesma distância, no mesmo grupo, para encontrarem juntos "aquela árvore", e nela, encontrarem um juiz de paz que oficialize o enlace. E depois? Depois, arrumar as malas, esperar que mude a estação, pra fazer o caminho de volta, pois poucos dias depois, nasce a ninhada de taturanas. Falemos das taturanas. 

Taturanas são pequenos vermes, peludos, coloridos, venenosos,e que causam pavor e dor, se tocados. Rastejam pelo chão e devoram folhas, e sobem nas árvores. Estas são as taturanas. Um dia, cansam desta vida rastejante, e se empacotam em um casulo de seda, e lá permanecem um tanto de tempo.  Então, passado o tempo, o casulo se rompe, e um ser amorfo começa a sair, apertado, retorcido, sem beleza alguma, mas que também em nada lembra da taturana que ali entrou. O que teria acontecido com a taturana? Foi devorada pelo ser amorfo? Não se percebeu movimentos de luta no casulo. Não, não houve luta. Apenas silêncio. Nenhum movimento, senão para romper o tecido, e sair dali o quanto antes. Até que um dia...

Do ser amorfo e retorcido, ao raiar das primeiras luzes do amanhecer, levanta-se uma belíssima borboleta, de cores metálicas, e tatalar imponente, e em um bailado gentil bate as asas, e eleva seu bailado pelo horizonte.
Jardineiro é internado após contato com taturana - Portal Tri
Estou falando aqui apenas pelo aspecto secular, e não espiritual, embora eu ache certa dificuldade em separar um do outro, posto que se não fora o espírito, de nada valeria o corpo e a matéria. Se não houvesse um bailado de elétrons, não teríamos a sensação da luz. Isso dito, prossigo em minha digressão elucubrante, para exercitar a mente no comparativo ilustrativo entre o mundo, a pandemia, e nós, dentro dela, como taturanas famintas comendo o mundo, o tempo e a vida, até que chegou o entardecer e o casulo nos chamou para o sono das trevas. Passa a noite e vem o dia, e eis que nos reerguemos amorfos e retorcidos pela dor da reclusão, esticamos as asas, uma depois da outra, e partimos para o tatalar da esperança, o resplandecer da vida, o renascimento. Ainda não é o renascimento para a eternidade, mas há um certo espelho da eternidade, ilustrado pela distância dos amados, onde cada dia é uma centena de dias, onde cada anoitecer retrata a nova esperança do raiar próximo para uma nova vida.
Estamos dentro do casulo, e ainda não percebemos que há uma distância de milhares de quilômetros nos separando do próximo casulo, não nosso, mas daqueles que nos abrem caminho para o amanhecer. Falta pouco, muito pouco, podemos dormir um pouquinho mais.
FILHOS TRANSFORMANDO- SE EM BORBOLETAS E VOANDO…


TENDÊNCIAS 2025 BOLET'ILLEVERT ANO 1 - EDIÇÃO 1

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