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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Gramado chegou no seu limite? Qual é o limite de Gramado?




É um desafio de proporções imensuráveis, ousar tratar de uma questão que diz respeito à linha que separa a análise crítica, do saudosismo, que é próprio de quem se aproxima do primeiro centenário de vida (está certo, faltam ainda quarenta anos, mas o que são quarenta singelos anos para que já tem sessenta?), e não intenta ser maçante, ainda que insistente na causa. E qual é a causa? Aqui é o ponto de conexão, o quiasma de meus escritos: A causa é ter uma causa. Serei mais claro. Ter uma causa é saber onde se quer chegar. Saber o que desejamos e ter claro o caminho que nos levará à nossa causa, o ponto de chegada de nossas intenções.
 Há que se pensar no entanto, que muitas vezes a causa não é uma chegada, mas um caminho apenas, uma jornada. O colher das flores e o aspirar as fragrâncias que o vento nos oferece pelo andejar. Certo. Vou filosofar menos e direcionar mais respostas do que perguntas, embora eu prefiro as perguntas, porque uma boa pergunta me isenta de estar certo. Ou não, porque também devo portar-me de modo a fazer as perguntas certas, e aqui, acreditem em mim, porque a pergunta certa não oferecerá, de minha parte, nenhuma resposta. Então vou caprichar na pergunta, posto que sei que repeti-las-ão de esquina em esquina, porque são perguntas existenciais de um ambiente, ao qual dirigir-me-ei como se uma civilização o fosse. Falta muito, bem o sei, mas façamos de conta que estejamos no primeiro degrau de que tal aconteça:Uma civilização!  Claro, necessitaríamos de mais pensadores, mais sonhadores, mais menestréis, mais artistas (aí a coisa pega, porque os pobres artistas servem apenas de ratos moribundos na boca e na disputa de dois gatos), mais filósofos, mais arquitetos engenhosos e criativos, enfim, é preciso mais do que cada um destes especialistas, que conhecem seus oficios, mas para que deem fluência a uma civilização, hão de ser mais e mais inventivos, criativos, ou até mesmo cruéis, se lembrarmos que há relato de civilizações mais conhecidas pela crueldade do que pela genialidade. Mas não enveredemos por este viés. É perigoso demais. Permaneçamos na colina e deixemos os penhascos aos ousados. Eis o que penso então.

O que define um limite? Quem define um limite? O que é um limite?  A estas ouso responder, ainda que não passe de opinião pessoal, mas como meu trabalho neste blog é opinar, pronto! Eu opino. E o que define um limite é a definição da trajetória, da meta, da força de impacto, e da força de tensão do lançamento em direção à meta, a determinação, e o conjunto de fatores que se encontram, e o cumprimento de seu objetivo. Muitas vezes, mesmo para chegar a tais objetivos, ainda que desconhecidos, há limites no esforço empreendido, caso contrário, promoveriam o esgotamento por antecipação de quem empreenda tal jornada. Penso então que Gramado, se encontra em uma fase onde este esgotamento começa a ser visível, palpável, notado, e delicado.

O que é o limite do esgotamento de uma cidade que cresce, senão as dores deste crescimento, e os conflitos gerados pela falta de planejamento desta trajetória? Sendo assim, Gramado, conforme já tenho comentado em outras oportunidades, tem crescido à sorte de seu sucesso, isto é, as coisas acontecem intuitivas e fortuitas, onde a sorte deixa de ser uma variável, e passa a ser uma constante. Uma constante tanto no repetir dos fatos, quanto por constar no planejamento deste crescimento. A sorte de uma cidade que não tem entre as preocupações os dramas que possuem centenas ou milhares de pequenas e grandes municípios brasileiros diante das crises que se amontoam  , é justamente ter na própria sorte a ventura de tê-la em sua contabilidade e arranjo de crescimento. Assim, quando a sorte se torna uma determinante do sucesso, anestesia as dores da movimentação e reduzem a sensação de fadiga que cada corpo apresenta no senso de proteção de seus componentes. Assim, Gramado disfarça sua fadiga de crescimento pelo sucesso atrás de sucesso de seus empreendimentos. Mesmo assim, Gramado vem alcançando limites, e estes limites são o resultado de antigos sonhos de seus governantes, de seu povo, de seus visitantes. São limites onde o alerta vermelho da dor é sufocado pelas endorfinas do sucesso, e que somente serão percebidos no momento em que não houver mais o ruidoso cantarolar das fanfarras, lá pela calada da madrugada, aquele momento em que o corpo não consegue mais repousar, e os pensamentos se mesclam com a insegurança e o medo de que tal sorte se sublime no dia que logo vai amanhecer.

Gramado é entretecida por fios, como cabos de aço de uma ponte pênsil que se rompem silenciosamente aqui e ali, e ao termo de tempos maior é o número de fios que se romperam do que daqueles que ainda se encontram intactos, mas que não  podem suportar sozinhos o peso que os leva à exaustão por antecipação. 

Gramado se encontra no momento em que não apenas o Poder Público, senão cada cidadão precisa fazer uma auto-avaliação de suas condições, um checape do funcionamento de seu corpo ideológico, e descobrir em que momento de seu limite está vivendo, se nos primeiros fios já rompidos, ou no último que ainda sustenta seu desejo de crescimento. E ao descobrir-se mais frágil do que imaginava, ao descobrir-se com menos potência do que registram suas informações de uso, é saudável que pense e repense seus caminhos, seus sonhos, seus objetivos. É mister que questione-se sobre sua trajetória passada, para que não esbarre em muralhas nos passos que virão. Urge que Gramado faça esta avaliação de sua própria história, que avalie seu momento presente, que ponha em uma planilha e em um gráfico suas conquistas, mas também o preço que foi pago por elas, e que verifique a linha evolutiva deste gráfico para descobrir e comparar com a linha vermelha dos custos necessários para que esta linha siga sua trajetória desejável. Assim, comparando o andamento e o cruzamento entre tais linhas, avalie-se se o caminho por onde seguem, mesmo que ao sabor da sorte, seja realmente o caminho que foi desejado lá atrás, onde haviam mais sonhos e menos fadiga para realizá-los.

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