AD SENSE

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A Comenda do Velho Bracatinga




Seo Bracatinga nem sempre foi largado num asilo pra esperar a morte chegar. Não senhor. Bracatinga já foi importante, fez coisas importantes, e teve ao seu lado, pessoas importantes. Assim foi, sim senhor.

Foi um filantropo muito conhecido, e patrono das artes e literatura. Teve dinheiro, fama e poder, e uma esposa, a quem foi fiel enquanto ela deixou. Mas sabe como é, todo homem  precisa ter uma fraqueza e a fraqueza de Bracatinga era..."jogar truco ca cumpanherada!" Embora prometesse à Casturina que havia largado o vício, de fato não havia, e mal era virava as costas, e ao longe se ouvia: 

- "Truco!"
- "Te retruco!"

- "Mão de onze!"
- Mão de ferro!

- "Guascaa!"
- "Ah, la frescaaa!"

E voltava assobiando, com a mão no bolso da bombacha, contando os pila que amealhou.

- Adonde tu tava, Carniça?

- Fui ali, bombeá umas linha de jundiá.

- Mas o rio fica do outro lado, mintiroso!

- Pra tu vê o trabaio que dá caminhá nesses brejo pra trazê um peixinho pra fritura. E tu, já fez a polenta?

- Fiz de manhã, caduco! Agora é metade da tarde!

- Recebi uma carta.

- Carta de quem?

- Consulado da Espanha!

- Que que querem?

- Me fazer uma homenagem por serviços que prestei durante a revolução de 35.

- O que tu fez em 35?

- Nasci. Isso é um préstimo inestimável à coroa espanhola.

- Tu é loco!

Tá aqui a carta. Pode oiá com teus zóio, encrenca!

De fato, era mesmo uma carta do consulado geral da Espanha, mencionando uma homenagem, por serviços prestados, ao entregar uma carta, cujo teor, decidiu uma questão importante no país. Bracatinga is passando na rua, e viu que o carteiro deixara cair a tal carta. Juntou e correu atrás dele, mas não o alcançou. Como viu que era destinada ao consulado da Espanha, que ficava perto, passou lá e entregou a um sujeito magricelo que estava entrando no prédio. Era o Cônsul. Fez um gesto de reverência em gratidão, perguntou o nome, e entrou. Isso foi tudo.

Chegou o dia da entrega da comenda, e um belo jantar foi servido. Bracatinga se fartou de Paella. Repetiu várias vezes. Saiu de pança lustrosa. Chegado o momento, foi chamado ao púlpito e recebeu a comenda, uma bela medalha suportada por uma faixa com as cores da Espanha. Bem bagual mesmo, pensou Bracatinga. Isso feito, chegou o momento de descontração, e foi servida uma sangria - uma bebida à base de vinho e frutas. Bem docinho. Bom demais. E sendo o convidado de honra, Bracatinga desatou a beber o quanto podia. Bebeu muito. Depois veio conhaque, vinho, enfim, festa é festa.

Já com o pé redondo, e a cabeça girando, Bracatinga chegou a uma mesinha, onde estava exposta a bela comenda. Olhou aquilo, chegou bem perto, examinou bem, ainda que borracho, e comentou:
- Que negócio tão lindaço. De quem é esse pinduricáio?

- É sua, Señor Bracatinga!  O señor recibyó  la Comenda de la cuerte de España! LO más alto honor de la Casa de Los Bourbon Y Aragón!

- E quando é que eu fiz encomenda de corte pra uma espanhola? Me tira disso! Eu não vou pagar por uma coisa que não encomendei.

Teria sido apenas arroubo de um borracho, mas quem respondeu isso foi o próprio cônsul, vermelho de raiva... Só se ouviu, ao longe, um:
- Conõ! Qué me caga la madre!

- Seu Bracatinga! Acorde! O senhor está tendo um pesadelo...

- Vai à merda, enfermeiro! Adonde tá minha comenda? Tava aqui na minha mão agorinha mesmo..deixei cair no café..

- O senhor estava comendo bolachinha com café, Seo Bracatinga. Quer mais uma?

A tarde estava fria, e embora enrolado em um cobertor, Bracatinga foi recolhido ao seu quartinho triste e sombrio.


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Olá 
Eu, Pacard,  e o Apolônio Lacerda, meu simpático Alter Ego Intestino queremos convidar você, a participar deste projeto literário, que desenvolvemos (ele é o autor, e eu só entro de metido)desde 2013, quando foi lançada em algumas plataformas, a Primeira edição do livro Teoria da Criatividade.

Há poucos dias, percebemos que os leitores estão em busca de respostas à questão criativa no ambiente de pandemia, e pós pandemia, e entendemos que seria necessária uma revisão e atualização, além de uma melhor diagramação da obra.
 
Assim, apresentamos o projeto da Edição Revisada e Ampliada 2020,  e contextualizada para o momento. Trata-se de uma obra conceitual, filosófica, autobiográfica, e que levanta questões diretamente ligadas à necessidade criativa e na sua importância na sociedade moderna.
A obra será vendida, inicialmente, de modo direto, a um grupo seleto de amigos, e mais tarde, através das plataformas na web.

Você adquire uma cópia digital codificada ao valor de R$ 10,00, e ao adquirir acima de 50 cópias, pode acrescentar uma peça publicitária de seu interesse, e distribuir as cópias aos seus amigos e clientes livremente (ela não poderá ser impressa, mas poderá ser compartilhada com senha)

Esta é uma forma de participar de meu projeto literário, pois tenho muitos outros livros em andamento neste formado. 
Também aceito projetos especiais, biografias, ensaios, e redação publicitária.

Contato: 48 999 61 1546  apenas whatsapp ou email - dpacard@gmail.com


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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Bracatinga e Apolônio



Apolônio deu de mão na viola de três cordas, e um dente de ouro, e foi visitar o velho Bracatinga, no asilo onde aguardava o susto.

- Mãns chê! Cuaje não me deixam entrar, por causo da viola. 

- E o que a viola tem de errado?

- Foi qualificada como instrumento de tortura. Mãns só quando eu toco.

- Trouxe a encomenda?

- Tá aqui. Só tinha a Tertúlia.

- É da boa. Deixa ali atrás do banco. Tomemo um mate?

- Tomemo um mate. Mãns não se apoquente. Já truche pronto aqui nos apetrecho.

- Adonde tá?

- No saco da viola!

- E a viola?

- Deixemo guardada. Não toco nada mêmo.

- Guardada adonde?

- Na portaria do asilo.

- Quem era o porteiro?

- O Polaquinho.

- Bagual ele.

- Bagual, bagual!

- Vou ali tomar um mate a já venho.

- Não vai me servir um?

- Não posso. Tenho que respeitar as lei.

