AD SENSE

sábado, 26 de setembro de 2020

O homem que brigou com D-us - Opus 2 (Segunda parte)

Imagem- Internet


O homem que brigou com D-us - Opus 2 (Segunda parte)

Aquele dia passara depressa. E mente de Esteban  parecia um festival de fogos e luzes que piscavam e pipocavam sem parar. Os pensamentos atropelavam-se uns aos outros, depois do encerramento daquela aula. Não conseguia apagar da mente as respostas prontas em forma de mais perguntas, do jovem Benjamim.

Aquele menino não era comum. Suas indagações e reflexões eram bem mais que o cotidiano conhecimento de "tabelinhas prontas", com perguntas à esquerda e respostas à direita. Nada nele era pronto, e ele ousava questionar se a aparição divina a Moisés, seria uma visão com base em condicionantes extrínsecos, ou alucinações pela falta de oxigênio pela altitude em que estava o Libertador dos hebreus.

Não" Aquele menino não era um cético, e muito menos ateu. Era um judeu, religioso, parte de uma família conservadora, e que apenas por uma questão extemporânea, frequentava aquela escola, mas estava destinado a mudar-se no ano vindouro para uma Yeshivá, as escolas tradicionais religiosas judaicas, aquelas que formam Rabinos, mas que nem por isso sentia-se fora de seu ambiente, ao ponto de permitir-se debater com seu mestre, sem receio de confrontá-lo à reflexões profundas e de difícil entendimento ou resposta.

Esteban era, afinal, um advogado, e um professor de história. Não tinha porque enfiar-se em debates filosóficos, e muito menos teológicos, com seus alunos, por ser exatamente um ateu, e bastava-lhe repassar o currículo da disciplina e contentar-se com as respostas prontas no livro auxiliar do professor.

Ora, perder seu tempo acadêmico ouvindo perguntas que lhe faltavam ao domínio, exatamente sobre um tema e Um personagem que ele reputava inexistente: D-s! D-s não existia em seus acurados estudos, e embora não fosse comunista, concordava com Marx, com Jung, Com Nietsche, que o Personagem D-s seria apenas uma criatura mítica criada pelos homens, ás suas imagens, conforme suas semelhanças. Fazia sentido sim, quando se tratava de questões práticas, pois se Descartes estava certo, em sua máxima: Cogito Ergo Sum" (Penso, logo existo), então bastava pensar e também uma divindade passaria a existir para aquela pessoa, cultura, ou civilização, e bastaria criar-lhes afagos e escrever livros com suas frases, como se fossem citações da própria divindade, e estariam criadas as religiões. A história, que ele conhecia o suficiente, contava coisas assim. Então, por que isso tirava-lhe a quietude, logo um menino, um adolescente?

- Venha jantar! - Chamou Hava, sua esposa! Fiz aquele pudim que você tanto gosta, meu bem!

- Estou indo, querida! Preciso apenas revisar um finalzinho de uma prova, mas prometo á você, que em três minutinhos estarei á mesa apreciando os "divinos" sabores de suas mãos mágicas.

"Divinos sabores" - aquilo foi uma piada, mas tentando agradar à Hava, que era cristã, filha de judeus convertidos durante a fuga da Europa, no período da Segunda Guerra Mundial, e sentia-se desconfortável com a descrença do marido. Mas era uma mulher de pensamento livre e entendia que religião, crença, eram coisas absolutamente pessoais, e que bastava sua compreensão, e a dele para que as coisas andassem bem. E andavam.

- Como foi seu dia hoje, querido? - Perguntou Hava, enquanto servia uma fatia generosa do pudim que havia feito.

- Não posso dizer que tenha sido um dia comum, minha querida. Não posso dizer isso. Houve um fato que, preciso confessar, deixou-me um tanto pensativo. Um novo aluno, filho daquela família que mudou pra cá no ano passado. O rapaz, Benjamim, é diferente dos meninos que conheço. É perspicaz.

- Acho que você encontrou alguém à altura de sua inteligência! - Disse, sorrindo, Hava,
- Foi bem mais que isso, querida! Ele me superou, com poucas palavras em um curto diálogo, um pequeno debate durante um exercício de aula. Nem era nada dentro da disciplina, pelo menos, não o debate, que estava mais associado à teologia, assunto que não me traz sabor algum.

- Agora fiquei curiosa, querido! O que ele disse que te deixou em êxtase?

Esteban deu uma sonora gargalhada.

- êxtase não é o que se pode esperar de um ateu em assuntos de religião, minha querida, pois eu trato a religião, a fé, como um atributo sociológico e psicológico, um conjunto de fenômenos de comportamento, e o meu respeito às pessoas que praticam suas crenças como exercício de livre arbítrio, que tanto há entre pessoas quanto entre os animais.

- Como disse? Animais tem livre arbítrio?

- De certa forma, sim, nos parecemos. Os animais sentem fome, e saem em busca de alimento, e quando o encontram, simplesmente comem. Não tem nenhum tipo de sentimento ruim ou bom pelo que acabaram de comer. Seja grama ou outro animal, comer é uma necessidade, mas permanecer naquele lugar, é uma escolha deles, não concorda comigo?

- Você deve estar brincando comigo. Claro que não não posso concordar. Os animais se movem sem que ninguém os conduza, é certo, mas sua permanência em determinado lugar, dá-se pelo instinto em perceber, pelo faro, ou sensações próprias de cada animal, que ali há mais alimento, e assim que tiverem fome, na melhor hora do dia em que estejam adaptados à busca de seu alimento, o fazem. Eles não tem uma escolha de mudarem isso. Os carnívoros não refletem sobre a dor da presa e o direito à vida, e buscam adaptar-se à verduras e frutas. Alguns até comem isso, mas na primeira oportunidade que a onça tiver, os direitos da ovelha não serão levados em conta.

Esteban ri novamente e enfia goela abaixo um notável pedaço de pudim.

- Tantos anos ao meu lado, e não percebe quando estou brincando! Eu apenas quero dizer que os Seres Humanos fazem o mesmo, e sua territorialidade é por interesse e conforto. A diferença está em que estão mais evoluídos e fazem escolhas sobre o bem e o mal, mas ao fim disso, são tão irracionais quanto os animais. Veja as calamidades, que destroem vidas, sonhos, tiram vidas, levam fome e dor, e uma nova seleção começa, onde os mais fortes sobrevivem e os mais fracos perecem. E por mais fortes, eu não faço da força física, mas da força moral, que respeita os limites do outro, e da riqueza mental que faz com que, em muitos casos, doem suas próprias comodidades e vidas em favor dos mais indefesos, começando pelos de sua própria casa.

- Você sabe bem o que eu penso, e em que lugar eu coloco a minha fé - emendou Hava.

- Mas a fé é uma mostra de força, minha querida. Eu sou ateu, e dispenso a existência de um D-s Criador, mas não duvido jamais da fé. Eu creio que você crê, e creio que sua crença de fortalece, e em sua crença, você diz e faz coisas que cria sinapses de encorajamento a si e aos outros que compartilham de sua crença. O que não acredito é que haja um Espírito, uma energia inteligente escondida em sua mente, nem esquecida do outro lado do Universo, em um trono de luz, cercado de anjos e outros espíritos, ao qual vocês chamam de D-s.Mas digo uma coisa, com sinceridade: Se conseguirem, pela ciência, comprovar a existência de D-s, eu revejo meus conceitos.

