Pacard - Designer, Escritor, e Artista, que tem nojinho de políticos vaidosos*
"E sucedeu que, estando Josué perto de Jericó, levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a ele, e disse-lhe: És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?
E disse ele: Não, mas venho agora como príncipe do exército do SENHOR.!
Josué, 5: 13-15
Mas e daí, que o título é grande? O texto é maior ainda, e a maioria não vai passar do primeiro parágrafo. Então, se quiser entender, leia tudo. Eu tive o trabalho de pensar e escrever. Você só precisa ler. Nem precisa gostar. Aí é pedir demais mesmo.
Longe de mim utilizar as Escrituras sagradas para iniciar uma reflexão sobre a percepção humana das ideologias em alta no tempo em que escrevo este pretenso raciocínio acerca da lógica e dos caminhos empregados pela dualidade da política mundial, a saber, "Direita ou Esquerda".
Vamos começar entendendo de onde vem estas expressões políticas de "Direita" e "Esquerda", que originaram-se durante a Revolução Francesa, onde os representantes monarquistas e conservadores sentavam-se à direita do presidente da Assembleia Nacional, enquanto os revolucionários e defensores da mudança social posicionavam-se à esquerda. Desde então, esses termos passaram a representar, respectivamente, ideologias conservadoras e progressistas em todo o espectro político.
Assim, o termo significava apenas que entre os grupos exestentes, seus participantes podiam optar em juntar-se aos seus pares, e desta forma, canalizar os debates com mais distinção, mas é importante lembrar que nesse tempo, não se debatia Socialismo, comunismo, versus capitalismo, economia progressista, e menos ainda a dicotomia amalgamada das religiões e dos religiosos que se mesclava, mas se debatiam questões políticas essencialmente, e exceto nos casos em que a Reforma Protestante começava a valer-se do poder político para estabelecer seus dogmas e valuidar suas crenças, de resto, debatiam-se excessos de impostos, guerras, casamento dos príncipes, direitos e deveres do povo, e outras questões. Mas de modo algum, Direita e Esquerda significavam coisa alguma, senão o lugar, no leiaute do Parlamento, onde um e outro grupo defendiam seus conceitos e se degladivam com o grupo ao lado contra os conceitos deles.
Fiz esta apresentação, para destacar que o que faço aqui não é crítica ou louvor a quem quer que seja, pois não me declaro ser de Esquerda, nem de Direita, antes, sou do Corredor estremecido, por onde perambulavam os serviçais a servir chá com sequilhos a um e outro grupo de parlamentares durante as sessões, portanto, sem direito a voto, opinião, ou manifestação. Me qualifico aqui como o escriba que, de seu cantinho em uma minúscula mesinha, com papel, pena e tinta, descreve o que vê e o que ouve, como água destilada: sem opinião, sem preferência, e sem raciocínio, para que os historiadores do futuro possam interpretar os fatos, tais como foram narrados, e nada mais que isso.
Em meu livre pensar ou curioso examinar, percebo que Direita e Esquerda de nossos dias, tem os mesmos propósitos: chegar ao poder para estabelecer seu modo de pensar, de administrar, de conduzir o Estado, e em Repúblicas Democráticas (aqui não vou me ater às ditaduras, que são a falta de expressão e raciocínio acerca do desejo do Bem Comum, mas apenas o hedonismo e o limite da loucura a serviço do poder desenfreado, onde nem Direita, Nem Esquerda tem voz, senão apenas eco, seja por ambição, seja por medo, daquilo que vociferam seus ditadores. Então, pretendo permanecer na análise comportamental de proselitismo das duas correntes ideológicas, sem dar a nenhuma delas mérito ou demérito, senão apenas analisar as práticas desse comportamento.
1 - Mentes ou Corações?