- Aqui dentro tem lei que proibe mate?

- Pois não sei.

-Vamo quebrá essa lei.

- E nóis semo ôme de quebrá lei? Sou ôme de bem!

-Vou me candidatar.

- Vai?

- Vou!

- A que?

- Não sei. Me candidato, e depois eu decido.

- E o que vai prometer? Candidato tem que prometer!

- Uma ponte!

- Adonde?

- No Itaimbezinho. Um feito!

-Como tu é inguinorante. Uma ponte em riba do Itaimbezinho contradiz a Lei da gravidade!

- Eu passo um decreto e anulo essa lei.

- Não dá, ôme! Não se mexe com essas côza! A Lei da Gravidade é uma lei federalh!

- Sirva um mate!

- Não dá. Só pode matear de másquera.

- Então coma um biscoito.

- Perciza vortá aqui com a viola.

- Eu não sei tocá.

- Cheia de erva e biscoito.

- Bem alembrado.

- Me voy!

....

- Enfermeiro! Venha cá! Tou lhe chamando!

- Diga Seo Bracatinga!

- Quero mijá!

- Pode fazer na fralda, Seo Bracatinga!

- Enfermeiro!

- O que é, Seo Bracatinga?

- Me sirva um mate!

- Aqui não tem mate, seo Bracatinga!

- Chame o Apolônio de volta e ele que devolva meus apetrecho de mate!

- Quem é Apolônio, Seo Bracatinga?
- O maleva, com o violão de trêis corda que saiu daqui.

- É meia noite, Seo Bracatinga, o senhor está no seu quarto, e não vem ninguém aqui visitá-lo há mais de três meses...

...

- O senhor está chorando, Seo Bracatinga?

- Não mesmo, varão! Sou "ôme de bem!"

- Enfermeiro!

- O que é agora, Seo Bracatinga?

- Posso peidá na fralda também?


O velho Bracatinga, o centenário


Imagem: Internet

Pois não é exagero afirmar que o velho Bracatinga já havia passado dos cem anos de idade. Era ele mesmo que afirmava isso, com muita segurança.

- Quanto é noventa mais dez, Seo Bracatinga?

- Duzentos!

- E o senhor tem mesmo cem anos de idade?

- Carcule o senhor! Nasci na revolução de trinta e cinco.

- Mas então não são cem anos ainda, Seo Bracatinga. São oitenta e cinco..

- Mil oitocentos e trinta e cinco! Conheci Bento Gonçalves e ajudei a dar uma coça no traíra do Canabarro.

- Mas nesse caso, Seo Bracatinga, o senhor deveria ter cento e oitenta e cinco anos.

- E "seis meis", pois nasci no mês de abril, logo depois da Somana Santa.

- Seo Bracatinga, quem sabe o senhor tenha nascido em 1935, e tenha mesmo 85 anos?

- Vassuncê quer saber mais que eu, que tava lá quando nasci? Alembro como se fosse treisontonte, do cavalo manco do Assis Brasil.

-E eu desisto. o senhor tem mesmo cem anos.

-O senhor é louco? Acabou de admitir  que eu tenho cento e oitenta e cinco..

- ...e seis meses!

- Viu só? Contadinho nos dedos!

- E o que sente, aos cento e oitenta e cinco anos?

-...e" seis meis"!"

- Isso!

- Sinto que ninguém mais fala a verdade nesse mundo!

- Ninguém mesmo!

- Ouviu falar das políticas?

- Me respeite! Sou "ôme" de bem!

-Está faltando um caudilho que bote ordem no governo.

- Os "caudilho"  já morreram tudo!

- Estava pensando no senhor mesmo.

- Largue de ser puxa-saco! Já falei que sou "ôme de bem!"

- Como está a familia, seu Bracatinga?

- Me mandaram umas bolachinha no natal.

-Só isso?

- Só isso. Erva eu já tinha. Fiz um mate. Tomei com bolachinha.

- Lhe tratam bem aqui no asilo?

- Me tratam como véio.

- Mas o senhor não é velho?

- Claro! Nasci na revolução de 35!

- E lhe tratam bem aqui?

- Tu é caduco? Já fez essa pergunta.

- Quero saber se lhe respeitam.

- Respeitam o meu facão "treis listra"!

- O senhor tem um facão aqui?

- Não.

- Entendi. Mas pensam que tem, né?

- Sei lá o que passa na cabeça dessa gente. São tudo lôco!

- Por que, Seu Bracatinga?

- Acreditam que nasci em 35, na revolução.

- E lhe tratam como louco então?

- Claro! Senão como acham que não me tiram pra uma justa de adaga?

- Aqui já saiu alguma justa de adaga, Seo Bracatinga?

- Claro que não! Isso é um asilo e não um bolicho. Não teria a mesma graça.

- E namorada, Seo Bracatinga?: Tem alguma?

- Não! Aqui só tem véia.

- E as enfermeiras?

- Enfermeiros! Não sou desse tipo. Sou "ôme de bem!"

- A comida como,é, Seo Bracatinga?

- De comer. O resto é de beber.

- Eu desisto!

- Frôcho!

- Bom, é tarde, e eu tenho que voltar, Seo Bracatinga!

- Voltar de "adonde?"

- Daqui. Tenho que ir embora.

- Se é pra sair, porque chegou?

- Para visitá-lo, Seo Bracainga.

- E quem é o senhor?

- Seu filho, Manuel!

- Desde quando?

- Acho que desde que nasci.

- Muito prazer! Demiciano Rodrigues! Mas pode me chamar de Bracatinga! Seu criado!

- Muito prazer, pai!

....

- Enfermeiro!

-Diga, Seo Bracatinga!

- Simpático aquele rapaizinho que saiu daqui? 

- Parecia que sim, Seo Bracatinga. Quem era ele?

- Não sei, disse que era meu pai. Mas achei muito novo pra isso. Eu tenho pra mais de cem anos. Nasci na revolução de 35. Nos braço de Bento Gonçalves.

- Bem conservado ele, Seo Bracatinga.

....

- Seo Bracatinga? O senhor está dormindo?

.....






O homem que brigou com D-s - Opus 4 (Parte 4)Quando o fundo do poço tem um um porão - A Melancolia que nos sustém


Imagens - Internet

As respostas de D-s são sempre imediatas, mas nossa relutância em estarmos alinhados com Ele faz com que demoremos para compreender o que Ele já fez em relação à nossa espera.

Esteban estava eufórico com aquele encontro. Encontrar um religioso que não o julgava nem discriminava por seu ateísmo, era inusitado. Quem travasse algum debate com ele, começava na dianteira, porque qualquer paradoxo convocava um coringa e dava o nome de "fé".  Mas com os Klein não acontecia assim. Nem Itzak, nem Benjamin, o rapaz, demonstravam qualquer ironia ou pouco caso em relação às indagações de Esteban.