- E eu revejo os meus - respondeu Hava. No dia em que conseguirem uma amostra do DNA de D-s, e colocá-la em uma cápsula no laboratório, quem deixará de acreditar em D-s serei eu, meu querido. Não passa pela minha cabeça, crer em um D-s tão insignificante e exibicionista, que De deixe entubar e medir por cabeças mortais e prepotentes. Ora, provar D-s pela experimentação científica. Você tem cada ideia! E a louça é sua hoje! Eu tenho provas para corrigir. E bem menos metafóricas que as suas. Aritmética é mais fácil de entender do que que sua descrença!- Disse Hava, ao dar-lhe um beijo no rosto e sair dali.

- A propósito - emendou: por que você não convida seu aluno Benjamin e seus pais para virem almoçar conosco no sábado?

- Eles são judeus, e sua alimentação é "Kasher", especial. Eles não misturam carne com leite, e as carnes devem ser provenientes de abates especiais. Além disso, o Sábado é o dia santo deles. Não creio que se sentiriam à vontade, comendo com estranhos, justo neste dia.

- Eu sei o que é comida kasher, meu bem, e sei também que não acendem fogo aos sábados, mas prepararei alguns pratos vegetarianos deliciosos, e farei isso na sexta feira, de modo que não transgrida o costume deles. Eles moram aqui pertinho, e certamente saberemos fazer com que se sintam bem-vindos à nossa casa. O que custa tentar? Assim, você terá oportunidade de conhecer melhor a fonte do conhecimento de Benjamin.

- A ideia é ótima! Farei isso então, querida. Agora, por favor, deixe-me concentrar na louça. 

- Animais com livre arbítrio! Eu invento cada coisa... Pensando bem, os animais levam vantagem sobre as pessoas, pois eles acordam, andam, procuram comida, comem, fazem suas necessidades, procriam, e vão dormir. Vida simples, tudo natural, sem boletos a pagar, sem provar por corrigir, sem saber se Gengis Khan empunhava espada com a mão direita ou esquerda.. 

Na manhã seguinte, pontualmente, às sete horas e quarenta e dois minutos, o professor Esteban chega para seu café com biscoitos na sala dos professores, e às oito horas, ao sinal da escola, adentra a sala de aula.

- Página oitenta e um! Leiam em voz alta o debate entre D-s e Moisés. Um voluntário? Benjamim, quer ler? Não, Benjamin já leu na vez passada e monopolizou a aula. Fernanda! você leia, de forma audível, o texto.

Fernanda abriu o livro, que tinha, nele transcrito, o capítulo três do Livro do Êxodo:

-"E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe.
E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia..

E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima.
E vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui.
E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.
Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus." (Êxodo 3:2-6)

- Obrigado, Fernanda! - Interrompeu o professor. Vamos agora analisar o ambiente em que vivia Moisés. Felipe! Gostaria de comentar isso?

Felipe assentiu e levantou-se para falar.

- Moisés havia fugido do Egito, ou foi expulso, também pode-se dizer assim, após ter assassinado um egípcio, porque este batia em um hebreu. No dia seguinte, viu dois hebreus brigando, e tentou intervir, dizendo que não deveriam brigar, pois eram irmãos. Foi quando um dos brigões voltou-se para ele, e o acusou de ser ele próprio um assassino. Então fugiu de lá, e andou até a Terra de Cuxe, a Etiópia, e lá encontrou refúgio entre a família de Jetro, um chefe tribal, que não era muito bem-vindo entre as demais tribos, porque cultuava um D-s diferente dos cuxitas. Era de certo modo, discriminado por sua visão monoteísta.

Lá chegando, Moisés, que era um homem forte, pois fora treinado para ser um general, um príncipe para combate, e também para governar, defrontou-se com um bando de pastores que maltratavam uma moça, à beira de um poço, onde todos recolhiam água. Moisés enxotou os pastores, e auxiliou a jovem, que chamava-se Tzipora, e logo também casou-se com ela.

Este episódio, do encontro com D-s, no alto do Monte Horebe, acontece cerca de quarenta anos após sua chegada a Cuxe. Tinha então Moisés, nesse tempo, oitenta anos de idade, de acordo com a cronologia bíblica.

- Obrigado, Felipe! Muito boa sua observação, porque nem tudo o que você disse, encontra-se com tanta clareza, na Bíblia, mas vejo que você busca seu conhecimento em mais fontes periféricas. Que fontes são essas? porque você sabe que, provas se encontram, não apenas em um relato, mas nas testemunhas que acompanharam os relatos, que não necessariamente sejam protagonistas do relato.

- Bem, professor. Eu desconheço as fontes, ou livros, mas são relatos que eu ouvi minha avó contar, quando eu era pequeno. Ela dizia que isso estava na tradição de nossa família, e que vinha sendo passada de pai pra filho, por muitas gerações.

- Era aqui que eu queria chegar, classe! Como a história chegou até nós! - Bradou com alegria Esteban.

- A história é o conjunto de relatos que se juntam e são passados adiante. Alguns fatos são registrados em palavras em livros, pergaminhos, tabletes de barro, com palavras, hieróglifos, ou textos, Já outros, são testemunhados pelo conjunto que reúne a história oral, chamada de Tradição Oral, com pistas arqueológicas, ou pontos geográficos específicos, mencionados nos relatos antigos, que dão corpo às histórias da tradição oral, ou dos próprios relatos textuais em literatura e documentos ou manuscritos antigos.

Assim, a Bíblia, é o conjunto destas informações e relatos, contatos através de cerca de quinze séculos, por dezenas de autores, da Bíblia Hebraica, conhecida pelos cristãos, como Antigo Testamento, e outros pares de escritores, quase todos judeus, de uma matriz judaica chamada de "Ha Derek", que significa: "O Caminho", posteriormente chamados de "Cristãos", ou "Seguidores" de Yeshua, O Nazareno, definição que demanda estudos mais aprofundados quando ao significado original, segundo alguns estudiosos.

Percebam então, que aquilo que nos mostra um único relato, pode ser a inteira verdade, mas nem sempre deixa claro seu verdadeiro, ou original significado. Eis o papel da história, que é abrir as portas da "Meta-História", a história atrás da história, que, às vezes, nos traz uma nova leitura sobre um texto, aparentemente insignificante. Sobre isso, falaremos mais num outro dia. Terminamos aqui a aula de hoje, e Benjamim, preciso dar uma palavrinha com você, por favor


...continua

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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O homem que brigou com D-us - Opus 1 (Ensaio)


Todos os nomes dos personagens, exceto menções de personagens históricos, são fictícios*

Professor Esteban Saavedra chegava sistematicamente às sete horas e quarenta e dois minutos na escola, onde lecionava história aos alunos do último ano do Ensino Médio. Dirigia-se à sala dos professores, largava sua mochila com seu notebook, e servia-se de café, recém passado, por Dona Maria Virgínia, que sincronizava o preparo da iguaria, ao som dos seus passos pelo corredor, até à pequena salinha, de onde era atraído pelo aroma que se espalhava por todo o andar da escola.

