sábado, 12 de dezembro de 2020

Jardim da Esperança - Ode à Gramado

Este poema foi desenhado, por amável convite,  feito pelos diletos colegas, escritores e poetas, membros da AGLA - Academia Gramadense de Letras e Artes.


JARDIM DA ESPERANÇA
Ode a Gramado
Pacard


Sentei-me, sozinho, à noite
Para abraçar as lembranças
Que meu tempo carregou.
Relatos de outros tempos
Cujas vozes já vazias
minha memória apagou.
Veio à mim, uma criança,
vestida, tão de esperança,
que a recebi com abraços,
tornou-se meu corpo, em braços
trajados de coração.
Pediu-me, histórias,
que as contasse.
Retratasse minha  vida,
que falasse das feridas,
das flores e mananciais
mostradas pelas lembranças
do tempo de meu sonhar,
daquelas tardes airosas,
das invernias manhosas
que tempos não trazem mais.
Sou menino desta terra
que entre as serras se aninha
como faz um passarinho,
cuja mãe constrói seu ninho
no galho em que confiou.
O meu ninho, fez minha mãe
e o dela, os meus avós
cada folha desta árvore
abrigou a todos nós.
Abrigamos os nossos filhos
nos abrigam nossos pais
entre os ramos mais frondosos
dois ou dez, nunca é demais.
Uma terra é um regaço
onde jorram mananciais
onde nos plantam com sonhos
e colhemos sempre mais.
Mais que sempre, nunca é nada
o afeto que nos abraça
onde todos são pessoas
onde não se vê a raça
onde pernas são esteios
mãos e braços, ruas, praças
onde flores, mais que luzes
iluminam, fazem graça.
Passarinho, esse sou eu
neste chão que é sempre meu
embora terras, não tenha
minha herança é uma fonte
onde a fortuna jorra
da vertente sobre a mina
desta água cristalina
do chão que me recebe
e mata a sede que ainda tenha
quando minha vida termina .
A vida que um dia, encerra
carrega o cheiro da terra
o frescor do ribeirinho,
esparge doces, perfumes
dela sentirei ciúmes
se a um outro se entregar.
Mas restam outras delícias
no manancial das carícias
de um coração que ainda bate
com o doce do chocolate,
com os coloniais cafés,
com as Hortênsias e rosas,
com a devoção e a fé,
é Gramado, do meu agrado,
são as ruas, testemunhas
de todo meu caminhar,
são as gentes que ficaram,
mães das gentes que virão,
a terra do mate amargo,
de um horizonte tão largo
onde a esperança ainda grita
quando meu peito se agita
na saudade deste chão.
Embora a beleza peça,
não carrego vaidade,
só levo junto a vontade
de contar à toda gente,
que é o meu peito  que sente
na compleição da verdade,
colher as mais belas flores
no meu jardim da saudade!
Que bate meu coração
como coração de criança
que possa voltar um dia,
ao meu Jardim da esperança.

12/11/2010


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Gramado de roupa (quase) nova - Os desafios de Nestor Tissot



O caminho natural deste espaço, seria uma leitura sobre a campanha, motivos, causas e consequências da vitória de um, e derrota de outro, candidatos. Porém, não creio que isso vá acrescentar algo dentro da minha linha de raciocínio e construção dos caminhos que Gramado, dentro do campo político.

A verdade é que foi uma enorme surpresa, para todos os envolvidos, a dimensão da vitória de Nestor sobre Evandro, e eu mesmo me posicionei a favor de Evandro (e não contra Nestor ou Beto Tomasini), porque entendo, ainda, que é necessário fôlego jovem para arejar a política Gramadense. 

Continuo achando isso, e fui levado a crer que essa mudança aconteceu ainda durante a campanha, quando houve uma repentina troca de pessoas, e pensamento, no final, quando um grupo de jovens, liderado pelo Arquiteto, e ex-secretário Márcio Coracini,  redimensionou, e modificou a linha de ação da forma de manifestação dos candidatos, trocando, inclusive as cores das bandeiras, e dizendo, que este seria o caminho para a vitória. E foi.

 O resultado é incontestável, e colocou o MDB na mesma posição que foi colocado, o PP, a redesenhar seu destino, ajustar os erros estratégicos, e preparar-se para a revanche na próxima campanha. Até lá, Nestor retoma de onde largou, porém, não encontrará o que deixou, pois, mesmo que tivesse sido uma gestão louvável, o que não foi,  segundo os críticos do prefeito que sai, em razão da pandemia do Corona Virus, e pelo quadro triste e desolador das vidas ceifadas, e outras tantas em processo de recuperação e convalescença, Nestor encontrará em seu caminho a marca do "novo Normal" do mundo em pandarecos.

Como só uma andorinha não faz, verão, levar uma grande Gramado daqui para a prosperidade administrativa, Nestor precisa redesenhar também sua nova equipe, que não será inteiramente a mesma que deixou em 2016.

Novos nomes se posicionaram no novo quadro político, e aqui, faço destaque ao vereador eleito, com a expressiva quarta votação e única renovação da Câmara, Ike Koetz, que, embora aconselhado a permanecer na Câmara, tem recebido forte apelo a que empreste seus talentos para acelerar a retomada do projeto político da UPG, talvez em uma secretaria expressiva (e sim, há secretarias mais expressivas e que oferecem destaques a uma gestão pública), onde tem muito a descobrir e redimensionar dentro da equipe.

Um dos ambientes bastante turbulentos em seus governos anteriores, foi a Cultura, onde em seu governo, ganhou o status de secretaria, mas rodopiou nos titulares e estrutura incipiente, e que mesmo depois de alguns ajustes técnicos no governo de Fedoca, ainda está muito longe de receber a atenção que necessita (e merece), considerando que a Cultura é o que vai mostrar Gramado no próximo século, é assim que funcionam as coisas, uma visão de longo prazo, mas nem por isso silenciosa.

A saúde é a delicada flor e o sensível véu da administração, porque tem um hospital indefinido, e que depende da vara disciplinar do poder público, de tempos em tempos. O que existe é uma pincelada de afago temporário, que depende da boa vontade dos gestores públicos, para que funcione a toque de caixa, mas que necessita ter identidade própria o quanto antes, para que Gramado prossiga nas outras áreas. Nestor, prometeu comprar o hospital. É uma solução.

