O ano era 1977. Mês de setembro, se não me falha a memória. Eu presidia a entidade dos estudantes secundaristas de Gramado, GEMA - Grêmio Estudantil Machado de Assis,e estávamos às voltas com o III FET - Festival Estudantil de Teatro, promovido pela UGES - União Gaúcha de Estudantes, e anfitrionado por nós. Era um evento interessante,com grande peso político, pois reunia cerca de setecentos estudantes, vindos de todo o estado, para se apresentarem e competirem e uma mostra de teatro amador, mas com ares profissionais.
Além das apresentações teatrais, haviam oficinas e palestras,e também rodadas de debates com os autores e diretores, como também com renomados artistas convidados para o evento. O ápice foi um monólogo encenado pelo ator Dilmar Messias (hoje Diretor do Theatro São Pedro, em Porto Alegre).
Tínhamos que prover alimentação e hospedagem gratuita para toda essa gente, e mais, tínhamos que organizar eventos sociais para entretê-los também. Tudo de graça, às custas do GEMA. E fizemos. Tudo foi feito na base do mutirão, começando pela alimentação e hospedagem. A comida era preparada por nossa equipe, maravilhosa, devo salientar, que era quase onipresente, ora na cozinha do pavilhão da comunidade católica, onde eram feitas as refeições, ora no palco do Cine Embaixador (hoje Palácio dos Festivais), ora pelas ruas e em suas próprias casas, acomodando visitantes para o evento.
É destas acomodações que quero manifestar meu reconhecimento pela primeira pessoa da comunidade, em cuja porta batemos,pedindo hospedagem para os estudantes, que disse com um largo sorriso, que era próprio de sua elegância pessoal, que aceitava dois hóspedes, e além de dormirem em sua casa, poderiam ainda tomar as refeições com a família. Esta pessoa era Dona Annelies Rosenfeldt, a quem conheço desde minha infância, onde também fui escoteiro por certo tempo, e portanto colega de seus filhos Jorge, Fábio e Ronaldo* (In Memorian), que também me acolhiam na mesma condição de amigo, sem nenhum tipo de discriminação ou diferença. Uma família que exala simpatia e generosidade desde sua matriz. Assim era Annelies! Simpática, generosa, cortês e elegante. Sempre tinha um sorriso ao receber quem quer que fosse em sua loja. Sempre tinha uma forma de dizer sim e dizer não com tempero no olhar.
Annelies foi uma pioneira na sua arte, que por acaso era também um negócio, uma empresa, que gerou por muitos anos parte da economia de Gramado, direta ou indiretamente, pelo fato de ter gerado um mote desta economia, ainda que efêmera, e ouso dizer que Annelies lançou a semente e colheu bons frutos por muitos anos, e o tempo que faz das pessoas seguidoras daquilo que dá certo, encarregou-se de disseminar sua arte por outras malharias, e descendo a serra, estacionou em Nova Petrópolis, que aprimorou-se e disparou à frente com mais tecnologia e ímpeto empreendedor. Passado esse tempo, as malhas de Gramado arrefeceram, e Annelies recolheu-se ao descanso merecido. Não a via fazia muito tempo, mas de que importa a distância, quando as grandes atitudes de uma pessoa são gravadas em ouro em nossas lembranças?
Minhas condolências, e ao mesmo tempo meus cumprimentos aos filhos de Annelies, meus queridos amigos Jorge, Fábio e Rose, assim como aos filhos de meu também querido e saudoso amigo Ronaldo, pela oportunidade que D-s, o Eterno, lhes deu, de serem escolhidos pelo destino para serem chamados de filhos de Annelies Helena Rosenfeld.
Shalom!
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