À primeira xícara servida, ao velho professor, fazia companhia um pote de biscoitos, que passava de mão em mão pelos demais professores que iam chegando ao lugar, para refestelarem-se com café, biscoitos, e umas boas risadas de um e outro professor, que relatava o comportamento deste ou daquele aluno, tecendo conjuras sobre o comportamento, ou dramas familiares revelados ali, como se fosse um grupo de apoio, onde catarses eram despejadas nos poucos e bem aproveitados minutos antes do confronto diário com a turba enfurecida trancafiada entre quatro paredes e vinte e poucas carteiras enfileiradas, onde seus desafios os aguardavam impacientemente.

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Sete horas e cinquenta e cinco minutos, toca o sinal de aviso para que todos os alunos entrem em suas respectivas salas, fato que poderia ocorrer com harmonia e silêncio, pois são apenas vinte e poucos saudáveis estudantes dirigindo-se para mais uma manhã de instrução e conhecimento. Poderia ser ordeira e silenciosa. Poderia.

Faltando um minuto para as oito horas, Esteban abre a porta, e ao ver o estardalhaço que fazem seus alunos, fica parado à porta, com uma mão segurando a mochila, e a outra segurando a maçaneta da porta, e olhando com firmeza, mas sem ira ou qualquer aparência de raiva, para a turba, que aos poucos, percebia que não seria recomendável que mantivessem a resiliência da desordem, mas se aquietava, até que, ao som da segunda cigarra que tocava novamente, Esteban entra e com delicadeza fecha a porta, cumprimentando, a seguir, seus alunos, com um generoso sorriso ao rosto.

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- O Universo tem suas regras, eis a razão pela qual nos mantemos íntegros, apesar da imensa quantidade de meteoros, e raios cósmicos nos bombardeando o tempo inteiro, mas eis que entre essa caótica configuração que se faz parecer com organização mnemônica, embora tudo parece, ao olhar mais acurado, como randômica, ocasional, como é o tempo, e assim é nossa classe: Se parece com um mundo no caos, mas é cosmogônica, ordeira, e civilizada, e de fácil organização, enquanto houverem regras e estas regras forem seguidas, o que acaba de acontecer.

A classe não piscava, e só respirava, para manter a vida pulsando nos corpos estáteis, apenas tentando assimilar o conjunto de palavras diferentes e difíceis, que nem estavam ligadas (é o que achavam) à sua disciplina de História. Mas discutir com um erudito era tempo perdido, e ainda poderiam ter do que rir à hora do intervalo, imitando os trejeitos pomposos do velho professor Esteban.

Esteban era um advogado, que dividia seu tempo entre os tribunais, e a cátedra, e lutava para decidir qual das atividades dominava mais sua paixão. Era como um homem que amava duas mulheres, e não se decidia por nenhuma, antes traía as duas, e traía a si mesmo por essa indecisão. Mas era assim que era. Paixão e dedicação aos réus, paixão e dedicação aos alunos. Ambos precisavam de sua lucidez permanente, pois um único deslize seu poderia deixar que condenassem um inocente, ou tiraria dos bancos de uma universidade, um aluno descuidado com a matéria.

A aula era de história das religiões. E Esteban era ateu. Não era ateu proselitista, pois acreditava no livre arbítrio e no direito de crer em não crer e não crer em crença alguma, exceto a crença da não existência de D-s (Deus). Mas era ateu convicto, e para tornar-se ateu praticante, com ética em suas crenças da não existência de Um Criador, precisava acima de tudo de honestidade consigo mesmo, e deveria entender por que não cria, mas também porque criam em D-s, e por que tinham religiões tão diferentes, e ao mesmo tempo tão iguais, os seus alunos e os demais professores.

Estudara com fervor quase religioso a Torá, os Profetas, os Escritos, da Bíblia Hebraica, ou Antigo Testamento, mas também tinha várias pós graduações nos escritos judaicos do Novo Testamento, mas também conhecia Surata por Surata do Alcorão, o Livro Sagrado dos Muçulmanos, assim como sabia diferenciar entre o Bardo Thödol, do Budismo do Norte, ao Bukio Dendo Kyokai, do Budismo do Sul. Lia também e estudava os mantras com minuciosa curiosidade, do Hinduísmo e suas variadas ramificações, passando ainda pelo Livro dos Mortos do Egito, e para ser mais específico no interesse das aulas, a história do cristianismo, desde Jesus, chamado O Cristo, Messias, passando pelas perseguições romanas, primeiro aos judeus, depois aos cristãos, e depois destes aos judeus, até chegar ao presente, na confusão das religiões que matam e torturam em nome do D-s, ao qual chamam de amoroso. Isso o tornara ateu e fortalecia suas convicções, citando a Bíblia quando dizia, do Livro de Eclesiastes: "No muito saber, há enfado da carne", eram as palavras atribuídas ao Rei Salomão. O Rei com mil mulheres e que transformara seu palácio e o Templo Sagrado, em dois imensos puteiros, onde praticava sua justiça, aterrorizando mães que disputavam a posse de um filho, ameaçando fazer bifes do bebê vivo, e claro, funcionou, e nunca saberemos se ele passaria a lâmina no bebê, ou nas mães delinquentes. Enfim. Salomão não era um bom exemplo para Esteban, e relatos como esse sedimentavam sua fé no vazio Teológico.

A favor do professor Esteban, era que ensinava os preceitos e o entendimento científico do comportamento humano diante de cada religião, era sua honestidade no ensino, e se os cristãos creem que Jesus é D-s, então ee dizia: Segundo a crença cristã, de que Jesus seja D-s, então, vamos tratá-lO com tal reverência, como gostaríamos também de Tratar da crença judaica de que Moisés, Josué, e os grandes profetas da história de Israel realmente falavam face a face com seu D-s, então é assim que trataremos, pois minha crença é apenas minha, e vossa crença é apenas vossa, e o respeito é o que nos iguala como Humanidade, e nos difere dos animais irracionais, isto é, que agem pelo instinto, mas não pela razão.

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- Um cão jamais questionará porque é um cão, por que não é uma lagosta, ou um Iáque do Himalaia. Assim, eu não questiono por que Benjamim frequenta uma sinagoga, ou Abdul vai à mesquita, nem tampouco por que João Pedro reza aos domingos na missa, enquanto Sebastião recebe passes num terreiro de Orixás.

- É este livre arbítrio que aproxima as pessoas, sem que interfira nas crenças de cada uma delas, enquanto em seus ambientes próprios, e que haja um senso comum de convivência e respeito em ambientes que pertencem à todos, e que ponham em prática as boas práticas de seus ensinamentos religiosos, que devem externar o resultado daquilo que entendem por amor ao próximo, este, pregado por todas elas, e esta é a única parte das religiões que me comovem de certa forma.

- Professor Esteban! Levantou a mão um menino que assentava-se ao fundo da classe.

-O senhor já falou com D-s?

Esteban sorriu e ironizou a situação.
- Bem, ainda que eu falasse com Ele, acho que não seria convidado a tornar-me pastor, padre, xamã, ou rabino de seu rebanho - respondeu.

