Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
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Lavação de Lã
Minha avó, Maria Elisa, lavava e secava a lã, de modo muito rudimentar, no inícios, nas priscas eras do Artesanato Gramadense. Nem sei se chamava assim naquele tempo.
Atrás dela, "Seu Joanão", um Preto velho, que tomava conta do jardim. Pensa numa alma generosa e gentil: era ele. Era Negro, mas tinha sotaque carregado no italiano, pois foi filho adotivo de italianos da colônia
Elisabeth então contratou pessoas com certo refinamento, para colocá-las à frente do atendimento aos visitantes. Tais colaboradores, Elisabeth recusava-se de chamar de “vendedores”, mas os chamava de “Recepcionistas”.
As pessoas recebiam nas fábricas, o seu salário, e era tudo. Os Rosenfeld inovaram, pelo menos lá. Os colaboradores recebiam religiosamente a cada quinze dias, uma parcela do salário, e recebiam ainda, um adicional, um prêmio coletivo pelo desempenho do grupo, ao que chamavam de “Gorjeta”. Assim, enquanto existiu o Artesanato Gramadense, sob a direção dos Rosenfeld, e ainda depois, pelo casal Rubim, pagava os melhores salários da categoria na cidade.
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De tempos em tempos, era oferecido um churrasco coletivos, extensivo às famílias, e mais que uma confraternização, todos recebiam prêmios por merecimento.
Estes eventos eram oportunidades culturais, ao que, ao longo do crescimento, e da construção de mais prédios, formando quase uma vila, Elisabeth construiu um, em especial, que chamou de “Teatrinho”. Todas as unidades recebiam nomes, mas o “Teatrinho” era um teatro em miniatura, com direito à coxia, palco, e auditório.
A Torre
Era costume, que as casas tivessem uma despensa de alimentos, reservada para conservas e estoque de cereais, bebidas e outros alimentos menos perecíveis, antes da popularização dos mercados, e dos congeladores domésticos. Assim, compotas e doces de frutas, conservas em vinagre e sal, ou mesmo secos, eram guardados em locais menos acessíveis, ao dia a dia da lida na cozinha.
Elisabeth tinha um lugar assim. Ficava no porão da torre da caixa d’água, que tinha um quartinho onde eram guardadas ferramentas de jardim, e no chão, um alçapão discreto, dava lugar ao porão, onde estava guardado um tesouro de especiarias e guloseimas.
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Para comprar o livro, com 99 histórias hilárias sobre Gramado, clique na imagem acima Foram os netos dos Rosenfeld, Ricardo e Mônica, meus amiguinhos de infância, quem me enveredaram para o mundo da bandidagem, que ingressei para o mundo do crime, cujo alvo era o porão das compotas. Traçávamos muitos planos, uso de máscaras, lanterna, mapas, para efetuarmos a abordagem aos calabouço onde eram feitas prisioneiras as latas e os vidros de conserva, que ansiavam por sua libertação, pelos valentes cavaleiros da comilança. Na verdade, isso foi feito apenas uma, talvez duas vezes, pois o serviço de contraespionagem e a segurança do complexo, denunciaram nossas investidas, após descobrirem vidros abertos, e comprovarem por especialistas, que ratos não tinham tecnologia para abrirem “Vidros-Veeck” com os dentinhos. Assim, para frustração de nossos planos criminosos, foi nos oferecida a oportunidade para que nos servíssemos, à vontade, na dispensa convencional da cozinha de Dona Elisabeth. Paciência. Vida que segue. O crime perdeu talentos valiosos.
Cortesia de Rodrigo Parissenti
Esta placa em mosaico, moldada com pedras de ametista (garimpadas em Gramado), tacos de madeira, pastilhas de construção, e desenhos, retrata os primeiros trabalhos de Elisabeth, que sempre contou com auxiliares em suas obras. A placa ainda está fixada na parede de um dos prédios em ruínas.
Todos os retratados ali, existiram de fato, e eu sou aquele agachadinho com uma carda de abrir lá, dentro de uma gamela.
Os Artesãos
Eu nunca tinha ouvido a palavra “Artesanato”, até então, assim como também desconhecia a palavra “Atelier”, “Tear” Mosaico”, e até “Doce de Leite”, senão quando passei a frequentar o círculo social e cultural de Elisabeth Rosenfeld.
Mais que fazer arte ou artesanato, Elisabeth motivava as pessoas a que se tornassem hábeis e também criativos. Grande parte da arte que ela trouxe ao mundo, dizia respeito às pessoas. Onde muitos viam pobreza, Elisabeth viu pessoas. Onde muitos viam pessoas, Elisabeth viu talentos. Onde muitos viam talentos, Elisabeth viu um futuro. E as pessoas abriram os olhos e viram oportunidades.
Assim, Elisabeth demonstrava em sua obra, nos desenhos, nos entalhes, nos mosaicos, grafias pictóricas antropomórficas, onde o Homem e o Ambiente se mesclavam. O painel ao lado, ainda existe, colado sobre uma parede de um dos espaços, hoje em ruínas, que mostra o dia a dia de seu trabalho de artesanato, e as pessoas que participavam dele.
O menino agachadinho, cardando lã, era eu. Na bancada, estavam, ela própria, pintando, e nos teares acima, basta saber quem eram as primeiras colaboradoras, que seus nomes estarão ali, e assim com os escultores, os marceneiros, e os fiadores de lã para os teares.
A vida social de Elisabeth e Erich Rosenfeld
Não quero dar "spoiler"! aqui, pois sei que ainda contarei muitas histórias mais sobre estes visionários.
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Elisabeth era uma excelente amazona, com muitos prêmios de equitação.
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo RosenfeldElisabeth em sua casa, no Caracol,. anterior à propriedade de Gramado (no Artesanato Gramadense).
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Elisabeth em seus passeios, desbravando as matas
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Arte e cavalos. Ah sim, tinha música e literatura também. Sempre elegante, esta era Elisabeth.
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
ESSA foto ME representa! essa era a Elisabeth que conheci. Gostava de gente do povo. não tinha frescura
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Pense num casal elegante, nobre, aristocrático, e de uma simplicidade luxuosa: Elisabeth e Erich Rosenfeld
E agora, a notícia triste
Triste ocaso do descaso
Atualmente o patrimônio do que restou do Artesanato Gramadense, encontra-se, não apenas em ruínas, mas em interminável litígio judicial por conta de uma sequência de gestões desastrosas depois que mudou de mãos, não sei dizer em que período isso aconteceu, exatamente.
Uma lástima. Eis um tesouro com histórias, que está se desmanchando pela falta de conhecimento.
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
Fotos: Pacard
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Pacard, autor
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