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sábado, 8 de abril de 2023

Os vazios de nosso envelhecer - Os desafios do Século XXI


Amadurecer é como fogo em madeira verde: Muita fumaça e pouco calor. Os anos passam, e assim, como a lenha verde, que evapora toda a água e transforma-se em brasa, também a maturidade acontece, e nossas ações são desejadas, porque podemos servir com toda força que mescla juventude e experiência. Os anos passam, e assim como a lenha que é brasa viva, nossa utilidade é necessária para o desenvolvimento da sociedade. E por fim, poucas brasas, aconchegando-se na cinza, para perdurar seu calor, é o que resta do calor que um dia derreteu o aço. Então, as primeiras gotas de chuva açoitam as cinzas e acertam as brasas, que sublimam em um vapor branco e suave, que em nada lembra a densa nuvem das primeiras chamas, lá no princípio da vida adulta.

É no envelhecer que se percebe que ser ignorado já não importa mais. Já não se luta mais por espaço no mundo. Já não se desejam mais conquistas, fama ou poder. Basta a quietude das manhãs, quebrada pelo vento e pelo trinar do passaredo. Basta o ruidoso canto do crepúsculo retinindo nos ouvidos, ora surdos, ora sensíveis a qualquer estampido repentino.

É no envelhecer que se percebe que aquilo que pensamos ser sabedoria, torna-se impertinência para quem, em nosso entender, necessita de conselhos, e que no calor de suas próprias chamas, foge da pretensa sabedoria de quem não foi capaz de driblar a juventude, e como castigo, envelheceu.

É no envelhecer que a solidão torna-se a melhor companhia dos dias, e a dor, a parceira fiel das noites. É no envelhecer que ouvimos o silêncio como se fossem gritos de desespero, ou paradoxalmente, como uma sinfonia lenitiva. É no envelhecer que cada silêncio é organizado e saboreado. 

É no envelhecer que nos tornamos transparentes, translúcidos, irritantemente insignificantes. É no envelhecer que descobrimos que o tempo acelera morro abaixo. O Século XXI é o século dos silêncios encapsulados entre  nuvens quânticas, onde cada ponto que brilha, encerra um ponto que se apaga. O silêncio neste andar dos primeiros passos do século em curso é o combustível para o reflexivo caminhar da solitude anciã.

É no envelhecer que somos capazes de discernir as diferenças entre o que é aventura, e as consequências de aventuras inconsequentes. É nas consequências das grandes descobertas e invenções dos séculos recentes, que chegamos ao Século XXI com a mais completa das incertezas: Quando  nos tornaremos sombras liquefeitas pela sociedade que ajudamos a moldar à nossa imagem e semelhança?

Quando nós, enquanto já sombras inertes projetadas pelas luzes que nós mesmos acendemos e as utilizamos como se fossem nossos próprios brilhos, e por fim, descobrimos que não havia em nós brilho algum, assim como não há corpo em uma sombra, que depende de outro corpo e de outra luz que se projete sobre uma superfície, e nem mesmo esta superfície podemos ser, senão a falta de brilho que desliza se contorcendo entre a planura e depressão do chão que não sente mais nosso peso ao andarmos?

O Século XXI multiplicou os desafios de adaptação aos tempos em quantidade infinitamente superior aos séculos precedentes. A tecnologia tornou-se parte de nosso DNA, o que não traz nenhuma novidade à quem conhece os escritos sagrados do profeta Daniel, que dizia: "Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará."Daniel 12:4. Assim, o que não é novidade, não deixa de ser espantoso, de causar estupefação, por ver profecias se cumprindo diante de nossos olhos, em nossas casas, em nós mesmos. Somos a geração que sabe, ao mesmo tempo, que dias maus sempre chegam no entardecer da vida, também sabe conviver com a vida digital, aquela vida paralela que se oculta e se mostra atás de pontos luminosos em nossa tela de computador, e as chamamos de "Redes sociais", de portal virtual de acesso às vidas de pessoas que não podemos tocar, abraçar, sentar para tomar um mate (ou café, ou suco, ou água, ou dividir uma fatia de bolo, um biscoito, um pão), mas podemos conhecer-lhes a alma, os sentimentos, podemos compartilhar orações, desejos, disseminar a raiva, odiar o ódio, ou fazer valer a nossa vontade. Ainda que sejamos velhos, somos vivos e podemos viver cada centelha de vida que carregamos em forma de corpo, de alma, de sentimentos.

O Século XXI em sua essência é exatamente igual ao Século X antes do cristianismo, ou ainda antes, alguns séculos ou milênios, porque também por este mesmo mundo, perambulavam pessoas que tinham fome, sede, amor, compaixão, ódio, ganância, medo, ou coragem. Casavam e tinham filhos. Lutavam suas lutas e morriam suas mortes, e no seu entardecer eram reverenciados como sábios, e isso sim, perdemos, porque o multiplicar das ciências popularizou e capilarizou a sabedoria falsa, chamada de conhecimento, de ciências, de entendimento. Essa é a única diferença de nós com aqueles que viveram muito tempo antes: O tempo que tinham livre tornava-se o sol que amadurecia o conhecimento, e assim, digerido lentamente, era transformado em sabedoria.

Sabedoria não é dominar o átomo ou a pólvora, mas saber empregar um e outro conhecimento para o bem maior, o bem estar de cada ser vivo, de cada ser pensante, rastejante, ou emissor de oxigênio, metano, ou carbono, a saber, dos Homens, dos animais, dos vegetais, e até mesmo dos minerais, que juntos sustentam o ciclo da vida.

O Século XXI está passando tão rápido, e ainda nem esfriou o perfume do século XX. Os ventos ainda nem dissiparam os olores da morte, das guerras, da fome, das pestes, antes, fizeram de tais odores, sementes que brotam e rebrotam a cada dia, hoje, com o domínio do saber que fertiliza tudo, para o bem e para o mal.

O Século XXI voa para trás, mas para nossa esperança, forma o vácuo que puxa o futuro com mais celeridade, e neste futuro antagônico, que traz ao mesmo tempo, e pelo Mesmo Personagem, a esperança e o desespero, é o lugar onde, no tempo presente, podemos ainda refletir sobre O que Foi, O que É, e O Que Será. Ainda se pode refletir sobre Quem queremos ser nesse abraçar de tempo e de esperança.


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