- Mas o senhor já falou com D-s?- Insistiu o menino.

- Não, filho. Nunca falei, E você falou com Ele? (Fez um sinal com o dedo indicador, apontando para cima, movendo-o pra cima e pra baixo, com sarcasmo).

- O senhor acredita que eu tenha falado com Ele, professor Esteban?

- Mas que menino! Responde uma pergunta com outra pergunta!-Riu disso.

- Você responde uma pergunta com outra pergunta, muito inteligente, filho. Você é judeu?

- Apenas os judeus respondem uma pergunta com outra pergunta, senhor professor Esteban?

- Você é o jovem Benjamim, é isso?
- O senhor sabia que meu pai também se chama Benjamim, e dois tios, por parte de minha mãe, também tem esse nome?

- Você não me respondeu a pergunta. Você já conversou com D-s, Benjamim?

- Quem fez esta pergunta não fui eu, professor Esteban?

Esteban deu uma sonora gargalhada e deu início ao plano de aula:
- Página sessenta e dois. Leia, Samira, em voz alta.

- Moisés subiu o Monte à procura de umas ovelhas que havia subido o Monte, e ao aproximar-se de um lado da montanha, viu um fogo aproximadamente de sua altura, envolvendo uma planta seca, uma Sarça, mas apesar de emanar um grande calor, a planta permanecia intacta, e não queimava. Assustado e curioso, Moisés aproximou-se., e do meio do fogo, ouviu uma voz que dizia:
- Moisés! Tira as tuas sandálias, pois o chão que pisas é Terra Santa.

- Muito bem, Samira! Pode assentar-se.

- Benjamim! Você realmente acredita que Moisés estava, de fato, conversando com D-s?

- Talvez sim, professor, porque Moisés ainda não conhecia o D-s Criador do Universo, mas conhecia muitas histórias dos deuses do Egito. Moisés foi treinado, e qualquer manifestação estranha, poderia ser algum deus conversando com ele, pois no Egito, Moisés vira muitas coisas estranhas acontecendo, quando era um aprendiz de sacerdote e príncipe do Egito.

Perceba, professor Esteban, que Moisés nem chegou a perguntar quem era aquele espírito, até que O Próprio D-s se apresentou, e nem se apresentou também como O Criador do Universo, mas começou o relacionamento de mansinho, apresentando-Se como Alguém íntimo com a família de Moisés (D-s de Abraão, Isaac e Jacó). Assim, foi O Próprio D-s quem abriu caminho para aquela conversa, e é como Ele faz sempre, eu imagino.

Esteban cerrou os lábios, abaixou a cabeça e a balançava em movimento vertical, segurando o queixo, e olhando em direção à janela, enquanto escutava o rapaz. Em seguida objetou:

- Então você se contradiz, pois afirmou que Moisés conhecia segredos da manipulação, da mágica, do ilusionismo, das ervas alucinógenas, e outros recursos que alteravam o estado de consciência da pessoa. A própria altitude, o ar rarefeito, não poderia ter levado Moisés a ter aquela visão, e de ter imaginado estar conversando com sua divindade?

- Onde há contradição, professor Esteban? Em primeiro lugar, em nenhum momento D-s disse que estava ali. Ele apenas fez Moisés saber com quem falava, e uma visão, fosse ela física ou não (não vou chamar de real, porque realidade virtual é também uma realidade)era a epifania necessária para indicar o sagrado da situação.
Em segundo lugar, aquela, que o senhor diz ser a possibilidade de uma alucinação fanática, foi seguida de uma sequência de fatos com milhões de testemunhas, e registrada passo a passo como diferente da forma usual, e assim denominada de milagres.

D-s poderia ter se comunicado em sonhos, como fez com Abraão, com Jacó, com José, mas também falava face a face, como com Moisés e outros profetas, mas optou por aquela situação, onde o abiente não esteja cercado de imagens, ou portas douradas, nem pompa e cerimônia. A única cerimônia exigida foi lembra que dentro da casa, não se entra de sandálias, costume que mamãe Rivka nos impõe até hoje, pois a casa é um lugar santo, kadosh, separado do mundo, e os pés que pisam lugares santos tornam-se santificados também. Esrta era a intenção de D-s ao exigir que Moises caminhasse descalço na Sua Presenta, ois era um lugar de Santidade. A presença de D-s em qualquer lugar, traz santidade àquele lugar.

Esteban ouvia tudo calado, assimilando os fatos, e preparando a próxima pergunta, mas lembrou que Benjamin estava monopolizando sua aula, e os demais alunos poderiam se deixar influenciar pelo pequeno teólogo de bermudas, e uns fios de barba dispersos pelo queixo.

- Muito bem, Benjamim! Tome nota disso que você falou em uma redação e deixe na minha mesa até o fim da aula. Quanto aos demais, façam também uma redação, com base no que Benjamim falou aqui nessa aula, e deem suas opiniões a respeito do que foi dito e perguntado. Vocês tem o resto da manhã para debaterem entre sim, em duplas, e apresentarem suas redações, que as lerei em casa, e valerão dois pontos na nota do mês.

.......Segue no próximo ensaio

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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Falar corretamente, ou agir de modo correto - O que voce escolhe?

 


Quem acompanha meu trabalho desde certo tempo, sabe que eu gosto de brincar com as palavras, fazer trocadilhos, e errar propositadamente em textos bem humorados.

Sabem ainda, os meus leitores, que em algumas oportunidades, os meus textos são um pouco mais complexos, e faz-se necessário uma segunda ou até terceira leitura, para que o sentido amplo possa ser compreendido.

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Já houve até quem reclamasse que meus textos, são muito extensos. 

É possível que sim, mas certamente não são os mesmos leitores que  fazem das letras, o seu conforto, ao sabor da quietude, o seu tempero dos dias. 

Eu devo respeitar suas preferências, e indicar à estas pessoas, aquelas tirinhas de "cartoon", do rodapé de jornais (se é que alguém ainda leia jornal), embora estas, às vezes, por serem inteligentes demais, nem sempre são completamente compreensíveis. 

Bem, em última hipótese, no "Pinterest", há bilhões de imagens sem texto algum. 

Pinterest, eu penso que seja talvez, o maior álbum de figurinhas que existe. Vale a pena. E nem precisa ler as legendas. Basta deslizar o mouse e clicar em cima, que uma puxa outra até que o sono se torne insuportável.

Mas também sabem que quando quero eu brincar ou ironizar com alguma situação, eu escorrego ladeira abaixo propositadamente do vernáculo, e levo o escracho ao texto,  para que note-se distintamente que estou brincando, e raramente alguém vê o contrário.

Como tenho leitores e amigos virtuais de todas as classes, eruditos, ou simplórios (no bom sentido), eu tomo o cuidado de evitar direcionar algum texto de forma chula, invasiva, ou debochando dos erros alheios, pois quem é que não comete deslizes na gramática de vez em quando? 

Esse texto aqui, mesmo, talvez seja objeto de crítica textual ou gramatical de alguém versado nas letras, e venha mostrar-se à tal pessoa, eivado de erros. 

