AD SENSE

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O homem que brigou com D-s - Opus 4 (Parte 4)Quando o fundo do poço tem um um porão - A Melancolia que nos sustém


Imagens - Internet

As respostas de D-s são sempre imediatas, mas nossa relutância em estarmos alinhados com Ele faz com que demoremos para compreender o que Ele já fez em relação à nossa espera.

Esteban estava eufórico com aquele encontro. Encontrar um religioso que não o julgava nem discriminava por seu ateísmo, era inusitado. Quem travasse algum debate com ele, começava na dianteira, porque qualquer paradoxo convocava um coringa e dava o nome de "fé".  Mas com os Klein não acontecia assim. Nem Itzak, nem Benjamin, o rapaz, demonstravam qualquer ironia ou pouco caso em relação às indagações de Esteban.

Ele queria mais, queria espremer a fruta e saber quando caldo havia. Assim, como os cristãos, de modo geral, tem curiosidade em relação aos judeus, ou islâmicos, assim alguns ateus também suprem sua curiosidade em busca solitária, ou em companhia de outros ateus, porque muito raramente um bom cristão irá deixar-se contaminar pela descrença em D-s, não irá expor-se à tentação de ser convencido, e sair deste encontro, também ateu.

Aquela era, então uma oportunidade de ouro, onde um e outro, seriam examinados à exaustão (assim pensava Esteban), sem o receio de serem pervertidos de suas convicções.

- Onde está D-s? - Perguntou Esteban, ainda que sabia a resposta técnica, mas queria ouvi-la de um religioso.

- Onde você gostaria que Ele estivesse? - Respondeu Itzak, ao modo talmúdico - uma pergunta com outra pergunta.

- Se eu acreditasse que Ele existe, certamente gostaria que estivesse aqui conosco, dividindo um bom refresco, e explicando Ele próprio, onde está quando crianças morrem no meio da guerra, ou quando uma serpente devora um passarinho, que não fez mal a ninguém.

- É uma perspectiva interessante - respondeu Itzak. E você realmente crê que D-s então não tem interesse na refeição da serpente, ou no livramento da criança em meio à guerra?

- Se tivesse, e se fosse Quem dizem Ser, Justo e Bom, onde se encontra a justiça da dor, da fome, do sofrimento?

- Há uma pergunta bastante conhecida: Onde estava D-s, no Holocausto? - Disse Itzak.

- E onde Ele estava? - Emendou Esteban.

- Nossos sábios costumam dizer que D-s Se oculta para que O encontremos - respondeu Itzak.

Quando o fundo do poço tem um um porão - A Melancolia que nos sustém, meu amigo, eis a chave compreensível do incompreensível que nos abraça no cotidiano.

Minha avó, Mirian Elisheva, tinha a pele muito branca, o que permitia fazer notar qualquer alteração nela, e as alterações mais comuns, eram grandes manchas roxas e pretas nos braços flácidos, ao que ela chamava de "Manchas de Melancolia".

Fui, recentemente, buscar mais informações sobre esta expressão, e de fato, descobri que são manchas associadas à depressão, o que, em meus tempos de "bachur" (menino), chamava-se "Melancolia". Hoje, a palavra Melancolia", embora ainda tenha o mesmo significado, é mais assoada ao estado psíquico e sentimental, dito de uma forma mais poética, digamos assim, e de pouco uso, embora possa definir bem melhor sentimentos que não estejam necessariamente ligados a algum distúrbio químico, o que é tratado em outra dimensão dentro da medicina.

Meu filho, certa vez, disse essa frase: "Quando achares que estejas no fundo do poço, lembre-se que o poço pode ter um porão!" Eu ri, mas havia uma grande verdade no que ele falou, por brincadeira.

Não são raras as vezes em que o lugar onde estacionamos pareça ser o fim dos problemas, e esse beco sem saída, torna-se então, pelo modo do otimismo inverso, um alento, e uma esperança de que pior não pode ficar. Mas fica, e é nessa oportunidade que percebemos que tudo o que sofremos, todas as dificuldades e desafios que tínhamos atravessado, foram exatamente o treinamento que tivemos, porque dias piores viriam ainda pela frente. E vieram. O infortúnio tem uma agenda organizada, e não falha aos seus compromissos. Se está agendado que deva vir, ele virá.

E D-s, onde fica nisso? Acaso falharam as Suas promessas, e Seu braço encolheu? Acaso seria D-s um sádico, que deseja fazer-nos crescer pela dor? Teria D-s necessidade de ver-nos sofrer, para só então agir em nosso favor, e às vezes, aos nossos olhos, nem mesmo agir, ou agir tardiamente?

Quase sempre eu ofereço respostas, caminhos do pensamento, reflexões, mas hoje não tenho como fazer isso, porque simplesmente eu não tenho nenhuma resposta a dar, e se o fizesse, cairia nos jargões de rodapé missionários, que nenhuma resposta daria, senão a certeza de que "D-s quis assim". Quis mesmo assim? Ou o sofrimento é uma consequência de erros, nossos e de outros em nosso caminho, no passado dos que nos precederam?

Diz o Livro Santo que  "O indivíduo que pecar, este morrerá! O filho não levará a culpa do pai, tampouco o pai será culpado pelo pecado do filho. Assim, a justiça do justo lhe será creditada, e a malignidade do ímpio lhe será devidamente cobrada com a vida." (Ezequiel, 18:20).

No entanto, aparentemente contraditório há o mandamento que diz:

"Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.

E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
Êxodo 20:5,6"

"Visito a iniquidade até terceira e quarta geração - faço misericórdia até mil gerações!

Eis o grande paradoxo, onde de um lado, O Eterno determina um espaço de tempo contado por gerações, para que as consequências dos atos maus sejam purgados daquela família e de outro, estabelece mil gerações, e sabemos que em toda a história humana, não se passaram ainda mil gerações desde a  criação do primeiro Homem e da primeira Mulher, mas ainda assim, há um conjunto de recompensas ou consequências pelo comportamento de cada pessoa.

Se olhar o aspecto das bênçãos, vale dizer que será um compromisso de cada geração, pensar nos que virão, e usufruam as benesses de seu bom comportamento, assim como o ancião que planta uma tamareira, e de outro lado, por situação de consciência, que a mesma geração projete a possibilidade de que suas más atitudes possa atingir gerações que não estão à sua frente e ao alcance de um abraço, ou de uma repreensão, demonstrando que a responsabilidade de cada um está além do alcance do que se possa ver ou tocar, mas se espalha pelo tempo, e se multiplica pelo espaço.

O fundo do poço pode ser um lugar, um tempo, uma pessoa, uma sensação, ou uma prisão. Pode ser libertador, se olharmos para o alto, ou desesperador, se pisarmos em falso, e D-s não tem culpa, nem responsabilidade por nossas escolhas, ou pelas escolhas dos que nos precederam. D-s estabelece o plano, e destaca com brilho as mil gerações, mas as três ou quatro páginas das consequências estão à nossa frente também, e  pode ser que nestas três ou quatro páginas, esteja a chave para a compreensão das mil páginas que as sucedem.

Esteban ficou pensativo, e perguntou:
- Você me diz que Benjamin pode ser responsabilizado por algum erro que você cometa, ou herdará de modo afortunado, as boas ações que você amealhou com D-s, você me diz? O que o meu aluno Benjamin diz sobre isso?