Outro gargalo que fez eco à sua vitória, foi a economia, e o histórico de Nestor é de arrecadador de fundos em Brasília, no que preciso fazer justiça, por já tê-lo encontrado nessa função na capital do Brasil. O empresariado, e o eleitor, de modo geral, estão em estado de terror, diante da gritante possibilidade de ruir a economia, e Gramado é um grande aglomerado de pessoas, que gritaram da base econômica, e a partir dela, construíram seu patrimônio, e projetaram seu legado. É classe média que "paleteou" tábuas e carregou baldes, para conquistar seu pequeno lugar ao mundo. É um eleitor que provou a dureza da vida, mas também sorveu a recompensa pelo trabalho, e o marketing do MDB não soube mostrar que seu cliente seria capaz de promover essa virada, com o mesmo impacto que propôs Nestor.

Eu mesmo, achei piegas o slogan da campanha da UPG: "Chama o Nestor!". Talvez eu estivesse certo, no conceito do paternalismo caudilhista, mas o eleitor entendeu que sim, ele, Nestor, seria a resposta ao som de suas caixas registradoras, a tilintarem novamente, com a retomada do crescimento e da economia de Gramado.

Nestor tem um desafio difícil de dimensionar em seu retorno, e será necessário mais que motivação, para promover a reconstrução do ânimo do cidadão, que paga contas, e depende do turismo fluindo pelas veias do município. 

E seu primeiro desafio agora, é montar sua equipe. Claro que haverão berros contra salários dos CCs, tamanho da máquina, volume de investimentos, mas uma coisa é certa: A gestão de uma empresa de 40 mil pessoas, não é tarefa pra empregado barato, e competência tem um valor. Incompetência tem um custo. Vale pesar um e outro e decantar o resultado. Nisso, a conta é do Nestor, que atendeu o chamado.

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domingo, 22 de novembro de 2020

O espancamento como instituição de segurança – Racismo, ou Psicopatia?

Imagem: internet

O espancamento como instituição de segurança – Racismo, ou Psicopatia?

O tema em pauta da última semana, foi o caso de espancamento até à morte, de um homem, de origem africana, em uma loja, no Sul do País.

O primeiro passo foi de indignação, pela atitude covarde de dois homens, contratados para proteção do patrimônio da loja, ao anteciparem julgamento a uma suposta futura ameaça à integridade física de pessoas, e do patrimônio da loja.

A ação imediata, foi de reconhecimento do possível agressor, seguida de imobilização deste, e ato contínuo, o desferimento de uma interminável sequência de socos e pontapés, sufocamento, contorcionismo resultante do preparo marcial dos dois agentes, investidos de autoridade, e revestidos de supremacia corporal de força e agilidade.

As cenas mostram, breve tentativa de fuga do agredido, e eventuais movimentos de braço, em ação de defesa, sendo debelados pela superioridade numérica e da força empregada pelos agressores.

Em sequência, uma movimentação de comoção, que  tomou conta das redes sociais, e da mídia formal, que qualificou o ato como “agressão racista”, e naturalmente, o bom senso comercial orientou aos responsáveis pela loja, e fez com que rompessem contrato com a empregadora dos agentes insubordinados e opulentos. 

A sequência das informações, além de disseminarem o vídeo por todos os endereços virtuais (confesso que só assisti o vídeo completo, para escrever esse ensaio), foi proporcional à injúria causada, primeiro, pelo Ser Humano, que teve sua vida ceifada pela brutalidade investida à truculentos indivíduos, que foram alçados, numa fração de segundos, à condição de “policiais”, “delegados”, “juízes”, legislação excedente (uma vez que a legislação penal brasileira, não permite o uso da pena capital, exceto em caso de guerra, por traição ou deserção de fileiras militares), “algozes”, e finalmente, “cães incontinenti que não abrem as mandíbulas depois que atracam a carne da vítima, depois da dentada fatal. Eis a primeira fase do ensaio.

De outro lado, começo a ler e receber compartilhamentos da suposta “ficha policial” do agredido, assim como defesa prévia estimulada por advogados de porta de cadeia, que imediatamente traçam linhas de defesa sob a hipótese de que “talvez a vítima fosse cardíaca, e tenha ido a óbito por consequência de sua comorbidade, e não pela sequência de golpes e pancadas de marretas de carne e osso, e como já citado, chutes e estrangulamentos”.


A suposta ficha policial do agredido, de fato, é bastante extensa, culminando na acusação registrada, de “agressão familiar”, e outras façanhas desse tipo. Enfim, tratava-se de um indivíduo de elevada periculosidade à sociedade, como atestam os registros, e cabia, de alguma forma, que o efeito de seu destempero social fosse cessado, sob a vara da Lei, e da justiça.

Aqui começa a questão: Errou a vítima, em seus delitos anteriores, e certamente, calculou mal a abordagem à uma funcionária do estabelecimento, não considerando que haviam ali próximos dois agentes de segurança, capazes de freá-lo.

Erraram os agressores, que viram no agredido, a possibilidade de demonstrarem sua capacidade de bem proteger a casa, assim como fazem os cães treinados, que estrangulam os invasores da casa, e a seguir, correm para seus donos (donos, e não tutores, dane-se o politicamente correto), abanando o toco de rabo em busca de recompensa. Erraram ainda mais na dimensão da punição, posto ainda que sua tarefa não era punir e sim frear o mau intento, então, erraram por excederem às suas funções, ainda que pisando em terreno alcatifado de boas intenções.

Erraram os selecionadores de Recursos Humanos, ao contratarem indivíduos com acentuado grau de provável psicopatia  (o psicopata não demonstra bons sentimentos diante dos apelos da vítima), para simplesmente preencherem as vagas da demanda de seus empregadores. Aplica-se à estes uma significativa parcela de responsabilidade pelo resultado da desastrosa ação.

Erraram, antes de tudo, os advogados que esgravataram nas páginas escondidas das Leis penais, subterfúgios para convencerem juízes a manter o indivíduo em liberdade, nem ao menos vigiada, o que em certas circunstâncias, pouco resolveriam.

Erraram os legisladores, que votaram e aprovaram emendas esdrúxulas casuísticas, que favorecem a impunidade.