Paciência. É assim mesmo a vida. Erramos e acertamos, mas sobretudo, buscamos estabelecer duas coisas, quando escrevemos, pois nem sempre o que escrevemos tem endereço no envelope, e muitas vezes, o endereço é pessoal, à nós mesmos. 

Escrevemos como desabafo, como observação do cotidiano, ou simplesmente pelo prazer de escrever.

Eu tenho, ao longo do meu crescimento intelectual e pessoal, tomado o cuidado em mais que escrever de modo correto, viver e agir, de forma ilibada, não para vender uma imagem de santo, mas para deslizar pela vida de maneira mais prazerosa.

Viver além das palavras é uma forma de escrever no espírito com letras que só o íntimo possa ler, e o íntimo é, em última instância, o gestor do caminhar e do viver.

Assim, escrevo o que penso e penso no que vivo. Aos sábios, faço-me ouvidos, e aos tolos, cubro os olhos para que não vejam, e os ouvidos para que não ouçam, assim como amarro os pés, e ato as mãos, para que não caminhem nem abracem tais criaturas, porque aprendi, pela vida, a errar sozinho. 

Para cometer deslizes, não preciso que me empurrem. Basta escolher não caminhar, quando sei que não nasci com raízes, mas com pernas.

Basta escolher ouvir o que é bom e proveitoso, quando meus ouvidos são seletivos e podem servir-se das mãos para que os encubram e os protejam de ignomínias.

Para ser mau, basta não ser bom. Para ser bom, sim aí está o grande desafio que é viver sob constantes escolhas.

Falar corretamente é falar com naturalidade, e não fingir conhecimento com palavras ao vento. 

Agir de modo correto é agir pelo que somos diante dos outros, como se estivéssemos sós.

É um jeito de ser, viver e pensar. Cada um viva o seu próprio, que o mundo já fica um pouco melhor.

Que falem nossas palavras o que diz o nosso comportamento. Ser correto é mais que escrever certo.

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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Antes que venham os maus dias - O entardecer de todos nós

 



Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;
Eclesiastes 12:1


Velho é matéria-prima para anedotas...sobre velhos! 

Há muitas, e em todas elas os velhos são satirizados, e também satirizam a si mesmos, em assuntos como: disfunções ligadas à senilidade (caduquice), impotência sexual atrelada à incontinência urinária, o uso de acessórios vestuários, e claro, o "politicamente imbecil modo de falar incorreto", onde diz que não se diz mais "velho", mas "Idoso"; "melhor idade", mas velho nunca. 

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Inventaram regras fracionadas, pois a palavra "velho", antes indicava algo ou alguém, com idade além daquilo que era estabelecido como "novo", ou seja, um antônimo, apenas.

Então, por que já não se pode mais chamar de velho, se há um antônimo que o equipare? 

Nesse caso não seria também proibido chamar algo ou alguém de novo? Deveria ser, pois é ofensivo chamar de novo o que pode ser chamado de "diferenciado". 

É proibido chamar de estúpido àquilo que que deve ser chamado de "inepto". 

É casuístico chamar qualquer coisa pelo modo que vinha sendo chamado desde que tal verbete tenha sido adicionado ao uso da palavra que se quer para designar um qualificativo, ainda que pejorativo da pessoa. 

Isso é ser velho.

Interessante que essa conduta, é nova. Isso mesmo. Nova! 

Não começou essa imposição de um novo vernáculo senão nas duas últimas décadas, ou pouco mais.

Até bem pouco tempo atrás, isso nos idos de minha juventude, os anciãos eram respeitados, e a história dos costumes relata a importância que tinham dentro da comunidade, eles, os velhos, que também eram conhecidos por serem sábios. 

Nós ansiamos demais, e essa demasia nos distanciou daquilo que é puro, daquilo que é  necessário.

Ansiamos pela vida, que corre mais depressa que nós e nossos passos, até que chega o tempo em que a vida começa a frear, e é o tempo quem acelera à nossa frente, ansioso, impaciente, com pressa de chegar a algum lugar.

O tempo não é bom para com os velhos. 

Apressa-os constantemente, e por ser tempo, e não gente, não raciocina direito, que o tempo só existe por causa do Homem. 

Assim, quando o Homem se extinguir, não haverá montaria para as horas, e as horas serão sepultadas junto com aqueles a quem apressaram.

Antes que venham os maus dias, façamos então, um concerto com nossos olhos, para que vejam o maior número de coisas, que um dia não verão mais: as flores, o céu, a noite, o mar, os rios, as estrelas, e as pessoas que caminham a largos passos à nossa volta, e também aqueles cujos largos, nossos passos caminham à volta delas.

Façamos um acordo, antes que venham os dias maus, com nossos ouvidos, para que ouçamos as vozes e as melodias, os cânticos, e as sinfonias, e o riacho que murmura ao longo de nosso caminhar.

Antes que venham os dias maus, aconselhemos nossas mãos, a que encaminhem os braços, aos calorosos abraços de outros braços, e neste entrelaço, promovamos encontros de corações, um juntinho do outro, e o outro do um, aquecidos pelo pulsar dos encontros.

Antes que venham os dias maus, façamos com que nossas pernas levem os pés à intensas e distantes caminhadas, em busca de horizontes, onde jorram as fontes da eternidade que nos espera.

Antes que venham os dias maus, sejamos simplesmente, bons, e nada mais. Apenas bons. Apenas felizes.

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Enquanto entoarem canções





















O cântico sempre foi um modo de comunicação da alma, um protocolo espiritual de abrir os corações. As Sagradas Escrituras, especialmente nos seus primeiros livros, a Torá, ou como é conhecido pelos gregos: "Pentateuco", atribuídos a Moisés, não foram escritos para serem lidos mentalmente, como fazemos hoje, no silêncio e na quietude, mas para que fossem cantados em alta voz, pois são um composto de ensinamentos, e não se ensina nada enquanto calados, mas falando em alta voz, e com certa harmonia melódica. Assim eram ensinados ao povo, e passados de geração em geração (ledor vador, em hebraico).

Nos tempos medievais, o relato de fatos distantes, ou mesmo locais, eram cantados e contados, de forma burlesca, ou dramática, pelos menestréis, que tocavam seus instrumentos de corda e sopro, e assim, amealhavam uns tostões, além de disseminarem as notícias, fossem verdadeiras, ou fantasiosas (hoje seriam fake news), pelos vilarejos, e pelas cidades maiores, pelos seus burgos e praças, de taberna em taberna, de prostíbulo em prostíbulo, ou até mesmo dentro das igrejas e catedrais, ali, naturalmente, de forma mais formal e respeitosa.

As canções eram divididas de dois modos apenas, nesse período: Canônicas (sacras), ou profanas. Ou eram aprovadas para serem entoadas pelos coros monofônicos gregorianos, ou como canções românticas, melodiosas, ou alegres, regadas à vinho e comilanças pelas noites frias da velha Europa.

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Deste modo, as histórias passavam de ouvido em ouvido, até que em determinado tempo, alguma boa alma as escrevesse e as eternizasse em livros, para deleite das futuras gerações.

