A comunicação digital acelerou muitas coisas, mas a pior delas foi a relação interpessoal.
Basta uma vírgula mal colocada, uma palavra em letras maísculas, reticências ao término de uma conversa, que a relação começa a azedar. Mais que isso, um email com sinceridade exacerbada, pode denunciar o estado emocional de seu emitente, de acordo com o horário em que foram digitados os desaforos. E minha infeliz experiência ao longo dos anos de convivência cibernética, o servei que eram quase sempre após às 23 horas, hora da solidão, do desespero, em que a angústia toma o lugar do sono, e como cabeça vazia é escritório do Satã, é ali que se iniciam os debates desastrosos, que ao fim, corroem o relacionamento, até mesmo, com as pessoas, antes mais queridas. É nesse cenário que descobrimos que o afago de hoje pode ser a agressão de amanhã. À noite.
Email tornou-se obsoleto, maçante, comercial. Vieram outras redes, com provas instantâneas inequívocas das mentiras sociais e da infelicidade em cores e sons, floreadas com espetadas e diretas, até que entrou em cena o Whatsapp, inicialmente divertido e esperançosamente eficaz para acelerar as intrigas, as ofensas, a angústia, e o desmoronamento do que nos resta de civilidade e humanidade.
Estas ferramentas são o largo pincel do Satã para borrar as delicadas linhas da humanidade emprestada do Criador, e será com esse tipo de instrumento, onde não há filtro moral, pela velocidade da resposta, que a infelicidade vai solidificar seu território, mas, tal como o pássaro anestesiado sob o olhar da serpente, somos incapazes de sair desta armadilha, porque necessitamos dele para outras funções.
Qual a solução paliativa, sem precisarmos fugir para as cavernas nas montanhas, como bichos assustados? Não tenho uma resposta coletiva, mas eu optei por fugir de grupos, e quando sou ofendido, analiso dois aspectos:
1- Fiz algo errado? A pessoa tem motivo para ofender-me? Se sim, trato de consertar a situação e não deixo que evolua a mágoa.
2 - Não partiu de mim a agressão e me eximo de culpa, e mesmo assim, percebo que a tal madrugada fez seu trabalho? Respondo com uma sutil mudança de assunto, falando de comida, receita de chá pra aluviar a dor de barriga, ou simplesmente uso o comando de bloquear o desaforado
Chego à conclusão que o código matemático que O Zuckerb criou para se reconciliar com um passa fora que tomou, tornou-se o trator que está destruindo milhões de afetos, que poderiam resolver suas pendengas num cafézinho, ou sairem no braço, possibilidade que já reduz em 99% da coragem de que se diga aquilo que se diz com a ponta dos dedos, a quilometros de distancia.
Pacard, Pétalas, 2022, Ille Vert
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