Imagem ilustrativa - Internet
Pois já devem estar pensando que vou entregar-lhes a rapadura, pronta para lamber, pois não? Pois sim! Nunca faço isso. Conto apenas o milagre, mas guardo o santo pro esquecimento, haja vista que o santo pode ter deixado herdeiros, como de fato, sim, deixaram, muitos deles, e não tenho intento de confrontar-me com tais rebentos e justificar o que conto como verdade, mas que nem todas as verdades servem como aproximação da paz. Sendo assim, eis os fatos.
O Bar do Frederico era o ponto de aproximação dos apreciadores do fino trago da purinha, e excepcionalmente os mais frágeis , que se permitiam adicionar umas gotinhas de limão e umas "duas ou três cuié de assúcri", que era pra dar o fundo melado pros piazote, que ainda não tinham idade para os arroubos da pura, e assim iam engrossando o couro do "figo", com a rapa do limãozinho, ao que hoje chamam de "caipirinha". Isso é coisa nova, não se fundamenta na verborréia da "venda".
Reuniam-se, além dos cachaceiros habitués, a piazada fedendo à mijo, que queria ser gente grande, acercando-se como moscas na merda, dos cachaceiros, ao que, por volta e meia ousavam arriscar uma bravata ou outra, e se esta agradasse ao cachaceiro-mór, este pagava-lhes umas goloseima, de regalo. Berrava desde a mesa onde estavam:
- Fidirico! Bota um refrêsco de déis mirréis pro piá, é por minha conta!
Frederico, mais que ligeiro, corria pra geladeira de quatro portas, sacava uma garrafa de xarope, outra jarra de água gelada, e enchia um copão de meio litro, até transbordar, o que não chegava a acontecer, posto que o varão já estava ali de corpo presente, com o beiço esticado, feito cavalo bebendo água, e chupava num gole uns dois dedos da água doce, e sem tirar o bico em forma de canudo da borda do copo, arregala os zóio em direção ao bodegueiro, e com a mão levantada, esticava o dedo fura-bolo, balançando várias vezes, em direção ao copo, como que querendo dizer: "Completa!". Frederico ria e jogava mais um pouco, pra alegria do guri.
Certa ocasião, dois tauras já largados nos anos, debatiam temas por demais relevantes sobre educação dos filhos, trato das vacas, capação de porco, e temas dessa monta. E a piazada ali do lado, de ouvido apurado e olhos arregalados, escutando tudo. Lá pelas tantas, um gambá disse pro outro, com carregado sotaque alemão:
- "Vou te ensinar como que se faz, as posição, pra fazer guri ou guria. Tem um jeito, uma posição adequada pro serviço."
Falou como que palavras mágicas pra piazada, que já quase participava da conversa. Mas, oh, frustração, quando ele esticou o braço, e bem na ponta daquele braço, havia um dedo, o fura-bolo, em direção à porta, e assim posicionado,sentenciou:
-Gurizada, agora vão embora, que vamos ter uma conversa de homem pra homem, e vocês são muito pixotes pra escutarem essas coisas.
Oh, tristeza, nos olhares, e semblantes descaídos da piazada, que, frustrada, saíram, um a um, em fila ordeira, de cabeça baixa, pela porta afora, imaginando coisas e coisas, dos tais segredos que só dois bebuns de "buteco" seriam capazes de desvendar. Só que eram muito piás pra entenderem certas coisas da vida. Mas, há que se respeitar, pois é a vida, e com vida não se brinca.
E Frederico, só ria, escorado no balcão.
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