Benjamin, que a tudo ouvia, e balançava a cabeça, às vezes sorria, e outras parecia pensar com profundidade no que diziam, terminou seu gole de café, devolveu a xpicara ao pratinho, e falou:

- Quando eu não como meu desjejum, pela manhã, passo o dia com fome. Digamos que seja Yom Kipur, e eu decidi jejuar, de acordo com nosso costume, por vinte e cinco horas. A tradição nos ensina a quebrarmos o jejum com uma refeição leve, em família, ou comunidade, para que recebamos com alegria, o pouco que iremos comer, recordando que esta refeição faz parte de um ensinamento, de que nossos pais tiveram dificuldade, mas foram libertados de suas aflições pelo cuidado de HaShem (D-s), não sem que antes tenham atravessado um longo deserto de provações e privações, mas que o cuidado de HaShem sempre tenha sido efetivo ao final do tempo estabelecido.
O fundo do poço era o Egito, depois o Mar de Juncos pela frente, mas cerca de oito dias depois, receberam a Torá, a Lei, e apesar de um grande deslize espiritual, ao adorarem um bezerro de ouro, foram perdoados, e seguiram em frente. Nesse tempo haviam se passado apenas quarenta dias desde a saída do Egito, e novamente se deixaram levar pela falsidade de sua fé, então foi aí que descobriram que o fundo do poço tinha porão, pois permaneceram por quarenta anos no deserto, para receberem o ensinamento necessário a poupar-lhes novos dissabores.
Aqui vemos que pelo medo e "fake news" de dez homens, cerca de três milhões de pessoas amargaram pelo resultado das ações réprobas destes dez ímpios.
Esteban ouvia e continha-se em êxtase. Nunca havia ouvido tal coisa em sua busca por provar que D-s não existe.

- Talvez ainda não exista - pensou, mas quem acredita nEle, está muito bem fundamentado pela lógica e pelo conhecimento filosófico de sua fé.

-Mas isso não responde o vazio de D's no sofrimento - continuou Esteban.
- D-s não dá respostas, -nem Se mostra. Nossos sábios costumam dizer que D-s "Se oculta, para que O procuremos". Assim, dada a grandeza infinita de D-s, mil gerações talvez seja muito pouco, para encontrar todas as Suas manifestações, pois nunca estaremos "Com D-s", mas "Em D-s!". Sua busca já começou, meu amigo professor Esteban. Acredite!



continua.........

Publicidade










terça-feira, 6 de outubro de 2020

Querido Diário - O Cotovelaço!

 


Pois naquele dia, Dona Dorotéia, carinhosamente chamada de Tia Dorinha, iria receber visitas importantes: Os candidatos!

Pense numa alegria, da macróbia, em poder tirar  da gaveta, os guardanapinhos bordadinhos com carinho, cheirando à camomila, que ela deixava junto de um sachezinho para perfumar o armário. 


Pense na alegria dela, que durante  a juventude, fizera parte do Comitê de Jovens Pela Democracia , o COJOPEDE, liderado por Sebastião Medeiros, o caudilho. 

O próprio Sebastião, condecorara a "Camarada Dorotéia" por bravura em ação de defesa (ela havia tocado porta afora à vassouradas um candidato oponente da COJOPEDE).

Pois Tia Dorinha soubera, por sua vizinha Cantides Morena, a benzedeira, que naquele dia, os candidatos fariam uma visita à rua, e não poderiam visitar o lugar, sem passar para um abraço à velha revolucionária condecorada. E assim foi.

Batendo palmas de porta em porta (de luvas, como recomendava o Ministério, luvas descartáveis, combinando com as máscaras descartáveis, a touca descartável, o avental descartável, e as cotoveleiras descartáveis, porque o cumprimento agora era na base do cotovelaço, por conta da pandemia que não dava moleza, especialmente para os mais rodados, a veiarada mesmo, sem floreiros nem frescuras no modo de dizer), chegaram à casa florida, com cerquinha branca e flores pelo caminho, afinal, estavam em Jardim dos Prazeres, a suculenta cidadezinha encravada na curva do vento sul.

Prosa vai, prosa vem, um chazinho aqui, uma bolachinha ali, e o candidato olha pro vice candidato, e bate na testa, escandalizado: 

- Ai, misericórdia! Quase perdemos a hora! Tá tão formidável a prosa, que ia me esquecendo que temos que passar na reunião dos depenadores de marreco ali na Vila da Rosa Murcha.

E dito isso, virou-se para dar uma cotovelada de despedia no cotovelo de Tia Dorinha, sem perceber que ia chegando Dona Nenê, vizinha de Dorinha, e mãe do Dorvalo Batista, justamente o candidato oponente, e chega a bater remorso só de contar, que o cotovelo mal calibrado do candidato acertou em cheio, o olho da Nenê.

Certas coisas acontecem na vida da pessoa em horas erradas, vou te contar. A cotovelada seria consertada por uns afagos, mas aquela guria mixiriquêra com celular cintilante, tinha que passar justo naquela hora? Tinha?



domingo, 4 de outubro de 2020

Querido Diário - "Comamos e bebamos, porque amanhã governaremos!"



Imagem: Internet

Pois desde que iniciou a campanha eleitoral de 2020, e como sou, embora muito falante, em grande parte de meu tempo apenas observador atento, leio noticias, e acompanho, com curiosidade e expectativa os acontecimentos, e naturalmente, porque meu interesse intelectual me leva à conjecturas, e destas conjecturas, extraio uma análise bastante cautelosa, porém pitoresca dos fatos, juntando os elementos que chegam à mim, e dessa amálgama insossa, escrevo meinhas conclusões. Ou exponho minhas dúvidas, o que exige menos responsabilidade.

Desta feita, são conclusões com base em informações que NÃO tenho, isto é, embora tenha solicitado aos candidatos, por suas assessorias, que enviassem um resumo de suas propostas, o que em campanha política chamamos de "plataforma", ou o equivalente a um "Plano de Negócios" dos futuros gestores, infelizmente percebo que uma pandemia ideológica se alastra com grande velocidade e ferocidade pelo mundo político. Vou explicar melhor, para que não pairem sombras de desconfiança acerca do que eu digo, e para que não passe a impressão de que eu esteja puxando a brasa para qualquer um dos candidatos, e aqui refiro-me à Gramado, o alvo de meus ensaios.

Assim como o Covid-19, que alastrou-se com a velocidade do pensamento, e bem maior que a rapidez do vento, infiltrando-se com fome insuportável nas pessoas, e apenas nas pessoas, como uma bomba de Nêutrons, aquela que mata apenas organismos vivos, mas mantém intactas as edificações, assim também o esvaziamento de objetivos a médio e longo prazo, o conteúdo de promessas de realizações foi corroído pelo conjunto dos sintomas que foram afetados pela maldição do Corona.

Não é uma virtude apenas de Gramado esse marasmo e desânimo nas campanhas, pois para quem assistiu (e eu NÃO assisti, por falta de saúde estomacal pra ver sandices, mas acompanhei as notícias depois) o debate dos candidatos norte-americanos, ou acompanha as campanhas pelo Brasil afora, há um claro e imenso buraco negro nas propostas dos candidatos de todos os partidos, em relação ao que pretendem mudar, acrescentar, ou suprimir, assim que assumirem o cargo na Prefeitura.

Continua após a publicidade



Tenho, há algumas semanas já, insistentemente implorado aos candidatos que enviem suas plataformas, que digam a que virão, e há um vazio ensurdecedor, de todos eles. 

