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As respostas de D-s são sempre imediatas, mas nossa relutância em estarmos alinhados com Ele faz com que demoremos para compreender o que Ele já fez em relação à nossa espera.
Esteban estava eufórico com aquele encontro. Encontrar um religioso que não o julgava nem discriminava por seu ateísmo, era inusitado. Quem travasse algum debate com ele, começava na dianteira, porque qualquer paradoxo convocava um coringa e dava o nome de "fé". Mas com os Klein não acontecia assim. Nem Itzak, nem Benjamin, o rapaz, demonstravam qualquer ironia ou pouco caso em relação às indagações de Esteban.
Ele queria mais, queria espremer a fruta e saber quando caldo havia. Assim, como os cristãos, de modo geral, tem curiosidade em relação aos judeus, ou islâmicos, assim alguns ateus também suprem sua curiosidade em busca solitária, ou em companhia de outros ateus, porque muito raramente um bom cristão irá deixar-se contaminar pela descrença em D-s, não irá expor-se à tentação de ser convencido, e sair deste encontro, também ateu.
Aquela era, então uma oportunidade de ouro, onde um e outro, seriam examinados à exaustão (assim pensava Esteban), sem o receio de serem pervertidos de suas convicções.
- Onde está D-s? - Perguntou Esteban, ainda que sabia a resposta técnica, mas queria ouvi-la de um religioso.
- Onde você gostaria que Ele estivesse? - Respondeu Itzak, ao modo talmúdico - uma pergunta com outra pergunta.
- Se eu acreditasse que Ele existe, certamente gostaria que estivesse aqui conosco, dividindo um bom refresco, e explicando Ele próprio, onde está quando crianças morrem no meio da guerra, ou quando uma serpente devora um passarinho, que não fez mal a ninguém.
- É uma perspectiva interessante - respondeu Itzak. E você realmente crê que D-s então não tem interesse na refeição da serpente, ou no livramento da criança em meio à guerra?
- Se tivesse, e se fosse Quem dizem Ser, Justo e Bom, onde se encontra a justiça da dor, da fome, do sofrimento?
- Há uma pergunta bastante conhecida: Onde estava D-s, no Holocausto? - Disse Itzak.
- E onde Ele estava? - Emendou Esteban.
- Nossos sábios costumam dizer que D-s Se oculta para que O encontremos - respondeu Itzak.
Quando o fundo do poço tem um um porão - A Melancolia que nos sustém, meu amigo, eis a chave compreensível do incompreensível que nos abraça no cotidiano.
Minha avó, Mirian Elisheva, tinha a pele muito branca, o que permitia fazer notar qualquer alteração nela, e as alterações mais comuns, eram grandes manchas roxas e pretas nos braços flácidos, ao que ela chamava de "Manchas de Melancolia".
Fui, recentemente, buscar mais informações sobre esta expressão, e de fato, descobri que são manchas associadas à depressão, o que, em meus tempos de "bachur" (menino), chamava-se "Melancolia". Hoje, a palavra Melancolia", embora ainda tenha o mesmo significado, é mais assoada ao estado psíquico e sentimental, dito de uma forma mais poética, digamos assim, e de pouco uso, embora possa definir bem melhor sentimentos que não estejam necessariamente ligados a algum distúrbio químico, o que é tratado em outra dimensão dentro da medicina.
Meu filho, certa vez, disse essa frase: "Quando achares que estejas no fundo do poço, lembre-se que o poço pode ter um porão!" Eu ri, mas havia uma grande verdade no que ele falou, por brincadeira.
Não são raras as vezes em que o lugar onde estacionamos pareça ser o fim dos problemas, e esse beco sem saída, torna-se então, pelo modo do otimismo inverso, um alento, e uma esperança de que pior não pode ficar. Mas fica, e é nessa oportunidade que percebemos que tudo o que sofremos, todas as dificuldades e desafios que tínhamos atravessado, foram exatamente o treinamento que tivemos, porque dias piores viriam ainda pela frente. E vieram. O infortúnio tem uma agenda organizada, e não falha aos seus compromissos. Se está agendado que deva vir, ele virá.
E D-s, onde fica nisso? Acaso falharam as Suas promessas, e Seu braço encolheu? Acaso seria D-s um sádico, que deseja fazer-nos crescer pela dor? Teria D-s necessidade de ver-nos sofrer, para só então agir em nosso favor, e às vezes, aos nossos olhos, nem mesmo agir, ou agir tardiamente?
Quase sempre eu ofereço respostas, caminhos do pensamento, reflexões, mas hoje não tenho como fazer isso, porque simplesmente eu não tenho nenhuma resposta a dar, e se o fizesse, cairia nos jargões de rodapé missionários, que nenhuma resposta daria, senão a certeza de que "D-s quis assim". Quis mesmo assim? Ou o sofrimento é uma consequência de erros, nossos e de outros em nosso caminho, no passado dos que nos precederam?
