Inovação é um conjunto de temperos que dão sabor ao sucesso. Inovar e criar não são atos solitários, mas solidários.
Dirão meus detratores em sua furiosa ânsia difamatória de minha pessoa que por escrever tais e tais reflexões, assim, de chofre, possa ser eu um despeitado e desacorsoado com a vida que levo, haja vista que por diversas ocasiões tive que ouvir o seguinte mantra:
- Paulo Cardoso (ah, como odeio quando alguém me chama pelo nome e sobrenome conjugados, pelo fato de que quando isso acontece, é porque atrás vem pancadaria, por exemplo, quando a mãe tem uma vara de marmelo, ou uma chinela na mãe, balançando, uma e outra, com olhar superior de ódio incontido e calculado e dizendo com separação das sílabas: "Pau-lo Car-do-so! Quantas ve-zes eu te..."plaft, cataplaft, paf...)te falei pra não fazer isso..." Assim, sempre que alguém me evoca pelo nome completo, e começa com um rasgado elogio de minhas pretensas virtudes artísticas e intelectuais, já tenho a certeza que, como trovoadas em sequência trarão temporal, também atrás dos elogios virão as grandiloquências muares que começam com: "Mas...!".
Isso posto, direi que sim, talvez soe como um desabafo em justiça própria, e com as próprias mãos, uma vez que dedilhografo tecla por tecla para tornar meus textos com aparência inteligível, e ora segue o proposto, segundo o preêmbulo e a chamada do ensaio: "Pessoas criativa e pessoas Repulsivas - O tipo de "sucesso" que as define!"
Pessoas criativas e Pessoas repulsivas: Onde vivem, o que comem, como se reproduzem, como sobrevivem, umas, em detrimento das outras? Isso tudo e muito mais vamos tergiversar aqui neste discurso de minha lavra sobre a pequenez humana disfarçada de bem sucedida efígie nas sombras da mediocridade. Eis os fatos.
Esatava eu, certa ocasião (o fato repetiu-se muitas e muitas vezes ao longo da vida, então a resposta que hoje darei (e dei) é um coringa que se encaixa em todas as perguntas dessa natureza:
- "Paulo Cardoso! Você é inteligente, talentoso, desenha bem, é criativo, então por que não é bem sucedido?"
Carinhosamente dirijo-me aos meu interlocutor, que à ocasião em que diz isso, está confortavelmente assentado em uma cadeira Hermann Miller, rodopiando a bunda gorda, segurando um cheque para pagamento de meus honorários, e respondo com doçura na voz, sincera (quase):
- De fato, sua pergunta é assaz pertinente (sempre falo difícil quando quero ser irônico, mordaz, cínico), pois outros perguntam o mesmo, e como bom aprendiz de judeu que sou, vou responder com outras perguntas, se me permite: O que você tem na mão? (O cheque, é a resposta). Muito bem, você se considera um idiota, um otário, um ingênuo, que seja fácil de ser enganado?
- "Nãooo!" - Responde-me de chofre!
- Muito bem, eu concordo consigo, pois você está pagando os meus honorários de um serviço ne natureza intelectual que prestei à sua empresa,e contribuí, com isso, para a manutenção dos empregos de seus colaboradores, além de prover lucro para seus investimentos, e colaborar com a vida digna que você dá à sua família; com o combustível de seu carro importado, da sua dignidade entre seus pares empresários. Estou certo?
- Corretíssimo, sim!
- Obrigado! Então, permita-me dizer o que eu vou fazer com o dinheiro deste cheque: Vou pagar a mensalidade da escola dos meus filhos (ah, alguém leu meu artigo anterior onde eu falo que o novo rico tira os filhos de escolinha da vila para que estude em escola da nata social, e que sou incoerente por isso, certo? Errado! Meus filhos sempre estudaram em escolas pagas, por razões de logística e porque sim, a qualidade das escolinhas deixavam a desejar, assim, não deixei de apoiar uma para gastar na outra, pois vivemos em um país onde a educação e a cultura são considerados, desde os tempos coloniais, "coisa de mulherzinha", e continuo achando sim, que se o que é investido em escolas particulares, se houvesse uma condição de suporte para as escolas públicas com estes valores, não há nenhuma lei que impeça que isso seja feito, e imagine, se o Estado, o Município, tivesse que investir apenas nos salários dos professores, ou vice versa, que investisse no patrimônio, e que as parcerias com a sociedade bancasse os salários dos educadores, que maravilhosas escolas teríamos, e sim, sonhar eu posso)... Vou pagar o supermercado, as roupas, o carro,e seus impostos, vou ampliar a minha casa, investir em equipamentos de trabalho, investir um pouco com lazer, enfim, dar dignidade à minha casa, isso porque meu sucesso depende do seu, assim como o seu, depende um poudo do meu talento, que você acada de elogiar.
