Me perdoem meus leitores que estão acostumados ao meu otimismo, mesmo quando sou crítico. me perdoem, mas nestes tempos em que quiser ser diferente dos mortais, descobri-me ainda mais igual que todos os iguais que já encontrei. Descobri que não há como beber água suja e e manter a digestão em ordem, pois tenho bebido da mesma fonte , de águas iguais às águas de Meribá, sem encontrar ervas amargas que possam torná-las doces. Não pra mim, não pra muitos, não agora, talvez amanhã.
De minha janela, contemplo a manhã na mata, isso é diante de minha janela, e até os pássaros não são mais tão graciosos. Não hoje. Não pra mim. Não pra muitos. Hoje não. Talvez amanhã. De minha janela deixo que o sol me abrace, mas seu calor não derrete o gelo da alma que deixei exposta à noite. Este sol não aquece mais alma nenhuma. Talvez alguma, Talvez a sua. Talvez aqueça até o mundo, mas não todo o mundo. Também apenas a parte de fora do meu mundo. talvez amanhã seja melhor para este mundo. talvez fique bom pra todo mundo. Talvez até pra mim. Talvez sim.
Tudo o que posso dizer é que, ouvindo velhas melodias de minha infância, desliguei a vida e atravessei o tempo, para qualquer lugar no passado, no meu passado. E em meu passado, via as pequenas borbulhantes cachoeiras geladas onde ia pescar, nadar, atirar pedras no rio, respirar o orvalho e abraçar o vento. Deixar-me ser tocado pela primavera, e me embriagar pelo perfume das matas por onde brincava sem compromisso com o tempo, com o mundo, com o medo, e com a vida. Aquilo era uma vida. Aquela era a minha vida.
Meus pés pisavam nas rosetas da grama, e só o que incomodava era o tempo perdido para catar os espinhos, tempo que poderia estar correndo atrás da bola, atrás das borboletas e à noite, dos pirilampos. tempo que poderia estar subindo os morros para colher araçás , para colher amoras, para colher guabirobas, para colher quaresmas, para colher o mundo, um pouquinho de cada vez, na conchinha da mão quando bebia a água cristalina dos córregos que brotavam das matas, dos caminhos cheios de mistérios, onde fadas e duendes, ainda que não existissem, pululavam serelepes pela minha imaginação de menino que nunca tinha ouvido falar de compromissos, outros, que somente no amanhã, o hoje de meus sonhos, vieram abraçar minhas manhãs, as manhãs em que olho, pensativo e saudoso pela janela, onde o sol e o vento se juntam para chamar-me às doces memórias de minha infância querida.
Meus heróis eram os valentes em preto e branco, que lutavam pela justiça e pela paz, combatendo vilões com suas canções, e são estas canções que me devolvem um pouquinho das lembranças.
Deixo algumas destas canções. Deixo algumas das minhas lembranças. Agora é a hora e aqui é o lugar para lembrar. Podem nos tomar a liberdade, podem nos tomar o sorriso, podem nos tomar a voz, mas nossa saudade ninguém é capaz de tomar. Minha saudade é só minha. Assim como o raio de sol que aquece o vento. Assim como o vento que sopra para longe o tempo que foi tomado de mim.
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