Erraram os Presidentes da República, que chancelaram e deferiram tais aberrações jurídicas.

Erramos todos nós a atribuirmos como de natureza racial os golpes desferidos contra um homem negro, haja vista que este  velho escriba, apesar de ter tez clara e traços caucasianos, já foi agredido com palavras, com rompantes e arrogância autoritária, por outros vigilantes de bancos (até trancado em porta rotatória já fui), ou constrangidos a deixarem documentos na posse destes em guaritas empresariais, ou ainda constrangidos em portarias de prédios residenciais, e aqui não se trata só dos vigilantes, mas dos próprios cidadãos, que se julgam superiores a outros, por estarem na condição de clientes , sob a máxima estúpida de que “o cliente sempre tem razão”, quando não tem, pois a razão está da ética, na elegância, na civilidade, nos bons costumes e modos, e no respeito ao outro, enquanto pessoa, independente da cora, etnia, ou situação social em que se encontre.

Assim, não vejo a agressão e morte do cidadão em questão, apenas como um crime racial, mas como um crime de falta de humanidade, e como todo crime é falta de humanidade, isto é, do lado bom que a humanidade nos oferece, vejo que o primeiro excesso foi em imaginar que pessoas mais fortes que as outras, em posse de armas, letais ou não, tenham o direito de agredirem, de punirem com socos e pontapés, estrangulamento, outra que esteja sob seu domínio, ainda que não imobilizada por completo, pois até para imobilização, existem meios, mecanismos e dispositivos de choque, de efeito paralisante, que atordoa, enfraquece, derruba, pelo tempo suficiente para que seja algemada e imobilizada por completo, até que as verdadeiras autoridades os recolham e encaminhem aos lugares que a Lei determina, e que a Justiça se faça acontecer.

Vejo precipitada a politização do fato. Vejo precipitados os extremismos de acusação ou defesa, diante de fatos midiáticos e sem o devido processo legal, que esclareça todos os fatos, de todas as maneiras, e a todos os envolvidos.

O "Cara estava agredindo sua companheira", disse um internauta. Sim, dizia sua extensa ficha de crimes, que estava. Mas isso não era do conhecimento dos seguranças, e ainda que fosse, não lhes era reservada a tarefa de punição, mesmo porque não existe tal forma de punição no código penal brasileiro. E ainda que existisse, não são seguranças de supermercado, os responsáveis pela aplicação de qualquer tipo de punição.

Até lá, fiquemos longe de confusão, onde quer que seja. Viveremos menos pior. Para nossa infelicidade, nos bastam as desgraças que não vemos.

Paulo Cardoso - Pensador

domingo, 15 de novembro de 2020

Apresentação do autor Pacard - Escritor

  


 
 

Caro empresário

Cara empresária!

 

Sou Pacard(Paulo Cardoso) escritor, brasileiro, gramadense.

Sou autor, independente, e desta forma, escrevo, reviso, edito, e publico os meus livros, em plataforma digital, para que viabilize a distribuição, tanto digital, quanto impressa de meus livros.

Gostaria de oferecer à sua empresa, a possibilidade de adquirir alguns exemplares de minhas obras, para circulação entre seus colaboradores, bem como oferecidas como brindes comemorativos.

Ao adquirir minhas obras, estará contribuindo para que mais livros sejam produzidos,  distribuídos, e compartilhados.

Para adquirir meus livros, basta escolher o título, e clicar nos links, que serão direcionados às plataformas de vendas (Amazon, ou Clube de Autores). Cada plataforma tem características próprias de edição, impressão e comercialização, como:

www.amazon.com.br, que distribui meus livros em mais de 60 países. Já a plataforma www.clubedeautores.com.br, faz a distribuição em território nacional.

O pagamento das obras adquiridas, feito nas plataformas, assegura que eu receba os direitos autorais (royalties), de forma segura, e justa.

Por gentileza, leia, doe, e divulgue meu trabalho.

Além dos livros, ofereço também minhas palestras, em temas relacionados com a literatura, ou sob demanda, além de biografias que escrevo, também sob demanda.

Seguem imagens de meus trabalhos, e outro arquivo, em PDF, mostrará as sinopses de cada livro, e os links de acesso ás plataformas.

Caso não queira acessar pelos links, pode entrar diretamente dos sites da AMAZON e CLUBE DE AUTORES, e lá proceder a busca pelo nome dos livros, ou pelo meu nome, PAULO CARDOSO/ PACARD

 

Muito obrigado

Pacard

 

48 999 61 1546   whatsapp

dpacard@gmail.com

 

Visite meu blog:

 www.dpacard.blogspot.com.br

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domingo, 8 de novembro de 2020

A invenção da cueca e da calcinha - Apolônio Lacerda é Istória


Pois a história que se conta é muito diferente da que verdadeiramente (verdade é uma certeza que a gente tem, quando olha dentro de si num quarto escuro) acontece. 

Primeiro, vieram com aquele pelo do Diógenes, que morava num barril, carregava um vela de corozena, vestia uma cuequinha bacaninha, e ficava campiando por uma pessoa verdadeira (homem, pois mulher não valia nada naquele tempo, e tem umas que não valem ainda hoje. Homens também entram na lista da infâmia, quando se prestam a isso). Mas, de fato, não foi assim que tudo começou. E eu vou contar como tudo começou, senão não faria sentido esse texto.

Pois a coisa era assim: Todo mundo andava que nem bicho: pelado, peludo, e cas côsa balanceando para lá e para cá. Era assim que era. Um dia (uns dizem que foi um dia, outros falam em início da noite, isso não há registro certo), veio um vento das bandas do oriente, mas não era um vento qualquer, não senhor. Era um vento que deixava o Minuano, lá do Rio Grande, ou o Vento Súli, aqui em Fronópixx, envergonhados, abichornados, acabrunhados, e completamente desenxabidos, pela pequenez da côsa.

E como nem tudo que é ruim chega sozinho, o tal vento trouxe junto uma poeira danada, e dentro dessa poeira, uma praga, mas que praga que era, barbaridade. Carregou umas baquetéria medonha de tão tinhosa, que atacavam o sistema evacuatório-mictal, e começava por uma escorrimentozinho mequetrefe, que subia pelos dutos excretores, matando a flora e a fauna intestino-mictória, a peçôa desatava a tussir, lá por bácho, promovendo um churrio incomensurável, uma caganeira bagual, e um mijoleteio irreparável. Era feia a côsa.