Então, descartando que seja comigo o silêncio, busco nas redes sociais de outros blogueiros, qualquer pista, que possa me levar à descoberta de suas propostas, e já estou quase surdo de tanto ouvir agulhas caindo sobre almofadas. Silêncio.

Recorro, então, em última instância, às próprias redes sociais e páginas dos candidatos, e o que vejo lá:
O meu sonho de consumo para as campanhas de Gramado! Paz e amor, e pétalas esvoaçando pelas caminhas, onde uma névoa rosada e azul filtra os raios marotos do sol da Primavera que acaba de chegar.

Quase consigo ler na chamada das "selfies" o seguinte preâmbulo: "Meu querido Diário!".
É o que temos para essa eleição. Candidatos honrados, amigos de todos (mesmo), pessoas decentes (nenhum foge à isso), com conteúdo programático absolutamente vazio.

De todos, sem exceção, ouço suas biografias e todos dizem que irão despoluir os arroios, cuidar da saúde do povo, proteger, servir e amar às criancinhas e os idosos, fazer "bilu" nos animaizinhos, enfim, tudo genérico, tudo sem conteúdo, nada de concreto para o uso de trezentos milhões anuais de orçamento, nada de concreto, para a reabertura das portas no momento em que cessarem os efeitos da pandemia, nada. Apenas prometem que serão honestos (disso não tenho nenhuma dúvida), que serão competentes (claro, abrirão caixinhas de surpresa  e todos gritarão: "Viva!", e trabalharão na base do: "Deixa acontecer, que estamos juntos aqui!".

Os especialistas dizem que o exagerado uso do celular, das redes sociais, desprepara as pessoas para o raciocínio, e perdem com isso seu livre arbítrio. Parece que sim. Parece que a geração do "tá, depois eu faço" acaba de completar sua maioridade e se lançou na política.

Quase todos os cristãos, que já leram a Bíblia alguma vez, ou a ouviram ser citada, tem no livro de I Coríntios, o capítulo 13, como a mais bela expressão sobre o amor. 

Até rock já foi escrito e gravado com esse tema. O que parece é que o mundo agora descobriu que o livro não termina no capítulo 13, mas que mais adiante, o capítulo 15 diz algo tão verdadeiro quando o décimo terceiro capítulo.

Quem nada promete, de nada pode ser cobrado depois.

Estou falando dos candidatos à Prefeito. Já os candidatos à Vereador...pobres almas. Quase cem candidatos, mas para tirar daí nove, vai ser uma luta ferrenha. 

Felizmente tem alguns que oferecem esperança, não só para a próxima legislatura, mas para a renovação política de 2024. Todos eles, pessoas de excelente caráter, e inteligência acima do comum, mas completamente despreparados. Falam tanto em "renovação na política", mas não conhecem nem mesmo a antiga, para obterem ponto de partida. 

 
"Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos.

1 Coríntios 15:32"

Publicidade



quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O monstro de Wall Street e o Leão de Butiá - As escolhas que nos carregam

Imagens de Internet modificadas

"...você pode salvar a sua igreja ou o partido politico de sua escolha. Você pode pintar a porra da coruja com dinheiro..."

 J.B - O Lobo de Wall Street (diálogo do filme)


o Gari Betinho vive em Butiá, interior do Rio Grande do Sul, região carvoeira, que além do carvão mineral, produz ainda madeira de Eucalipto, Arroz, e Melancias. Um bom lugar para se viver. Bem, talvez, nem tão bom assim, porque há pobres, miseráveis, que não tem muita participação nas grandes riquezas desta economia. 

São os pobres. Os muito pobres, que nada pedem, mas muito esperam, daqueles que possam mitigar-lhes a fome, reduzir a miséria, e prover-lhes, de quando em quando, um pouco de refrigério ao corpo e ao espírito, e com estes, a alma.



Jordan Belfort é um cidadão norte-americano, bem sucedido nos negócios, autor do livro: Caçada ao Lobo de Wall Street, e nas redes sociais, onde tem 555 mil seguidores no Facebook, e cerca de 275 mil, no Twitter.

 Um número expressivo, diga-o o youtuber brasileiro Whindersson Nunes, com 40 millhões de seguidores, ou Ricardo Amorim, economista, que só no linkedin, tem mais de 2 milhões de seguidores, ou quase 1 milhão no Facebook,  que abriu sua corretora há cerca de 11 anos, e conta com quase mil clientes atendidos em vários países, clientes fiéis e redundantes (que retornam), diga-o também, suas postagens de caráter humanitário no Linkedin, enaltecendo sempre as causas sociais, que quase sempre, arrancam lágrimas e nos envergonham pelo nosso marasmo social.

Voltando ao Sr Jordan, não o conheço pessoalmente, e conheço de sua biografia, apenas aquilo que mostra o filme, com base em um livro, de sua lavra, após uma temporada na prisão, por conta de negócios ilícitos, e de sua brilhante capacidade de convencer pessoas a comprarem coisas que não necessitam, gastando o que não tem, para que nunca seja usadas, e no caso de seu negócio pregresso, de ações podres e ilegais, no mercado de valores.

O mercado de valores, ou Bolsa de Valores, como preferem dizer alguns, é um lugar onde se percebem as mudanças importantes do mundo. É um termômetro social e político. Conheci levemente e entendi isso na prática, no dia em que o índice Ibovespa estava subindo a olhos vistos, e eu estava ganhando algum dinheirinho rapidamente. Coisa de 150 por cento em cerca de dez minutos. Nesse momento, tocou o interfone, e fui atender. Era aquele amigo bacana, que gostava de jogar conversa fora comigo. Dei-lhe dez minutos de atenção, e ao desligar, retornei ao computador, para ver se já estava rico. Não estava. as ações despencaram naquele exato instante e o pregão que participei, estava encerrado pelo robô, que o encerrava à perda do que eu havia investido. Naquele momento, o ex Presidente Michel Temer, havia sido preso.

Isso é investimento em ações. Isso é a Bolsa. Isso é o Mercado financeiro. Isso é Wall Street. Isso e mais. Mais é o que fazem, supostamente, corretores inescrupulosos, que criam situações que fazem despencar ou subir exponencialmente as ações, e secretamente compram ou vendem, lucrando enormes fortunas em horas, dias. Isso é o que supostamente aconteceu durante o escândalo de uma grande companhia brasileira, que fez suas ações despencarem, por conta de um escândalo político gerado por eles próprios, e comprando as ações no mercado por valores irrisórios, lucrando depois, com o abafamento da situação. Isso é Wall Street, e o que deseja, apaixonadamente Wall Street? Dinheiro, muito dinheiro, para contentar pessoas felizes e infelizes, porém com muito dinheiro.

Falar mal de quem ganha dinheiro sem escrúpulos é muito fácil. Agrada à todos, pois é muito fácil que um pobre fale mal de um rico, e atribua seu sucesso à desonestidade. Tenho que dizer que é aqui que começa meu paradoxo, pois seguindo o que diz a Bíblia, dinheiro não é coisa do Satã. Tanto não é, que vários mandamentos da Lei ditada por Moisés, falam na forma da correta administração dos bens, do dinheiro, da distribuição das colheitas com os pobres, no auxilio aos órfãos e às viúvas, ao estrangeiro, ao necessitado, e no comprometimento de bem administrar os bens e valores recebidos como fruto do bom trabalho.

