Eu esperava, sinceramente, poder chegar ao fim desta campanha, que acompanho com admiração, pela civilidade entre os candidatos, e certa expectativa pela renovação, e renovação com qualidade do Legislativo de Gramado, com serenidade, apenas comentando as variáveis daqui e dali, das estratégias de campanha.
Infelizmente não foi possível isso, considerando que o papel do escritor, e aqui particularmente, do blogueiro, é expor e contribuir para a reflexão acerca do que é importante, do que é necessário, e do que é urgente.
Recebi, com tristeza, a notícia da perda de mais uma pessoa querida pelos meus conterrâneos, assim como a infeliz notícia de que Gramado já perdeu mais vidas, diagnosticadas com a COVID-19, do que pequenos países, cuja proporção habitacional torna Gramado potencialmente perigosa, se as estatísticas contribuírem de fato, e as estatísticas contribuem, de fato, para o quadro de perigo crescente, no que diz respeito à vida humana.
Gramado é a "menina" dos meus olhos, a minha grande paixão, a biblioteca das minhas lembranças, e o turismo fez com que essa paixão se proliferasse até por quem nunca esteve em Gramado. Assim, meu coração se despedaça em saber que o seu melhor remédio, tornou-se o seu pior veneno: O Turismo!
Escrevi, e não mudo uma palavra, quando digo que não são os bons gramadenses, nem os bons turistas, conscientes, quem está jogando essa riqueza em um lixão inexorável.
São eles, os maus turistas, inescrupulosos, amparados por uns poucos gramadenses desesperados (e desesperados estamos todos) , quem destemperam o que resta de bom senso, e acreditam que pimenta no dos outros é refresco, e que, contanto que os seus lucros estejam salvaguardados, que morra o mundo, porque o que é deles está salvo.
Mas não é assim que acontece. Somos uma corrente que segura um grande peso, e se apenas um único elo desta corrente for rompido, de nada adianta a parte que está segura em cima. E esta corrente não é de coisas, mas de pessoas. Não sofremos por um terremoto, onde podemos nos reconstruir depois que tudo passou. Não sofremos por uma guerra, onde possa ser assinado um tratado de paz, uma trégua. Sofremos por um inimigo invisível, cercado de possibilidades ruins, uma semente do diabo, que ao brotar, rapidamente gera novas sementes, e novas espécies de atrocidades, sendo o egoísmo, a ganância, a pior delas.
Gramado é um elo forte desta corrente, mas é o elo desejado por todos, e se urgentemente, o Prefeito Fedoca não tomar a decisão dramática de promover um Lock Down completo, deixando uma fresta para, apenas, unicamente, as atividades essencialíssimas, ele, ou o próximo a ser eleito, deverá providenciar com urgência um aumento das vagas do cemitério.
Esta é a reflexão mais agressiva que já fiz, mas certamente serei compreendido por aqueles que perderam pessoas amadas para essa pandemia, e mais ainda aqueles que reconhecem, que Gramado deve vencer a crise econômica e social, deve vencer o desemprego e o provável quadro de fome às portas, mas deve, antes de tudo, vencer a morte, que já está se tornando um mal comum.
O Prefeito Fedoca optou por não disputar sua reeleição, mas deve fazer a mais importante das escolhas para encerrar seu mandato: A vida de seus munícipes! A segurança e a saúde da população, especialmente esta, porque, se permitir que continue esse agravo às leis, ao bom senso, ao respeito pelo outro, não haverá quem sirva gostosos pratos, nem arrume as camas dos hotéis. Não haverá nem memo quem queira ver um turista pela frente, ainda que seja dos bons, porque os maus passaram antes e deixaram um rastro de destruição.
Gramado pede socorro, e perguntar-me-ia um desavisado leitor, o que eu, que moro fora desta cidade há alguns pares de anos, o que tenho a ver com isso? Respondo que tenho tudo a ver com isso, porque minha mãe, e grande parte da minha família estão aí neste lugar. Minha mãe mora na divisa com Canela, já no município de Canela, mas minha mãe é Gramadense, e ainda que aos 79 anos de idade, jamais transferiu seu título de eleitor, de Gramado. Porque Gramado é a terra de meus ancestrais, e a terra dos meus amigos de uma vida inteira. Eu posso sim, gritar aos quatro ventos: Prefeito! Feche as portas e passe a tranca, porque o monstro já chegou para devorar, e está faminto demais.
Ser Prefeito de Gramado é uma honra, um desafio, mas sobretudo, uma oportunidade. Oportunidade de vencer uma eleição, oportunidade de fazer uma boa gestão, e oportunidade de sair pela porta da frente, sem olhar pra trás, com o senso do dever cumprido. E o dever do Prefeito Fedoca nesse momento é salvar todas as vidas que puder, pois ele tem poder e caneta, e sim, a boa política salva vidas e edifica. Só a política medíocre deixa rabo para ser pisado, e erva daninha para ser arrancada. A hora é agora, e como diz a canção: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!"
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