Pra piorar a situação, isso se alastrou rapidamente pelo mundo inteiro. E as benzedeiras, estupefatas, perplexas, decidiram que o bão memo pra côsa, seria proteger e evitar a propalação das baquetéria, pois não havia cura nem valcina à vista em curto prazo.

 E foi o que decidiram. A partir dali, todos, em todos os lugares, deveriam usar uma espécie de máscara (Más = marvadas, Cara = Fucinho, então: Máscara = Côsa ruim pra tapá as fuça), à qual, pela etimologia, chamaram de Cuéca (Cu + Éca. Eu faria apenas um reparo, pois como a cuéca não cobre apenas o Friduino, supracitado, deveria se chamar também de "Pistoléca"), e como dizia a palavra, o furico da peçôa, para proteger os pinduricáio dos taura, e...bem, as senhoras também tinha que se potrejêr das baquetéria), e desde então, nunca mais ninguém deixou de usar cueca e carçola, que é uma carça curta pra quem não tem pingola.




terça-feira, 3 de novembro de 2020

O debate e seus efeitos - Candidatos de Gramado

Foto: Print Facebook Jornal de Gramado - Transmissão aberta

A coisa mais difícil que existe, é ver alguém fazendo errado, você saber o que é certo, e ficar calado.

James Joyce


Eu não seria quem sou, nem meus textos não seriam respeitados, talvez odiados, mas jamais contestados por medíocres, se eu não falasse aquilo que percebo, e não emitisse, mas omitisse, a minha opinião. É o que estou fazendo, abertamente. Por ser opinião, posso fazer. Posso criticar fatos, se não tocar na honra das pessoas. Isso jamais.

Caminhando em frente, o debate dessa noite, 03/11/2020, entre os candidatos à prefeito em Gramado, uma bela iniciativa do Jornal de Gramado, que, apesar de pequenos problemas técnicos no final, foi impecável na condução do debate, pela simpática jornalista, que não sei o nome.

Foi um debate pândego, cômico, divertido, e o responsável pelo espetáculo burlesco foi o candidato artista, que teve seu momento de glória aos cerca de 11 mil internautas que assistiram, ao vivo, as perguntas estúpidas, e as respostas absurdas que deu este personagem. Mas deu, certamente o brilho necessário aos demais candidatos, que disputaram propostas, e algumas alfinetadas, duas apenas, a bem da verdade, e que demonstrou que os tietes de um e de outro, estavam afiados nas besteiras que sempre repetem, e nem pode-se culpar o disco de estar quebrado, porque não se usa mais disco, e nem agulha, mas eram tipo: "Fulano é o cara!" "Beltrano é nóis, tamu junto", "só ele pra salvar Gramado", e coisas assim, vazias, esdrúxulas, idiotas. E essa gente vota! E pior: Nutre a esperança de ser chamada como CC, se seu candidato vencer. São os mesmos que rasgarão as cordas vocais aos berros, enchendo a tromba de Chope, pulando sem camisa, ou as damas, de camiseta suada, encharcada de bebida, misturada com perfume vagabundo, emporcalhando as ruas, e largando foguetório sobre as casas dos vencidos.

Este é o panorama do debate. Não houve foguetório, mas o massacre do português, da gramática, da elegância, foi escancarado, com a multiplicidade dos "Consertesa venseremos!", e os louvores à estupidez de algumas respostas dadas.

Quanto ao debate, o candidato dos Tucanos, Beto Tomasini, embora tenha uma plataforma bem elaborada, mostrou-se despreparado, e tropeçou em várias respostas, perdendo oportunidade de apresentar uma performance adequada ao seu bem elaborado plano de Governo. 

O Candidato "Poeta", completamente sem sintonia com o debate, não respondeu nenhuma pergunta dentro do enunciado, e divagou o tempo todo, causando constrangimento à apresentadora e aos demais candidatos.

O Candidato Nestor Tissot, leu quase tudo o que falou, e aquilo que não leu, respondeu com agressividade, claramente direcionada ao seu oponente imediato, Evandro Moschem, do MDB.

Evandro, advogado, e atual vice-prefeito, mostrou irritabilidade em algumas vezes, e também alfinetou, ou melhor, espetou o candidato Nestor, que personalizou algumas considerações. Ainda assim, Nestor e Evandro souberam melhor oportunizar seus parcos minutos para direcionarem suas respostas às propostas que levaram para mostrar.

Já a organização do debate foi pobre, pois não deu aos candidatos tempo para construírem melhor seus discursos, considerando que o tempo de internet é diferente do tempo de televisão, e não haveria nenhum problema em ampliarem mais os tempos individuais.

Penso que Evandro foi mais polido que Nestor, e Nestor estava visivelmente incomodado com o debate. Beto estava à vontade, no início, mas depois perdeu a linha de raciocínio, motivado (ou desmotivado) pelas perguntas pândegas do Poeta.

O lado muito bom do debate. é que os candidatos foram eles mesmos, sem a produção de vídeo onde são mais ajeitadinhos, e falam bonito. Penso que mais debates, ainda que online, definiriam melhor a escolha dos eleitores.

Penso que hoje um grande número de indecisos andou um passo à frente.




Minha visão de Gramado, e quem pode melhor conduzir esta cidade?

 


Nunca fiquei em cima do muro, apesar de ter sido acusado de tal procedimento. Porém, também, nunca permiti que papagaios de piratas de mentes tacanhas, vociferassem nos meus ouvidos, como cães sarnentos, acreditando que com tal procedimento pudessem manipular a minha opinião e perturbar a minha liberdade de decidir.

Como comunicador, tenho restrições legais, sobre o que posso, e o que não posso fazer ou dizer, em meu espaço de expressão, e sempre fui muito cauteloso nisso, o que é confundido, porque quem não entende de Leis, como fraqueza, ou indecisão.

Sempre pautei minha conduta pela ética, e não abro mão deste princípio. Porém, sou neto de Maria Elisa, uma senhora de "faca-na-bota", e que não mandava recado. Nem eu! Assim, e por entender que é justo que todos expressem com liberdade suas preferências, também eu o faço agora.