Continua após a publicidade

Há muito livros que falam na prosperidade do povo judeu, e isso, naturalmente, acaba sendo associado à riqueza, sob a máxima de que "Jesus era pobre". Ora, Jesus, o Jesus bíblico, nunca foi pobre, e nem rico, e nunca deu importância a isso, senão ao fato que o Ser Humano não necessita mais do que os cuidados de D-s para que viva feliz, e uma única ocasião, onde sugeriu ao jovem rico que devolvesse metade dos bens aos pobres, pois era, supostamente, tal jovem, um dos ricos que amealhara fortuna à custa dos infelizes. Assim como fazem os personagens do filme sobre a mencionada biografia do playboy nova-iorquino.

Gosto de um pequeno livro, chamado: "As leis de "tsedacá e maasser", que fala do relacionamento do judeu (ou outro qualquer, que tenha as leis de D-s como norma de conduta)com o dinheiro e seus bens.

Em nenhum lugar da Bíblia se diz que dinheiro é sujo, como também não se diz que mel seja veneno, mas diz que comer muito mel não é bom, e que onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração.

A Bíblia inteira está repleta de ensinamentos e histórias de pessoas ricas que usaram seus bens para enaltecer O Criador, auxiliando os pobres. Se não houverem os ricos, capazes de administrarem os recursos, como ficariam os pobres, com outros talentos?

Não quero desandar pela hipocrisia de dizer que dinheiro não é bom. Claro que é bom, e na quantidade suficiente, traz dignidade, mas na falta deste, mede o caráter.

O Gari Betinho não faz palestras motivacionais, mas alimenta centenas de pessoas ainda mais pobres do que ele. Corrijo, com fortunas um pouco menores que as suas, mas equilibradas porque ele divide a sua própria fortuna, e motiva outras pessoas a separarem um certo pouquinho, de suas próprias riquezas, para que ele possa levar "um docinho" para as crianças que nunca ouviram falar de Wall Street. Wall, "o muro" não separa as pessoas de Butiá, e não tem dinheiro, assim, muito dinheiro. Mas até onde sei, ao receberem as doações de Betinho, se tornam temporariamente ricas e felizes.

Continua após a publicidade



Está certo ele em dizer que pobreza e felicidade não combinam. Porque pobre fica feliz com pouco, e muitos deles (de nós), não precisa de uma Ferrari branca para andar pelas ruas.

Jordan Belfort é judeu, mas aparentemente nunca leu, ou se leu, deu pouca, quase nenhuma importância à literatura judaica, sobre a gestão do dinheiro da vida das pessoas. Infelizmente. Poderia ser rico, e também ter feito algo de útil ao mundo, pelo tanto que conhece do comportamento humano. Talvez.

Mantém longe de mim a falsidade e a mentira; Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário.

Provérbios 30:8

Publicidade






sábado, 26 de setembro de 2020

O homem que brigou com D-us - Opus 2 (Segunda parte)

Imagem- Internet


O homem que brigou com D-us - Opus 2 (Segunda parte)

Aquele dia passara depressa. E mente de Esteban  parecia um festival de fogos e luzes que piscavam e pipocavam sem parar. Os pensamentos atropelavam-se uns aos outros, depois do encerramento daquela aula. Não conseguia apagar da mente as respostas prontas em forma de mais perguntas, do jovem Benjamim.

Aquele menino não era comum. Suas indagações e reflexões eram bem mais que o cotidiano conhecimento de "tabelinhas prontas", com perguntas à esquerda e respostas à direita. Nada nele era pronto, e ele ousava questionar se a aparição divina a Moisés, seria uma visão com base em condicionantes extrínsecos, ou alucinações pela falta de oxigênio pela altitude em que estava o Libertador dos hebreus.

Não" Aquele menino não era um cético, e muito menos ateu. Era um judeu, religioso, parte de uma família conservadora, e que apenas por uma questão extemporânea, frequentava aquela escola, mas estava destinado a mudar-se no ano vindouro para uma Yeshivá, as escolas tradicionais religiosas judaicas, aquelas que formam Rabinos, mas que nem por isso sentia-se fora de seu ambiente, ao ponto de permitir-se debater com seu mestre, sem receio de confrontá-lo à reflexões profundas e de difícil entendimento ou resposta.

Esteban era, afinal, um advogado, e um professor de história. Não tinha porque enfiar-se em debates filosóficos, e muito menos teológicos, com seus alunos, por ser exatamente um ateu, e bastava-lhe repassar o currículo da disciplina e contentar-se com as respostas prontas no livro auxiliar do professor.

Ora, perder seu tempo acadêmico ouvindo perguntas que lhe faltavam ao domínio, exatamente sobre um tema e Um personagem que ele reputava inexistente: D-s! D-s não existia em seus acurados estudos, e embora não fosse comunista, concordava com Marx, com Jung, Com Nietsche, que o Personagem D-s seria apenas uma criatura mítica criada pelos homens, ás suas imagens, conforme suas semelhanças. Fazia sentido sim, quando se tratava de questões práticas, pois se Descartes estava certo, em sua máxima: Cogito Ergo Sum" (Penso, logo existo), então bastava pensar e também uma divindade passaria a existir para aquela pessoa, cultura, ou civilização, e bastaria criar-lhes afagos e escrever livros com suas frases, como se fossem citações da própria divindade, e estariam criadas as religiões. A história, que ele conhecia o suficiente, contava coisas assim. Então, por que isso tirava-lhe a quietude, logo um menino, um adolescente?

- Venha jantar! - Chamou Hava, sua esposa! Fiz aquele pudim que você tanto gosta, meu bem!

- Estou indo, querida! Preciso apenas revisar um finalzinho de uma prova, mas prometo á você, que em três minutinhos estarei á mesa apreciando os "divinos" sabores de suas mãos mágicas.

"Divinos sabores" - aquilo foi uma piada, mas tentando agradar à Hava, que era cristã, filha de judeus convertidos durante a fuga da Europa, no período da Segunda Guerra Mundial, e sentia-se desconfortável com a descrença do marido. Mas era uma mulher de pensamento livre e entendia que religião, crença, eram coisas absolutamente pessoais, e que bastava sua compreensão, e a dele para que as coisas andassem bem. E andavam.

- Como foi seu dia hoje, querido? - Perguntou Hava, enquanto servia uma fatia generosa do pudim que havia feito.

- Não posso dizer que tenha sido um dia comum, minha querida. Não posso dizer isso. Houve um fato que, preciso confessar, deixou-me um tanto pensativo. Um novo aluno, filho daquela família que mudou pra cá no ano passado. O rapaz, Benjamim, é diferente dos meninos que conheço. É perspicaz.

- Acho que você encontrou alguém à altura de sua inteligência! - Disse, sorrindo, Hava,
- Foi bem mais que isso, querida! Ele me superou, com poucas palavras em um curto diálogo, um pequeno debate durante um exercício de aula. Nem era nada dentro da disciplina, pelo menos, não o debate, que estava mais associado à teologia, assunto que não me traz sabor algum.

- Agora fiquei curiosa, querido! O que ele disse que te deixou em êxtase?

Esteban deu uma sonora gargalhada.

- êxtase não é o que se pode esperar de um ateu em assuntos de religião, minha querida, pois eu trato a religião, a fé, como um atributo sociológico e psicológico, um conjunto de fenômenos de comportamento, e o meu respeito às pessoas que praticam suas crenças como exercício de livre arbítrio, que tanto há entre pessoas quanto entre os animais.

