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quarta-feira, 8 de julho de 2020

E se der tudo certo? - A teoria do seixo no sapato


O que significa dizer que algo é uma Pedra no sapato? - Dicionário ...


Imagem: internet
"Esteja preparado para os dias difíceis", diziam os antigos. Durante toda a vida, somos alertados para as consequências das falhas. Tornamo-nos especialistas em expectativa de fracasso. Somos mestres em espremer o tubo de pasta até ver o fundo saindo pelo bico. Temos plano para todas as falhas, e até nome ele tem: Plano "B". Mal nos preparamos para o plano "A", já sabemos que se der tudo errado, o plano "B" é a saída. Pois é. Mas, que plano vamos seguir se, por uma fatalidade, o plano"A" funcionar, se o tempo todo trabalhamos pelo sucesso, esperando pelo fracasso?

Acho que este é o caco de vidro entre o sapato e o piso vitrificado, que range tão alto, mas não passa de um grão de areia que se apegou à nós, ao ter sido pisado. Temos grãos de areia por tudo onde passamos, que incomodam mais os ouvidos, do que o chão que é pisado.

Outro incômodo grande é um pequenino, quase milimétrico seixo, dentro do nosso sapato. Não é uma grande pedra na nossa cabeça, nem uma montanha que temos que subir. É apenas um seixo, entre o pé e o sapato. Pequeno, mas que governa nosso caminhar. Determina o modo que devemos pisar, e se não for removido dali, nossa caminhada terminará em breve tempo.

Não são as grandes coisas que nos assustam, mas as pequenas que se colocam em lugares estratégicos de nossa vida. Os Homens aterram lagos, constroem represas, dominam rios e até o mar, em alguns trechos. Enganam as profundezes, com pequenas embarcações que flutuam, planam sobre as ondas, e usam o mar como caminho. No ar, constroem gigantescas aeronaves, capazes de transportar de um lado a outro do mundo, a terra removida das montanhas. Tudo isso o Homem é capaz de fazer. Tudo é calculado, medido,  preparado para grandes vitórias. Exceto o grão de areia entre o sapato e a porcelana, ou o milimétrico seixo entre o pé e o sapato. Estes não foram e nunca serão dominados.

Assim, se tudo der certo, se as montanhas forem aplanadas, os outeiros nivelados, ainda assim, restará o que não vemos, mas sentimos, mas só sentimos quando não há mais montanhas a galgar, nem mais mares por dominar, porque teremos novamente o domínio sobre o que é menor, e seremos nós, os gigantes incomodados pelo que é menor, infinitamente menor que nós. Como um vírus, por exemplo. A pedra do nosso sapato, a areia sob nossos pés, mas que nos fazem lembrar do quanto pensávamos que éramos fortes, e descobrimos quão estúpidos nos tornamos.

E se der tudo certo, ao final de tudo? Aí passaremos a procurar grãos de areia e seixos, e novamente vamos nos esquecer quem somos: Os que desmancham montanhas, atravessam o Universo, mergulham nos mares, que matam crianças, que roubam dos pobres, e perguntam, por fim: Onde foi que os outros erraram?


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