Quanto ao "sucesso", ou ser eu "bem sucedido",. te pergunto então: O que você entende por "bem sucedido"? Tem um carro? Eu tenho. Novo, e há muitos anos que só tenho comprado carros novos na revendedora. Tá certo, é da linha quase popular, mas tem bom desempenho e me leva onde preciso ir com dignidade. Ou então uma boa casa? Sim, tenho uma linda casa (hoje, apartamento), decorada ao gosto da minha esposa (óbvio). Três filhos educados, bons cidadãos, dignos, sendo um empresário, uma cientista em finalização de doutorado, e um profissional de computação. Sou casado há 44 anos com a mesma mulher, tenho uma fé e sou temente à D'us, viajei à todos os lugares do mundo onde eu tive vontade de ir, e sempre fui à trabalho, o que significa que tive alguma competência para ser chamado à tais lugares, jamais tive um processo judicial contra mim, portanto sou respeitador das leis, e entro pela porta da frente em todos os lugares por onde trabalhei. Tenho tudo o que preciso e nada falta à minha família. Tenho uma esposa digna, e cinco netos perfeitos, lindos, amados. Tenho, sim problemas, desafios, percalços, e isso é o que me torna criativo, me impulsiona. E uma última pergunta: E você, é bom em que mesmo?
Vou encurtar o assunto: Todos os que me fizeram esse tipo de perguntas, a despeito da situação em que se encontravam na época, estão falidos hoje.
Bem, a má notícia é que este foi o preâmbulo de minha reflexão, mas precisei dar um testemunho pessoal para justificar o fato de que sei do que estou falando. Senti na pele ao longo da carreira, o sentimento de desprezo daqueles que se julgam superiores porque sejam mais proeminentes do aquilo que eu nunca desejei ser. E sei o custo de ser criativo num mundo onde em terra de cego, quem tem um olho, cala a boca, disfarça, e sai de fininho, antes que te furem o que ainda enxerga, só por inveja. Isso mesmo! As pessoas sentem inveja daquilo que julgam nos outros, as tornarem diminuídas.
Certa ocasião, fui pedir emprego a outro empresário, que também comprava meus projetos, e ele me respondeu que nunca iria me contratar, porque eu era mais inteligente que ele e ele jamais trabalharia com alguém que fosse mais inteligente que ele. Respondi que essa atitude provava que ele era mesmo muito mais inteligente que todos, porque só quem tem uma inteligência assustadoramente proeminente é capaz de refutar outra com tamanha franqueza. A propósito, todos os funcionários dele, o colocaram na justiça do trabalho e ele teve que encerrar as atividades. Talvez tenha ido instruir-se, não sei.
Parece que estou me gabando, mas não estou. Não preciso disso. O que estou é contando fatos que aconteceram comigo, porque isso me torna testemunha das mediocridades que assolam nosso entorno. E eu tive a dignidade de contornar estes caminhos, e tornei-me Polímata exatamente por conta dessas vicissitudes ocasionais, e conheço o lado B da página.
Publiquei, há alguns anos atrás, um livro denominado: Teoria da Criatividade, (adquira aqui em português) (adquira aqui em inglês), onde falo que nós somos cercados pela constante necessidade de inovar coisas, inovar os sonhos, inovar a vida, inovar o mundo, e só a mediocridade é capaz de frear nosso movimento nesta contínua busca dentro do desconhecido, seja ele estético, prático, físico, mental ou até mesmo espiritual.
Eu não peço à D-s por riqueza, mas que me livre de gostar do mal, e da mediocridade.
Os criativos eram temidos pela sociedade, assim como eram também os deficientes, nas culturas antigas. Os criativos ainda são tomados como irresponsáveis por muitas pessoas, especialmente no meio empresarial menos esclarecido, porque são inquietos. Há uma repulsa quase natural por aqueles que destoam do Status Quo do grupo, que se permite modelar pela vontade soberana daqueles que sentem nos criativos, rivais, que ameaçam sua autoridade diante dos demais.
Não suportam a mesmice, são irreverentes, muitos, quase intolerantes, e acabam por tentar mudar as coisas, só que nem sempre suas atitudes são benvindas. Toda mudança gera responsabilidade em aderir a ela, quebrar paradigmas, andar noutra direção. E isso pode ser o fio da navalha para os criativos, pois quando a criatividade se choca com a mediocridade, os resultados podem ser imprevisíveis. Cabeças rolam em grande parte das vezes que isso acontece. Medem-se forças de convicção e assimilação.
