Os dias de ontem e hoje (1º e 2 de maio de 2024), serão lembrados pela truculência da Natureza cobrando a conta deixada pela imprudência humana. Sim, barragens que se rompem, quando deveriam cumprir sua tarefa de frearem as águas, por terem sido mal calculadas (ou será que não poderiam imaginar a possibilidade, hoje certeza, de que as águas represadas estariam acima da capacidade de contenção do concreto que as retém? E as pontes, não deveriam estar estruturadas de tal forma que, ainda que o chão se rompesse, sua estrutura não se desmancharia como uma barra de chocolate em uma xícara de leite fervente? E as estradas, cuja engenharia dos romanos, capazes de perdurar por vinte séculos lá no velho mundo, aqui seriam construídas como um glacê de bolo, que seriam esmigalhadas como um pudim que cai ao chão?
Ainda com toda a nossa indignação e ânsia por encontrar culpados pelas deficiências da engenharia, sou consciente de que a irresponsabilidade humana não é localizada, pontual, direcionada, mas está no ambiente globalizado e globalizante da ânsia pela grandiosidade das nações, pelo delírio do enriquecimento civilizatório, que atropela os pequenos prazeres, as pequenas necessidades da vida, as pequenas virtudes, os pequenos passos de uma caminhada sem fim, e anseiam por acelerar mais, acelerar sempre, acelerar ao máximo, ainda que nem fazem ideia do que desejam encontrar no fim do caminho, ou será que as grandes corporações tem, em seus mentores, algum propósito singelo, como ver crianças brincando, familias reunidas, meninos jogando bola num terreno baldio, meninas brincando de roda nas frentes de suas casas, de pais de família que chegam satisfeitos em seus lares, ao final de uma jornada de trabalho bem sucedido, de mães que examinam com severa doçura os boletins dos filhos, de filhos e filhas que já adultos anseiam pelos feriados e fins de semana para visitarem os pais e apreciarem a comida da avó, a doce companhia do avô, com uma varinha de pescar e uma lata de minhocas, a caminho do pequeno riacho borbulhante, onde pululam peixes e bailam aves e borboletas, onde o sopro da brisa esparge perfume das flores e das matas e fazem ondular esvoaçantes melenas de quem tem apenas a preocupação de ser, viver e fazer feliz a outrem? Sabem eles disso? Vivem eles isso?
A aritmética deixava de ser nossa aliada, quando ainda contávamos bênçãos, e nos esquivávamos dos perigos. Hoje não mais, porque a contagem nos dedos tornou-se estatística, dos números absurdos e aterradores das catástrofes que nos abraçam dia após dia. Guerras, fome, epidemias e pandemias, politicagem, intolerância, ira crescente, vendavais, tempestades, desabamentos, deslizamentos, montanhas bailando uma dança satânica aos acordes dos trovões e dos ventos, lambendo cidades, engolindo pessoas, vomitando morte. A aritmética torna-se estatística, quando não se fala mais o nome das pessoas que morrem, mas o número dos que não voltarão às casas na manhã seguinte. A aritmética passa a ser contada por multidões, e os estragos passam a ser vistos muito do alto, para constar nos mapas. E o que se pode fazer, digo, individualmente, para frear tamanha brutalidade? Nada! Absolutamente nada, senão orar e chorar.
Uma catástrofe de tamanha magnitude nos faz questionar o tamanho da nossa relação com O Criador, nos faz imaginar se nossa voz enfraquecida pela perplexidade teria assento diante dos santos que nos antecederam, a comover Aquele que É capaz de dizer à tempestade: "Até aqui virás, e não mais!". Aquele que ousa dizer ao vento: "Aquieta-te!". Ou ao mar: "Sossega!" Ao que diz a faraó: "deixa meu povo ir!". Assim então pensamos: Poderemos nós com nossa diminuta fé, mover montanhas, para que contenham as águas? Ou criar raízes para que contenham as encostas? Ou desaçorear os rios, para que fluam ao mar? Ou apagar as chaminés, para que resfriem o céu? Podemos nós, meros mortais egoístas e frágeis, plantar apenas para que nossas famílias comam, colher apenas aquilo que cabe em nossas despensas, por em nosso prato aquilo que não vá ser descartado, e guardar o suficiente apenas para repartir com o que plantou e não colheu? O que semeou, e não viu brotar? O que colheu e os vermes comeram? Saberemos nós olhar para o que sobrou daquilo que já foi um dia, e nos prepararmos para não sermos apanhados desprevenidos quando outra noite chegar?
Uma catástrofe de tamanha magnitude nos faz questionar o tamanho da nossa relação com O Criador, nos faz imaginar se nossa voz enfraquecida pela perplexidade teria assento diante dos santos que nos antecederam, a comover Aquele que É capaz de dizer à tempestade: "Até aqui virás, e não mais!". Aquele que ousa dizer ao vento: "Aquieta-te!". Ou ao mar: "Sossega!" Ao que diz a faraó: "deixa meu povo ir!". Assim então pensamos: Poderemos nós com nossa diminuta fé, mover montanhas, para que contenham as águas? Ou criar raízes para que contenham as encostas? Ou desaçorear os rios, para que fluam ao mar? Ou apagar as chaminés, para que resfriem o céu? Podemos nós, meros mortais egoístas e frágeis, plantar apenas para que nossas famílias comam, colher apenas aquilo que cabe em nossas despensas, por em nosso prato aquilo que não vá ser descartado, e guardar o suficiente apenas para repartir com o que plantou e não colheu? O que semeou, e não viu brotar? O que colheu e os vermes comeram? Saberemos nós olhar para o que sobrou daquilo que já foi um dia, e nos prepararmos para não sermos apanhados desprevenidos quando outra noite chegar?
Este é o inexorável caminho da perplexidade das nações. Esta é a profecia que passa a limpo a estupidez da humanidade. Estes somos nós, estupefatos diantes das tragédias. O que fazer? O que dizer? Talvez, orar, embora nossa oração não possa mais ser individual, e nada irá acontecer para mudar, se não orarmos como nações, se o clamor não for isolado, se o jejum e o pranto não for de todos. Nenhuma tragédia da humanidade cessou por um único herói. Não até aqui.
Pacard - Escritor, Designer
Nenhum comentário:
Postar um comentário