Ele queria mais, queria espremer a fruta e saber quando caldo havia. Assim, como os cristãos, de modo geral, tem curiosidade em relação aos judeus, ou islâmicos, assim alguns ateus também suprem sua curiosidade em busca solitária, ou em companhia de outros ateus, porque muito raramente um bom cristão irá deixar-se contaminar pela descrença em D-s, não irá expor-se à tentação de ser convencido, e sair deste encontro, também ateu.

Aquela era, então uma oportunidade de ouro, onde um e outro, seriam examinados à exaustão (assim pensava Esteban), sem o receio de serem pervertidos de suas convicções.

- Onde está D-s? - Perguntou Esteban, ainda que sabia a resposta técnica, mas queria ouvi-la de um religioso.

- Onde você gostaria que Ele estivesse? - Respondeu Itzak, ao modo talmúdico - uma pergunta com outra pergunta.

- Se eu acreditasse que Ele existe, certamente gostaria que estivesse aqui conosco, dividindo um bom refresco, e explicando Ele próprio, onde está quando crianças morrem no meio da guerra, ou quando uma serpente devora um passarinho, que não fez mal a ninguém.

- É uma perspectiva interessante - respondeu Itzak. E você realmente crê que D-s então não tem interesse na refeição da serpente, ou no livramento da criança em meio à guerra?

- Se tivesse, e se fosse Quem dizem Ser, Justo e Bom, onde se encontra a justiça da dor, da fome, do sofrimento?

- Há uma pergunta bastante conhecida: Onde estava D-s, no Holocausto? - Disse Itzak.

- E onde Ele estava? - Emendou Esteban.

- Nossos sábios costumam dizer que D-s Se oculta para que O encontremos - respondeu Itzak.

Quando o fundo do poço tem um um porão - A Melancolia que nos sustém, meu amigo, eis a chave compreensível do incompreensível que nos abraça no cotidiano.

Minha avó, Mirian Elisheva, tinha a pele muito branca, o que permitia fazer notar qualquer alteração nela, e as alterações mais comuns, eram grandes manchas roxas e pretas nos braços flácidos, ao que ela chamava de "Manchas de Melancolia".

Fui, recentemente, buscar mais informações sobre esta expressão, e de fato, descobri que são manchas associadas à depressão, o que, em meus tempos de "bachur" (menino), chamava-se "Melancolia". Hoje, a palavra Melancolia", embora ainda tenha o mesmo significado, é mais assoada ao estado psíquico e sentimental, dito de uma forma mais poética, digamos assim, e de pouco uso, embora possa definir bem melhor sentimentos que não estejam necessariamente ligados a algum distúrbio químico, o que é tratado em outra dimensão dentro da medicina.

Meu filho, certa vez, disse essa frase: "Quando achares que estejas no fundo do poço, lembre-se que o poço pode ter um porão!" Eu ri, mas havia uma grande verdade no que ele falou, por brincadeira.

Não são raras as vezes em que o lugar onde estacionamos pareça ser o fim dos problemas, e esse beco sem saída, torna-se então, pelo modo do otimismo inverso, um alento, e uma esperança de que pior não pode ficar. Mas fica, e é nessa oportunidade que percebemos que tudo o que sofremos, todas as dificuldades e desafios que tínhamos atravessado, foram exatamente o treinamento que tivemos, porque dias piores viriam ainda pela frente. E vieram. O infortúnio tem uma agenda organizada, e não falha aos seus compromissos. Se está agendado que deva vir, ele virá.

E D-s, onde fica nisso? Acaso falharam as Suas promessas, e Seu braço encolheu? Acaso seria D-s um sádico, que deseja fazer-nos crescer pela dor? Teria D-s necessidade de ver-nos sofrer, para só então agir em nosso favor, e às vezes, aos nossos olhos, nem mesmo agir, ou agir tardiamente?

Quase sempre eu ofereço respostas, caminhos do pensamento, reflexões, mas hoje não tenho como fazer isso, porque simplesmente eu não tenho nenhuma resposta a dar, e se o fizesse, cairia nos jargões de rodapé missionários, que nenhuma resposta daria, senão a certeza de que "D-s quis assim". Quis mesmo assim? Ou o sofrimento é uma consequência de erros, nossos e de outros em nosso caminho, no passado dos que nos precederam?

Diz o Livro Santo que  "O indivíduo que pecar, este morrerá! O filho não levará a culpa do pai, tampouco o pai será culpado pelo pecado do filho. Assim, a justiça do justo lhe será creditada, e a malignidade do ímpio lhe será devidamente cobrada com a vida." (Ezequiel, 18:20).

No entanto, aparentemente contraditório há o mandamento que diz:

"Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.

E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
Êxodo 20:5,6"

"Visito a iniquidade até terceira e quarta geração - faço misericórdia até mil gerações!

Eis o grande paradoxo, onde de um lado, O Eterno determina um espaço de tempo contado por gerações, para que as consequências dos atos maus sejam purgados daquela família e de outro, estabelece mil gerações, e sabemos que em toda a história humana, não se passaram ainda mil gerações desde a  criação do primeiro Homem e da primeira Mulher, mas ainda assim, há um conjunto de recompensas ou consequências pelo comportamento de cada pessoa.

Se olhar o aspecto das bênçãos, vale dizer que será um compromisso de cada geração, pensar nos que virão, e usufruam as benesses de seu bom comportamento, assim como o ancião que planta uma tamareira, e de outro lado, por situação de consciência, que a mesma geração projete a possibilidade de que suas más atitudes possa atingir gerações que não estão à sua frente e ao alcance de um abraço, ou de uma repreensão, demonstrando que a responsabilidade de cada um está além do alcance do que se possa ver ou tocar, mas se espalha pelo tempo, e se multiplica pelo espaço.

O fundo do poço pode ser um lugar, um tempo, uma pessoa, uma sensação, ou uma prisão. Pode ser libertador, se olharmos para o alto, ou desesperador, se pisarmos em falso, e D-s não tem culpa, nem responsabilidade por nossas escolhas, ou pelas escolhas dos que nos precederam. D-s estabelece o plano, e destaca com brilho as mil gerações, mas as três ou quatro páginas das consequências estão à nossa frente também, e  pode ser que nestas três ou quatro páginas, esteja a chave para a compreensão das mil páginas que as sucedem.

Esteban ficou pensativo, e perguntou:
- Você me diz que Benjamin pode ser responsabilizado por algum erro que você cometa, ou herdará de modo afortunado, as boas ações que você amealhou com D-s, você me diz? O que o meu aluno Benjamin diz sobre isso?