Eu não voto em Gramado, já fazem alguns anos, mas que ninguém duvide do quanto eu conheço da política e do comportamento dos políticos de Gramado, todos, sem exceção. E é por conhecer este comportamento público, e por entender que, tal como mudou o mundo a sua órbita comportamental, também Gramado foi direcionado pelo mesmo caminho - o caminho das mudanças!

Gramado não tem mais tempo para a velha política do achismo e da vaidade política. Gramado não tem espaço para andar de costas, nem tampouco para errar pelo medo de avançar. Então, Gramado precisa rejuvenescer, mas rejuvenescer com responsabilidade, com ousadia, e com perfil vencedor.


Gramado simboliza a fonte dos desejos de milhões de pessoas, que veem luzes piscando pelo simples fato de sonharem visitar Gramado, quanto mais, daqueles que darão continuidade ao trabalho de manter estas luzes acesas, e que ascendam ainda mais o brilho dos que fazem de Gramado o encantamento destas multidões.

Eu não posso citar nomes aqui, mas posso direcionar as ideias, e posso dizer que meu apoio é à Gramado, e não à pessoas, independente de quem esteja lá, porque não busco favores nem cargos, mas o desejo que possam meus conterrâneos continuarem acreditando que ainda se faz boa política através de bons políticos neste lugar. E assim, presto minha homenagem a um velho e querido, saudoso amigo, que teve suas preferências políticas, e ainda assim, manteve a amizade e o respeito à todos que o encontravam: O Odacir, gerente do Posto do Caipira!

Espero estar prestando minha homenagem à este amigo, levando o meu apoio e estendendo a minha admiração ao seu filho, que faz da política, da boa política, um pilar para liderar os demais jovens que nutrem a mesma paixão.

Aos demais candidatos, também meus amigos, o meu respeito, pela demonstração de cidadania e respeito aos valores que esta boa política pode oferecer.

E, naturalmente, meu apoio incondicional vai ao meu jovem candidato a Vereador, empreendedor, e capaz de apoiar o governante eleito, seja do partido que for, e que é uma das promessas notáveis que 2024 vai oferecer.

Gramado é uma cidade jovem, e só a juventude, ainda sem vícios políticos, pode promover as reformas que Gramado necessita.

E digo que vejo um futuro breve, pleno de vozes e valores, que edificarão a nova gestão, como início de uma nova caminhada. Melhor, mais promissora, e muito mais digna!




quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Lockdown ou aumento do cemitério - O triste ocaso do governo de Fedoca



Eu esperava, sinceramente, poder chegar ao fim desta campanha, que acompanho com admiração, pela civilidade entre os candidatos, e certa expectativa pela renovação, e renovação com qualidade do Legislativo de Gramado, com serenidade, apenas comentando as variáveis daqui e dali, das estratégias de campanha.

Infelizmente não foi possível isso, considerando que o papel do escritor, e aqui particularmente, do blogueiro, é expor e contribuir para a reflexão acerca do que é importante, do que é necessário, e do que é urgente.

Recebi, com tristeza, a notícia da perda de mais uma pessoa querida pelos meus conterrâneos, assim como a infeliz notícia de que Gramado já perdeu mais vidas, diagnosticadas com a COVID-19, do que pequenos países, cuja proporção habitacional torna Gramado  potencialmente perigosa, se as estatísticas contribuírem de fato, e as estatísticas contribuem, de fato, para o quadro de perigo crescente, no que diz respeito à vida humana.

Gramado é a "menina" dos meus olhos, a minha grande paixão, a biblioteca das minhas lembranças, e o turismo fez com que essa paixão se proliferasse até por quem nunca esteve em Gramado. Assim, meu coração se despedaça em saber que o seu melhor remédio, tornou-se o seu pior veneno: O Turismo!

Escrevi, e não mudo uma palavra, quando digo que não são os bons gramadenses, nem os bons turistas, conscientes, quem está jogando essa riqueza em um lixão inexorável. 

São eles, os maus turistas, inescrupulosos, amparados por uns poucos gramadenses desesperados (e desesperados estamos todos) , quem destemperam o que resta de bom senso, e acreditam que pimenta no dos outros é refresco, e que, contanto que os seus lucros estejam salvaguardados, que morra o mundo, porque o que é deles está salvo.

Mas não é assim que acontece. Somos uma corrente que segura um grande peso, e se apenas um único elo desta corrente for rompido, de nada adianta a parte que está segura em cima. E esta corrente não é de coisas, mas de pessoas. Não sofremos por um terremoto, onde podemos nos reconstruir depois que tudo passou. Não sofremos por uma guerra, onde possa ser assinado um tratado de paz, uma trégua. Sofremos por um inimigo invisível, cercado de possibilidades ruins, uma semente do diabo, que ao brotar, rapidamente gera novas sementes, e novas espécies de atrocidades, sendo o egoísmo, a ganância, a pior delas.

Gramado é um elo forte desta corrente, mas é o elo desejado por todos, e se urgentemente, o Prefeito Fedoca não tomar a decisão dramática de promover um Lock Down completo, deixando uma fresta para, apenas, unicamente, as atividades essencialíssimas, ele, ou o próximo a ser eleito, deverá providenciar com urgência um aumento das vagas do cemitério.

Esta é a reflexão mais agressiva que já fiz, mas certamente serei compreendido por aqueles que perderam pessoas amadas para essa pandemia, e mais ainda aqueles que reconhecem, que Gramado deve vencer a crise econômica  e social, deve vencer o desemprego e o provável quadro de fome às portas, mas deve, antes de tudo, vencer a morte, que já está se tornando um mal comum.

O Prefeito Fedoca optou por não disputar sua reeleição, mas deve fazer a mais importante das escolhas para encerrar seu mandato: A vida de seus munícipes! A segurança  e a saúde da população, especialmente esta, porque, se permitir que continue esse agravo às leis, ao bom senso, ao respeito pelo outro, não haverá quem sirva gostosos pratos, nem arrume as camas dos hotéis. Não haverá nem memo quem queira ver um turista pela frente, ainda que seja dos bons, porque os maus passaram antes e deixaram um rastro de destruição.

