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domingo, 21 de novembro de 2021

ARTESANATO GRAMADENSE, de Elisabeth e Erich Rosenfeld em GRAMADO de priscas eras

Artesanato Gramadense

Este lugar e bem mais que uma lembrança arquitetônica, que nem estilo tem, senão algumas caixas de tijolos cobertas com telhas de fibrocimento. A questão não é o estilo, mas o conteúdo, que povoa a memória de quem passou por lá, e a falta de memória de quem não o conheceu.

No início dos anos 60, chegaram à Gramado, os alemães, imigrantes, Elisabeth e Erich Rosenfed. Ela, artista plástica, premiada, e ele, funcionário de uma Cia. Alemã de tecnologia. Eis o que relata Dr. Ricardo Rosenfeld, neto do casal:


"Oi Paulo. Minha avó-drasta, 2a esposa de meu avô, nasceu em 20/10/1907, na cidade de Flensburg. Batisada com o nome de Elisabeth Redlefsen Schaberg. Quando casou com meu avô ficou apenas Elisabeth Rosenfeld. Abraço."

Eram proprietários das terras. Na localidade do Caracol, inclusive onde fica a Cascata, e venderam, comprando a terra de Gramado, que tinha cerca de 100 metros de frente, talvez mais, por cerca de um quilômetro, no sentido norte. Havia mato, arroio, cascata, campo, aclives e depressões, e sobre o alto de uma colina, construíram a casa, que se vê, aos fundos. 

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Elisabeth, tinha um Fusca branco, e Erich, passeava com seu elegante Simca Chambord, pela cidade, além de seu inseparável cachimbo, que denunciava sua presença simpática, por onde passava.

Elisabeth era muito brincalhona, e adorava passar trotes, no dia primeiro de abril. Era generosa, e conheço relatos e testemunhos de pessoas a quem ela estendeu a mão, até mesmo financeiramente. Adorava contar histórias, especialmente as histórias vividas por pessoas de suas relações, que vieram para o Brasil, fugindo dos horrores da guerra. Eram pessoas cultas.  Lembro de um piano de meia cauda, preto, que foi vendido para um médico local, e substituído por outro de quarto de cauda, muito lindo, que ficava na sala da casa.

Elisabeth Rosenfeld

Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Logomarca do Artesanato Gramadense. 
Cortesia de Cezar Augusto Nerys de Oliveira


Ao Tear, Elisabeth Rosenfeld, e atrás, à direita, Ilse Bohn
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Eu desconheço a razão, mas estas são algumas dentre as raras fotografias que mostram Elisabeth, e não é por falta delas, pois bem recordo que ela gostava de fotografar e ser fotografada no seu cotidiano. Enfim, uma lástima, que tenha se sublimado nos espólios, o remanescente material e memorial destas pessoas e lugar. Apelo então `minha, e de outrem, memórias, para alguns pitorescos.
Sou bastante grato aos netos de Erich e Elisabeth, meus queridos amigos desde a infância, Ricardo e Mônica Rosenfeld, por cederem estas imagens.

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Gramado era já visitada por pessoas de diversos lugares, especialmente Porto Alegre, e São Paulo. Não posso deixar de mencionar que o Instituto Balneo Lodoterápico, da família Nelz, contribuiu para a internacionalização da cidade. Mas sobre estes, falarei em outro capítulo.
1 - Lucinda Parissenti
2 - Manoelina
3 - Nelda Pante
4 - Elisabeth Rosenfeld
5 - Remi galgaro
6 - Nelson Tegner
7 - Luis Brombatti
8 - Carmen Tegner
9 - Irene Grade
10 - Luis Parissenti (João canela)
11 - Erich Rosenfeld
12 - Iraci Gross
13 - Iracema Lüdtke
14 - Marlene Bohn
15 - Elvira Nienow
16 - ...???
17 - Ivo Schaumlöeffel
18 - Ivo Niclotti
19 - Fioravente Brombatti
20 - Valmor Benetti (Flechinha)
21 - Lucinda Bohn 
22 - Nelsi Pimel (Morena)
23 -Marlene Bohn
24 - Ilse Bohn
25 - Eronita Galgaro
26 - Sebastiana de Oliveira
27 - Irani Gross
28 - Rita
29 - Nailor Benetti
30 - Gelson Oliveira Rodrigues (Pelé)
31 - Dinah Teresa Rodrigues dos Santos
32 - Teresinha Pimel (Zita)
33 - Elida de Moura
34 - Lucide Pimel
35 - Lucinda Bohn
36 - Irma Rossa
37 - Nadi Rodrigues dos Santos
38 - Angelina Muraro