Benjamin, que a tudo ouvia, e balançava a cabeça, às vezes sorria, e outras parecia pensar com profundidade no que diziam, terminou seu gole de café, devolveu a xpicara ao pratinho, e falou:

- Quando eu não como meu desjejum, pela manhã, passo o dia com fome. Digamos que seja Yom Kipur, e eu decidi jejuar, de acordo com nosso costume, por vinte e cinco horas. A tradição nos ensina a quebrarmos o jejum com uma refeição leve, em família, ou comunidade, para que recebamos com alegria, o pouco que iremos comer, recordando que esta refeição faz parte de um ensinamento, de que nossos pais tiveram dificuldade, mas foram libertados de suas aflições pelo cuidado de HaShem (D-s), não sem que antes tenham atravessado um longo deserto de provações e privações, mas que o cuidado de HaShem sempre tenha sido efetivo ao final do tempo estabelecido.
O fundo do poço era o Egito, depois o Mar de Juncos pela frente, mas cerca de oito dias depois, receberam a Torá, a Lei, e apesar de um grande deslize espiritual, ao adorarem um bezerro de ouro, foram perdoados, e seguiram em frente. Nesse tempo haviam se passado apenas quarenta dias desde a saída do Egito, e novamente se deixaram levar pela falsidade de sua fé, então foi aí que descobriram que o fundo do poço tinha porão, pois permaneceram por quarenta anos no deserto, para receberem o ensinamento necessário a poupar-lhes novos dissabores.
Aqui vemos que pelo medo e "fake news" de dez homens, cerca de três milhões de pessoas amargaram pelo resultado das ações réprobas destes dez ímpios.
Esteban ouvia e continha-se em êxtase. Nunca havia ouvido tal coisa em sua busca por provar que D-s não existe.

- Talvez ainda não exista - pensou, mas quem acredita nEle, está muito bem fundamentado pela lógica e pelo conhecimento filosófico de sua fé.

-Mas isso não responde o vazio de D's no sofrimento - continuou Esteban.
- D-s não dá respostas, -nem Se mostra. Nossos sábios costumam dizer que D-s "Se oculta, para que O procuremos". Assim, dada a grandeza infinita de D-s, mil gerações talvez seja muito pouco, para encontrar todas as Suas manifestações, pois nunca estaremos "Com D-s", mas "Em D-s!". Sua busca já começou, meu amigo professor Esteban. Acredite!



continua.........

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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Querido Diário - O Cotovelaço!

 


Pois naquele dia, Dona Dorotéia, carinhosamente chamada de Tia Dorinha, iria receber visitas importantes: Os candidatos!

Pense numa alegria, da macróbia, em poder tirar  da gaveta, os guardanapinhos bordadinhos com carinho, cheirando à camomila, que ela deixava junto de um sachezinho para perfumar o armário. 


Pense na alegria dela, que durante  a juventude, fizera parte do Comitê de Jovens Pela Democracia , o COJOPEDE, liderado por Sebastião Medeiros, o caudilho. 

O próprio Sebastião, condecorara a "Camarada Dorotéia" por bravura em ação de defesa (ela havia tocado porta afora à vassouradas um candidato oponente da COJOPEDE).

Pois Tia Dorinha soubera, por sua vizinha Cantides Morena, a benzedeira, que naquele dia, os candidatos fariam uma visita à rua, e não poderiam visitar o lugar, sem passar para um abraço à velha revolucionária condecorada. E assim foi.

Batendo palmas de porta em porta (de luvas, como recomendava o Ministério, luvas descartáveis, combinando com as máscaras descartáveis, a touca descartável, o avental descartável, e as cotoveleiras descartáveis, porque o cumprimento agora era na base do cotovelaço, por conta da pandemia que não dava moleza, especialmente para os mais rodados, a veiarada mesmo, sem floreiros nem frescuras no modo de dizer), chegaram à casa florida, com cerquinha branca e flores pelo caminho, afinal, estavam em Jardim dos Prazeres, a suculenta cidadezinha encravada na curva do vento sul.

Prosa vai, prosa vem, um chazinho aqui, uma bolachinha ali, e o candidato olha pro vice candidato, e bate na testa, escandalizado: 

- Ai, misericórdia! Quase perdemos a hora! Tá tão formidável a prosa, que ia me esquecendo que temos que passar na reunião dos depenadores de marreco ali na Vila da Rosa Murcha.

E dito isso, virou-se para dar uma cotovelada de despedia no cotovelo de Tia Dorinha, sem perceber que ia chegando Dona Nenê, vizinha de Dorinha, e mãe do Dorvalo Batista, justamente o candidato oponente, e chega a bater remorso só de contar, que o cotovelo mal calibrado do candidato acertou em cheio, o olho da Nenê.

Certas coisas acontecem na vida da pessoa em horas erradas, vou te contar. A cotovelada seria consertada por uns afagos, mas aquela guria mixiriquêra com celular cintilante, tinha que passar justo naquela hora? Tinha?



domingo, 4 de outubro de 2020

Querido Diário - "Comamos e bebamos, porque amanhã governaremos!"



Imagem: Internet

Pois desde que iniciou a campanha eleitoral de 2020, e como sou, embora muito falante, em grande parte de meu tempo apenas observador atento, leio noticias, e acompanho, com curiosidade e expectativa os acontecimentos, e naturalmente, porque meu interesse intelectual me leva à conjecturas, e destas conjecturas, extraio uma análise bastante cautelosa, porém pitoresca dos fatos, juntando os elementos que chegam à mim, e dessa amálgama insossa, escrevo meinhas conclusões. Ou exponho minhas dúvidas, o que exige menos responsabilidade.

Desta feita, são conclusões com base em informações que NÃO tenho, isto é, embora tenha solicitado aos candidatos, por suas assessorias, que enviassem um resumo de suas propostas, o que em campanha política chamamos de "plataforma", ou o equivalente a um "Plano de Negócios" dos futuros gestores, infelizmente percebo que uma pandemia ideológica se alastra com grande velocidade e ferocidade pelo mundo político. Vou explicar melhor, para que não pairem sombras de desconfiança acerca do que eu digo, e para que não passe a impressão de que eu esteja puxando a brasa para qualquer um dos candidatos, e aqui refiro-me à Gramado, o alvo de meus ensaios.

Assim como o Covid-19, que alastrou-se com a velocidade do pensamento, e bem maior que a rapidez do vento, infiltrando-se com fome insuportável nas pessoas, e apenas nas pessoas, como uma bomba de Nêutrons, aquela que mata apenas organismos vivos, mas mantém intactas as edificações, assim também o esvaziamento de objetivos a médio e longo prazo, o conteúdo de promessas de realizações foi corroído pelo conjunto dos sintomas que foram afetados pela maldição do Corona.

