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segunda-feira, 6 de julho de 2020

O casulo e o novo mundo

Borboleta - ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais
Sempre fico impressionado com a natureza. Descubro que o nada que eu me achava ser, desaparece na ignorância das coisas simples que D-s criou, e eu não consigo compreendê-las como lógicas e naturais. 

Minha avó, Maria Elisa, dizia, em casos assim: "Eu não tenho alcance, meu filho!". Nem eu. Meu alcance é curto e meu entendimento beira entre o pasmo e o embasbacado. A borboleta, por exemplo. A borboleta.

Veja o caso da borboleta Monarca, que chega a viajar quase 4 mil quilômetros distante do lugar onde nasceu, para arrumar um namorado, e mais curioso ainda, é que o namorado viajou a mesma distância, no mesmo grupo, para encontrarem juntos "aquela árvore", e nela, encontrarem um juiz de paz que oficialize o enlace. E depois? Depois, arrumar as malas, esperar que mude a estação, pra fazer o caminho de volta, pois poucos dias depois, nasce a ninhada de taturanas. Falemos das taturanas. 

Taturanas são pequenos vermes, peludos, coloridos, venenosos,e que causam pavor e dor, se tocados. Rastejam pelo chão e devoram folhas, e sobem nas árvores. Estas são as taturanas. Um dia, cansam desta vida rastejante, e se empacotam em um casulo de seda, e lá permanecem um tanto de tempo.  Então, passado o tempo, o casulo se rompe, e um ser amorfo começa a sair, apertado, retorcido, sem beleza alguma, mas que também em nada lembra da taturana que ali entrou. O que teria acontecido com a taturana? Foi devorada pelo ser amorfo? Não se percebeu movimentos de luta no casulo. Não, não houve luta. Apenas silêncio. Nenhum movimento, senão para romper o tecido, e sair dali o quanto antes. Até que um dia...

Do ser amorfo e retorcido, ao raiar das primeiras luzes do amanhecer, levanta-se uma belíssima borboleta, de cores metálicas, e tatalar imponente, e em um bailado gentil bate as asas, e eleva seu bailado pelo horizonte.
Jardineiro é internado após contato com taturana - Portal Tri
Estou falando aqui apenas pelo aspecto secular, e não espiritual, embora eu ache certa dificuldade em separar um do outro, posto que se não fora o espírito, de nada valeria o corpo e a matéria. Se não houvesse um bailado de elétrons, não teríamos a sensação da luz. Isso dito, prossigo em minha digressão elucubrante, para exercitar a mente no comparativo ilustrativo entre o mundo, a pandemia, e nós, dentro dela, como taturanas famintas comendo o mundo, o tempo e a vida, até que chegou o entardecer e o casulo nos chamou para o sono das trevas. Passa a noite e vem o dia, e eis que nos reerguemos amorfos e retorcidos pela dor da reclusão, esticamos as asas, uma depois da outra, e partimos para o tatalar da esperança, o resplandecer da vida, o renascimento. Ainda não é o renascimento para a eternidade, mas há um certo espelho da eternidade, ilustrado pela distância dos amados, onde cada dia é uma centena de dias, onde cada anoitecer retrata a nova esperança do raiar próximo para uma nova vida.
Estamos dentro do casulo, e ainda não percebemos que há uma distância de milhares de quilômetros nos separando do próximo casulo, não nosso, mas daqueles que nos abrem caminho para o amanhecer. Falta pouco, muito pouco, podemos dormir um pouquinho mais.
FILHOS TRANSFORMANDO- SE EM BORBOLETAS E VOANDO…


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