- Como disse? Animais tem livre arbítrio?

- De certa forma, sim, nos parecemos. Os animais sentem fome, e saem em busca de alimento, e quando o encontram, simplesmente comem. Não tem nenhum tipo de sentimento ruim ou bom pelo que acabaram de comer. Seja grama ou outro animal, comer é uma necessidade, mas permanecer naquele lugar, é uma escolha deles, não concorda comigo?

- Você deve estar brincando comigo. Claro que não não posso concordar. Os animais se movem sem que ninguém os conduza, é certo, mas sua permanência em determinado lugar, dá-se pelo instinto em perceber, pelo faro, ou sensações próprias de cada animal, que ali há mais alimento, e assim que tiverem fome, na melhor hora do dia em que estejam adaptados à busca de seu alimento, o fazem. Eles não tem uma escolha de mudarem isso. Os carnívoros não refletem sobre a dor da presa e o direito à vida, e buscam adaptar-se à verduras e frutas. Alguns até comem isso, mas na primeira oportunidade que a onça tiver, os direitos da ovelha não serão levados em conta.

Esteban ri novamente e enfia goela abaixo um notável pedaço de pudim.

- Tantos anos ao meu lado, e não percebe quando estou brincando! Eu apenas quero dizer que os Seres Humanos fazem o mesmo, e sua territorialidade é por interesse e conforto. A diferença está em que estão mais evoluídos e fazem escolhas sobre o bem e o mal, mas ao fim disso, são tão irracionais quanto os animais. Veja as calamidades, que destroem vidas, sonhos, tiram vidas, levam fome e dor, e uma nova seleção começa, onde os mais fortes sobrevivem e os mais fracos perecem. E por mais fortes, eu não faço da força física, mas da força moral, que respeita os limites do outro, e da riqueza mental que faz com que, em muitos casos, doem suas próprias comodidades e vidas em favor dos mais indefesos, começando pelos de sua própria casa.

- Você sabe bem o que eu penso, e em que lugar eu coloco a minha fé - emendou Hava.

- Mas a fé é uma mostra de força, minha querida. Eu sou ateu, e dispenso a existência de um D-s Criador, mas não duvido jamais da fé. Eu creio que você crê, e creio que sua crença de fortalece, e em sua crença, você diz e faz coisas que cria sinapses de encorajamento a si e aos outros que compartilham de sua crença. O que não acredito é que haja um Espírito, uma energia inteligente escondida em sua mente, nem esquecida do outro lado do Universo, em um trono de luz, cercado de anjos e outros espíritos, ao qual vocês chamam de D-s.Mas digo uma coisa, com sinceridade: Se conseguirem, pela ciência, comprovar a existência de D-s, eu revejo meus conceitos.

- E eu revejo os meus - respondeu Hava. No dia em que conseguirem uma amostra do DNA de D-s, e colocá-la em uma cápsula no laboratório, quem deixará de acreditar em D-s serei eu, meu querido. Não passa pela minha cabeça, crer em um D-s tão insignificante e exibicionista, que De deixe entubar e medir por cabeças mortais e prepotentes. Ora, provar D-s pela experimentação científica. Você tem cada ideia! E a louça é sua hoje! Eu tenho provas para corrigir. E bem menos metafóricas que as suas. Aritmética é mais fácil de entender do que que sua descrença!- Disse Hava, ao dar-lhe um beijo no rosto e sair dali.

- A propósito - emendou: por que você não convida seu aluno Benjamin e seus pais para virem almoçar conosco no sábado?

- Eles são judeus, e sua alimentação é "Kasher", especial. Eles não misturam carne com leite, e as carnes devem ser provenientes de abates especiais. Além disso, o Sábado é o dia santo deles. Não creio que se sentiriam à vontade, comendo com estranhos, justo neste dia.

- Eu sei o que é comida kasher, meu bem, e sei também que não acendem fogo aos sábados, mas prepararei alguns pratos vegetarianos deliciosos, e farei isso na sexta feira, de modo que não transgrida o costume deles. Eles moram aqui pertinho, e certamente saberemos fazer com que se sintam bem-vindos à nossa casa. O que custa tentar? Assim, você terá oportunidade de conhecer melhor a fonte do conhecimento de Benjamin.

- A ideia é ótima! Farei isso então, querida. Agora, por favor, deixe-me concentrar na louça. 

- Animais com livre arbítrio! Eu invento cada coisa... Pensando bem, os animais levam vantagem sobre as pessoas, pois eles acordam, andam, procuram comida, comem, fazem suas necessidades, procriam, e vão dormir. Vida simples, tudo natural, sem boletos a pagar, sem provar por corrigir, sem saber se Gengis Khan empunhava espada com a mão direita ou esquerda.. 

Na manhã seguinte, pontualmente, às sete horas e quarenta e dois minutos, o professor Esteban chega para seu café com biscoitos na sala dos professores, e às oito horas, ao sinal da escola, adentra a sala de aula.

- Página oitenta e um! Leiam em voz alta o debate entre D-s e Moisés. Um voluntário? Benjamim, quer ler? Não, Benjamin já leu na vez passada e monopolizou a aula. Fernanda! você leia, de forma audível, o texto.

Fernanda abriu o livro, que tinha, nele transcrito, o capítulo três do Livro do Êxodo:

-"E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe.
E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia..

E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima.
E vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui.
E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.
Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus." (Êxodo 3:2-6)

- Obrigado, Fernanda! - Interrompeu o professor. Vamos agora analisar o ambiente em que vivia Moisés. Felipe! Gostaria de comentar isso?

Felipe assentiu e levantou-se para falar.

- Moisés havia fugido do Egito, ou foi expulso, também pode-se dizer assim, após ter assassinado um egípcio, porque este batia em um hebreu. No dia seguinte, viu dois hebreus brigando, e tentou intervir, dizendo que não deveriam brigar, pois eram irmãos. Foi quando um dos brigões voltou-se para ele, e o acusou de ser ele próprio um assassino. Então fugiu de lá, e andou até a Terra de Cuxe, a Etiópia, e lá encontrou refúgio entre a família de Jetro, um chefe tribal, que não era muito bem-vindo entre as demais tribos, porque cultuava um D-s diferente dos cuxitas. Era de certo modo, discriminado por sua visão monoteísta.

Lá chegando, Moisés, que era um homem forte, pois fora treinado para ser um general, um príncipe para combate, e também para governar, defrontou-se com um bando de pastores que maltratavam uma moça, à beira de um poço, onde todos recolhiam água. Moisés enxotou os pastores, e auxiliou a jovem, que chamava-se Tzipora, e logo também casou-se com ela.

Este episódio, do encontro com D-s, no alto do Monte Horebe, acontece cerca de quarenta anos após sua chegada a Cuxe. Tinha então Moisés, nesse tempo, oitenta anos de idade, de acordo com a cronologia bíblica.

- Obrigado, Felipe! Muito boa sua observação, porque nem tudo o que você disse, encontra-se com tanta clareza, na Bíblia, mas vejo que você busca seu conhecimento em mais fontes periféricas. Que fontes são essas? porque você sabe que, provas se encontram, não apenas em um relato, mas nas testemunhas que acompanharam os relatos, que não necessariamente sejam protagonistas do relato.

- Bem, professor. Eu desconheço as fontes, ou livros, mas são relatos que eu ouvi minha avó contar, quando eu era pequeno. Ela dizia que isso estava na tradição de nossa família, e que vinha sendo passada de pai pra filho, por muitas gerações.