Não é uma virtude apenas de Gramado esse marasmo e desânimo nas campanhas, pois para quem assistiu (e eu NÃO assisti, por falta de saúde estomacal pra ver sandices, mas acompanhei as notícias depois) o debate dos candidatos norte-americanos, ou acompanha as campanhas pelo Brasil afora, há um claro e imenso buraco negro nas propostas dos candidatos de todos os partidos, em relação ao que pretendem mudar, acrescentar, ou suprimir, assim que assumirem o cargo na Prefeitura.

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Tenho, há algumas semanas já, insistentemente implorado aos candidatos que enviem suas plataformas, que digam a que virão, e há um vazio ensurdecedor, de todos eles. 

Então, descartando que seja comigo o silêncio, busco nas redes sociais de outros blogueiros, qualquer pista, que possa me levar à descoberta de suas propostas, e já estou quase surdo de tanto ouvir agulhas caindo sobre almofadas. Silêncio.

Recorro, então, em última instância, às próprias redes sociais e páginas dos candidatos, e o que vejo lá:
O meu sonho de consumo para as campanhas de Gramado! Paz e amor, e pétalas esvoaçando pelas caminhas, onde uma névoa rosada e azul filtra os raios marotos do sol da Primavera que acaba de chegar.

Quase consigo ler na chamada das "selfies" o seguinte preâmbulo: "Meu querido Diário!".
É o que temos para essa eleição. Candidatos honrados, amigos de todos (mesmo), pessoas decentes (nenhum foge à isso), com conteúdo programático absolutamente vazio.

De todos, sem exceção, ouço suas biografias e todos dizem que irão despoluir os arroios, cuidar da saúde do povo, proteger, servir e amar às criancinhas e os idosos, fazer "bilu" nos animaizinhos, enfim, tudo genérico, tudo sem conteúdo, nada de concreto para o uso de trezentos milhões anuais de orçamento, nada de concreto, para a reabertura das portas no momento em que cessarem os efeitos da pandemia, nada. Apenas prometem que serão honestos (disso não tenho nenhuma dúvida), que serão competentes (claro, abrirão caixinhas de surpresa  e todos gritarão: "Viva!", e trabalharão na base do: "Deixa acontecer, que estamos juntos aqui!".

Os especialistas dizem que o exagerado uso do celular, das redes sociais, desprepara as pessoas para o raciocínio, e perdem com isso seu livre arbítrio. Parece que sim. Parece que a geração do "tá, depois eu faço" acaba de completar sua maioridade e se lançou na política.

Quase todos os cristãos, que já leram a Bíblia alguma vez, ou a ouviram ser citada, tem no livro de I Coríntios, o capítulo 13, como a mais bela expressão sobre o amor. 

Até rock já foi escrito e gravado com esse tema. O que parece é que o mundo agora descobriu que o livro não termina no capítulo 13, mas que mais adiante, o capítulo 15 diz algo tão verdadeiro quando o décimo terceiro capítulo.

Quem nada promete, de nada pode ser cobrado depois.

Estou falando dos candidatos à Prefeito. Já os candidatos à Vereador...pobres almas. Quase cem candidatos, mas para tirar daí nove, vai ser uma luta ferrenha. 

Felizmente tem alguns que oferecem esperança, não só para a próxima legislatura, mas para a renovação política de 2024. Todos eles, pessoas de excelente caráter, e inteligência acima do comum, mas completamente despreparados. Falam tanto em "renovação na política", mas não conhecem nem mesmo a antiga, para obterem ponto de partida. 

 
"Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos.

1 Coríntios 15:32"

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quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O monstro de Wall Street e o Leão de Butiá - As escolhas que nos carregam

Imagens de Internet modificadas

"...você pode salvar a sua igreja ou o partido politico de sua escolha. Você pode pintar a porra da coruja com dinheiro..."

 J.B - O Lobo de Wall Street (diálogo do filme)


o Gari Betinho vive em Butiá, interior do Rio Grande do Sul, região carvoeira, que além do carvão mineral, produz ainda madeira de Eucalipto, Arroz, e Melancias. Um bom lugar para se viver. Bem, talvez, nem tão bom assim, porque há pobres, miseráveis, que não tem muita participação nas grandes riquezas desta economia. 

São os pobres. Os muito pobres, que nada pedem, mas muito esperam, daqueles que possam mitigar-lhes a fome, reduzir a miséria, e prover-lhes, de quando em quando, um pouco de refrigério ao corpo e ao espírito, e com estes, a alma.



Jordan Belfort é um cidadão norte-americano, bem sucedido nos negócios, autor do livro: Caçada ao Lobo de Wall Street, e nas redes sociais, onde tem 555 mil seguidores no Facebook, e cerca de 275 mil, no Twitter.

 Um número expressivo, diga-o o youtuber brasileiro Whindersson Nunes, com 40 millhões de seguidores, ou Ricardo Amorim, economista, que só no linkedin, tem mais de 2 milhões de seguidores, ou quase 1 milhão no Facebook,  que abriu sua corretora há cerca de 11 anos, e conta com quase mil clientes atendidos em vários países, clientes fiéis e redundantes (que retornam), diga-o também, suas postagens de caráter humanitário no Linkedin, enaltecendo sempre as causas sociais, que quase sempre, arrancam lágrimas e nos envergonham pelo nosso marasmo social.

Voltando ao Sr Jordan, não o conheço pessoalmente, e conheço de sua biografia, apenas aquilo que mostra o filme, com base em um livro, de sua lavra, após uma temporada na prisão, por conta de negócios ilícitos, e de sua brilhante capacidade de convencer pessoas a comprarem coisas que não necessitam, gastando o que não tem, para que nunca seja usadas, e no caso de seu negócio pregresso, de ações podres e ilegais, no mercado de valores.

O mercado de valores, ou Bolsa de Valores, como preferem dizer alguns, é um lugar onde se percebem as mudanças importantes do mundo. É um termômetro social e político. Conheci levemente e entendi isso na prática, no dia em que o índice Ibovespa estava subindo a olhos vistos, e eu estava ganhando algum dinheirinho rapidamente. Coisa de 150 por cento em cerca de dez minutos. Nesse momento, tocou o interfone, e fui atender. Era aquele amigo bacana, que gostava de jogar conversa fora comigo. Dei-lhe dez minutos de atenção, e ao desligar, retornei ao computador, para ver se já estava rico. Não estava. as ações despencaram naquele exato instante e o pregão que participei, estava encerrado pelo robô, que o encerrava à perda do que eu havia investido. Naquele momento, o ex Presidente Michel Temer, havia sido preso.