Gramado pede socorro, e perguntar-me-ia um desavisado leitor, o que eu, que moro fora desta cidade há alguns pares de anos, o que tenho a ver com isso? Respondo que tenho tudo a ver com isso, porque minha mãe, e grande parte da minha família estão aí neste lugar. Minha mãe mora na divisa com Canela, já no município de Canela, mas minha mãe é Gramadense, e ainda que aos 79 anos de idade, jamais transferiu seu título de eleitor, de Gramado. Porque Gramado é a terra de meus ancestrais, e a terra dos meus amigos de uma vida inteira. Eu posso sim, gritar aos quatro ventos: Prefeito! Feche as portas e passe a tranca, porque o monstro já chegou para devorar, e está faminto demais.

Ser Prefeito de Gramado é uma honra, um desafio, mas sobretudo, uma oportunidade. Oportunidade de vencer uma eleição, oportunidade de fazer uma boa gestão, e oportunidade de sair pela porta da frente, sem olhar pra trás, com o senso do dever cumprido. E o dever do Prefeito Fedoca nesse momento é salvar todas as vidas que puder, pois ele tem poder e caneta, e sim, a boa política salva vidas e edifica. Só a política medíocre deixa rabo para ser pisado, e erva daninha para ser  arrancada. A hora é agora, e como diz a canção: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!"





sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O homem que brigou com D-s - A conspiração do Universo - A Banana e o Quasar (Opus 4)



Esteban estava radiante com o encontro, e expressou com um ditado popular, que é uma forma de dizer que não é completamente alheio aos mistérios da fé, o seguinte:

- Nossa conversa está interessantíssima, meus caros. Até o Universo conspira para esse encontro. Não acha isso?- Perguntou Esteban, provocativo.

Benjamim interveio.

- É interessante pensar que não somos autossuficientes, mas estamos aos cuidados de alguém que nos conhece bem, e planeja até mesmo um Universo que conspire , que colabore, para que sejamos bem sucedidos. 

No entanto, não é possível crer que o feijão que está na panela, combine com o arroz, e "conspirem" com o prato e o garfo, para que você os saboreie. A grande conspiração é essa: uma função auxiliadora, mas que não é autodeterminante, nem tem inclinação à decidir sua utilidade. O Universo é um infinito sistema binário, que responde à estímulos de sim e não. Não passa disso. Só que, enorme, gigantesco. Assustador. 

O sol emite luz, pois é de sua natureza emitir luz. A lua reflete a luz do sol, para que a noite seja iluminada, e para que as marés se comportem nesse compasso. Cada ser exerce sua função, e muitas destas funções tem por por objetivo, ou consequência, sustentar ou modificar o Universo que existe em nós mesmos.

Criamos o péssimo hábito de valorizar coisas em lugar de pessoas. Quando chamamos um "táxi", estamos chamando àquele que dirige o carro; ou quando vamos ao hospital, vamos à um espaço com equipamentos e recursos, geridos por pessoas, que providenciam nossa cura; assim quando creditamos às criaturas o que é de direito do Criador, estamos negando a nós mesmos o direito ao reconhecimento daquilo que fazemos, no entanto, nos desgostamos quando não reconhecem nossas virtudes, nossas boas ações.

Se um assassino comete um crime, não é o instrumento que será julgado, mas aquele que fez do instrumento, o mau uso.

- Mas não acreditam muitos que tudo é parte de D-s? Então se D-s está em todo lugar, tudo pode ser D-s? E nesse caso você eu eu seríamos deuses também?

Benjamin respondeu:

- O senhor sabe que o peixe vive na água. Suas células são formadas com grande quantidade de água, então o peixe está na água e a água está no peixe, mas o peixe não é água, nem a água é peixe. Porém, é da natureza do peixe que viva na água, e se for retirado de dentro dela, não vai sobreviver. A água vive sem o peixe, mas o peixe não vive sem a água. Evidente que água não é um ser vivo, mas esta é a sua natureza. Assim, cada ser, em seu modo de ser, obedece à sua própria natureza, e embora participe de uma simbiose, não se torna aquele cuja natureza se torne partícipe.

Então o senhor devolve o peixe à água, ele se hidrata, e sobrevive. A água contribuiu para que ele sobrevivesse, e os nutrientes da água, a luz solar, contribuíram para que ele exercesse sua natureza de peixe, que é andar livremente dentro da água. A água, os raios do sol, os nutrientes, "conspiraram" para que ele vivesse desse modo. Mas água continua sendo água, e peixe, continua sendo peixe.

Costumamos dizer que uma centelha divina nos preenche, o chamado "sopro" de vida, o Espírito de D-s, que foi soprado no ato da criação do Ser Humano. Este sopro, é a centelha divina, porém, isso não nos torna deuses.

Quando comemos uma banana, estamos ingerindo uma substância formada de elementos químicos, que estão relacionados na Tabela Periódica com seus 118 elementos. São estes mesmos elementos que compõem o Universo conhecido, pelo que mostram os dados astronômicos dos laboratórios, e também das amostras já recolhidas, de meteoros, ou da poeira lunar. Nada novo foi encontrado. 

Isso significa que desde a banana que comemos, até a extremidade do Universos, é tudo igual: Matéria, espaço, e energia. O que muda é apenas a intensidade. Mais nada.

No cérebro de um bebê que ainda não sabe falar, existem cerca de cem trilhões de sinapses, e duzentos bilhões de neurônios. Isso é milhares de vezes mais do que o número de galáxias contabilizadas até agora. Então, há mais mistérios dentro da nossa mente, que verdadeiramente conspiram para nossa existência, do que a massa densa de um Buraco Negro, ou a energia incalculável de um Quasar, que gira em velocidades incríveis, para que ao fim, se fundam suas estrelas, causem uma explosão, e formem uma Supernova. Ora, as duas estrelas que giram entre si, e as outras que ficam batendo palmas à sua volta, tem mais coisas com que se preocuparem, do que com uma pessoa que tem dúvidas sobre namorar esta ou aquela pessoa aqui nos cafundós da Terra.

 
O Universo é burro, mas obediente, porque está sob uma arquitetura inteligente. Logo, se o Universo conspira a meu favor, a banana faz o mesmo, e se o Universo conspira contra mim, acredite: um fio desencapado e uma poça de água no meu caminho, conspiram mais ainda também.

- E onde está esse D-s, em um Universo tão grande? Na banana ou no quasar? - Provocou Esteban!

