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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Sobre violência, Sofrimento e Perdão



Tenho um hábito que passei a cultivar há muitos anos atrás, e que aprendi lendo a Bíblia. O texto está em Efésios, 4:26-27 e diz assim:Mesmo em cólera, não pequeis. "Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.Não deis lugar ao demônio".  Interessante ler o capítulo inteiro, porque não se trata de uma lição de religião apenas, mas um tratado de ética e de moral, e mais que isso, um conselho de psicanálise, onde mais que fazer cessar a discórdia e buscar a paz, o texto propõe uma interrupção daquilo que nos leva ao sofrimento em cadeia, contínuo.

O sofrimento contínuo pode ter uma causa externa (prisão, maus tratos, doença, de muitas maneiras, enfim), ou interno, isto é, aquilo que está dentro de minha alma, de meus pensamentos, de minhas atitudes, e que consequentemente poderia ser mais fácil de ser mudado. Mas não é, infelizmente. Mudar o mundo é  mais fácil do que mudar a nós mesmos, uma uma razão bastante simples: Os outros nós podemos ver, mas a nós é mais difícil, pois ainda que tenhamos  um espelho que mostra nossa aparência exterior, até mesmo ele nós procuramos enganar, maquiando e penteando, porque espelho só mostra a superfície mais insignificante de nós mesmos, mas não é capaz de desnudar o nosso caráter, uma vez que conseguimos mentir até mesmo para o espelho, até mesmo para nós próprios.

Quando Sócrates dizia que devemos conhecer a nós mesmos, estava dando combustível para que Paulo de Tarso propusesse aos Efésios que modificassem suas características sociais, mas além disso, que deixassem de sofrer. E quem é  que sofre? Sofre aquele que remói mágoas, que remexe podridão do passado, e que alimenta contendas. Sofre aquele que pensa estar fazendo justiça incitando vingança, porque enquanto tal "justiça" não  ocorre, ele continua sendo infeliz, e quando a vingança acontece, nunca será suficiente para saciar sua sede por sangue, e assim, aquilo que propõe reparar o erro de um, torna-se adubo para as ervas daninhas do ódio do outro.

Quando estamos diante de um malfeito de alguém e respondemos com incitação um malfeito pior,não é  o agressor quem sofre os danos, mas somos nós que apodrecemos e não percebemos. Quando propusemos que uma atrocidade seja saciada com outra atrocidade ainda maior, não estamos reparando o mal que já foi cometido, este irreparável, senão pelo Justo Juiz que julgará vivos e mortos no Dia do Juízo, e dará a cada um a sua paga, segundo o mal ou o bem de seu coração. Porém, aqui e agora, mal nenhum se repara com mal continuado por outro, ainda que se denomine justiceiro.

Quando disse que aprendi algo e aqui divido este aprendizado com você é que eu sou aquilo com o qual eu me alimento, e em minha vida não há prato que aceite alimento estragado. Não sou bom o suficiente, mas nem mau que não possa reparar meus erros, e nessa escada, de degrau em degrau, procuro subir, um por um, para tropeçar menos, não porque querer dizer que sou bom, mas para que o mal não diga a mim que sou aliado dele.

Resolver suas questões antes que os tribunais precisem interceder é garantia de sono tranquilo. Talvez não se curem os males do mundo,mas ao menos dorme-se em paz.

Perdoar não significa dar razão ao agressor, mas tirar o morto de nossas costas para que não apodreçamos junto. Quem nos fere e não se arrepende disso, é um cadáver espiritual e exala mau cheiro, especialmente enquanto estiver agarrado às nossas costas, por isso, libertá-lo é certeza de que podemos nos banhar no perfume do perdão, que nos deixa dormir em paz e acordar mais leves.


Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.
Não deis lugar ao demônio.
Efésios 4:26,27
Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.
Não deis lugar ao demônio.
Efésios 4:26,27

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