Ambas as ideologias sabem que para chegar, e também manter-se no poder, necessitam destes dois ingredientes: Sentimento e Razão. E uma e outra, trabalham incansavelmente estes conceitos para alcançaram a smpatia das massas humanas, que como toda e qualquer massa, são irracionais, um conjunto de dominós, que visto de costas, são apenas pequenos tabletes de material duro, de cor branca ou marfim, e que em uma das faces, tem estampadas sequências de bolinhas, que somam de Zero a Seis, e quando um conjunto encontra seu similar, o jogador tem a seu favor a possibilidade de se desfazer de suas demais peças, à medida em que mais e mais sequências iguais estejam disponóveis no tabuleiro, e assim, quem primeiro esvaziar a mão, vence o jogo. Na arregimentação de prosélitos não é diferente. As bolinhas das peças são os valores da ideologia, e à medida em que mais rapidamente o jogador consegue implementar todas as suas possibilidades, isto é, todos os cunjuntos de bolinhos, ou todo o conjunto de propostas políticas para a felicidade do povo, proporcionada pelo Estado, esta ideologia estará à frente do jogo, e possivelment, vencerá a partida. E quando, eventualmente, o opositor se descontenta com o resultado do jogo, dá um tabefe na mesa, espalhando todas as peças, e encerra o jogo ali. Na política, isso é chamado de "Golpe de Estado". Então, o opositor não aceita tal imposição, arregimenta forças simpatizantes, e parte pro revanche, derrubando mesas, quebrando cadeiras, e, caso vença, faz o contragolpe, e dentro da política, novamente, estabelece seu governo, que pode ser de Direita ou de Dsquerda, a princípio, mas nesse ponto da partida, deixou de ser um governo e passou a ser uma Ditadura. É raro, mas contece muito.
Ocorre que embra ambos os grupos estejam sintonizados com os modernos conceitos de marketing político, com recursos de profissionais das Ciências Sociais, da Psicologia, do Direito, da economia, de todo tipo de especialistas no comportamento humano sozinho ou em grupo, isso tudo se resume apenas em estratégias, o modo de aplicação dos conceitos nas mentes e nos corações das massas, mas a Tática, isto é a matriz conceitual de cada ideologia, continua sendo a mesma desde seus idealizadores modernos após a queda da Bastilha e da revolução Francesa, se encaixando com a Revolução Americana, que resultou na Independência dos estados Unidos, de sua matriz Britânica, ambas impulsionadas pelo mesmo embrião Maçon, que embora representasse o proletariado (à época, chamados de Burgueses, pois viviam e progrediam nos Burgos, nas pequenas cidades, um meio do caminho entre a côrte e o Campo),os construtores buscavam preservar os segredos de seus ofícios até com a própria vida, protegendo a si e aos seus, da curiosodade gananciosa dos governantes. Porém, tanto os Maçons, quanto alguns grupos mais eruditos que circundavam o cenário político da época, não estavam muito interessados em prosélitos, senão em tempos de crise, em que havia necessidade de tomar àrmas para derrubar os governantes, mas feito isso, quando logravam sucesso, lá se instalavam outros governantes, que ao passar dos dias, voltava às mesmas más práticas dos antecessores, especialmente no tocante à crueldade humana. Se estudarmos a história de Charles I versus Oliver Cromwell, na Inglaterra, veremos que os revolucionários decapitaram o Rei, com seus salamaleques rococós e voltinhas arcaicas, em impuseram o minimalismo em tudo: arquitetura, vestuário, linguajar, e até nos excessos do corpo, cujos desafetos passavam por uma avaliação médica, e caso tivessem cabeças a mais que o necessários, estas eram cortadas para equilibrar a nação. Enfim, sai de um Estado católico, isto é, subserviente à Igreja, e entra numa nação livre, contanto que pense igual à nova doutrina Protestante, que, ainda que cortasse cabeças, deixava as pessoas livres para acreditar como quisessem, contanto que fossem Protestantes. Ainda assim, fez evoluir algumas coisas, como: O fim das detenções arbitrárias; O consentimento do parlamento para todos os impostos; A proibição do aboleto de militares em casas privadas; A proibição da lei marcial em tempo de paz, entre outros.Mas ainda assim, embora hoje talvez se conceituasse desse modo, ainda não se chamavam Esquerda nem Direita. E o proselitismo se dava mais pelo estômago, do que pelo Cérebro ou Coração.