As canções sempre fizeram e ainda fazem parte do cotidiano da cultura popular ou aristocrática. Cada lugar, cada povo, cada grupo social tem as suas melodias, os seus versos, um modo cancioneiro de expressar seus sentimentos e contar suas histórias, ou de proliferar suas opiniões, seja de modo sentimental ou irônico, através do humor.

As canções louvam políticos e heróis, assim como criticam e até espezinham personagens de agrado ou desagrado popular.

As canções tem o poder de fixar mais rapidamente as ideias e expressar de modo artístico, aquilo que discursos ou palavras não o fazem. São as crianças quem cantarolam os versos que calam vozes, ou levantam revoluções. São as canções que conduzem povos à marcha e congregam multidões no chamamento às lutas. Não há movimento sem canções, nem há canções que não motivem prosélitos, se falarem aos corações.

São as canções que fazem pulsar as massas e até calar baionetas. São os cânticos quem quebram a dureza de corações fechados. Enternecem mães e adormecem filhos.

Faltam canções, onde a palavra seja mais importante que a batida e a estridência dos instrumentos. Faltam poemas cantados e cantigas poéticas. Faltam menestréis e sobram coronéis. Faltam dedos e sobram anéis. Faltam vozes e sobram algozes. Faltam sentimentos e  crescem tormentos. Falta a sublimidade de vozes ao vento, de brisas, alentos, em lugar de tormentos e tormentas. Faltam poemas e faltam quem os leia. Faltam palavras e sobram jargões.

Enquanto entoarem canções, se calarão os canhões. Enquanto crianças cantarem, adultos haverá para ouvi-las. Enquanto adultos ouvirem das crianças, canções, a esperança fará coro pelas ruas e praças, e em todos os lugares. 

O Livro Sagrado fala de um cântico de libertação, sobre o mar de vidro, o Cântico de Moisés.

Enquanto se cantarem canções, haverá eternidade para ouvi-las, e anjos para formarem o coro.

Enquanto cantarem canções, haverá paz.





terça-feira, 22 de setembro de 2020

A festa do Belarmino - Um causo de arrepiá os mondongo

 


Belarmino abraçava os noventa anos já. Tava no lucro da vida, embora aos cinquenta, achava que chegaria aos cento e vinte, mas chegando aos cento e cinco, estaria de bom tamanho.

Belarmino era muito querido por seus parentes, quase todos, mas vou relatar apenas dos que lhe queriam bem, que eram muitos. Enchia uma mesa. De quatro pessoas.

Mas como em toda família, quando se tratava de comer, aparecia parente de todo lado, mais os agregados, que traziam seus próprios parentes, e, bem, aí era uma festa de galpão, com aquelas mesas de tábuas compridas, apoiadas sobre cavaletes.  Mais os cantinhos espalhados, onde a piazada se abancava, então, sim, o somatório ia longe. Então, Belarmino era muito bajulado em suas festas de Aniversário. 
Belarmino era de origem lusitana, açoriana, dos Moreira Rodrigues, por parte de mãe, e Gumercindo Souza por parte de pai. Casou-se por arranjo com uma tedesca, mas criada na Itália, e embora de origem germânica, tinha todos os apetrechos carcamanos, e assim foi criada a sua prole, numerosa e muito, muito tagarela, da espécie que fala com os ombros, com as mãos, com as orelhas, com o corpo inteiro, e muitas vezes, ainda conseguem um corpo emprestado para falarem ainda mais. Todos ao mesmo tempo. Em plenos pulmões.

Belarmino requeria cuidados, como uma cuidadora, equipamentos de oxigênio, cápsulas de ozônio para evacuação, e aqueles apetrechos que botam nos véios, que eu nem sei dizer o nome.

A festa estava muito animada, muito boa, com todos falando ao mesmo tempo, os tedescos, com trejeitos carcamanos. (É aqui que eu pergunto: por que eu contei que eram tedescos, com trejeitos de carcamanos? Não poderia simplesmente dito que eram carcamanos e pronto? Poderia, mas desse modo, eu ganhei quase um parágrafo inteiro e ficou interessante o causo).

Macarrão, talharim, espaguete, brusqueta à bolonhesa, polenta, radicci, e muita sobremesa, vinho, laranjada pras gurizada, e muita, muita parola (prosa), num movimento contínuo de mãos e dedos, braços e corpos (alguns emprestados pra caber tanto assunto),e muita cantoria.

Nomeio da tarantela, Belarmino levanta a mão, com muito esforço, estica o dedo fino e repuxado, arregalando os olhinhos vivos, para o alto, e esboça um gemido rouco...

- uhh..uuhhhmmm..uuhhh!

A barulheira cessa imediatamente, refletem, e um grita:

- Oxigênio pro Nono Belarmino!
- Espaguete pro nono Belarmino!
- Vinho pro nono Belarmino!
- o NONINHO TÁ FEDENDO!

- Uhh..uhh..uuhmmm! - Repetia Belarmino

E enfiavam:
- Oxigênio pro Nono Belarmino!
- Espaguete pro nono Belarmino!
- Vinho pro nono Belarmino!

Belarmino fazia um ar de alivio, e a balburdia recomeçava.
Tarantela, Mérica, Mérica, Quando se pianta la bela polenta...tchatchapum, tchatchapum..e outras canções movimentavam a festa. E Belarmino num canto, de olhinhos arregalados, olhando tudo.

Novamente, Belarmino ergue a mão e:
- Uhh..uhhhm..uhhh

- Oxigênio pro Nono Belarmino!
- Espaguete pro nono Belarmino!
- Vinho pro nono Belarmino!

E Belarmino relaxava. A situação se repetiu por mais tres, talvez quatro vezes, até que, no silencio incomum, um vizinho grita:
- Belarmino quer falar! Façam silêncio!
Meia hora depois, conseguiram fazer silêncio. Um feito.
- Parla, nono Belarmino!
Belarmino ergue a mão, inclina-se para o lado e diz:
- Eu xó queria...
- Parla noninho!!! - Gritaram todos!
- Eu xó queria....

- Parla noninho! Parla noninho!

- Eu xó queria....xoltá um peidinho!





segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A tenda do beduíno - Fábula

Pinterest

A tenda do beduíno  (Fábula)

Pacard - Escritor

No tempo de Harum Al- Pargath Ibn Al-Farrobh, havia um bondoso sultão, que semanalmente recebia os súditos para ouvir suas petições, e à medida do justo, atendê-las.

Num certo dia, apresentou-se diante dele um beduíno, choramingando, e pedindo que lhe concedesse uma tenda nova, pois aquela onde morava era por demais apertada para si, a esposa, e o único filho, que lá moravam.

Ao ouvi-lo com paciência, o sultão prometeu que concederia seu pedido, mas antes, pediu que ele levasse a sogra para morar com ele na tenda. Desiludido, o homem foi, e fez o que o monarca pedira.

Uma semana depois, voltou, com olheiras profundas e disse:

- Ó sapientíssimo sultão, esplendor do zênite, fulgor da aurora, e enviado dos sete céus, a coisa piorou demais!

 Está bem, disse o sultão. vou dar-lhe a tenda, mas antes, leve seu camelo para viver na tenda onde mora.