Se os medíocres estiverem em maioria e tiverem potencial capacidade de formação de opinião, os criadores podem preparar suas malas e buscarem outros palcos para encenarem suas tragédias. Se o contrário acontece, então, são os medíocres quem precisam se reajustar com as novas diretrizes.
Em geral, uns poucos líderes desta rebelião ideológica são decepados do grupo e os criativos assumem a inovação. Os demais se tornam massa inerte e cumprem o estabelecido. Mas não são medíocres. São pessoas normais. Em minha geração de pós-adolescência, anos 70, havia conceitos que norteavam a conduta social através de certas particularidades das pessoas. O corte de cabelo, o friso na calça, chapéu, gravatinha fina, camisa engomada, óculos quadrados e abotoaduras, perfilavam um homem decente, aceitável pela sociedade. Caso este personagem fosse funcionário de um banco qualquer, de um escritório de contabilidade, um gerente de fábrica ou uma profissão qualquer relacionada à organização, produção ou governo, tornava-se um excelente “partido” para casamento, amizade ou participação na comunidade. Ao contrário disso, quem fosse criativo em excesso, volúvel nas ideias, artista, pensador ou exercesse qualquer profissão menos cartesiana, era considerado um sinal amarelo para maior proximidade com pessoas “decentes”. Neste saco de gatos estava o criativo, o inventor. O Ser Criativo era uma praga social. Poderia agir, contanto que não excedesse os limites preestabelecidos, isto é, que permanecesse no mesmo emprego, que não ousasse expor seus sonhos para não passar por louco ou que ousasse ser empreendedor sem ter suficientes recursos que lhe garantisse continuidade e sucesso no empreendimento. Evidente que qualquer empreendimento precisa ter planejamento, serenidade das decisões, alguma experiência e sobretudo coragem. Mas também é necessária ousadia. Muita ousadia, caso contrário seria apenas mais um no mercado.
Entrar no mercado por primeiro é um risco enorme, porque não há parâmetros para estabelecer metas ou traçar paralelos de sucesso ou fracasso. Os aviões comerciais tem suas rotas, altitudes e horários, determinados pelas torres de controle, para que não cheguem cedo demais, ou tarde demais, ou ainda em horários conflitantes com outras aeronaves, o que poderia se tornar uma catástrofe imensa, não fosse a ordem e os roteiros estabelecidos. Há um tempo para tudo, diz o sábio da antiguidade, e o tempo é o fator determinante dos resultados que se espera das atividades relacionadas com a sociedade. Este sincronismo determina a dita normalidade da sociedade, embora as variáveis também sejam interpostas com as constantes deste entrelaçado evolutivo. Se interligam criativos e executivos, tal como gordura e carne, fibras e silício e outros opostos naturais na fisiologia das espécies
Há, porém o benefício do inusitado, da surpresa, da coragem. Tantos são os empreendimentos que fracassam quantos são os que prosperam no campo da inovação. Mas não se pode atribuir à inovação em si os méritos pelo sucesso apenas, como não se pode atribuir à mesma inovação o demérito pelo fracasso. Inovação não é invenção barata, loucura manufaturada ou uma bolha etérea sujeira ao vento sem um leme.
Inovação é um conjunto de temperos que dão sabor ao sucesso. Inovar e criar não são atos solitários, mas solidários.
Concluo contando a última história de hoje.
Eu atendia uma importante indústria, com esporádicos trabalhos, e como nunca me contentei em entregar apenas a encomenda, eu oferecia soluções extras para seus produtos, ainda que não tenham sido criados por mim. Soluções práticas para evolução dos produtos. Um dia, sugeri ao cliente que contratasse minha consultoria de modo permanente. A resposta dele foi:
- "Paulinho! (Este teve a delicadeza de me chamar pelo diminutivo carinhoso que só parentes chegados e amigos fazem) Se eu te contratar, estarei criando um problema com minha equipe. Tu é muito criativo, e isso iria gerar ciumeira, e eu poderia até perder alguns funcionários!"
Curiosamente, recebi a mesma resposta de outro empresário, que tinha a mesma preocupação. Apenas não me chamou de "Paulinho", mas de "Medalhão!". Aí foi que entendi que curriculo e portfólio deve ser mostrado só a sinopse, senão não tem trabalho, e muito menos, emprego. Tudo deve ter um tamanho, uma quantidade dosada, senão o bolo desanda.
A propósito, o primeiro empresário, continua firme e forte até hoje. Soube dizer "não" com delicadeza. Sabe que "sim e não" são apenas instrumentos da caminhada, e não precisam servir de chibata para punir aqueles que ousar ser criativos.