AD SENSE

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

As vaquinhas do Polidoro

Polidoro era um peão de obra, um matuto, que batia marreta e empilhava entulho, mexia massa, e auxiliava na construção. Era matuto, como eu disse, mas não era incauto. Tinha sabedoria. E muita sabedoria. Uma pessoa agradável, de prosa suave, e cheia de vivências, bem do jeito que se gosta de ter como parceiro numa pescaria, ou na folga pro café do intervalo do trabalho.

Pois polidoro puxa o celular, e me mostra, de chofre,o retrato de um sorridente ancião,  e com saudável orgulho, diz: 
- Este é meu pai. Faleceu há um mês e treze dias atrás, aos noventa  e oito anos!
- Que bênção - emendei! Minha avó, Maria Elisa, descansou aos noventa e cinco anos de idade, sorrindo, e segurando a mão do seu "bebê", meu tio, o seu filho temporão!

Foi então, que ele me contou o feito. Foi assim:
- Todos os sábados, eu acordo às quatro da manhã, e subo direto para meu sitiozinho, em um município aqui perto. Chegando lá, dou milho pras vaquinhas, faço os cuidados que preciso fazer, e vou tomar meu café da manhã. Naquele dia, aconteceu algo estranho: as vaquinhas não entraram no curral, onde estava o cocho com milho. Esticavam o pescoço, baixavam as orelhas, e voltavam. Maneavam as cabeças, mas não se aproximavam. Achei estrano, pois o cachorro não havia latido pra elas, não tinha nenhum perigo, como cobra ou outro peçonhento por perto. Era apenas alguma "côza" que as assustava - disse ele, com forte sotaque açoriano!

E eu, na minha ânsia de querer saber, sem primeiro escutar, arriscava palpites, sobre o diagnóstico da situação, mas ele só dia, gestuando com as mãos:
- Calma, que vou contar!"

E assim, no seu relato, tentava imaginar o que era:
- "E era côza e côza, e másh côza", e nada. Até que minha mulher me chamou e disse:
- Polidoro, vensh cá, que tua irmã tá no telefone, dizendo que teu pai não tá bem!
E foi! Minha irmã avisando que nosso pai havia falecido! Mas eu pergunto: Como que os bichinhos sabiam? Aí perguntei pra fulana, que disse umash côza lá.....!

Foi aí que interrompi, delicadamete o Polidoro, na esperança de confortá-lo, sem dizer disparates, e falei:

_ Polidoro! Na Bíblia tem muitas coisas sobre a boa relação do Criador com os animaizinhos. Já no primeiro capítulo de Gênesis, diz que Ele criou, primeiro os animais, e por último, o Ser Humano. No livro de Levítico, diz que devemos cuidar e jamais maltratar os bichinhos. E assim, por toda a Bíblia, citações que mostram o carinho de D-us com os animais. E finalizei a ilustração, dizendo que a primeira tarefa de Adão, foi dar nome aos animais, e quem estuda a Bíblia com mais profundidade, conhece a importãncia do nome diante do Criador.
Finalizei, dizendo:
- Meu conselho é que faça todas as perguntas, mas não tente respondê-las. Espere de D-us, as respostas. Ele irá responder uma a uma. O anjo que nos acompanha pela vida, um dia irá se apresentar, e nos contar cada minuto do que passou ao nosso lado. Assim que O Messias voltar, teremos muitas respostas, até mesmo por aquilo que não soubemos perguntar.

Com um suspiro de tristeza, o olhar condoído, ele me disse:
- Pois é, mas eu gostaria de saber agora!
Ainda mais condoído, respondi: 
- O Tempo de D-us não é igual ao nosso, meu amigo. Ele sabe o porque precisa aguardar só um poquinho mais para nos afagar a saudade.

Não respondi nada, mas saí pensando nisso. Eu presiava escrever, porque estas são respostas que eu também preciso ouvir um dia. Vou fazer mais perguntas então.

Lembrei agora, de uma música muito linda, de Nelson Coelho de Castro, compositor gaúcho, que diz:
"Falta pouco tempo, eu sei, mas quando a gente é pequeno, o tempo custa pra passar".


Pacard
Escritor, Designer, e Contador de Causos




Os nomes são fictícios, mas o causo é verdadeiro*

Nenhum comentário:

Dona Izartina e o Mascate que relatava as guerras

Dona Izartina colheu as "bage" que plantara, cuidadosamente, dia após dia, um tantico de cada vez. Cada cumbuquinha que enchia, se...