Diz o Livro Santo que "O indivíduo que pecar, este morrerá! O filho não levará a culpa do pai, tampouco o pai será culpado pelo pecado do filho. Assim, a justiça do justo lhe será creditada, e a malignidade do ímpio lhe será devidamente cobrada com a vida." (Ezequiel, 18:20).
No entanto, aparentemente contraditório há o mandamento que diz:
E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
Êxodo 20:5,6"
"Visito a iniquidade até terceira e quarta geração - faço misericórdia até mil gerações!
Eis o grande paradoxo, onde de um lado, O Eterno determina um espaço de tempo contado por gerações, para que as consequências dos atos maus sejam purgados daquela família e de outro, estabelece mil gerações, e sabemos que em toda a história humana, não se passaram ainda mil gerações desde a criação do primeiro Homem e da primeira Mulher, mas ainda assim, há um conjunto de recompensas ou consequências pelo comportamento de cada pessoa.
Se olhar o aspecto das bênçãos, vale dizer que será um compromisso de cada geração, pensar nos que virão, e usufruam as benesses de seu bom comportamento, assim como o ancião que planta uma tamareira, e de outro lado, por situação de consciência, que a mesma geração projete a possibilidade de que suas más atitudes possa atingir gerações que não estão à sua frente e ao alcance de um abraço, ou de uma repreensão, demonstrando que a responsabilidade de cada um está além do alcance do que se possa ver ou tocar, mas se espalha pelo tempo, e se multiplica pelo espaço.
O fundo do poço pode ser um lugar, um tempo, uma pessoa, uma sensação, ou uma prisão. Pode ser libertador, se olharmos para o alto, ou desesperador, se pisarmos em falso, e D-s não tem culpa, nem responsabilidade por nossas escolhas, ou pelas escolhas dos que nos precederam. D-s estabelece o plano, e destaca com brilho as mil gerações, mas as três ou quatro páginas das consequências estão à nossa frente também, e pode ser que nestas três ou quatro páginas, esteja a chave para a compreensão das mil páginas que as sucedem.
Esteban ficou pensativo, e perguntou:
- Você me diz que Benjamin pode ser responsabilizado por algum erro que você cometa, ou herdará de modo afortunado, as boas ações que você amealhou com D-s, você me diz? O que o meu aluno Benjamin diz sobre isso?
Benjamin, que a tudo ouvia, e balançava a cabeça, às vezes sorria, e outras parecia pensar com profundidade no que diziam, terminou seu gole de café, devolveu a xpicara ao pratinho, e falou:
- Quando eu não como meu desjejum, pela manhã, passo o dia com fome. Digamos que seja Yom Kipur, e eu decidi jejuar, de acordo com nosso costume, por vinte e cinco horas. A tradição nos ensina a quebrarmos o jejum com uma refeição leve, em família, ou comunidade, para que recebamos com alegria, o pouco que iremos comer, recordando que esta refeição faz parte de um ensinamento, de que nossos pais tiveram dificuldade, mas foram libertados de suas aflições pelo cuidado de HaShem (D-s), não sem que antes tenham atravessado um longo deserto de provações e privações, mas que o cuidado de HaShem sempre tenha sido efetivo ao final do tempo estabelecido.
O fundo do poço era o Egito, depois o Mar de Juncos pela frente, mas cerca de oito dias depois, receberam a Torá, a Lei, e apesar de um grande deslize espiritual, ao adorarem um bezerro de ouro, foram perdoados, e seguiram em frente. Nesse tempo haviam se passado apenas quarenta dias desde a saída do Egito, e novamente se deixaram levar pela falsidade de sua fé, então foi aí que descobriram que o fundo do poço tinha porão, pois permaneceram por quarenta anos no deserto, para receberem o ensinamento necessário a poupar-lhes novos dissabores.
Aqui vemos que pelo medo e "fake news" de dez homens, cerca de três milhões de pessoas amargaram pelo resultado das ações réprobas destes dez ímpios.
Esteban ouvia e continha-se em êxtase. Nunca havia ouvido tal coisa em sua busca por provar que D-s não existe.
- Talvez ainda não exista - pensou, mas quem acredita nEle, está muito bem fundamentado pela lógica e pelo conhecimento filosófico de sua fé.
-Mas isso não responde o vazio de D's no sofrimento - continuou Esteban.
- D-s não dá respostas, -nem Se mostra. Nossos sábios costumam dizer que D-s "Se oculta, para que O procuremos". Assim, dada a grandeza infinita de D-s, mil gerações talvez seja muito pouco, para encontrar todas as Suas manifestações, pois nunca estaremos "Com D-s", mas "Em D-s!". Sua busca já começou, meu amigo professor Esteban. Acredite!
continua.........
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