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sábado, 2 de dezembro de 2017

A feiura segundo Apolônio Lacerda - A honra e a glória



Mãns chê - dizia Apolônio, com ar de desdém, misto com compaixão e um certo tanto de deboche: " Não te apoquentes, porque feiura não é mistério! É só defeito no carburadôri da encrenca!

Não  poupava nada.Perdia amigos, mas de jeito nenhum deixava guardado um elogio invertido sobre as qualidades da fealdade humana, vegetal, animal ou de desafetos, os quais não classificava em nenhum dos reinos conhecidos, mas algo entre o reino Fungii (dos fungos) e do traseiro das baratas, que também não era um lugar muito louvável.

A questão era que Apolônio tinha um transtorno bastante comum em pessoas tacanhas, de inverter valores e subverter virtudes, daí, dizia que tal pessoa era "imbizugada", quando o conceito geral era de que tal pessoa fosse linda. Chamar de linda perto dele era pedir briga, pois ele acreditava que o lindo era ser feio e e quanto mais feio mais lindo, pois pregava um ensinamento de que vivemos em um circulo virtuoso e ao mesmo tempo defeituoso, onde a lindozura estaria em um ponto desconhecido e que se ao mesmo tempo nos distanciássemos deste ponto indo na direção oposta na tangente deste círculo, estaríamos ao  de igual modo nos aproximando da belezidade que buscávamos, ou seja, quanto mais feio, mais lindo. Então, dizia ele que para um encontro pleno com a buniteza, era preciso que fugíssemos dela.

Apolônio era meio doido e meio certo. Isso ele não definia direito, pois dependendo da conveniência, ser doido era vantagem, Mas a lógica de Apolônio era interessante, e poderia ser aplicada a outras virtudes em contrastes com seus defeitos seja no Bassorão ou alhures, dando à lógica apolônica um sentido especial. Por exemplo, diz a sabedoria judaica que a honra é assim que se apresenta aos que a buscam, e quanto mais se busca a honra ( glória, reconhecimento, louvor próprio), mais ela foge de nós, porém no inverso disso, quanto mais fugimos da honra (modéstia, equilíbrio, temperança moral), mais ela (reconhecimento)  nos persegue.

Apolônio nunca fala em honra, pois isso  comprometeria a não dizer mais asneira. Mas não deixa escapar uma oportunidade para ofuscar a prepotência alheia com suas pérolas mordazes. Assim foi no dia em que foi apresentado ao recém nascido filho varão de Gualhaba, causo ocorrido com a Emerenciana, neta do...bem, isso não tem importância no relato. Pois Apolônio olha para o rebentinho ainda de olhinho fechado e lasca de chofre:
- Mãns chê! Como é feio! mas que bá! Parece um juêio de rezadêra!
- APOLÔNIO! - Vocifera o Frei Uomo, cuspindo o gole de vinho que amolecia o bocado de torresmo que mascava, escandalizado encolerizado com o disparete do atarantado.
- Mãns chê! Foi um inlojíu. Eu não ia falá pra mãe do cuéra que a cara do bicho é mais parecida com uma capivara desmamada, ia?
Frei Uomo estava em duvida se enforcava Apolônio com o rosário, ou dava nele com a bengala, quando vê Apolônio  fazendo um carinho no infante, que por estes inexplicáveis mistérios, fez com que a criancinha olhasse para Apolônio e desse um largo sorriso, desconcertando Apolônio:
- Eu vou bater nele, Frei! Não tava no combinado que o piá ficasse de gracinha comigo!
E quanto mais falava e gesticulava,mais ria o piá, derretendo Apolônio de lembranças...e fechando o círculo das virtudes, onde quanto mais se foge da honra, mais ela nos persegue..e quando o Frei olhava para outra direção, lá estava o dedo do Apolônio, emocionado, fazendo bilu na creancinha marota.
- Mãs que parece um juêio, parece! Ih, o piá me cagô no colo....

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