Benjamin olhou para seu pai, que esfregava a longa barba, e disse:

- D-s não estão nem na banana, e nem no Quasar. Mas um e outro, estão em D-s, assim como o peixe está na água. 

Não podemos limitar D-s, como o mar que tem seus limites, mas podemos estender que D-s É o espaço, o tempo, e o Seu próprio existir, que não pode ser medido, calculado, ou imaginado.

A banana e o Quasar são condicionais ao espaço e ao tempo, mas D-s É absoluto, e se houver algum tipo de conspiração, ou contribuição, estas tem tanta capacidade de raciocínio e decisão, quanto a banana, e o Quasar.


Esteban ouviu a tudo estupefato, e pediu mais uma xícara de café.






segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O VIAJANTE DOS VENTOS - O CASULO DAS ALMAS- Família Família - Janela IV)

Imagem: AD- Internet

Família, família

Janela IV


Uma rajada de vento, seguida de um raio muito próximo da casa, enviou um aguaceiro de uma só vez à varanda, encharcando as crianças. Não havia escolha, senão entrar na casa e aguardar até que a tempestade acalmasse. Era uma escolha acerca de qual dos medos cederia, e o medo dos trovões e da pancada d’água venceu a desconfiança de entrar em uma casa desconhecida. Além disso, confiavam nas orações que faziam diariamente, ao acordar: “Confio em ti, ó D-s, por devolveres a minha alma (consciência) à mim, com misericórdia, pois grande é a tua fidelidade!”.

Entraram em uma sala ampla, com móveis antigos, mas limpos, bem alinhados, e claros. No ambiente havia um perfume de flores, jasmins, maçanilha, e rosas. Quadros ornavam as paredes, com retratos e pinturas sublimes. No canto, próximo à escada que levava aos cômodos superiores, havia um pequeno órgão de pedal, um Harmônio, para acompanhar os cânticos religiosos. Sobre uma pequena mesa de canto, estavam alguns livros religiosos, de uso diário.

A sala era em arejada, bem iluminada, e em nada refletia o exterior da cabana, que parecia demonstrar certo abandono. Não era essa, porém, a realidade interior, que apresentava bom gosto e limpidez completa.

As crianças olhavam a tudo, admiradas e perplexas, fazendo com que o medo se esvaísse pela visão do ambiente.

- “Certamente, que vive em um lugar tão lindo e organizado, não faz coisas más aos outros!” - Foi o que pensaram, e talvez até disseram, sussurrando, um ao outro.

O momento de estupefação foi quebrado, quando o velho Ebenézer surge, vindo de um cômodo contíguo, com roupões de banho para as crianças.

- Vocês não podem permanecer com suas roupas molhadas. Podem adoecer. Eu trouxe roupões de banho, e vocês podem tomar um banho quentinho, antes de comermos algo que tenho pronto no forno: Biscoitos de milho. Vou passar um café, e quando terminarem seu banho, estarei os esperando com tudo pronto à mesma. E por ser um cavalheiro, certamente nosso pequeno amigo Fernando, permitirá que sua irmã Daniela, faça as honras de ser a primeira! - Disse Ebenézer, abrindo a porta para Daniela, que entrou com olhar desconfiado, e um sorriso diplomático.

Fernando, estarrecido, a tudo admirava, e seu olhar estacionou em um quadro emoldurado, onde a pintura retratava uma família composta de um casal, com uma filha, de aproximadamente três anos de idade, ao colo da mãe. Seus pensamentos viajavam por tentar imaginar a história daquele homem tão generoso, até que um chamado do anfitrião o despertou para a vida:

- Estou contando com sua ajuda para concluir o lanche! - Disse. Por favor, pode prestar atenção ao leite que está por ferver, para que não derrame?

Fernando assentiu, com a cabeça, que sim, e ficou estático cuidando da panela com leite sobre o fogão, que também era polido e muito bem asseado.

Logo depois, Daniela apareceu na porta, embrulhada em um roupão bastante maior que seu corpinho esguio e delicado. Foi a vez de Fernando dirigir-se ao banho. Ebenézer convidou Daniela a assentar-se à mesa, enquanto ele concluía o preparo dos alimentos.

Quietinha, encolhida, com olhos atentos e vivos, Daniela observava, tal como fizera seu irmão, ao ambiente, às paredes, aos livros, e ao asseio do lugar.

- Tem perfume de flores! - Disse ao anfitrião.

- Sim, gostamos de viver com asseio e algum conforto! - Respondeu

- Aham! - Foi apenas o que respondeu a menina, com as mãozinhas sob as pernas, envoltas no roupão.

Poucos minutos depois, Fernando também chega à sala, vestido no roupão, segurando as roupas molhadas.

- Deixe comigo. Vou estendê-las perto do fogão, para que sequem, enquanto comemos, e antes que anoiteça, vou levá-los de volta aos seus avós, que já devem estar preocupados. Vamos comer! - Animou-os Ebenézer.

- Costumam agradecer pelo alimento em sua casa?

- Sim, antes e depois! - Respondeu a menina.

- Então, senhorita, pode nos honrar com sua bênção?

- Aham! Bendito sejas Tu, Senhor, nosso D-s, e Rei do Universo, pelos frutos da terra!” Amém!
- Amém! - Disseram todos.

Comeram depressa, e quando estavam prontos, Ebenézer falou:
- Vou levá-los aos seus avós, antes que a noite chegue. A chuva acalmou, e chegaremos logo. Vamos pela estrada, logo abaixo, pois vocês vieram pelas trilhas do lado de cima, porém, logo abaixo, há uma estrada que
leva ao povoado. Vamos por ela. Peguem suas roupas, e podem ir vestidos com os roupões. Lá em sua casa, vocês trocam, e podem devolvê-los outra hora.

Ebenézer, levou-os à uma garagem que havia ao lado da casa, e lá estava sua velha picape.

- Entrem, crianças. É um pouco velha, mas ainda me leva aos lugares que quero ir, sem reclamar muito.

Riram do gracejo, entraram, e foram embora.