Quando começou, Elisabeth tinha um pequenino atelier na garagem do chalé onde morava. Logo, percebeu que precisava ampliar suas possibilidades criativas, e construiu um pequeno atelier (aliás, foi a primeira vez que ouvi palavras como: Mosaico, Atelier, e Artesanato). Neste atelier, contratou um especialista em fornos, um tal de Olímpio, e com ele, veio um assistente, o Nelson Tegner. Olímpio terminou a tarefa, e foi embora. Mas Nelson ficou, e ficou tanto tempo, que muitos anos depois, bem de vida, já, comprou a propriedade particular onde moraram Elisabeth e Erich (ou Erico) Rosenfeld.
O negócio de cerâmica não prosperou, pois já havia uma amiga de Elisabeth, uma senhora egressa de um campo de prisioneiros pelos nazistas, chamada Wanda Duczynka (Não sei se é assim que se escreve), ceramista, e nunca irei saber, mas quero presumir que Elisabeth não quis promover concorrência com a amiga.
Amigos, aliás, não faltava aos Rosenfeld. Logo, foi construída a casa maior, e o chalé, passou a ser a casa de hóspedes, onde os Rosenfeld recebiam artistas, eruditos, de Porto Alegre e São Paulo. Alguns também da Alemanha. 
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Foto à esquerda, acima: Orlando Alves de Moraes
Foro à  esquerda, abaixo: Samuel Isaac Cardoso (Desconheço quem está à sua direita, atrás)
Foto acima à direita, sentido horário: Angelina Muraro, Elvira Nienow, e Maria Elisa Dias Cardoso. Atrás, de pé, Samuel Isaac.
Foto do meio: Ilse Bohn
Foto menor, abaixo: Reconheço Maria Elisa, Elvira e Samuel. Não identifico os demais.

Elisabeth comprou um Tear de madeira para tecer tapetes de lã, que era comprada dos fazendeiros de São Francisco de Paula, mas a lã chegava suja, da mesma forma que era tosada, assim, precisava ser lavada, e era minha avó, maria Elisa, quem fazia esse serviço.


Esta é uma imagem de internet, mas os teares eram bastante similares à estes

No terreno dos fundos da casa, um imenso gramado, bem cuidado, que terminava numa mata e esta estendia-se até à rua dos Abraão, que hoje, liga o Bairro Moura ao Dutra.
O cidadão ao fundo, era o Seu Joanão, um preto velho que tinha carregado sotaque de italiano. Uma criatura de doçura e mansidão, que jamais vi igual. Sempre sorrindo, conversava com simplicidade, e cuidava daquele jardim como se cuida de uma criança. Seu Joanão tinha um filho adotivo, Alcindo Portulan, que foi marceneiro no Artesanato Gramadense.


O tear foi a sensação da vizinhança, que se amontoava à porta do pequenino atelier, já ampliado, para acomodar a engenhoca, jamais vista por aquele povo (eu também era daquele povo). Uma especialista, vindo de São Paulo, Dona Carla Blum, foi encarregada de montar o tear, e treinar pessoas para a nova atividade do já afamado atelier de Elisabeth Rosenfeld.
 O trabalho era reconhecido, e a cada dia apareciam mais pessoas dos arredores, oferecendo seus préstimos serviçais à “Dona Rosenfela”, como diziam os mais símplices, que tinham um certo brilho no olhar, ao vislumbrar um emprego, um aprendizado para os filhos, e um futuro mais digno para a família.
E o Artesanato só crescia. O estacionamento, externo, cascalhado, ficava abarrotado de carros, com placas de Porto Alegre, Caxias do Sul, Novo Hamburgo. Os negócios prosperavam, e Elisabeth descobriu um modo de permitir que seus colaboradores também prosperassem.

Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Elisabeth não era envolvida em política, mas era bem relacionada com a alta sociedade civil e militar.
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld

Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld

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Lavação de Lã

Minha avó, Maria Elisa, lavava e secava a lã, de modo muito rudimentar, no inícios, nas priscas eras do Artesanato Gramadense. Nem sei se chamava assim naquele tempo.
Atrás dela, "Seu Joanão", um Preto velho, que tomava conta do jardim. Pensa numa alma generosa e gentil: era ele. Era Negro, mas tinha sotaque carregado no italiano, pois foi filho adotivo de italianos da colônia


Elisabeth então contratou pessoas com certo refinamento, para colocá-las à frente do atendimento aos visitantes. Tais colaboradores, Elisabeth recusava-se de chamar de “vendedores”, mas os chamava de “Recepcionistas”. 

As pessoas recebiam nas fábricas, o seu salário, e era tudo. Os Rosenfeld inovaram, pelo menos lá. Os colaboradores recebiam religiosamente a cada quinze dias, uma parcela do salário, e recebiam ainda, um adicional, um prêmio coletivo pelo desempenho do grupo, ao que chamavam de “Gorjeta”. Assim, enquanto existiu o Artesanato Gramadense, sob a direção dos Rosenfeld, e ainda depois, pelo casal Rubim, pagava os melhores salários da categoria na cidade.

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De tempos em tempos, era oferecido um churrasco coletivos, extensivo às famílias, e mais que uma confraternização, todos recebiam prêmios por merecimento.

Estes eventos eram oportunidades culturais, ao que, ao longo do crescimento, e da construção de mais prédios, formando quase uma vila, Elisabeth construiu um, em especial, que chamou de “Teatrinho”. Todas as unidades recebiam nomes, mas o “Teatrinho” era um teatro em miniatura, com direito à coxia, palco, e auditório.














A Torre
Era costume, que as casas tivessem uma despensa de alimentos, reservada para conservas e estoque de cereais, bebidas e outros alimentos menos perecíveis, antes da popularização dos mercados, e dos congeladores domésticos. Assim, compotas e doces de frutas, conservas em vinagre e sal, ou mesmo secos, eram guardados em locais menos acessíveis, ao dia a dia da lida na cozinha.

Elisabeth tinha um lugar assim. Ficava no porão da torre da caixa d’água, que tinha um quartinho onde eram guardadas ferramentas de jardim, e no chão, um alçapão discreto, dava lugar ao porão, onde estava guardado um tesouro de especiarias e guloseimas.

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Foram os netos dos Rosenfeld, Ricardo e Mônica, meus amiguinhos de infância, quem me enveredaram para o mundo da bandidagem, que ingressei para o mundo do crime, cujo alvo era o porão das compotas. Traçávamos muitos planos, uso de máscaras, lanterna, mapas, para efetuarmos a abordagem aos calabouço onde eram feitas prisioneiras as latas e os vidros de conserva, que ansiavam por sua libertação, pelos valentes cavaleiros da comilança. Na verdade, isso foi feito apenas uma, talvez duas vezes, pois o serviço de contraespionagem e a segurança do complexo, denunciaram nossas investidas, após descobrirem vidros abertos, e comprovarem por especialistas, que ratos não tinham tecnologia para abrirem “Vidros-Veeck” com os dentinhos. Assim, para frustração de nossos planos criminosos, foi nos oferecida a oportunidade para que nos servíssemos, à vontade, na dispensa convencional da cozinha de Dona Elisabeth. Paciência. Vida que segue. O crime perdeu talentos valiosos.

Cortesia de Rodrigo Parissenti

Esta placa em mosaico, moldada com pedras de ametista (garimpadas em Gramado), tacos de madeira, pastilhas de construção, e desenhos, retrata os primeiros trabalhos de Elisabeth, que sempre contou com auxiliares em suas obras. A placa ainda está fixada na parede de um dos prédios em ruínas.
Todos os retratados ali, existiram de fato, e eu sou aquele agachadinho com uma carda de abrir lá, dentro de uma gamela.

