Nas três imagens, devidamente protegidas em suas privacidades, embora recolhidas de espaços públicos de internet, há retratos distintos do cenário da sociedade líquida, à qual fazia referência Sigmund Bauman: “Tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade”. (Bauman em entrevista ao El País)"
Na primeira imagem, uma cena bastante comum: adultos de classe média, passeando com seu cãozinho (gato não é muito afeito a essas liberdades, prefere se lamber e analisar o mundo, do parapeito da janela), e do outro, uma criancinha, em idade de colo, atada a uma pulseira presa a uma guia, cuja extremidade está atrelada ao forte e seguro pulso de um adulto. Já na foto à direita, um casal, divide o prazer de motivar um pequenino ao passeio, que cada passo torna-se uma aventura memorável.
Passear com uma criança ativa em um shopping, cujos parapeitos e acessos ao penhasco arquitetônico, são pífios, e nem vou gastar letras em descrever quantas desgraças já aconteceram nestes locais, com crianças irrequietas e saltitantes, o que justifica cuidado multiplicado na observação em tempo real, e mais que isso, na segurança que só uma mão firme, porém delicada, pode assegurar aos promissores acrobatas da vida.
Estou falando de segurança, claro, mas não é sobre segurança que quero falar, e sim sobre inversões, sobre valores dedicados a um e outro, animais, e crianças, seja qual for o grau de parentesco que tiverem.
Pai de três filhos, e avô de cinco netos (embora um eu ainda não tive a alegria de carregar o numero cinco, no ombro, que lhe pertence por direito, por conta de circunstâncias que só um mundo mau pode definir), e orgulhoso proprietário de uma hérnia de lombar, uns desvios na coluna, e joelhos tremelicantes, pelos anos em que levei no colo estes adoráveis depósitos de fofura, ao que chamamos de bebês, nenês, pimpolhos, e amiguinhos. Muitos e muitos passeios, idas aos parques, caminhadas por trilhas, visitas aos parentes, sempre, sempre com um ou dois, em simultâneo, pendurados no pescoço e nas costas.
Claro, tem ainda o perigo de andar com eles pelas multidões, praia, shoppings, ruas movimentadas. Tudo isso é de extrema gravidade e exige cuidadoso planejamento, para que tudo de bom continue a acontecer, pois criança é como um passarinho: olho pro lado, eles voam. Então, qual a solução para levar uma criança ao shopping, praia, ou lugares delicados e de alto risco? Amigos, tias, tios, avós, vizinhos confiáveis. Sim, Um mutirão em favor de um prazeroso passeio, onde se pode olhar vitrines, sem ter que manter uma corda esticada numa mão, e uma criança infeliz na outra, ou você acha mesmo que uma criança presa a uma coleira, feito cachorro, está feliz nessa situação? Passear no shopping ou na praia levando o filho em uma coleira, feito bicho, pra virar atração, diverte à quem? À criança?
Ora, shopping é bom para passear, visitar lojas, tomar o tempo dos vendedores, gastar, mas não é uma obrigação, ao ponto de arrastar um bebê por uma coleira, para mandá-lo comportar-se com um puxão por uma corda. Não é mesmo, ainda que o brilho das lojas seja mais intenso que o amor e a paciência em acompanhar as lamúrias de um pequenino desagradado com o lugar.
Achou ruim isso que escrevi? Então faça o contrário: Ponha uma coleira em si mesmo (a), e deixe que outra pessoa a carregue de um lado pra outro, como se puxa um burro ou cavalo pela estrada, e quando esta pessoa desejar sentar-se, para um café, que o amarre a um palanque, com uma canequinha de água e uma gamelinha de biscoitos, afinal, quem amarra um filho para passear, não vai se importar de que lhe façam o mesmo.
Se não tem paciência para ter filhos e dar-lhes atenção, como parte do prazer de seu crescimento e educação, que feche as pernas ao fazê-los, ou corra para o ato solitário do prazer, que não engravida ninguém, em lugar de carregá-los como animais, ou trocar o colo a estes, por um cachorro, porque pesa menos e não pede pra comprar nada.
Eu fui muito, muito pobre, mas ganhei muito colo quando era pequeno. E guardei o sabor para dar colo aos meus amadinhos também. E claro, nunca neguei colo pros gatos que tive, mas jamais troquei bicho por gente. Por pior que seja, gente ainda é gente e bicho é bicho.
A civilização cresce como rabo de cavalo, sempre pra baixo. A sociedade se liquefez em egoísmo, e o amor está se esfriando em quase todos.
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3 comentários:
Usei esta "coleira" com o meu neto, para fazer compras e por não dar conta de andar correndo atrás de pezinhos ávidos por percorrer subidas e decidas numa velocidade implacável para a avó! Além disto, para ele não fazia conta correr morro acima em uma cidade serrana... tenho o meu ritmo, nesta idade ele tinha muita pressa! Adorava colocar o "relógio", pois sabia que ganharia liberdade e não precisaria ficar preso à velocidade da avó! Ele nunca reclamou ou pediu pra não colocar. Cada caso, um caso. Não nego colo, nem aconchego. Por isso acho arbitrário não recorrer a um recurso adaptativo...
Cara anônima!
Eu não atribuo culpa a quem faça ou deixe de fazer. Cada um sabe onde aperta o sapato. Minha crítica não é às pessoas, em si, mas ao ritmo que a sociedade nos encaminhou.
De minha parte, optei por nunca ir com os netos a lugares que ofereciam perigo iminente, devido à minha limitada agilidade diante de suas ágeis perninhas e olhinhos impacientes. Criança é criança e tem que agir feito criança, então, temos escolhas, se desejamos estar com eles, haverá um ponto de encontro entre a nossa capacidade, e o ímpeto da infância indomável.
Sei bem que há pais que necessitam deixar os filhos aos cuidados dos avós (acabei de confessar que carreguei netos até não aguentar mais fisicamente, e faria até hoje, se as forças o permitissem), e atribuo à sociedade de consumo essa exigência, onde necessita de cordas para ataviar os pequenos, como se fossem cães, e levá-los a lugares, onde, não deveriam estar, pelo perigo que oferecem (shoppings com balaustres baixos, predios altos, avenidas movimentadas, etc).
Ainda assim, deveria haver limites entre aquilo que funciona, e aquilo que é saudável>
Como avô, quero ser lembrado pelas histórias que conto, e pelo afeto que tive, pois cabe aos pais a educação, e cabe à sociedade como um todo, reavaliar aquilo que exige dos pais, avós, e principalmente crianças.
Como disse, sou avô de cinco, e pai de três, já acampei, pequei, pratiquei esportes, caminhei, fiz trilhas, fui á shoppings, com quase todos, e não, não sabem o que é uma coleira com uma corda para serem puxados feito gado para o abate.
Pesquei*, em lugar de "pequei"
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