Este lugar e bem mais que uma lembrança arquitetônica, que nem estilo tem, senão algumas caixas de tijolos cobertas com telhas de fibrocimento. A questão não é o estilo, mas o conteúdo, que povoa a memória de quem passou por lá, e a falta de memória de quem não o conheceu.
No início dos anos 60, chegaram à Gramado, os alemães, imigrantes, Elisabeth e Erich Rosenfed. Ela, artista plástica, premiada, e ele, funcionário de uma Cia. Alemã de tecnologia. Eis o que relata Dr. Ricardo Rosenfeld, neto do casal:
"Oi Paulo. Minha avó-drasta, 2a esposa de meu avô, nasceu em 20/10/1907, na cidade de Flensburg. Batisada com o nome de Elisabeth Redlefsen Schaberg. Quando casou com meu avô ficou apenas Elisabeth Rosenfeld. Abraço."
Eram proprietários das terras. Na localidade do Caracol, inclusive onde fica a Cascata, e venderam, comprando a terra de Gramado, que tinha cerca de 100 metros de frente, talvez mais, por cerca de um quilômetro, no sentido norte. Havia mato, arroio, cascata, campo, aclives e depressões, e sobre o alto de uma colina, construíram a casa, que se vê, aos fundos.
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Elisabeth, tinha um Fusca branco, e Erich, passeava com seu elegante Simca Chambord, pela cidade, além de seu inseparável cachimbo, que denunciava sua presença simpática, por onde passava.
Elisabeth era muito brincalhona, e adorava passar trotes, no dia primeiro de abril. Era generosa, e conheço relatos e testemunhos de pessoas a quem ela estendeu a mão, até mesmo financeiramente. Adorava contar histórias, especialmente as histórias vividas por pessoas de suas relações, que vieram para o Brasil, fugindo dos horrores da guerra. Eram pessoas cultas. Lembro de um piano de meia cauda, preto, que foi vendido para um médico local, e substituído por outro de quarto de cauda, muito lindo, que ficava na sala da casa.
Quando começou, Elisabeth tinha um pequenino atelier na garagem do chalé onde morava. Logo, percebeu que precisava ampliar suas possibilidades criativas, e construiu um pequeno atelier (aliás, foi a primeira vez que ouvi palavras como: Mosaico, Atelier, e Artesanato). Neste atelier, contratou um especialista em fornos, um tal de Olímpio, e com ele, veio um assistente, o Nelson Tegner. Olímpio terminou a tarefa, e foi embora. Mas Nelson ficou, e ficou tanto tempo, que muitos anos depois, bem de vida, já, comprou a propriedade particular onde moraram Elisabeth e Erich (ou Erico) Rosenfeld.
Foro à esquerda, abaixo: Samuel Isaac Cardoso (Desconheço quem está à sua direita, atrás)
Foto acima à direita, sentido horário: Angelina Muraro, Elvira Nienow, e Maria Elisa Dias Cardoso. Atrás, de pé, Samuel Isaac.
Foto do meio: Ilse Bohn
Elisabeth comprou um Tear de madeira para tecer tapetes de lã, que era comprada dos fazendeiros de São Francisco de Paula, mas a lã chegava suja, da mesma forma que era tosada, assim, precisava ser lavada, e era minha avó, maria Elisa, quem fazia esse serviço.
Atrás dela, "Seu Joanão", um Preto velho, que tomava conta do jardim. Pensa numa alma generosa e gentil: era ele. Era Negro, mas tinha sotaque carregado no italiano, pois foi filho adotivo de italianos da colônia
Todos os retratados ali, existiram de fato, e eu sou aquele agachadinho com uma carda de abrir lá, dentro de uma gamela.
E agora, a notícia triste
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