Foto: JornalJA
Débora Irion: Uma Artista Completa e Inspiradora
Em algum lugar no tempo, nas terras do coração do Rio Grande do Sul, nasceu uma das artistas mais talentosas e completas que já tive o privilégio de conhecer: Débora Irion. Natural de Santa Maria, foi em Gramado, na encantadora estância da Encosta Superior da Serra Gaúcha, que nossos caminhos se cruzaram. Desde sua chegada à cidade, em 1985, Débora trouxe consigo uma presença marcante: educada, gentil, bela e dotada de um talento singular.
Nos primeiros anos em Gramado, ela revelou sua habilidade na decoração de interiores, área em que fomos contemporâneos e colegas de profissão. Nunca rivais, mas sim amigos respeitosos, compartilhamos o apreço pela criação e pela beleza. Durante um período, a vida a levou a se dedicar intensamente à família, acompanhando o crescimento de seus dois talentosos filhos, Bruno e Lucas — um deles, aliás, teve o bercinho desenhado por mim, um privilégio que guardo com carinho, embora o nome exato me escape. Nesse tempo, Débora mergulhou em um silêncio reservado, típico dos grandes poetas e artistas, um recolhimento que preparou o terreno para sua verdadeira vocação.
E então, como uma fênix, ela ressurgiu. A Débora decoradora deu lugar à Débora artista plástica, ceramista, escultora, pintora e criadora de espaços que transpiram beleza e poesia. Com formas, volumes e cores, ela começou a conquistar Gramado e todos aqueles sensíveis o suficiente para apreciar algo novo, bem feito e profundamente expressivo. Sua arte fala sem palavras, transmitindo vida, emoção e harmonia. Débora presenteou Gramado — e o mundo — com um legado que transcende o comum.
Uma Trajetória de Impacto
Formada em Desenho e Plástica pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 1985, Débora trilhou um caminho diversificado e rico. Entre 1986 e 1997, atuou como decoradora de interiores e designer de móveis, mas foi a partir de 1998 que se dedicou plenamente à escultura, explorando materiais como terracota, resina, alumínio, aço corten e bronze. Sua versatilidade também a levou a atuar como gestora cultural, curadora e restauradora, sempre com um compromisso inabalável com a arte e a comunidade.
Por alguns anos, ela emprestou seu talento ao poder público, assumindo a gestão do Patrimônio Cultural de Gramado. Nesse período, prestou serviços valiosos à cidade, mas nunca abandonou sua essência criativa. Mesmo dividindo o tempo entre a família e os desafios da vida, Débora multiplicou suas horas, recusando-se a deixar seus dons adormecidos. Sua trajetória só cresce em significado e reconhecimento.
Com oito exposições individuais e mais de duzentas coletivas, sua obra ganhou projeção nacional e internacional. Premiada em cidades como Santa Maria, Gramado e Canela, recebeu menções honrosas no México, Colômbia, Peru e em sua terra natal. Suas esculturas e criações estão em acervos de museus, universidades e espaços públicos, de Gramado a Porto Alegre, de Santa Maria a países como Colômbia, México, Argentina, Chile, Equador, Peru, Costa Rica, Estados Unidos, Canadá, Irlanda, França e Portugal. Destaque especial para sua participação no Salon D’Art Contemporain Carrousel do Louvre, em Paris, entre 2017 e 2019, que a incluiu no catálogo internacional de artistas.
O Processo Criativo
Débora descreve seu processo criativo como um diálogo íntimo com o mundo ao seu redor. “Observar, sentir e pensar sobre o meio que me cerca e tudo o que movimenta a natureza” é o ponto de partida. A partir daí, imagens mentais ganham vida em esboços diretos na matéria tátil — a argila, que pode se transformar em resina ou metal. Em um momento de concentração e introspecção, os sentimentos se materializam em formas tridimensionais, brincando com o espaço, os volumes, os vazios, a luz e a sombra.
Para ela, a escultura é “o desenho em pleno voo ao ar livre”, uma conversa entre maciços e vazados, planos e curvas, relevos e texturas. É a alquimia entre terra, água, ar e fogo que dá vida às suas criações, peças que se complementam e convidam o espectador a participar dessa experiência sensorial e poética.
Contribuições Visíveis
A presença de Débora em Gramado é palpável em obras públicas que embelezam a cidade. Entre elas, destacam-se o Marco Histórico do Centenário da Igreja São Pedro Apóstolo (2015), o troféu Cosmos do evento Gramado in Concert, o troféu Marília Daros da Câmara de Vereadores (2016) e o Memorial ao Centro Esportivo Gramadense (2021). Fora de Gramado, suas criações também brilham, como a escultura Natal Gaúcho em Santa Maria (2012) e o painel Justiça em Porto Alegre (2010).
Um Reconhecimento Merecido
Há muito eu desejava dedicar estas palavras à minha amiga e artista, testemunhando seu talento ímpar. Faço isso agora, por justiça e admiração. Débora Irion não é apenas uma escultora ou pintora; ela é uma força criativa que transforma espaços, inspira pessoas e deixa um legado eterno. Gramado, o Rio Grande do Sul e o mundo são mais ricos por causa dela.
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