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quarta-feira, 17 de julho de 2019

Uma prosa pra ser contada (Poema)



Uma prosa pra ser contada
Paulo Cardoso


No frio  inverno do tempo,
me tapei de solidão
vesti um manto de aurora,
me enrodilhei na geada
prendi saudades no laço
fiz das esperança uma estrada.

No frio minuano da sorte
vi que a morte já é lembrada
ainda que venha tarde
chegando devagarito,
sorrateira, sem alarde,
é o doce amargo que arde
a acidez do limão
o beijo com gosto de adeus,
o frio aperto de mão.

Atravessei madrugadas
conversando com as estrelas
mateei com primaveras
eram chinocas faceiras
enfeitadas de quimeras.

Bebi orvalho na guampa
redesenhando a estampa
do tempo que lá ficou.

No bornal eu levo os sonhos
nos braços, a prenda amada
no peito carrego, dentro
uma paixão esquecida
um amor correspondido
e uma dor, que é quase nada.

Branqueiam os campos  da história
nas melenas invernais
tempos que se abraçaram no vento
coisas que não voltam mais.
Brandindo a adaga da sorte
eu me recolho no pala
que é rancho de quem  se foi
bebo a água da sanga
durmo da relva sagrada
a Santa Ceia do boi.


Aqui me guardo pra história
e me visto de verdade
o meu canto é de saudade
dos velhos tempos de glória.
Vivencio aquilo que lembro
e invento o que não sei mais
pero ainda sou capaz
de retomar uma prosa
como um moço que se declara
à sua prenda formosa.

Aqui deixo meu epitáfio
que vou carregar muito em vida
sou valente e não covarde
porque o mesmo aço que arde
no tilintar da peleia
é o ferro que depois corta
a terra que dá a ceia
e como aço e ferro batido
mesmo que ainda ferido
hei de lutar com bravura
se for chamado pra justa
pois a única coisa que me assusta
é morrer sem ter vivido.




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