O céu avermelhou e a chuva cessou. O olhar para o lago, onde piscavam esvoaçantes os vaga-lumes, ao coaxar dos sapos, e o trinar dos grilos ao anoitecer, desenhava lembranças, que silenciosamente andavam de um lado a outro pela mente de Ezequiel. Nada dizia, senão olhar, de canto de olho para a água espelhada, ou para as crianças, que, bem juntinhas, uma da outra, emprestando calor e amparo, pensavam, naquele momento, no que diriam aos avós, por terem saído sem avisar para onde iam, e por voltarem tão tarde.

A luz da varanda da casa dos avós estava acesa, e o casal, assentado, tranquilamente, saboreavam um farnel, um pequeno banquete ao ar livre. Um velho cão deitado aos pés de Aaron, o avô de Fernando e Daniela, apenas levantou a cabeça, com preguiça, olhou para o carro que chegou, e voltou a dormir. Os velhos dormem mesmo. Muito.

Fernando e Daniela saíram silenciosamente do carro, embrulhados em chambres grandes, segurando roupas molhadas, e de cabeça baixa, envergonhados, com os olhos levantados, fitando os avós, caminham em direção á eles, quando Ebenézer, os chama:

- Meninos! Vocês esqueceram as frutas que colhemos para seus avós?

- Como vai a coluna, Aaron? - Perguntou, sorridente ao avô dos meninos.

Tem deixado um casalzinho de peixes grandes no arroio, para os vizinhos?

- Ah, deixe de reclamar! - Emendou Aaron. Você está sendo ganancioso. Aquele lago tem mais peixes, do que todos os arroios daqui de perto.

- Ah, isso eu sei, mas eu tomei conhecimento que os peixes grandes (fez um gesto com os braços, indicando tamanho), você guardou para pescar com forasteiros, e nunca os vi pescando quando estava comigo.

- Ah, acontece que estes forasteiros têm muito mais técnica do que você e eu juntos! - Respondeu, com uma sonora gargalhada.

Mas você vai chegar para um chá conosco, ou veio só descarregar uma carga? - Outra gargalhada.

Ebenézer desceu.
- Como foi a aventura com os valentes? - perguntou Rachel, a avó.

- Eles tem estirpe, minha amiga! Têm a quem puxar. Caminhamos pelo pomar e bebemos água da bica, conversamos assentados nos bancos dos passeios. Parecíamos velhos amigos.

- Seu chá! Prove esse bolo que fiz. Aaron quase não deixou sobrar nada. Coma antes que ele elimine as provas de que houve bolo algum dia nessa bandeja.

- E como se pode recusar uma torta de ricota, Rachel? Por acaso eu sou de ferro ou de pedra, minha flor?

Ebenézer abençoa a iguaria e come, com satisfação.

Anoiteceu. O céu estava agora limpo, como se a chuva houvesse lavado o mundo. A lua abraçava a noite, mostrando seu fulgor por trás das colinas, desenhando sombras em movimento na mata.

Uma coruja grita, ao longe, e os sapos entoam em coro, seu coaxar de núpcias no pântano detrás da casa.

Anoitecer é a hora em que os gatos acendem sua impaciência e correm atrás de fantasmas, vendo-os ou não. É a hora em que o cheiro de sopa, vindo da cozinha, perfuma toda a casa, dando um cenário e ar de família feliz. Família, família…

- Acho que posso perguntar como ela está? - Perguntou Rachel, estendendo o bule para servir mais chá ao convidado.

- Igual. Mas acho que está em paz. Anda mais serena, nos últimos tempos. Dona Fátima tem nos auxiliado bastante. É ela quem cuida da casa, mantêm tudo organizado e limpo, e é quem também faz os cuidados pessoais. Eu comecei fazendo isso, mas mesmo no estado em que está, percebia certo constrangimento, pobrezinha, então Dona Fátima passou a tomar conta de tudo. Eu faço o que posso, para não tornar-me um peso á pobre mulher, e procuro ressarci-la bem por isso. Ela faz mais do que está no acordo.

- Está precisando de algo, que possamos ajudar, Aaron e eu?

- Eu pedirei, quando chegar o momento. Muito obrigado!

- Nem pense nisso! Somos família. Ela ficou sozinha?

- Não, não! Dona Fátima dorme lá. Estou à vontade por algumas horas ainda. Ainda tenho uns trabalhos no galpão, pois amanhã pretendo aumentar o galinheiro, para criar também umas codornas, e mais algumas galinhas. Umas poedeiras que encomendei.

- Mas o galinheiro que você tem, não dá conta? - Perguntou Aaron.

- No espaço, sim, mas meu sócio de rabo comprido tem errado na contabilidade e levado ovos e pintos sem registrar no caixa!

- Sócio? - Questionou, curiosa Rachel.

Aaron deu uma gargalhada e um tapinha carinhoso no braço de Ebenézer:

- Aquele velho lagarto ainda não criou vergonha na cara?

- Nada! Eu acostumei mal o elemento, mas agora chega. Ovos e pintos de minha granja, rabudo nenhum chega mais perto.

As crianças apareceram, já trocadas, à porta.

- Olha eles aí! Os meus amigos. Eu espero vocês lá novamente, quando tiverem vontade. Eu nem tive tempo de mostrar os animais da granja à vocês! E muito obrigado pelas frutas e pelo lanche que levaram. Irei comê-lo, senão hoje, pois já comi demais, mas amanhã, sem falta - Disse Ebenézer.

- Se soubesse que o senhor tinha frutas, teríamos levado outra coisa! - respondeu Fernando.

- E me privarem de comer bananas? Vocês viram alguma bananeira na minha chácara? Quero que conheçam os meus bichinhos, as galinhas, patos. O Denguinho, vocês já conheceram hoje.

- O senhor tem patos: E galinhas? Podemos ir, vovó? - Perguntou Daniela, com ar de súplica à Rachel.

- Certamente, mas dessa vez, quero ir junto, conhecer esses patos.

- Vou então! - Disse Ebenézer, dando um abraço nos amigos, e nas crianças.

Ao virar-se para descer a escada da varanda, uma rajada de vento, surgiu de repente, gelado, e sonoro, e deixou cair três folhas secas de Álamo, aos pés de Ebenézer.

Demais janelas



Nota do Autor:
Esta será a última publicação em capítulos, aqui no Blog. O livro segue em elaboração, e ao lançamento, comunicarei meus leitores. Para receber atualizações, registre-se no Whatsapp: 48 999 61 1546














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