Terapia quântica abagualada não é qualquer terapia, aliás, nem terapia é, porque, no conceito de Apolônio, terapia é "côsa de lôco". e não há melhor terapia do que uma enxada de três libras, pra usar o cabo como agente libertador de neuroses existenciais, complementado pelo relho de três pontas, agregado ao talo de coqueiro, e rabo de tatu, de hora em hora. Daí o termo: "Quântico"! Assim é chamado, porque quando o paciente toma umas lambada de relho, pra parar de frescura, ele pula tão ligeiro, que não se sabe em que lugar está, para cumprir o desafio de acertar as anca e o lombo.
Terapia Quântica Abagualada, segue diretrizes de outra terapeuta afamada nas bandas do Bassorão, Carsulina Arrancatoco, cujo método era mais manso, condimentado com prosas ao pé de ouvido, e para os casos mais graves, um purgante de folhas de Umbú no mate da noite. Já Doutor Apolônio Lacerda é contra o uso do Umbú, por achar agressivo demais. Acredita que o relho em si tem dado respostas bastante satisfatórias, quando o assunto é frescurite, adjetivo que ele dá aos surtos psicóticos forçados, por raiva adquirida, como por exemplo: alguém que mexe na bomba de mate, ou passar a cuia com a mão esquerda, sem explicar que é a mão do coração. Coisas desse tipo. Estes hábitos podem ser considerados nocivos à sanidade mental, e sobretudo, à sanidade social. Relatarei aqui e a posteriori, alguns casos e causos segundo este tema, pois não? O que Doutor Apolônio sabe é que alhures e algures, respostas inaverão (neologismo de sua lavra para dizer que não haverá), se buscas não se fizerem. Vamos ao primeiro caso.
Malapenas - O Taura que fumava cebola
Não parecia uma coisa comum, fumar cebola picada numa palha de milho, como se faz com fumo de rolo, mas cada um tem sua tara, e a tara do taura "Malapenas", era picar uma cebola bem fininha, esbrugar com a mão, em movimentos circulares repetidos, e depois de lamber duas ou tres vezes a beirinha da palha, espalhar a cebola dentro, enrolar, lamber de novo, e acender o paiêro continuamente, dando tragadas e soltando fumaça com bafo de cebola nas fuças do Doutor.
- Dr. Apolônio: Mãns chê! Te acépa aí no toco, esse aí que tá com um pelego, e me conte as tuas mágoa, animáli! Os sêus pobrema é a nossa devertição", é o meu lema.
Depois de dar umas baforadas no paiêro, e escarrando num penico velho, que ficava ali do ladinho do toco, Malapenas começa.
- Malapenas: Carcule o senhor, Doutor Apolônio, que sou de uma família de tauras cuiudos. Todos na família. Papai era cuiudo, vovô foi um grande cuiudo maragato, meus tios, todos cuiudos véios de tropa. Não escapou ninguém, nem meus irmãos, mamãe, vovó, minhas tias, tudo cuiudo. Assim, eu também precisei ser cuiudo "deusdicando" era miudinho. Como eu nasci muito esfomeado, e na "ocasiã", mamãe dava de mamá pra mais treis piazote lá, contando com um entregador de pão, e o dono da venda, quando chegava a minha vez de me atracar nas goloseima, só tinha treis pingo lá. Mas como mamãe era muito boa, pra não me deixar passando fome, espremia uma cebola, e aquele leite de cebola, enfiava numa garrafinha com uma chupeta, me dava um naco de charque pra ir me intertendo, enquanto tomava meu tetê. Quando o tempo passou, ficava mal pra mim andar agarrado numa garrafa de cerveja com chupeta, tomando tetê, enquanto jogava truco ou numa partida de bocha. Então, pensei que tava na hora de trocar o bico, pra desfarçar, e foi até ideia do falecido meu pai, que preparou pra mim um paiêro recheado com cebola, e "deusdilá" que eu tenho esse "víuço". Tem cura, Doutor?
Dr Apolônio: Cura tem, mãns curá pra quê? Pensa comigo: Fróide fumava e cheirava umas subestância que dá medo só de alembrá. O ato de fumar, de lamber a páia, espicaçá o fumo, e no teu causo, a cebola. Mãs chê, a côsa não para aqui. Bamos estudar a cuestã. A cebola é redonda, umas são parecida com ovo. Pois bão! A cebola é formada pos camadas cebolais, uma dentro da outra, até que chegue no miolinho, no pititico da côsa. Na cebola, nenhuma camada é mais importante que a ôtra, e nenhuma camada sozinha forma uma cebola, se defino como cebola. A cebola não sabe que é cebola, mãns mesmo sem saber que é uma cebola, ela continua sendo cebola, e também, fede igual uma cebola.
A vida é uma cebola. Casca depois de casca, camada por camada, a vida espáia seu cheiro, e tempera a bóia, tempera o fejão mexido, o arrois carrtêro, tempera a salada, e só não tempera o pudim, porque ninguém pensô nisso ainda. Então, a cebola é um ingrediente da cozinha, assim como a relação cas peçôa é um ingrediente da vida. Vancê foi enjeitadinho, mãns teve uma compensação, e essa compensação é como uma prestação que não termina nunca: fartou a teta, e no seu lugar,entrou a páia acebolada. No causo, a cebola na páia é o teu tetê.
Eu recomendo que primeiro, pegue uma enxada, e vá carpir um lote. E plante cebolas. E na próxima consulta, não me apareça aqui sem um saco de cebolas, de regalo. Despois, largue o paiêro, que faz mal pros pormão. Troque pelo mate, que faz bem pra pleura, além de dar mijadeira. E se botar cebola, não me sirva.
Dito isso, Doutor Apolônio puxou do relho e estalou um lambaço nas porpa do vivente, que saiu aos pulo. Estava encerrada a consulta daquele dia da Terapia Quântica Bagual.
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