2 - Método de Proselitismo
Chegando no presente, após a conceituação de Proletariado e Burguesia (aqui Burguesia já denota Capitalismo selvagem), seus ideólogos e simpatizantes, começavam os primeiros movimentos, era necessário encontrar formas de não apenas fazer chegar a mensagem às massas, às quais gostavam de adjetivar como "Proletários", como também garantir que tais mensagens seriam absorvidas, aclamadas, e colocadas em prática, para que as "revoluções" acontecessem. Assim, de posse de panfletos apócrifos (de origem autoral oculta), sob a luz bruxuleante de lamparinas, em cantos cheirando a mofo das pocilgas insalubres, as palavras de ordem expondo as mazelas dos burgueses, dos patrões, dos imperialistas, as filipetas se assenhoreavam da pálida vela, e multiplicavam seu fulgor, fazendo com que brilhassem os olhos dos sofridos leitores, pois tais palavras impressas em porões, traduziam aquilo que o povo simples, as gentes humildes, precisavam ler, ouvir, e repetir, e desta forma, de panfleto em panfleo, de cartilha em cartilha, cresciam os movimentos revolucionários populare, denominados então, de "Esquerda", porque representavam os "Comuns, o povo", por isso, "Comunistas".
Até então, não havia nenhum tipo de movimento denominado de "Direita", uma vez que seus representantes, a classe média mais abastada, e os ricos, não sentiam necessidade alguma de rebelar-se, ou ao menos, defender-se de nada ou ninguém, pois eram estes que, segundo os denfensores da "Esquerda", simbolizavam a opressão e a tirania. E foi assim que, enquanto o proletariado, uma amálgama entre trabalhadores braçais, com as mãos calejadas, se uniram com os intelectuais, e dentre desses, os eruditos das Ciências Humanas, principalmente, e os artistas de diversas correntes, se uniram e emprestaram suas qualificações acadêmicas e culturais, científicas, para organizar conceitos, e capacitar, doutrinar, adestrar, segundo pensamento mais agressivo, as mãos ainda calejadas, mas já providas de um mínimo de argumentação dialética e cultural, para se organizarem, e debaterem em assembléias de Estado, agora como políticos de carreira, com votos, muitos votos, pois ainda que o direito ao voto tenha sido implementado por dominantes burgueses, tiveram estes o cuidado de evitar diferenciação de classes, exceto das mulheres, dos analfabetos, dos jovens abaixo de dezoito anos, de religiosos, de militares abaixo de determinados postos de comando, dos inválidos, dos idosos, enfim, apenas dos cidadãos "capazes", que sabiam ler e assinar o nome, podiam votar, mas ainda assim, diferente dos primeiros passos e da primeira Constituição escrita por D. Pdero I, onde ainda era exigido que fossem possuidores de terras, agora, voto era voto, e voto de pobre e rico, tinha o mesmo valor, e como sempre teve mais pobre do que rico nesse mundo (vamos ficar com o Brasil agora), então, os movimentos de massa centravam forças em conversar com estes votos, fazendo, ao longo dos anos, ampliar o direito ao votos, das categoarias que mencionei há pouco, e assim, voto de bilionário vale o mesmo tanto que voto de pensionista por aposentadoria, e foi nesse tempo que a classe não pertencente ao proletariado, ainda não denominada nem adjetivada por nada, começa a perceber que as folhas das videiras começaram a amarelar, avermelhar (desculpem pelo trocadilho) e por fim, despencarem dos ramos. Então, era momento de reagir, mas reação é uma resposta à ação, e quem tomou a iniciativa do primeiro tabefe numa briga, leva a vantagem da surpresa, e a surpesa estava a favor da Esquerda. E após mais de oitenta anos de construção, a Esquerda entende muito mais do que a Direita em matéria de comover seu público alvo. E qual é esta estratégia então? Ora, eu já contei qual é: falar ao coração, ao mesmo tempo em que se fala ao estômago, aos pés e às mãos, e recentemente, pelo grande incentivo de Gramsci, Focault e Beauvoir, falar à outros territórios da anatomia humana, falar dos prazeres, da