- Era aqui que eu queria chegar, classe! Como a história chegou até nós! - Bradou com alegria Esteban.

- A história é o conjunto de relatos que se juntam e são passados adiante. Alguns fatos são registrados em palavras em livros, pergaminhos, tabletes de barro, com palavras, hieróglifos, ou textos, Já outros, são testemunhados pelo conjunto que reúne a história oral, chamada de Tradição Oral, com pistas arqueológicas, ou pontos geográficos específicos, mencionados nos relatos antigos, que dão corpo às histórias da tradição oral, ou dos próprios relatos textuais em literatura e documentos ou manuscritos antigos.

Assim, a Bíblia, é o conjunto destas informações e relatos, contatos através de cerca de quinze séculos, por dezenas de autores, da Bíblia Hebraica, conhecida pelos cristãos, como Antigo Testamento, e outros pares de escritores, quase todos judeus, de uma matriz judaica chamada de "Ha Derek", que significa: "O Caminho", posteriormente chamados de "Cristãos", ou "Seguidores" de Yeshua, O Nazareno, definição que demanda estudos mais aprofundados quando ao significado original, segundo alguns estudiosos.

Percebam então, que aquilo que nos mostra um único relato, pode ser a inteira verdade, mas nem sempre deixa claro seu verdadeiro, ou original significado. Eis o papel da história, que é abrir as portas da "Meta-História", a história atrás da história, que, às vezes, nos traz uma nova leitura sobre um texto, aparentemente insignificante. Sobre isso, falaremos mais num outro dia. Terminamos aqui a aula de hoje, e Benjamim, preciso dar uma palavrinha com você, por favor


...continua

Publicidade





sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O homem que brigou com D-us - Opus 1 (Ensaio)


Todos os nomes dos personagens, exceto menções de personagens históricos, são fictícios*

Professor Esteban Saavedra chegava sistematicamente às sete horas e quarenta e dois minutos na escola, onde lecionava história aos alunos do último ano do Ensino Médio. Dirigia-se à sala dos professores, largava sua mochila com seu notebook, e servia-se de café, recém passado, por Dona Maria Virgínia, que sincronizava o preparo da iguaria, ao som dos seus passos pelo corredor, até à pequena salinha, de onde era atraído pelo aroma que se espalhava por todo o andar da escola.

À primeira xícara servida, ao velho professor, fazia companhia um pote de biscoitos, que passava de mão em mão pelos demais professores que iam chegando ao lugar, para refestelarem-se com café, biscoitos, e umas boas risadas de um e outro professor, que relatava o comportamento deste ou daquele aluno, tecendo conjuras sobre o comportamento, ou dramas familiares revelados ali, como se fosse um grupo de apoio, onde catarses eram despejadas nos poucos e bem aproveitados minutos antes do confronto diário com a turba enfurecida trancafiada entre quatro paredes e vinte e poucas carteiras enfileiradas, onde seus desafios os aguardavam impacientemente.

Continua após a publicidade



Sete horas e cinquenta e cinco minutos, toca o sinal de aviso para que todos os alunos entrem em suas respectivas salas, fato que poderia ocorrer com harmonia e silêncio, pois são apenas vinte e poucos saudáveis estudantes dirigindo-se para mais uma manhã de instrução e conhecimento. Poderia ser ordeira e silenciosa. Poderia.

Faltando um minuto para as oito horas, Esteban abre a porta, e ao ver o estardalhaço que fazem seus alunos, fica parado à porta, com uma mão segurando a mochila, e a outra segurando a maçaneta da porta, e olhando com firmeza, mas sem ira ou qualquer aparência de raiva, para a turba, que aos poucos, percebia que não seria recomendável que mantivessem a resiliência da desordem, mas se aquietava, até que, ao som da segunda cigarra que tocava novamente, Esteban entra e com delicadeza fecha a porta, cumprimentando, a seguir, seus alunos, com um generoso sorriso ao rosto.

Continua após a publicidade

- O Universo tem suas regras, eis a razão pela qual nos mantemos íntegros, apesar da imensa quantidade de meteoros, e raios cósmicos nos bombardeando o tempo inteiro, mas eis que entre essa caótica configuração que se faz parecer com organização mnemônica, embora tudo parece, ao olhar mais acurado, como randômica, ocasional, como é o tempo, e assim é nossa classe: Se parece com um mundo no caos, mas é cosmogônica, ordeira, e civilizada, e de fácil organização, enquanto houverem regras e estas regras forem seguidas, o que acaba de acontecer.

A classe não piscava, e só respirava, para manter a vida pulsando nos corpos estáteis, apenas tentando assimilar o conjunto de palavras diferentes e difíceis, que nem estavam ligadas (é o que achavam) à sua disciplina de História. Mas discutir com um erudito era tempo perdido, e ainda poderiam ter do que rir à hora do intervalo, imitando os trejeitos pomposos do velho professor Esteban.

Esteban era um advogado, que dividia seu tempo entre os tribunais, e a cátedra, e lutava para decidir qual das atividades dominava mais sua paixão. Era como um homem que amava duas mulheres, e não se decidia por nenhuma, antes traía as duas, e traía a si mesmo por essa indecisão. Mas era assim que era. Paixão e dedicação aos réus, paixão e dedicação aos alunos. Ambos precisavam de sua lucidez permanente, pois um único deslize seu poderia deixar que condenassem um inocente, ou tiraria dos bancos de uma universidade, um aluno descuidado com a matéria.

A aula era de história das religiões. E Esteban era ateu. Não era ateu proselitista, pois acreditava no livre arbítrio e no direito de crer em não crer e não crer em crença alguma, exceto a crença da não existência de D-s (Deus). Mas era ateu convicto, e para tornar-se ateu praticante, com ética em suas crenças da não existência de Um Criador, precisava acima de tudo de honestidade consigo mesmo, e deveria entender por que não cria, mas também porque criam em D-s, e por que tinham religiões tão diferentes, e ao mesmo tempo tão iguais, os seus alunos e os demais professores.

Estudara com fervor quase religioso a Torá, os Profetas, os Escritos, da Bíblia Hebraica, ou Antigo Testamento, mas também tinha várias pós graduações nos escritos judaicos do Novo Testamento, mas também conhecia Surata por Surata do Alcorão, o Livro Sagrado dos Muçulmanos, assim como sabia diferenciar entre o Bardo Thödol, do Budismo do Norte, ao Bukio Dendo Kyokai, do Budismo do Sul. Lia também e estudava os mantras com minuciosa curiosidade, do Hinduísmo e suas variadas ramificações, passando ainda pelo Livro dos Mortos do Egito, e para ser mais específico no interesse das aulas, a história do cristianismo, desde Jesus, chamado O Cristo, Messias, passando pelas perseguições romanas, primeiro aos judeus, depois aos cristãos, e depois destes aos judeus, até chegar ao presente, na confusão das religiões que matam e torturam em nome do D-s, ao qual chamam de amoroso. Isso o tornara ateu e fortalecia suas convicções, citando a Bíblia quando dizia, do Livro de Eclesiastes: "No muito saber, há enfado da carne", eram as palavras atribuídas ao Rei Salomão. O Rei com mil mulheres e que transformara seu palácio e o Templo Sagrado, em dois imensos puteiros, onde praticava sua justiça, aterrorizando mães que disputavam a posse de um filho, ameaçando fazer bifes do bebê vivo, e claro, funcionou, e nunca saberemos se ele passaria a lâmina no bebê, ou nas mães delinquentes. Enfim. Salomão não era um bom exemplo para Esteban, e relatos como esse sedimentavam sua fé no vazio Teológico.

