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sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Meus vizinhos, os macaquinhos



O condomínio onde moramos, faz divisa, no fundo, e na lateral, com um centro de pesquisas e tratamento de oncologia, um hospital do câncer. É um dos mais importantes centros de estudos desta doença maligna do país, uma referência internacional. Que bom, mas que ruim, porque o ideal seria que fosse um resort de seis estrelas, onde os visitantes e hóspedes fossem apenas turistas ricos, desfrutando momentos de lazer na companhia dos seus. Mas não é. A verdade é que na rua que liga o hospital à rua de cima, a minha rua (não é minha, de verdade, é apenas um modo de dizer, quero que fique bem claro, pois não quero que pareça a mim ter mania de grandeza). No trajeto de cerca de cento e cinquenta metros entre o hospital e o portão de trás, há um bosque. Diga-se, pelo bem da verdade, um belíssimo bosque, e para que seja um bosque com todos os direitos, sim, há neles animais, singelos e peludinhos, e também outros, bastante emplumadinhos. Segundo último balanço, encontrei: Uma Cotia, um casal de Araquãs, com seus pimposos filhotes, um lagarto Teiú, bem graúdo, Saracuras, Gralhas esplendorosamente azuis, um casal de Pica-Paus do penacho amarelo que fazem de um frondoso Cinamomo, a sua feira livre de corós, e claro, as estrelinhas da festa: Os macaquinhos! São cinco deles, com dois filhotinhos cujo corpinho deve ser do tamanho do meu polegar, mas somado à cauda, conhecida como rabo, deve dar cerca de um palmo e meio de comprimento.

São mansinhos, todos eles, especialmente os macacos, que já estão acostumados com as bananas que recebem todos os dias dos transeuntes, dos familiares que acompanham os pacientes, e investem as longas horas da espera alimentando e fotografando os peludinhos e os emplumados, como um lenitivo pelo tempo da espera. E assim, delicio-me nas horas que passo em frente às janelas, e vejo aquelas pessoas desfrutando de esparsos momentos de conforto, divertindo-se e divertindo os animaizinhos, com suas oferendas doces entregues em suas pequeninas mãos.

Penso na missão daqueles animaizinhos, colocados estrategicamente ali pelas mãos do Criador, para cumprirem seu propósito de anestesiarem a dor pela empatia aos que estão nas cadeiras desconfortáveis recebendo quimioterapia, ou nos leitos, sendo alvejados por luzes radiativas, por horas, dias e semanas intermináveis. É nesse cenário que agradeço à D's por ter criado os macaquinhos, os passarinhos barulhentos, e o vento que balança as folhas do bambuzal, e faz bailar os galhos do Cinamomo, e da velha mangueira atrás dele, e ao lado dela a já infértil Jabuticabeira, e a velha goiabeira que não dá mais frutos, e o trançado de folhas que permitem um cintilar dos raios de sol no amanhecer, todos feitos para confortar as almas cansadas, as que fazem companhia aos macaquinhos uns poucos momentos, e por muitas horas mais, junto ao leito dos amados que sofrem, lá dentro do hospital.




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