O pobre homem quase teve uma síncope, mas foi e enfiou (não me pergunte como) o camelo com a esposa, o filho e a sogra, mais ele, dentro da tenda.

Mais uma semana, e volta o trapo de gente, se arrastando, olheiras pretas, havia perdido um dente, e sujo feito um camelo velho.

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- Ó luz das estrelas, glória das setenta arábias, perfume do sândalo celeste, mimoso da vossa mamãe....não cabe mais nem uma agulha na tenda..estou pensando em morrer até...

- Tenha calma, disse o sultão. volte pra casa e despache o camelo e a sogra e em uma semana volte aqui.

Uma semana se passou, e lá estava um homem de bela aparência, perfumado como as campinas do Líbano , vestido com um príncipe em dia de bodas, saltitante e feliz. Ao vê-lo, perguntou o sultão:

- Meu bom homem! vejo que veio requerer a vossa tenda prometida.

- - Não, não, ó pimpão das setenta e duas virgens do paraíso, bálsamo das campinas do vale, puríssima água refrescante de  Hebrom, saltitar das corças do palácio...minha tenda está tão grande, tão vazia, que pensamos em ter mais um ou dois filhos para preencher tão vultuosa tenda, com a permissão de vossa alteza!


Moral da história: Tá ruim? Aperta mais um pouco, que vai ficar com saudade desse tempo, depois que a tempestade passar.

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À Imagem e Semelhança - Quem somos nós no Universo?

À Imagem e Semelhança 

Quem somos nós no Universo?


Por Paulo Cardoso (Escritor, Palestrante)

E façamos o Homem, à Nossa imagem, conforme Nossa semelhança.

Gênesis 1:26


É uma curiosidade natural de todo ser vivo que pensa, isto é, que raciocina, isto é, o Ser Humano, em desejar conhecer o que não é capaz de ver.

Como temos um par de olhos, voltados para frente, fazemos um concerto com o pescoço, que permite direcioná-los para trás, e assim, tentar encontrar o início da caminhada de nossa vida, para responder às três questões existenciais: 

"Quem sou, onde estou, e para onde vou?"

Um sábio da antiguidade, Hilel, o Ancião, repetiu estas questões, direcionando um caminho para as respostas: 

"Se eu não for por mim, quem será por mim? Se eu for só por mim, o que serei eu? Se não agora, quando?"

Ainda assim, não obtendo respostas práticas, somos levados a fazer outras perguntas sobre o dilema:

"Se fui criado à imagem e semelhança de D's, como poderei descobrir quem sou, se D's É invisível aos olhos?"

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Os Sábios do talmude dizem que D's costuma esconder-se nós, para que O procuremos. Assim como um adulto se oculta de uma criança, para que ela o procure, e ao encontrá-lo, possa externar sua alegria ao vê-lo, e tal alegria é uma via de mão dupla com O Criador e Rei do Universo.

Mas ainda assim, a pergunta: Como é D's, O Criador do universo? Que forma Ele tem? Como podemos imaginar que Quem tudo fez, possa ser resumido à forma humana?

A questão pode ser invertida, nesta leitura. Não é D's quem assume a forma humana para ser compreendido, mas é o Ser Humano que configura D's em sua ilustração mais bela.

Quem vê apenas aquilo que o olho possa mostrar, nada vê, senão como se olhasse o espelho de um lago, que mostra a luz refletida do céu, sem mostrar a profundidade e o mistério de suas águas.

Simulação digital mostra como a teia cósmica se espalha pelo Universo.

Créditos: V. Springel / Max-Planck Insitute for Astrophysics / Garching bei Munchen


Compreender a profundidade da expressão: "À Nossa imagem, conforme Nossa semelhança", pressupõe entender os pormenores da criação, e suas semelhanças nos detalhes, ma geometria, na matemática, das fractais, da sequência da Proporção Áurea, na sintonia das cores  (sete no Arco celeste), com as notas musicais (sete também), com a distância proporcional dos planetas em relação ao sol, com a espiral das galáxias, das ondas do mar, do redemoinho na parte de trás da cabeça (cocoruta), e na recente descoberta dos movimentos helicoidais do espermatozoide, que não balança o rabinho, como se pensava, mas gira em espiral, no movimento helicoidal matematicamente preciso e proporcional das árvores, da concha do mar, da proporção humana, enfim, em tudo há uma relação contínua manifestada de forma física, visível, que não deixa espaço para dúvidas da semelhança com a obra manifesta do Criador do universo.



Mergulhando um pouco mais abaixo (ou acima), vamos encontrar as cores, lembrando que na visão dos profetas, O Trono do Altíssimo, havia um arco celeste com as sete cores, e o Homem foi criado ao final do último instante do sexto dia, e como se despertasse de um sono, amanhece no sétimo dia. Não foi por acaso, como também não é por acaso que cada cor ocupa seu lugar no prisma, e a soma de todas as seis cores, resulta na sétima cor, que é o Branco, a soma de todas as cores, tão perfeita, tão completa, tão complexa, e tão luminosa.


Um novo estudo da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA) afirmou que a estrutura do universo é bastante semelhante à estrutura e design de outras grandes redes complexas, como o cérebro humano e a internet. (Fonte: hypescience)

Vamos então falar um pouco desta relação de grandeza e mistério. 
São mapeadas cerca de 200 bilhões de galáxias no Universo conhecido. Está bem, o universo é enorme então. Vamos falar do nosso cérebro, que tem 100 bilhões de Neurônios, e cada 320 neurônios formam uma nova terminação nervosa, isto é, tomam atitude e saem a fazer coisas no pensamento, assim, segundo uma belíssima matéria do repórter da Folha de São paulo, Rafael Garcia, com base nos estudos do Biólogo e Nobel Sydney Brenner, que na década de 1960, já mapeou o cérebro,
MAPEAR A TOTALIDADE de sinapses em um cérebro é uma meta defensável como um passo importante na evolução da neurociência, mas não será fácil. Propostas para investigação do conectoma humano completo tem sido comparadas com o projeto genoma, mas basta olhar para os números para se dar conta de quão mais difícil será esse outro projeto.


Enquanto o genoma humano tem cerca de 3 bilhões de bases nitrogenadas (as “letras” do DNA), o cérebro possui 100 bilhões de neurônios. E enquanto uma célula humana abriga cerca de 20 mil genes, o número de sinapses em um cérebro é da ordem de 100 trilhões.

Em “Connectome”, Sebastian Seung mostra também como a tecnologia para mapear essas conexões ainda é extremamente lenta e trabalhosa quando comparada  às modernas máquinas de sequenciamento de DNA, que hoje operam automaticamente após o preparo de amostras.

Para fazer um mapa em 3-D das conexões entre os neurônios, é preciso “fatiar” um cérebro em lâminas extremamente finas, de 30 nanômetros (30 milionésimos de milímetro). Depois é necessário fotografar uma a uma, com um microscópio eletrônico, e “empilhar” as imagens para reconstruir a forma tridimensional.

O biólogo Sydney Brenner fez isso tudo manualmente na década de 1960 para mapear o sistema nervoso completo verme C. Elegans. Sua equipe, porém, teve doze anos de trabalho para dar conta desse animal microscópico, que possui apenas 302 neurônios e 7.000 sinapses. Para reconstruir as sinapses de um único milímetro cúbico de cérebro humano usando o mesmo procedimento, seria preciso empregar 100 mil técnicos durante dez anos.