A favor do professor Esteban, era que ensinava os preceitos e o entendimento científico do comportamento humano diante de cada religião, era sua honestidade no ensino, e se os cristãos creem que Jesus é D-s, então ee dizia: Segundo a crença cristã, de que Jesus seja D-s, então, vamos tratá-lO com tal reverência, como gostaríamos também de Tratar da crença judaica de que Moisés, Josué, e os grandes profetas da história de Israel realmente falavam face a face com seu D-s, então é assim que trataremos, pois minha crença é apenas minha, e vossa crença é apenas vossa, e o respeito é o que nos iguala como Humanidade, e nos difere dos animais irracionais, isto é, que agem pelo instinto, mas não pela razão.

Continua após a publicidade




- Um cão jamais questionará porque é um cão, por que não é uma lagosta, ou um Iáque do Himalaia. Assim, eu não questiono por que Benjamim frequenta uma sinagoga, ou Abdul vai à mesquita, nem tampouco por que João Pedro reza aos domingos na missa, enquanto Sebastião recebe passes num terreiro de Orixás.

- É este livre arbítrio que aproxima as pessoas, sem que interfira nas crenças de cada uma delas, enquanto em seus ambientes próprios, e que haja um senso comum de convivência e respeito em ambientes que pertencem à todos, e que ponham em prática as boas práticas de seus ensinamentos religiosos, que devem externar o resultado daquilo que entendem por amor ao próximo, este, pregado por todas elas, e esta é a única parte das religiões que me comovem de certa forma.

- Professor Esteban! Levantou a mão um menino que assentava-se ao fundo da classe.

-O senhor já falou com D-s?

Esteban sorriu e ironizou a situação.
- Bem, ainda que eu falasse com Ele, acho que não seria convidado a tornar-me pastor, padre, xamã, ou rabino de seu rebanho - respondeu.

- Mas o senhor já falou com D-s?- Insistiu o menino.

- Não, filho. Nunca falei, E você falou com Ele? (Fez um sinal com o dedo indicador, apontando para cima, movendo-o pra cima e pra baixo, com sarcasmo).

- O senhor acredita que eu tenha falado com Ele, professor Esteban?

- Mas que menino! Responde uma pergunta com outra pergunta!-Riu disso.

- Você responde uma pergunta com outra pergunta, muito inteligente, filho. Você é judeu?

- Apenas os judeus respondem uma pergunta com outra pergunta, senhor professor Esteban?

- Você é o jovem Benjamim, é isso?
- O senhor sabia que meu pai também se chama Benjamim, e dois tios, por parte de minha mãe, também tem esse nome?

- Você não me respondeu a pergunta. Você já conversou com D-s, Benjamim?

- Quem fez esta pergunta não fui eu, professor Esteban?

Esteban deu uma sonora gargalhada e deu início ao plano de aula:
- Página sessenta e dois. Leia, Samira, em voz alta.

- Moisés subiu o Monte à procura de umas ovelhas que havia subido o Monte, e ao aproximar-se de um lado da montanha, viu um fogo aproximadamente de sua altura, envolvendo uma planta seca, uma Sarça, mas apesar de emanar um grande calor, a planta permanecia intacta, e não queimava. Assustado e curioso, Moisés aproximou-se., e do meio do fogo, ouviu uma voz que dizia:
- Moisés! Tira as tuas sandálias, pois o chão que pisas é Terra Santa.

- Muito bem, Samira! Pode assentar-se.

- Benjamim! Você realmente acredita que Moisés estava, de fato, conversando com D-s?

- Talvez sim, professor, porque Moisés ainda não conhecia o D-s Criador do Universo, mas conhecia muitas histórias dos deuses do Egito. Moisés foi treinado, e qualquer manifestação estranha, poderia ser algum deus conversando com ele, pois no Egito, Moisés vira muitas coisas estranhas acontecendo, quando era um aprendiz de sacerdote e príncipe do Egito.

Perceba, professor Esteban, que Moisés nem chegou a perguntar quem era aquele espírito, até que O Próprio D-s se apresentou, e nem se apresentou também como O Criador do Universo, mas começou o relacionamento de mansinho, apresentando-Se como Alguém íntimo com a família de Moisés (D-s de Abraão, Isaac e Jacó). Assim, foi O Próprio D-s quem abriu caminho para aquela conversa, e é como Ele faz sempre, eu imagino.

Esteban cerrou os lábios, abaixou a cabeça e a balançava em movimento vertical, segurando o queixo, e olhando em direção à janela, enquanto escutava o rapaz. Em seguida objetou:

- Então você se contradiz, pois afirmou que Moisés conhecia segredos da manipulação, da mágica, do ilusionismo, das ervas alucinógenas, e outros recursos que alteravam o estado de consciência da pessoa. A própria altitude, o ar rarefeito, não poderia ter levado Moisés a ter aquela visão, e de ter imaginado estar conversando com sua divindade?

- Onde há contradição, professor Esteban? Em primeiro lugar, em nenhum momento D-s disse que estava ali. Ele apenas fez Moisés saber com quem falava, e uma visão, fosse ela física ou não (não vou chamar de real, porque realidade virtual é também uma realidade)era a epifania necessária para indicar o sagrado da situação.
Em segundo lugar, aquela, que o senhor diz ser a possibilidade de uma alucinação fanática, foi seguida de uma sequência de fatos com milhões de testemunhas, e registrada passo a passo como diferente da forma usual, e assim denominada de milagres.

D-s poderia ter se comunicado em sonhos, como fez com Abraão, com Jacó, com José, mas também falava face a face, como com Moisés e outros profetas, mas optou por aquela situação, onde o abiente não esteja cercado de imagens, ou portas douradas, nem pompa e cerimônia. A única cerimônia exigida foi lembra que dentro da casa, não se entra de sandálias, costume que mamãe Rivka nos impõe até hoje, pois a casa é um lugar santo, kadosh, separado do mundo, e os pés que pisam lugares santos tornam-se santificados também. Esrta era a intenção de D-s ao exigir que Moises caminhasse descalço na Sua Presenta, ois era um lugar de Santidade. A presença de D-s em qualquer lugar, traz santidade àquele lugar.

Esteban ouvia tudo calado, assimilando os fatos, e preparando a próxima pergunta, mas lembrou que Benjamin estava monopolizando sua aula, e os demais alunos poderiam se deixar influenciar pelo pequeno teólogo de bermudas, e uns fios de barba dispersos pelo queixo.

- Muito bem, Benjamim! Tome nota disso que você falou em uma redação e deixe na minha mesa até o fim da aula. Quanto aos demais, façam também uma redação, com base no que Benjamim falou aqui nessa aula, e deem suas opiniões a respeito do que foi dito e perguntado. Vocês tem o resto da manhã para debaterem entre sim, em duplas, e apresentarem suas redações, que as lerei em casa, e valerão dois pontos na nota do mês.

.......Segue no próximo ensaio

Publicidade





quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Falar corretamente, ou agir de modo correto - O que voce escolhe?

 


Quem acompanha meu trabalho desde certo tempo, sabe que eu gosto de brincar com as palavras, fazer trocadilhos, e errar propositadamente em textos bem humorados.