Isso é investimento em ações. Isso é a Bolsa. Isso é o Mercado financeiro. Isso é Wall Street. Isso e mais. Mais é o que fazem, supostamente, corretores inescrupulosos, que criam situações que fazem despencar ou subir exponencialmente as ações, e secretamente compram ou vendem, lucrando enormes fortunas em horas, dias. Isso é o que supostamente aconteceu durante o escândalo de uma grande companhia brasileira, que fez suas ações despencarem, por conta de um escândalo político gerado por eles próprios, e comprando as ações no mercado por valores irrisórios, lucrando depois, com o abafamento da situação. Isso é Wall Street, e o que deseja, apaixonadamente Wall Street? Dinheiro, muito dinheiro, para contentar pessoas felizes e infelizes, porém com muito dinheiro.

Falar mal de quem ganha dinheiro sem escrúpulos é muito fácil. Agrada à todos, pois é muito fácil que um pobre fale mal de um rico, e atribua seu sucesso à desonestidade. Tenho que dizer que é aqui que começa meu paradoxo, pois seguindo o que diz a Bíblia, dinheiro não é coisa do Satã. Tanto não é, que vários mandamentos da Lei ditada por Moisés, falam na forma da correta administração dos bens, do dinheiro, da distribuição das colheitas com os pobres, no auxilio aos órfãos e às viúvas, ao estrangeiro, ao necessitado, e no comprometimento de bem administrar os bens e valores recebidos como fruto do bom trabalho.

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Há muito livros que falam na prosperidade do povo judeu, e isso, naturalmente, acaba sendo associado à riqueza, sob a máxima de que "Jesus era pobre". Ora, Jesus, o Jesus bíblico, nunca foi pobre, e nem rico, e nunca deu importância a isso, senão ao fato que o Ser Humano não necessita mais do que os cuidados de D-s para que viva feliz, e uma única ocasião, onde sugeriu ao jovem rico que devolvesse metade dos bens aos pobres, pois era, supostamente, tal jovem, um dos ricos que amealhara fortuna à custa dos infelizes. Assim como fazem os personagens do filme sobre a mencionada biografia do playboy nova-iorquino.

Gosto de um pequeno livro, chamado: "As leis de "tsedacá e maasser", que fala do relacionamento do judeu (ou outro qualquer, que tenha as leis de D-s como norma de conduta)com o dinheiro e seus bens.

Em nenhum lugar da Bíblia se diz que dinheiro é sujo, como também não se diz que mel seja veneno, mas diz que comer muito mel não é bom, e que onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração.

A Bíblia inteira está repleta de ensinamentos e histórias de pessoas ricas que usaram seus bens para enaltecer O Criador, auxiliando os pobres. Se não houverem os ricos, capazes de administrarem os recursos, como ficariam os pobres, com outros talentos?

Não quero desandar pela hipocrisia de dizer que dinheiro não é bom. Claro que é bom, e na quantidade suficiente, traz dignidade, mas na falta deste, mede o caráter.

O Gari Betinho não faz palestras motivacionais, mas alimenta centenas de pessoas ainda mais pobres do que ele. Corrijo, com fortunas um pouco menores que as suas, mas equilibradas porque ele divide a sua própria fortuna, e motiva outras pessoas a separarem um certo pouquinho, de suas próprias riquezas, para que ele possa levar "um docinho" para as crianças que nunca ouviram falar de Wall Street. Wall, "o muro" não separa as pessoas de Butiá, e não tem dinheiro, assim, muito dinheiro. Mas até onde sei, ao receberem as doações de Betinho, se tornam temporariamente ricas e felizes.

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Está certo ele em dizer que pobreza e felicidade não combinam. Porque pobre fica feliz com pouco, e muitos deles (de nós), não precisa de uma Ferrari branca para andar pelas ruas.

Jordan Belfort é judeu, mas aparentemente nunca leu, ou se leu, deu pouca, quase nenhuma importância à literatura judaica, sobre a gestão do dinheiro da vida das pessoas. Infelizmente. Poderia ser rico, e também ter feito algo de útil ao mundo, pelo tanto que conhece do comportamento humano. Talvez.

Mantém longe de mim a falsidade e a mentira; Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário.

Provérbios 30:8

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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O escândalo do Porco de vento - Causos verdadeiros acontecidos em Gramado

Pois às vezes, cavouco na lembrança, um causo de priscas eras, mas verdadeiro, sempre verdadeiro, apesar do pitoresco que o embala, e não é dessa vez que serei falto com a verdade, ao relatar-lhes, tal como aconteceu, o causo do porco de vento, onde fui protagonista conivente para com o feito. Eis o relato.

Corria o ano da graça de N. S. Jesus Cristo, de 1984, se não há de faltar-me a memória, onde, em situação tal, de "fritar esterco para comer bolinho", bicudos tempos, dividia eu uma sala de trabalho, com dois outros comparsas, um engenheiro, e outro afeito à nobre arte da arquitetura, e eu, este humilde escriba, que desenhava desenhos para suprir os legumes da sopinha de meus pequeninos rebentos à casa.

Eram tempos bicudos, enfarruscados mesmo, porém, não envidarei esforços para louvar tais situações e tempos, porquanto avivam nossa imaginação, uns para coisas boas e outros, para feitos nem tão louváveis quanto os bons modos o exigem.

Eis que, no dito ambiente, havia certa movimentação em um bailado de entra-e-sai de indivíduos que ali compareciam com o real intento de fazer negócios, ou de encomendar nossas habilidades em antever suas edificações sobre papéis, repletos de linhas e números, ao que denominávamos: "projetos".

Então, segundo o preâmbulo anunciado, contarei o fato.

Corria o dia, e o arquiteto, encomendou-me minha especialidade, que era o desenvolvimento de épuras, vulgarmente conhecido como: "Perspectiva", uma apresentação gráfica de um plano, onde distingue-se com certa habilidade visual, a terceira dimensão dos elementos, hoje tão facilmente encontrada em aplicativos nestas máquinas que seriam queimadas durante os tempos sombrios, como se obras de bruxaria ou coisa ainda mais malévola, intitulada de "computador". Porém, por excelente misericórdia divina, eram minhas habilidosas mãos, conectadas à um lápis, e uma delicada pena de aço, suprida à tinta indelével proveniente do Oriente, denominada de: "Nanquim", quem preenchíam os vazios do papel, e devolvíamos em forma de retrato de uma casa, ou um ambiente de interior.

Pois, na negociação pela justa paga de meus serviços, acertado foi deste modo:

Tanto em espécie (dinheiro), mais um porco, pelo restante!

Ora! Mas como é que um judeu convicto poderia comer um porco, se minha religião abomina tal iguaria. e se não fosse comê-lo, por que matá-lo, mas se não fizesse dele toicinho e banha, como conservá-lo, uma vez que minha senhora, bastante conservadora quanto a certas práticas, não permitiria que eu levasse o animalzinho para tê-lo como companheirinho de leitura, ou brincadeiras com os miúdos, a quem sempre tive orgulho de chamar de filhos? Não! Certamente o porco não iria para meu lar. Porém, pelos termos do negócio, o porco já era meu.