Sem avanços na automatização desse processo, ficou claro, jamais será possível mapear o conectoma humano. Mas já há ideias surgindo.

Seung —junto de Jeff Litchman, da Universidade Harvard, e Ken Hayworth, da Universidade do Sul da Califórnia— já começaram a desenvolver tecnologia para preparar as amostras de microscópio automaticamente. Para isso, endurecem um cérebro em resina epóxi e usam um aparelho chamado ultramicrótomo, que possui uma fina lâmina de diamante, para segmentá-lo. A máquina fatia pedaços de cérebro como uma mortadela numa padaria, alinha uma a uma numa fita, e um microscópio vai lendo as imagens, fatia a fatia.

Assim sendo, e para não ser muito extenso, começo a compreender a relação entre Imagem e semelhança, não onde tentamos tornar D-s à nossa imagem e semelhança, para compreendê-lo, mas compreendendo que é no inverso desta leitura, que nós somos a Imagem e semelhança de D-s.

Não estou com isso dizendo que o desenho do mapa do universo, que ilustra o início desta matéria seja uma visão de D-s, mas que ilustra a compreensão da relação do Homem com o Universo onde habita, e não estão errados os cabalistas que dizem que o universo é um organismo único, e que o Homem espelha este Universo em sua própria estrutura física e psíquica. Sem contar aí a questão espiritual.

Mas não, o universo não é D's, e nem nós o somos. Somos criaturas, interdependentes e interligadas. Somos poeira do Universo, mas isso não nos torna seres vindos do espaço. Nós somos o espaço, e poeira da Terra, que por sua vez, é poeira das estrelas, que por sua vez, são formadas por fótons, prótons, e elétrons, iguaizinhos á nós.
O Universo não é D's, mas ´da uma vaga ideia de Sua infinitude, poder, e sabedoria;

E a parte que mais nos interessa, é seu Amor, e nos ter criado tão parecidos uns com os outros. Flores, animais, furacões, estrelas, galáxias, e o vazio da Massa Escura, que representa 95% deste Universo. O resto é 5%, e disso, não conhecemos senão o dia e a noite, que nos despertam e acolhem, permitindo que acreditemos que somos alguma coisa de importante neste cenário misterioso.

D's (Deus)*

Fontes: Clique nas imagens e links da matéria


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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

um 7 de Setembro inesquecível de minha infância em Gramado


Foto: Arquivo pessoal (Samuel Isaac Cardoso (tio), Ester Cardoso (mãe) e Maria Elisa Dias Cardoso (Avó)´e eu.

 Éramos uns poucos, em uma vila de pobres, aquietando-se ao lado da área central da cidade, onde pulsava a vida cidadã deste lugar.

Nossa pequenina escola de vila também, uma, assim chamada, "Brizoleta", acomodava cerca de uns 40 alunos, divididos por classes em dois turnos, onde somavam-se uns e outros, à classe escolar de uma única professora primária, ela própria também, com pouco mais que isso, em seu currículo escolar.

Uns e outros, sentávamos lado a lado em classes, hoje denominadas "carteiras", onde cada classe acomodava dois, ou mais alunos, dependendo do tamanho da classe. 

Eram móveis compridos, com bancada e assento acoplados, e nesta classe, assentavam-se crianças de séries independentes, dentro da mesma aula, ouvindo a mesma professora, e assim, desenvolvíamos uma audição seletiva, enquanto ela instruía os alunos da classe mais ou menos avençada do que a nossa.

Foi neste formato que estudei até a quarta série do primário, pois a quinta série escapou de minha biografia, como óleo escoa dentre os dedos de quem o sustém, porque fiz o "Exame de Admissão ao Ginásio", e como um deboche do destine, eu consegui passar. Deboche mesmo, porque desconstruiu toda a minha formação escolar depois disso, e por fim, ao início do segundo ano do Científico, hoje EnsinO Médio, eu abandonei a escola. Tornei-me então um semi-analfabeto profissional.

Voltemos aos tempos, para que o causo prossiga.

Eram realizados os desfiles cívico-militares, quase do jeito que acontece hoje em todos os lugares. Milhares de crianças, com idade dos seis aos dezoito anos, vestindo uniformes engomados, finos, desenhados para os dias quentes do ano, eram perfilados para deleite das autoridades civis, militares e eclesiÁsticas (assim começavam os discursos), que se espremiam em uma tribuna improviSada, de onde eram um pouco mais elevados do que a plebe que marchava em passos mancos, e dali podiam rir dos infelizes impúberes, que tremelicavam de frio, para que o branco amarelado das camisas dos uniformes pudessem contrastas com as semi-desnudas acrobatas, fantasiadas de bailarinas, que com pequenos bastões enfeitados de fitas verde e amarela, saltitavam acrobaticamente na condução do cortejo.

As bandas, uma por vez, de forma descompassadamente desafinada, marcava o descompasso dos marchadores, que eram apresentados ao palanque oficial, como troféus de tributos, iguaizinhos aos que se faziam em Roma, no aparato de prisioneiros oferecidos à César e para o refestelo dos soldados ensandecidos pelo cheiro de vitória, sangue e vinho, recompensas de guerras.

Mas nem tudo era frio e tremor de queixos, pois, lembro como se ontem fosse o ocorrido, de um Sete de Setembro especial, onde todas as crianças, de todo o município, foram recompensadas, com deliciosos e abundantes lanches para almoço, e o melhor ainda viria à tarde, com a exibição absolutamente gratuita de um filme dentro do Cine Embaixador (ainda não me conformo com o nome de "Palácio dos Festivais" que deram ao lugar).

Nos espremíamos no chão, para que todos ficasse, acomodados, e o filme começou. Lembro sim, lembro bem do filme: "Cindy, a Trapezista", ou algo no gênero, um filme do Zé Colmeia e sua esposa, digo, namorada, a ursinha Cindy, que foi capturada por um circo, e obrigada a pedalar um monociclo em uma corda bamba muitos metros acima do chão.

Lembro dos curta-metragens de abertura, mostrando a exuberância das flores de Gramado, belíssimas papoulas alaranjadas, que atapetavam os canteiros da rua principal, alcatifando nossas lembranças por perfumes e a suave música de orquestra e saxofone que preenchia todos os lugares escondidos de nossas memórias.





Era Sete de Setembro, e celebrávamos a festa da pátria. Não nos envergonhávamos de chamar nossa terra de pátria. Nem de sonhar-se dentro dos cenários imaginados pelos ilustradores do filme, que traziam até nossas memórias mais doces, a suave melodia de uma primavera, lá e cá, que precisamos trazer de volta urgentemente.

Navegar é preciso, dizia Camões.]

Sonhar é mais que preciso, dizia a vida que nos chamava para seus perfumes.







Laodicéia é aqui - A hipocrisia que rasteja pelas igrejas

  "A igreja de Laodicéia é mencionada no livro bíblico do Apocalipse como uma das sete igrejas da Ásia Menor. Ela recebe críticas sever...