AD SENSE

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Eu sou judeu e você nem sabia

Maria Elisa Dias Cardoso, minha avó

Pois é. Embora a lei judaica diz que para ser reconhecido como judeu, é necessário que seja filho de mãe judia. Pois então tou lascado, porque minha mãe tem nome persa: Ester! Ninguém em minha casa tem nomes parecidos com nomes comuns às famílias judia, pois meus tios chamam-se Esaú, a quem minha tia Lina, chamava de "Izáu" (Izav é a grafia hebraica de Esaú), e Samuel Isaac, todos nomes, acho que italianos, me parece assim. Minha avó materna, chamava-se "Maria Elisa Dias (e não "Tia Ilizia", como era conhecida), mas curiosamente suas irmãs chamavam-se assim: Maria Lucinda Dias, Leonor Pereira Dias, Maria José Dias, Margarida Pereira Dias, Lina Pereira Dias, e seu irmão de cuecas chamava-se João Vitor Pereira Dias. Perceberam algo estranho aqui? Vou ajudar: Quem tinha Pereira no nome, não tinha Maria, e quem era Maria, não se chamava Pereira. Curioso, não? Eu explico.


Por demanda de sobrevivência desde os tempos da inquisição, vulgo "Santo Ofício", que de santo não tinha nada, mas demoníaca mancha da humanidade, assim como o Holocausto,  os judeus e seus descendentes precisavam defender-se de qualquer modo, e defender-se significava sobreviver dia a dia com medo e desconfiança, tomando precauções e se esgueirando aqui e ali para manter a cabeça em cima do pescoço. Inclusive trocar os nomes de família. E por que tinham estes nomes?Simples: Para que, caso um fosse apanhado pelos dedos-duros do Papa, poderiam dizer que não tinham parentesco, e com isso, ao menos parte da família estaria a salvo da perseguição,  e quiçá do martírio e morte cruel.


É um golpe duro, nestes tempos de antissemitismo explícito, alguém declarar-se "Judeu", ainda que tendo uma religião proveniente do cristianismo, ou por acreditar que O Messias prometido seja Jesus de Nazaré. Então, vale salientar que sim, eu não sou reconhecido como judeu aos moldes formais do judaísmo, que tem suas regras e devem ser respeitadas, e tampouco estou preocupado em quebrar alguma lei e infiltrar-me a golpes de malho em uma comunidade à qual eu não pertenço de fato. Então o que? Então nada. Tenho dito aos meus amados amigos judeus de fato e direito, que não estou preocupado em buscar reconhecimento, mas quero sim, adquirir conhecimento. Quero enriquecer minha história e mergulhar na sabedoria deste povo que gerou meus antepassados, eles sim, judeus de fato e de direito, e que se estou aqui é porque em algum momento alguns deles entenderam que deveria preservar a vida, sua e de seus descendentes,e aderirem à religião cristã (católica, e mais tarde,luterana), porque sabiam que ainda que houvesse um mar à frente, o braço forte do mesmo D-s (judeus não escrevem as vogais, para que não seja profanado O Nome Sagrado do Criador e rei do Universo, como O chamam) que tirou nossos pais do Egito, com incontáveis milagres e maravilhas, também varreria o mar do preconceito que varre a humanidade de quem deveria manter-se à Imagem e semelhança de seu Criador.


Assim, minha avó e meu tio-avô João, ainda jovens, católicos fervorosos, desde priscas eras, ao descobrirem uma denominação religiosa que tinha a guarda do Sábado (Shabat) como um dos preceitos principais, adotou esta modalidade de fé para preservarem sua preciosa herança genética. Tornaram-se Adventistas do Sétimo Dia (O Sétimo Dia é o Sábado). Minha avó conversava muito comigo, e tinha uma memória prodigiosa. Era capaz de nominar pessoas, casamentos, origens, até a quinta ou sexta geração de nossos ancestrais, e sempre terminava dizendo assim: "..o fulano que era casado com a fulana, filhos do beltrano, vieram de Lages, que vieram de Laguna, que vieram de Portugal, que vieram da França, e por fim, todos eles eram "Arábios". Para bom entendimento, neste tempo não havia ainda o Estado de Israel,e a região conhecida como Palestina, nome dado pelos Romanos, ao dominarem todo o território dos Filisteus (Hoje Tel Aviv e adjacências), deram o nome de toda a região aos "Falastinvs",  Os filisteus não eram árabes nem ao menos semitas. Sua origem era grega. Eles não falavam árabe, nem nunca tiveram qualquer conexão étnica, lingüística ou histórica com a Arábia ou com os Árabes. O nome “Falastin” que os árabes usam atualmente para “Palestina”, nem sequer é uma palavra árabe mas sim hebraica – Peleshet (raiz Pelesh), que significa divisor, invasor. O uso do termo “Palestino” para se referir a um grupo étnico árabe é uma criação política moderna, sem qualquer credibilidade acadêmica histórica. Assim então, eram chamados de "Arábios", todos aqueles que eram provenientes do Oriente Médio, ainda que fossem eles cristãos, muçulmanos ou judeus.