O cálculo do porco era avaliado pelo seu peso, ou provável peso, no momento do negócio. O detalhe, porém, é que eu não vi o tal porco, uma vez que negociávamos como em uma bolsa de valores: na confiança do vendedor. Calculamos meu leitãozinho então com cerca de uns vinte quilos mais ou menos.

Passados alguns dias, fechei negocio com outro arquiteto, e passei o leitão nos cobres, naturalmente, reservando uma parte em dinheiro, pelo meu trabalho, e também adicionando um pequeno ágio de uns três quilos ao porco. Saiu da sala, então, um feliz proprietário de um leitão. Mas como disse, o leitão estava em um sitio, lá em Três Coroas, aos cuidados de um sócio de quem me vendeu o porco.

Como sempre gosto de dar atenção ao pós venda, tomei conhecimento que o arquiteto vendeu o porco, com um certo ágio, a outro prestador de serviços, e nessa altura, creio que o porco teria já uns 35 quilos. Muito bom para um banquete em família, contanto que não seja judeus, adventistas, ou muçulmanos.  Mas não eram, para tristeza do porco, que segundo a menininha que contava historinhas dos três porquinhos, logo, logo, viraria "carrrne".

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Mas deixe estar, que não termina aqui o causo, pois o tal empreiteiro, devia ao primeiro arquiteto, o que havia me vendido o suíno. E fechado negócio, e como justo fosse, vendeu o porco, pela quantia aproximada de quarenta quilos. 

Eis que, deixando passar mais uns poucos meses, e chegando o Natal, meu amigo, arquiteto, que nesse tempo não tinha um automóvel, mas movimentava-se muito bem com veículo ciclomotor, ou comumente chamado de "Moto", convidou o segundo personagem desse relato, o outro arquiteto (era estudante de arquitetura na verdade, mas deixemo-lo como arquiteto, que soa melhor à sua pessoa). e juntos foram à Três Coroas, resgatar o porco.

Fico imaginando na cena, onde contar-se ía três numa moto: O Piloto, o carona, e entre eles, a simpática silhueta do tal porco. Com 40 quilos.

Lá chegando, foram informados que o dono do sítio havia vendido o lugar, e fora morar em outro lugar.

- Mas certamente deixou-nos um porco, a ser resgatado, pois não?
- Não senhor. Somos vizinhos dele desde que chegou aqui, e nunca criou porco algum nesse lugar.

Tenho que dizer que aquele foi um triste Natal naquela família. Na esperança de comerem um porco, nem peru havia. Nem um frango. Um tico-tico que fosse.  Só rabanadas de pão dormido.

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domingo, 27 de setembro de 2020

O homem que brigou com D-us - Opus 3 (Terceira parte)


 

O homem que brigou com D-us - Opus 3 (Terceira parte)


Hava apressava-se em deixar tudo arrumado para o almoço com os Klein, que prometeram chegar às onze horas, pois estava programado que o almoço fosse servido ao meio dia e meia.

Os Klein sugeriram que o almoço não fosse marcado para o Shabat, e sim para o primeiro dia da semana, segundo seu costume, pois, mais que não comer certos alimentos, a guarda do Shabat envolvia mais coisas e ritos, que poderiam constranger, uns e outros, pelo desconhecimento destes costumes.

Pontualmente, às onze horas, Benjamin Klein, e seus pais, batem à porta, e são recebidos com entusiasmo pelos anfitriões.

Não pode dizer-se que tenha sido uma recepção comum, pois, devidamente instruídos sobre os costumes, apenas os homens apertaram as mãos, entre si, o que foi repetido pelas mulheres, porém, homens e mulheres não se tocaram, também devido aos costumes ortodoxos dos Klein.

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É próprio da hospitalidade judaica, levar algo em uma visita, seja isso em um momento de luto, ou de cordialidade social. O mimo trazido por Dvora Klein e seu esposo, Itzak, foi uma bela e saborosa Chalá, um pão trançado, que é repartido em pedaços quebrados à mão, e repartidos, em muitas cerimônias e celebrações religiosas. O anfitrião, abençoa o pão, com uma prece especial, e depois arranca pequenos pedaços, espalhando sobre o fragmento, uma pitada de sal, com os dedos, e o entrega ao convidado, ou anfitrião. Com este gesto, está dizendo: "Você é bem-vindo à minha casa, ou entre minha comunidade".

- Este é então o moço que impressionou meu marido! - Disse Hava, com um sorriso, olhando para Benjamin. Sejam bem-vindos então! Esta porta aqui é para o Lavabo, se desejarem utilizá-lo, e o almoço estará pronto para ser servido, em poucos minutos.

- Oh, não é preciso ter pressa, senhora Hava! Estamos bem! Creio que os rapazes gostariam de ter um momento de privacidade para se conhecerem melhor, e eu ficarei muito feliz em auxiliá-la na finalização da refeição, se me permitir.

As duas mulheres foram à cozinha, enquanto os homens, assentaram-se na varanda para apreciarem o frescor da manhã, em que o sol, preguiçoso, descortinou a névoa da aurora, que aos poucos foram dissipadas por uma brisa vinda do oeste, fazendo balançar as folhas das ameixeiras, e encurvar com suavidade  os lírios do jardim.

Assentaram-se, e tão logo o fizeram, Hava serviu-lhes uma jarra de limonada, deixando-os novamente a sós.

- Benjamin impressionou-me, sr.Itzak. Ele tem um modo convincente de elaborar um debate. Não tem respostas prontas, antes, leva-nos a refletir sobre nossas próprias perguntas. Eu gosto disso. Gosto muito!-Disse Esteban.

Itzak e Benjamin riram, e bebericavam seu refresco, enquanto apreciavam o jardim dos saavedra. Esteban puxou a conversa:

- Fiquei bastante impressionado pela retórica de benjamim, conforme falei.

- Na nossa cultura, temos um ditado - respondeu Itzak: Na sua cultura, vocês perguntam ao menino se ele aprendeu algo de bom na escola hoje. mas na nossa cultura, a mãe judia pergunta ao seu filho:

- "Meu filho! você fez uma boa pergunta hoje?"

Muito bom! - Interviu Esteban.  É um bom método. Então posso perguntar algumas coisas também, para ser um "bom aluno"?

- Naturalmente que sim! - Respondeu Itzak. Imagino que você vá perguntar sobre nossa religião e nossos costumes, estou certo?

- Está certo, é o que vou perguntar! - Disse Esteban.

