AD SENSE

domingo, 31 de janeiro de 2021

O valor de nossos valores - O que realmente vale em Gramado?



Na sequência das análises dos sentimentos que expressamos, ao falar de nossa aldeia, parafraseio Tostoi, que aconselhou um jovem autor, que buscava notoriedade em seus textos, a que escrevesse sobre sua aldeia.

Vamos considerar que uma aldeia, ao tempo de Tostoi, na longínqua Iasnaia-Poliana, era bastante diferente de uma contemporânea Gramado, Las Vegas, Miami, ou outro povoado qualquer que, em razão de suas belezas e virtudes, tornaram-se  notáveis paixões de consumos e esplendor de seu tempo e lugar, onde vale os dizeres do autor de Ana Karenina, e Guerra e Paz: "Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira". Mas a lenha acabou. 

Nas duas semanas que estive aí "de corpo presente", como diz o Apolônio Lacerda, meu personagem, senti-me chutado de todas as direções, e quando olhava, para ver quem me chutava, descobri que não era "quem", mas "o que". Senti-me chutado pela opulência, pelo luxo, pelos excessos, pelo perfeccionismo, pelo vazio de pessoas, apesar das multidões de zumbis festivos que perambulam sem rumo pelas ruas, vaporizando vitrines com seus hálitos, e chupando os dedos, para não desperdiçar o doce das guloseimas hipnóticas servidas em taças de cristais e travessas de prata.

Sem nenhuma intenção de ofensa, senão apenas pela análise de comportamento e realidade, digo aos amigos que: "Gramado me oprime, e Canela me deprime!", cada um por suas razões específicas, ainda que eu tenha um carinho imenso por Canela, e grandes amigos nesta cidade, e minha história de vida em Gramado, de cujos ancestrais, fundadores da pequenina aldeia, em tempos imemoriais, eu descendo.

Sempre tive orgulho de sentir-me membro de gramado, apesar de não ser oficialmente Gramadense (sim, admito, eu não nasci em Gramado), mas tenho feito deste cantinho de mundo, perfumado por Hortênsias, Azaleias, Pinheiros, e matas, a minha fonte de inspiração contínua. Não tenho medo de ser exagerado, ao dizer que ninguém publicou mais obras, textos, imagens, e histórias de pessoas com tema de Gramado, do que este que vos tecla. E quero continuar a fazê-lo, apesar de não ter nenhum tipo de apoio ou mecenas que compreenda a importância do que faço, para que seus netos possam saber de onde vieram, e para onde poderão seguir, em se tratando de uma jornada humana, cultural, e viva.

Imediatamente após a publicação, hoje, do texto anterior, recebi muitos manifestos de pessoas queridas, de Gramado, gramadenses genuínos, concordando com a análise. É bom, mas é pouco. A mim pouco importam os elogios, mas importa (e muito), a percepção de que Gramado deve continuar a crescer economicamente, afinal, é sua vocação contínua, mas que junto, e no mesmo ritmo, cresça a consciência de saber que cada empreendedor, empresário, político, cidadão, estudante, agricultor, Dona de Casa, aposentado, criança e idoso, percebam que são muito mais do que números de votos ou estatísticas, e que cada um saiba que é um Ser Humano inteiro, multiplicado por muitos, para que seja deixado em segundo plano pela história.

Ser deixado pela história significa acreditar no que se diz que Gramado ainda tem muito que crescer. E tem. Mas eu pergunto: Crescer mais pra que? Pra quem? Quantas calorias cada pessoa é capaz de consumir durante o dia? Então, por que armazenar milhares de calorias que nunca serão consumidas? Por que investir em concreto, pedras e tijolos, e depois gastar em Rivotril, Escitalopram, Ritalina, ou bebidas alcoólicas, para dormir, afogar as tristezas, e completar os vazios que o excesso de sucesso e fortuna lhes trazem?

Pergunto ainda: Vale a pena, tanto esforço, para terminar numa caixa fechada dentro de um buraco de cimento, coberto por uma pedra de mármore? Vale a pena, ser dono de um palácio, e ter que visitar os filhos na prisão? Vale a pena acelerar o carro importado, para ser visitado em um asilo de luxo?
Vale à pena investir em arquitetura, quando sequer se sabe o nome do estilo das linhas que o arquiteto traçou para sua glória empresarial, quando não sabe sequer o nome de seus avós, e certamente seus netos pouco saberão de sua própria história, quando não foi capaz de escrever nenhuma, digna de ser contada, escrita ou lida?

Não precisamos de milagres. precisamos apenas não nos esquecer quem somos, quais nossas virtudes, e até mesmo nossos defeitos, para que possamos corrigir, enquanto ainda houver tempo, os caminhos que abriremos para aqueles que merecem saber que antes de si, não houveram apenas pessoas com contas milionárias, mas pessoas que foram capazes de se enternecerem por encontrar um pé de amoras brancas, goiaba serrana, quaresma, ou araçá, pelas matas, antes que as tivessem derrubado para plantar hotéis, rodovias, e praças. Praças sem crianças, sem pés de goiaba serrana, araçás, amoras, ou quaresmas.








Nenhum comentário:

Aquelas tardes grises com minha avó Maria Elisa

Eu era pequeno, e apesar disso, lembro como se fosse ontem. O mundo acontecia sem a minha influência, com ainda acontece hoje, mas o meu mu...