Fui criado mediantes muitos costumes que , embora adventistas, tem grande proximidade com o judaísmo,como a alimentação "Casher" (recomendada), indicada no Livro de Levítico; a guarda do Sábado, e muitos outros, mas o pitoresco disso são os costumes de minha avó e da própria família, que se consultarem a literatura bastante abrangente sobre os costumes dos "Cristãos-Novos, como eram chamados estes descendentes de judeus cristianizados pela força, verão por exemplo, a grande quantidade de casamentos entre parentes próximos, para fugirem à assimilação, o que fatalmente destruiria completamente a cultura judaica. Evidentemente desconheciam leis da Genética, e isso explica certas coisas da minha doideira também. Para não me alongar demais, vou dizer que meus bisavós maternos, eram primos-irmãos. Muitas tias eram casadas com primos-irmãos ou primos em segundo grau. Minha avó orava duas vezes ao dia, trançando seus logos cabelos (nunca cortou, e batia na cintura), recitando um por um dos nomes dos filhos e parentes, balbuciando ou cochichando ao orar. Assim como fazem os judeus religiosos. E depois disso, seguia, cantarolando canções religiosas (cristãs) o resto do dia.



Minha bisavó, Maria Francisca foi cuidada por minha avó, que era a filha mais nova, e ao morrer, foi sepultada ao lado da casa, para não ser sepultada em cemitério gentio. Coincidência? muita pra ser desprezada.



Outra particularidade da família são os nomes bíblicos do Antigo Testamento, repetidos: Davi e Daniel são os mais comuns (por coincidência, dois netos da penca que tenho, se chamam...Davi e Daniel! Outros dois são Sarah Elise, e Lucas. Elisa então, além da minha Sarinhah, tem mais duas: minha avó e sua tia, ambas se chamavam "Maria Elisa". Elisa é  um nome judeu, proveniente de Elisabeth, que por sua vez, na Bíblia recebe o nome de Elisha, a esposa de Aarão, irmão de Moisés. No catolicismo foi chamada de Isabel. Aliás, Moisés também tem na familia, assim como uma penca de irmãos que se chamavam: Elias, Geremias (a grafia errada é culpa do escrivão analfabeto), Izaías (o escrivão de novo), Ananías (o escrivão era terrível,pois meu querido primo sempre foi chamado de Ananias, o que deveria ter sido), Malaquias, Saulo (Sha-Ul), assim como Ezequiel, Joel, Manuel, e por aí segue a caravana.


Ao  longo dos  últimos dez anos,ou mais, tenho aprofundado meus estudos e minha reverência à cultura judaica e buscado sua sabedoria, não apenas religiosa e ética, política e humanitária, e tenho assumido publicamente minha paixão pelas coisas que tenho encontrado. Estudo hoje a Torá e o talmude com o mesmo afinco que durante décadas estudei a Bíblia integral cristã, e pude compreender ao modo judaico o que era dito ao modo cristão. Juntei meus preconceitos e os lancei no mar antes que suas águas se fechassem novamente, e se me perguntarem ( e me perguntam) o que eu sou, se judeu ou cristão, eu digo: Sou um Dati, um estudioso das Escrituras, filho de HaShem (D-s), amigo de meus amigos e irmão de quem souber me respeitar por aqui que escolhi seguir. Fui a Israel conhecer um pouco mais desta história, e também tomei um choque de realidade, ao deparar-me diante do Kotel (Muro das lamentações, coberto por uma quipá (aquele chapeuzinho engraçado), e ao ser abordado por um Rabino Chassídico que me oferecia um Tefilim, perguntei a mim mesmo:"O que estou fazeno aqui? Quem sou eu? Qual  o sentido disso tudo?


Sou membro de uma comunidade religiosa, mas não frequento nenhuma congregação,porque não me identifico mais com o modo ocidental de culto e pregações,  porém guardo na essência aquilo que determina os pilares de uma crença: Creio no Messias Yeshua (Jesus), creio na Sua volta muito em breve, mas creio que o povo judeu é sim o povo escolhido e amado por D-s, e que tem grande responsabilidade sobre o conhecimento das coisas da fé no D-s Único e que fará grande diferença diante do Eterno no breve dia da reconciliação da humanidade caída com o Libertador dos Homens e Mulheres de boa vontade.
Shalom!

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