- Isso é bom, mas pensei que também pudéssemos falar sobre História, Astronomia, um pouco de política, futebol, quem sabe? nós gostamos dessas coisas também.

- Mesmo política, Sr. Itzak? Achei que política e religião não combinassem...

- Mas quem disse uma coisa dessas, Sr. professor Esteban? Nós adoramos falar de política. Nesse momento, mesmo, estamos discutindo sobre as eleições em Israel, e somos sionistas, participamos ativamente do movimento de apoio à terra de nossos pais, e aqui mesmo, no Brasil, acompanhamos e discutimos bastante sobre política também.

- Interessante! Eu achei que religiosos não tivessem muita simpatia pela política..

- As pessoas conhecem pouco sobre nossa cultura, e eu admito que temos certa responsabilidade nisso, porque procuramos manter-nos mais reservados de certas paixões, mas nossa religião não nos proíbe de sermos cidadãos e exercermos nossos direitos e obrigações, e de emprestarmos nossa gratidão para com as terras que nos acolheram nos tempos difíceis. Muito pelo contrário: não existe distinção de um judeu no Shabat, ou em outro dia qualquer da semana. A única diferença é externa, porque não fazemos no dia santo aquilo que comumente fazemos durante a semana.

- Penso que o mesmo deva aplicar-se a qualquer prosélito de qualquer denominação ou filosofia, onde não é o ambiente, nem a oportunidade quem define suas crenças, mas o que você faz com o que aprendeu com elas. Isso se chama "ética", retorquiu Esteban.

- De pleno acordo, meu caro professor. Ética é uma palavra de origem grega, que significa "cobertura, proteção". Vale dizer que quando você não depende do olhar dos outros para fazer o que é certo, isso serve de proteção, principalmente a você mesmo. Os nossos sábios dizem que D-s está dentro de nós, mas mais que isso, somos nós quem estamos "dentro" D'Ele, porque Ele está em todo lugar, mas podemos dizer que Ele vê tudo, mas que se D's está em nós, somos "seus olhos", e vemos tudo aquilo que diz respeito ao nosso entorno. Então, somos fiscais de nossas ações, não por medo da justiça divina, mas por consciência de nosso lugar e nosso compromisso com Ele, e nosso compromisso com Ele se completa quando servimos ao próximo, que é a outra extensão de D´s, ao nosso alcance.

- Você diz que D-s é fracionado, um pouquinho aqui, um pouquinho ali? Uma leitura simples de que você disse, dá essa impressão, não concorda comigo? - Atalhou Esteban.

- Bem, se você desejar encontrar respostas prontas, irá encontrar as respostas que quiser, até mesmo de fracionar D-s. Felizmente O Altíssimo não se apresenta da maneira que nós desejamos, mas do modo que possamos compreendê-lo. - Disse Itzak. Você deve saber qual é a expressão máxima do judaísmo: O Shemá!- "Shemá Israel! HaShem Eloheinu, HaShem Echad!" (Ouve, ó Israel! O senhor é nosso D-s. O Senhor É Único!).

Este brado, pode ser chamado assim, é repetido há muitos milênios por nosso povo, duas vezes ao dia, onde quer que esteja, como quer que esteja. Significa que diante de todas as  adversidades e perigos, nosso povo irá crer e obedecer ao D-s Único.

- Bem! Esta é a história de um povo, do seu povo, mas talvez Benjamin não tenha lhe contado que eu sou ateu. Não sou do tipo proselitista ao ateísmo, nem pauto minha vida a desmerecer as crenças dos outros. Longe de mim fazer isso. Tenho muito respeito pelas pessoas e entendo sua necessidade de cultuarem o Desconhecido, ao que chamam de D-s, Jesus, Ogum, Alá, ou Buda! - Redarguiu Esteban.

Itzak sorriu e disse:
- Acho que temos aqui uma malha de opções, meu amigo, mas creio que nenhuma delas corresponda à D-s, do modo que nosso povo conhece. Isso não nos torna melhores,  nem piores, mas procuramos separar essas exposições do Eterno - Bendito seja!

Vamos considerar que o Monoteísmo, que é baseado na visão hebraica da Divindade, fez brotar ramificações, começando pelo cristianismo, e a seguir, pelo islamismo, cujas interpretações tem alguma semelhança, mais entre judaísmo e islamismo, onde ambas defende a existência de Um Único D´s, e defendem com unhas e dentes, cada um ao seû modo, essa doutrina.

Já o cristianismo, até o século terceiro, foi apenas uma seita do judaísmo, que partiu do grupo liderado pelo judeu Yeshua, a quem os gregos descreveram como Jesus, e seu pequeno grupo de seguidores, denominado HaDerek - O Caminho. Nesse tempo, haviam mais outras seitas, ou grupos com seguidores, conhecidos como: Essênios, os misteriosos monges que viviam em comunidades exclusivamente masculinas, em cavernas, no deserto, e buscavam preservar o aspecto da santidade do serviço religioso. Outro grupo mencionado as escrituras judaicas que os cristãos chamam de "Novo testamento", ou alguns, em hebraico dizem: HaBessora - As boas novas, onde mostram o judeu Jesus na condição de "Messias" prometido de Israel, e é a base do cristianismo dos primeiros séculos. Outro grupo com seguidores, eram os Saduceus, mais exigentes nas questões legais da Torá, e os mais conhecidos, e até odiados, por quem não os conhece, os Fariseus.

Itzak dá uma sonora gargalhada:
- Não fazem ideia de que seu Messias, Jesus, foi um fariseu...

Benjamim o aparta:
- Pai! Melhor você explicar isso direito, pois o professor Esteban não é religioso, mas a Sra. Hava é cristã!

- Por favor, por favor - consertou Itzak, pegando Esteban pelo Braço. É importante que eu esclareça essa questão, até pra que entenda que nós não somos proselitistas, e nem é de nossa cultura sermos críticos com as demais.

Esteban dá uma gargalhada e bate no ombro de Itzak.

- Fique sossegado, meu caro! Sou um estudioso, e minha esposa também é. E estou curioso agora. Por que diz que Jesus era fariseu?

- Para entender isso, precisamos voltar alguns anos no passado, cerca de 30 a.e.c, que vocês chamam de a.C, quando haviam duas escolas rabínicas, de dois grandes mestres: Shamai e Hilel.

Nesse momento, Dvora e Hava aparecem à porta e anunciam o almoço já servido.

- Continuaremos depois, Sr. Itzak. E vou apertar vocês, pois quero ouvir Benjamin sobre umas questões.


continua.....

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Dona Izartina, suas couves, e o "Grande Reset Mundial"

Imagem: IA Era uma quinta-feira, disso Dona Izartina se alembrava com clareza, pois antecedia a colheita de Marcela, marcada para o amanhece...