O viajante dos ventos
Pacard
Janela Um
O casulo das almas
A brisa do mar regia o bailado das folhas secas que rodopiavam subindo e descendo, subindo e descendo, desafiando-se umas às outras, até que uma rajada marota soprava-as para o alto e de lá sumiam, ora para o mar, ora para as campinas.
Férias na casa de campo dos avós é um presente, um tempo esperado o ano todo. Fernando e Daniela chegaram no dia anterior ao feriado, mas já estavam de férias, e cada minuto deve ser aproveitado, o melhor que der.
- Levou meu chapéu! Gritou Daniela, rindo só por rir!
- Por que não pôs a mão na cabeça, sua tola? Era certo que voaria. Deixe que eu pego pra você!
- Você vai atravessar a cerca de arame farpado? É perigoso!
Fernando riu, envaidecido. Deu de ombros, e pulou a cerca com habilidade de um acrobata. Em poucos minutos, o belo chapéu de palhinha cor bege, ornado com um raminho de flores do campo, adornava os cabelos dourados, quase brancos, de Daniela.
- Eu não mereço nada? Nem vai me agradecer?
- Bobão! Valeu!
- Tá! Valeu. Na próxima vou deixar lá pra vaca mascar, o seu chapéu.
- O que vamos fazer agora? - Perguntou Fernando.
- Ah, sei lá. Não fazer nada não tá bom?
- Tá, né! Então tá. Um lugar lindo desses e você quer “não fazer nada”; Se fosse pra não fazer nada, a gente podia ter ficado em casa, jogando. Ou dormindo, ou vendo filme, ou jogando, vendo filme enfiado debaixo da coberta.
- Tá calor pra ficar debaixo da coberta.
- É.
- Vamos caminhar pelo bosque! Sugeriu Fernando. Tem uns caminhos super legais ali.
- Não é perigoso?
- Não. Bem tranquilo! Eu conheço tudo. Eu sei onde fica a cabana do velho maluco.
- Ela existe mesmo? Já ouvi falar dela. Eu tenho medo.
- Medo por que? Ele é inofensivo. Vovô já me mostrou a cabana dele, de longe.
- Temos que levar uma coisa pra ele comer, não temos?
- Ah, legal! Vamos levar umas frutas e pão; Será que ele come isso?
- Claro, né, tontinha! Ele é velho e velho come de tudo que colocar na frente deles.
Daniela ri muito.
- Vovô come umas coisas estranhas, de quando era criança; Eu já comi com ele. Algumas coisas são legais.
- É Ele já me ensinou a fazer umas daquelas comidas de roça dele. Um dia a gente pode fazer né?
- É.
- Vamos levar bananas? Será que ele come banana?
- Dãr! E quem não come banana?
- Meu amigo do terceiro B. Ele quase vomita quando vê banana.
- Tadinho. Pega pão novo ali e uma caixinha de leite. Será que ele tem intolerância á lactose?
- Ah, sei lá. Tá, se tiver, a gente trás de volta.
As folhas ainda bailavam à brisa que trazia o cheiro das ondas e causavam alguns arrepios. As crianças andavam a largos passos, carregando suas mochilas com alimentos e algumas roupas e cobertor para o velho da cabana.
O caminho dentro da floresta se bifurcava por algumas vezes. E tinham que escolher a qual caminho deveriam seguir. Subiam ladeiras e desciam trilhas. O perfume da mata fazia coro ao trinado dos pássaros, e dos insetos. As cigarras regiam uma orquestra de zumbidos, e o vento balançava a copa das árvores mais altas. A temperatura era mais amena dentro da mata, e um pequeno córrego serpenteava as colinas, por vezes se derramando em cachoeiras ornadas de pedras lisas pretas, e outras dançava em redemoinho em algum cantinho recostado do arroio, onde folhas cansadas caídas dançavam seu derradeiro bailado antes de serem tragadas pelo jorro imponente das espumas que caíam da cachoeira.
Um caminho de chão mais liso e firme mostrava a direção da choupana, e mais alguns passos, já ofegantes pela ansiedade do mistério, levavam à portinhola puída com um pequeno coração recortado ao centro, um visor da porta.
Uma velha cabana, com um banco de madeira rústica na varanda, e plantas do lado de fora: ervas, chás, hortaliças que cresciam entre ervas nativas, e um e outro pé de frutífera antigo, com frutas esparsas e cercadas de pássaros que bicavam nervosos, e saíam voando, desconfiados, a qualquer movimento brusco em sua direção.
- Vamos bater na porta? Perguntou, apreensiva Daniele.
- Acho melhor, que não. Vamos bater palmas daqui, que dá pra sair correndo. Fica preparada!
- Aham! Eu tou. Tou com medo.
- Fica atrás de mim, e se ele vier na nossa direção, sai correndo que eu te acompanho.
- A as coisas que trouxemos?
- Ora, são pra ele mesmo. A gente deixa e corre.
- Atá! Legal.
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……...Continua
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