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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Café Cacique - A Boca Bendita das Priscas eras de GRAMADO


Pois enfim, e por fim, até que enfim, chegou a vez de falarmos dele, do único, insubstituível, da "boca bendita" e do ponto de encontro das contrariedades que simbolizaram o quiasma das turbulências antagônicas da verve citadina. Vou traduzir: O lugar onde adversários sentavam à mesma mesa, e saboreavam café acompanhado de torta de Ricota, Pastel, ou Sonho. Eram as guloseimas de seu tempo. Era neste lugar onde se articulavam campanhas políticas, ou se discutiam posições favoráveis ou contrárias a qualquer assunto que fosse. O lugar não era outro, senão o Café Cacique. A "Plaza política da Cidade Jardim das Hortênsias". O lugar mais democrático que já conheci. Rico e pobre se juntava pra chorar pitangas e falar mal de alguém, não sem dar boas risadas e fazer chacotas, uns dos outros.
Era lá que se reunia o afamado, difamado, e mal contado, "Grupo dos Onze". Um dia, até quem sabe, falaremos sobre o tal "Grupo dos Onze", mas por ora, reservo a informação apenas relatando que pelo menos quinze destes onde, eram, provavelmente assíduos bebedores de café no Cacique. Isso significa que era sim, um lugar de relevância no exercício da democracia brasileira, se compactarmos o Brasil, a Gramado.


O Café Cacique foi criado, segundo relatos que conheço, pelo empresário Cláudio Pasqual, proprietário do Cine Splêndid, cuja edificação encontrava-se  contígua, ou apensa, ou ainda melhor, grudadinha ao Café Cacique, pois como os filmes eram longos, e era necessário trocar o rolo do projetor, o que demandava alguns minutos, esse intervalo permitia que a plateia pudesse abastecer-se de umas guloseimas, no bar ao lado. Esta é a história que conheço, mas certamente haverá adição à ela tão logo leitores de priscas eras ativem suas memórias afetivas.

Não estou lembrado quem era o arrendatário antes de 1960, mas minha memória é mais nítida a lembrança do Lauri Casagrande, seguido por Otávio Rossi, se não me falha a memória. Depois vieram os irmãos Dirceu e Eloi Broilo. Os arrendatários seguintes, foram os irmãos Braun ( Clávio e Ireno), irmãos do saudoso Professor Elpídio Braun. Todos, naturais de Gravataí, chegaram em Gramado em 1971.

Tudo o que acontecia, a notícia passava por lá. Era uma espécie de Whatsapp da época. Mas era também o reduto do intelecto local, ratificado pelo jogo de xadrez. Há até a folclórica figura do saudoso Horácio Cardoso (pai do Odilon, Chico, Dionete e Suzete) que jogava xadrez. E xadrez, como sabem, é um jogo de paciência. Muita paciência. Só quem não tem paciência é quem assiste, e em alguns casos, dão palpite, se enervam, e... bem, o que contam é que disse, certa feita o velho Horácio, aos espectadores:
- "Assistir, pode. Dar palpite, pode. Mas mexer nas peças de quem tá jogando, não pode!"



Chess Masters, filme de Edward Winter, 1924

De outra feita, aos quais não mencionarei nomes, mas quem é contemporâneo vai saber, frequentava a casa, um piazote muito simplório, que pelo seu pitoresco aspecto, foi meio que, digamos, "adotado" por alguns beneméritos frequentadores, para diversão dos mesmos, e dele próprio, mas que de risada em risada, era abastecido de guloseimas, pagas por eles. Em todos os tempos sempre houveram os bufões, que se divertiam à custa dos miseráveis, mas que ainda assim, eram seus benfeitores. Conta-se um causo, não ocorrido ali, mas em lugar certo e não sabido, mas que bem ilustra o ambiente:
- "Havia um pobre homem, que entrava em uma taberna, onde bebiam e se divertiam, um grupo de jovens ricos do lugar. Assim que entrava, chamavam-no para uma das mesas e mostravam duas moedas: Uma grande e valiosa, e outra pequena e de menor valor, e mandavam que escolhesse, com qual delas desejava ficar. Ele sempre escolhia a pequena, de menor valia. E saía dali satisfeito com seu regalo. Um certo dia, um dos jovens o chamou em reservado e disse a ele que a moeda que ele escolhia, era sempre a menor e valia bem menos, e ele respondeu:
-Eu sei o valor das duas, mas se eu escolhesse a mais valiosa, ganharia uma única vez, e assim, escolho a menor, e ganho todos os dias, e desse modos, todos podem rir. E eu também!"
Só sei que o piazote vivia rindo. E todos os demais, também.

O Café Cacique era o reduto de decisões políticas, como falei, mas assim parecia ser, um ambiente neutro, uma zona desmilitarizada, onde ARENA e MDB, e antes disso, PTB, PL, UDN, PSD e outros mais, até mesmo o extinto (na época) PCB - Partido Comunista Brasileiro, o que só por menção, fazia arrepiar quem ouvisse. Mas lá dentro, quem governava era o café, os lanches, e camaradagem.
Depois dos Braun, passaram vários arrendatários, mas aos poucos o café foi definhando, e por fim, o prédio foi alugado para uma loja de roupas de couro, e nunca mais se ouviu falar do Café Cacique, senão pelas memórias de saudosistas feito eu e meus leitores. Que seja.


Foto: Arquivo Público Municipal






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