Sabem ainda, os meus leitores, que em algumas oportunidades, os meus textos são um pouco mais complexos, e faz-se necessário uma segunda ou até terceira leitura, para que o sentido amplo possa ser compreendido.

Continua após a publicidade


Já houve até quem reclamasse que meus textos, são muito extensos. 

É possível que sim, mas certamente não são os mesmos leitores que  fazem das letras, o seu conforto, ao sabor da quietude, o seu tempero dos dias. 

Eu devo respeitar suas preferências, e indicar à estas pessoas, aquelas tirinhas de "cartoon", do rodapé de jornais (se é que alguém ainda leia jornal), embora estas, às vezes, por serem inteligentes demais, nem sempre são completamente compreensíveis. 

Bem, em última hipótese, no "Pinterest", há bilhões de imagens sem texto algum. 

Pinterest, eu penso que seja talvez, o maior álbum de figurinhas que existe. Vale a pena. E nem precisa ler as legendas. Basta deslizar o mouse e clicar em cima, que uma puxa outra até que o sono se torne insuportável.

Mas também sabem que quando quero eu brincar ou ironizar com alguma situação, eu escorrego ladeira abaixo propositadamente do vernáculo, e levo o escracho ao texto,  para que note-se distintamente que estou brincando, e raramente alguém vê o contrário.

Como tenho leitores e amigos virtuais de todas as classes, eruditos, ou simplórios (no bom sentido), eu tomo o cuidado de evitar direcionar algum texto de forma chula, invasiva, ou debochando dos erros alheios, pois quem é que não comete deslizes na gramática de vez em quando? 

Esse texto aqui, mesmo, talvez seja objeto de crítica textual ou gramatical de alguém versado nas letras, e venha mostrar-se à tal pessoa, eivado de erros. 

Paciência. É assim mesmo a vida. Erramos e acertamos, mas sobretudo, buscamos estabelecer duas coisas, quando escrevemos, pois nem sempre o que escrevemos tem endereço no envelope, e muitas vezes, o endereço é pessoal, à nós mesmos. 

Escrevemos como desabafo, como observação do cotidiano, ou simplesmente pelo prazer de escrever.

Eu tenho, ao longo do meu crescimento intelectual e pessoal, tomado o cuidado em mais que escrever de modo correto, viver e agir, de forma ilibada, não para vender uma imagem de santo, mas para deslizar pela vida de maneira mais prazerosa.

Viver além das palavras é uma forma de escrever no espírito com letras que só o íntimo possa ler, e o íntimo é, em última instância, o gestor do caminhar e do viver.

Assim, escrevo o que penso e penso no que vivo. Aos sábios, faço-me ouvidos, e aos tolos, cubro os olhos para que não vejam, e os ouvidos para que não ouçam, assim como amarro os pés, e ato as mãos, para que não caminhem nem abracem tais criaturas, porque aprendi, pela vida, a errar sozinho. 

Para cometer deslizes, não preciso que me empurrem. Basta escolher não caminhar, quando sei que não nasci com raízes, mas com pernas.

Basta escolher ouvir o que é bom e proveitoso, quando meus ouvidos são seletivos e podem servir-se das mãos para que os encubram e os protejam de ignomínias.

Para ser mau, basta não ser bom. Para ser bom, sim aí está o grande desafio que é viver sob constantes escolhas.

Falar corretamente é falar com naturalidade, e não fingir conhecimento com palavras ao vento. 

Agir de modo correto é agir pelo que somos diante dos outros, como se estivéssemos sós.

É um jeito de ser, viver e pensar. Cada um viva o seu próprio, que o mundo já fica um pouco melhor.

Que falem nossas palavras o que diz o nosso comportamento. Ser correto é mais que escrever certo.

Publicidade




quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Antes que venham os maus dias - O entardecer de todos nós

 



Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;
Eclesiastes 12:1


Velho é matéria-prima para anedotas...sobre velhos! 

Há muitas, e em todas elas os velhos são satirizados, e também satirizam a si mesmos, em assuntos como: disfunções ligadas à senilidade (caduquice), impotência sexual atrelada à incontinência urinária, o uso de acessórios vestuários, e claro, o "politicamente imbecil modo de falar incorreto", onde diz que não se diz mais "velho", mas "Idoso"; "melhor idade", mas velho nunca. 

Continua após a publicidade


Inventaram regras fracionadas, pois a palavra "velho", antes indicava algo ou alguém, com idade além daquilo que era estabelecido como "novo", ou seja, um antônimo, apenas.

Então, por que já não se pode mais chamar de velho, se há um antônimo que o equipare? 

Nesse caso não seria também proibido chamar algo ou alguém de novo? Deveria ser, pois é ofensivo chamar de novo o que pode ser chamado de "diferenciado". 

É proibido chamar de estúpido àquilo que que deve ser chamado de "inepto". 

É casuístico chamar qualquer coisa pelo modo que vinha sendo chamado desde que tal verbete tenha sido adicionado ao uso da palavra que se quer para designar um qualificativo, ainda que pejorativo da pessoa. 

Isso é ser velho.

Interessante que essa conduta, é nova. Isso mesmo. Nova! 

Não começou essa imposição de um novo vernáculo senão nas duas últimas décadas, ou pouco mais.

Até bem pouco tempo atrás, isso nos idos de minha juventude, os anciãos eram respeitados, e a história dos costumes relata a importância que tinham dentro da comunidade, eles, os velhos, que também eram conhecidos por serem sábios. 

Nós ansiamos demais, e essa demasia nos distanciou daquilo que é puro, daquilo que é  necessário.

Ansiamos pela vida, que corre mais depressa que nós e nossos passos, até que chega o tempo em que a vida começa a frear, e é o tempo quem acelera à nossa frente, ansioso, impaciente, com pressa de chegar a algum lugar.

O tempo não é bom para com os velhos. 

Apressa-os constantemente, e por ser tempo, e não gente, não raciocina direito, que o tempo só existe por causa do Homem. 

Assim, quando o Homem se extinguir, não haverá montaria para as horas, e as horas serão sepultadas junto com aqueles a quem apressaram.

Antes que venham os maus dias, façamos então, um concerto com nossos olhos, para que vejam o maior número de coisas, que um dia não verão mais: as flores, o céu, a noite, o mar, os rios, as estrelas, e as pessoas que caminham a largos passos à nossa volta, e também aqueles cujos largos, nossos passos caminham à volta delas.

Façamos um acordo, antes que venham os dias maus, com nossos ouvidos, para que ouçamos as vozes e as melodias, os cânticos, e as sinfonias, e o riacho que murmura ao longo de nosso caminhar.

Antes que venham os dias maus, aconselhemos nossas mãos, a que encaminhem os braços, aos calorosos abraços de outros braços, e neste entrelaço, promovamos encontros de corações, um juntinho do outro, e o outro do um, aquecidos pelo pulsar dos encontros.

Antes que venham os dias maus, façamos com que nossas pernas levem os pés à intensas e distantes caminhadas, em busca de horizontes, onde jorram as fontes da eternidade que nos espera.

Antes que venham os dias maus, sejamos simplesmente, bons, e nada mais. Apenas bons. Apenas felizes.

Publicidade


Minha "quase esposa" do Tadjiquistão

Pois parece um pesadelo doido, mas o fato deu-se como verdadeiro. Eis o causo: No cotidiano da faina, lá pelos idos de 2012, recebo pelo mes...