Os Artesãos
Eu nunca tinha ouvido a palavra “Artesanato”, até então, assim como também desconhecia a palavra “Atelier”, “Tear” Mosaico”, e até “Doce de Leite”, senão quando passei a frequentar o círculo social e cultural de Elisabeth Rosenfeld.

Mais que fazer arte ou artesanato, Elisabeth motivava as pessoas a que se tornassem hábeis e também criativos. Grande parte da arte que ela trouxe ao mundo, dizia respeito às pessoas. Onde muitos viam pobreza, Elisabeth viu pessoas. Onde muitos viam pessoas, Elisabeth viu talentos. Onde muitos viam talentos, Elisabeth viu um futuro. E as pessoas abriram os olhos e viram oportunidades.

Assim, Elisabeth demonstrava em sua obra, nos desenhos, nos entalhes, nos mosaicos, grafias pictóricas antropomórficas, onde o Homem e o Ambiente se mesclavam. O painel ao lado, ainda existe, colado sobre uma parede de um dos espaços, hoje em ruínas, que mostra o dia a dia de seu trabalho de artesanato, e as pessoas que participavam dele.

O menino agachadinho, cardando lã, era eu. Na bancada, estavam, ela própria, pintando, e nos teares acima, basta saber quem eram as primeiras colaboradoras, que seus nomes estarão ali, e assim com os escultores, os marceneiros, e os fiadores de lã para os teares.

A vida social de Elisabeth e Erich Rosenfeld
Não quero dar "spoiler"! aqui, pois sei que ainda contarei muitas histórias mais sobre estes visionários.

Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Elisabeth era uma excelente amazona, com muitos prêmios de equitação.
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Elisabeth em sua casa, no Caracol,. anterior à propriedade de Gramado (no Artesanato Gramadense).

Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Elisabeth em seus passeios, desbravando as matas
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Arte e cavalos. Ah sim, tinha música e literatura também. Sempre elegante, esta era Elisabeth.

Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
ESSA foto ME representa! essa era a Elisabeth que conheci. Gostava de gente do povo. não tinha frescura
Arquivo de família Rosenfeld - Cortesia, Mônica e Ricardo Rosenfeld
Pense num casal elegante, nobre, aristocrático, e de uma simplicidade luxuosa: Elisabeth e Erich Rosenfeld

E agora, a notícia triste
Triste ocaso do descaso
Atualmente o patrimônio do que restou do Artesanato Gramadense, encontra-se, não apenas em ruínas, mas em interminável litígio judicial por conta de uma sequência de gestões desastrosas depois que mudou de mãos, não sei dizer em que período isso aconteceu, exatamente.
 Uma lástima. Eis um tesouro com histórias, que está se desmanchando pela falta de conhecimento.

Fotos: Pacard

Fotos: Pacard
Fotos: Pacard


Fotos: Pacard

Fotos: Pacard

Fotos: Pacard

Fotos: Pacard

Fotos: Pacard

Fotos: Pacard



Fotos: Pacard

Fotos: Pacard

Fotos: Pacard







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Pacard, autor
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2 comentários:

Paulo Fontoura disse...

Paulinho, obrigado por compartilhar suas lembranças, mesmo não tendo vivido essa época, fui tomado de profunda emoção pela beleza dessa história e por perceber o quanto esse casal enriqueceu e determinou o que Gramado viria a ser!!! Parabéns pela clareza e simplicidade do relato!!! Muito embora não te conheça pessoalmente, virei teu fã!

Ille Vert disse...

Emocionado por suas palavras, meu amigo.
Compartilhe e divulgue, por favor
Um abraço
Pacard

AHAVÁ - Ser amado é ordem Bíblica? Não!

Acredito, por ouvir falar, pois não sou psicanalista ou assemelhado, que a frase mais ouvida nestes consultórios seja essa: "Eu não sou...