brisa, do mar, da religiosidade cujos princípios comportamentais não sejam tão rígidos quanto aos conceitos de pecado, certo ou errado, falar da fome, enquanto se promete um mínimo que seja crível, transformar a linguagem para o senso comum, em lugar de falar em gestão da economia de modo macro, a propaganda da Esquerda fala especificamente de colocar feijão com carne e farinha, de tomar uma cervejinha no fim da tarde, enquanto as canções são capazes de tocar profundamente os corações, senão me digam, com sinceridade, quem nunca se emocionou, ouvindo Joan Baez ou os Olimareños, ao cantarem o hino em louvor ao assassino argentino, Che Guevara? Quem não conhece o tema e o personagem, se encanta e sai cantarolando junto. Ou quem, com um mínimo de cultura universal, não se emocionoi ao ouvir "L'Estaca" e repetir seu refrão: "Segur que tomba, tomba, tomba", com o cantor catalão, exilado pelo regime de Franco; ou o hino doos Partisans, "Bella Ciao"? E já do lado de Direita, aqui no Brasil, alguém lembra de uma canção tocante, emocional, que não esteja relacionada com as forças militares? Confesso que eu ainda encontro umas lágrimas ao ouvir o Hino Nacional Brasileiro, mas também medito profundamente, até choro, ao ouvir "Te Recuerdo Amanda", um hino de amor e dor, composta pelo mártir ativista Victor Jara, que foi assassinado em um campo de futebol, pelos fuzis dos militares argentinos, cujo crime era ensinar música e falar de liberdade aos campesinos de seu povo. E qual jovem que nos anos 70, não cantou, ao menos, secretamente: "Pra não dizer que não falei de flores", do cantor Geraldo Vandré?
Eu poderia gastar muitas páginas falando e dando exemplo de canções neste formato, que comoveram e moveram multidões em protestos políticos, notadamente menções diretas ou indiretas à movimentos e pensamentos políticos de Esquerda, mas não acredito que gastaria uma página exemplificando canções revolucionárias de Direita que estejam dissociadas de coturnos e baionetas, dentro da poesia política recente.
3 - Ação e Reação
O Movimento de Esquerda pautou pacientemente sua trilha e planejouo momento de amarrar os cavalos no obelisco por mais de oito décadas, e finalmente, está sedimentando seu projeto de poder, mais que projeto de transformação, enquanto a Direita vocifera e geme as dores das trapalhadas que comete, sem um vetor, sem um projeto, senão o de arregimentar multidões, e alcançar o poder, sem perceber que nenhuma transformação acontece em um único periodo de governo ou regime, mas são necessárias algumas gerações para que o pensamento de um e outro lado estejam sedimentados nas mentes, na ideologia, nos sonhos, e nos corações do povo. Não se faz uma revolução com armas nem com gritos, mas com sedimentação cultural, com objetivos a buscar, e me digam, qual objetivo é maior do que ver a geladeira abastecida, e comida farta na mesa da família? Pois isso a Esquerda sabe comunicar, e enquanto a Direita vocifera a preservação (absolutamente necessária) dos "Valores da Família", a Esquera deixa claro que sem comida na mesa não existe família. Essa é a diferença. Enquanto a Direita pensa grande (e pensa grande para a nação, sejamos justos), a Esquerda pensa pequeno, mas um pequeno realizável, pois tudo nessa linguagem é no diminutivo: Feijãozinho pra família, leitinho das crianças, um bifinho todo dia, uma escola comunitária (e todos sabem que comunidade tem que ser pequena pra funcionar), e assim por diante. E o que oferece a Direita, senão dar o primeiro chute pra que a Esquerda conduza o jogo com passes curtos até chegar ao gol?
Deixo claro que não sou simpatizante de nenhum dos lados, antes simpatizo com minha liberdade de viver, ir e vir, pensar, comer, ter fé, e existir, e quem me oferecer isso sem exigir meu sangue, ou de quem eu amo, sem exigir que u fira minha conduta ética, sou parceiro. Até lá, sou apenas um velhote que escreve para lembrar a importância de pensar.
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