Mas é lógico que vou contar os fatos e omitir os autores, mesmo porque muitos leem as asneiras que as vezes eu escrevo. Então, onde cair o estrume, daí nascerá a hortaliça. O resto são lorotas.
Os nomes são fictícios*
Causo 1
O jogo de xadrez era um atrativo do café, onde empresários, políticos, aposentados, e também desocupados, gastavam horas discutindo política, decidindo questões importantes da humanidade (com quem a Fulana negociava os prazeres da carne em troca de cachaça, por exemplo), ou os destinos da nação. Um destes habitues era Sêo Adamastor*, que muito pachorrento, costumava mascar um palitinho no canto da boca, enquanto matutava e movia as peças e fazia suas jogadas.
Pois conta-se à boca pequena, que "Sêo" Adamastor fazia jogadas muito pensadas, eessa demora agoniava os curiosos à volta, que davam palpites, e às vezes, um mais ansioso, chegava a levar a mão à peça para quase forçá-lo a cometer a jogada de acordo com seu palpite, ao que Adamastor respondia, mascando o palitinho:
- Palpitar...pode! Furungar atrás de mim....pode! Achar que sabe mais que eu...pode! Mas o que não pode e´mexer nas peças!
Conta-se ainda que Adamastor enfiava uma mão dentro da calça, para ajeitar as coisas, e a outra mão permanecia na mesa fazendo movimentos involuntário, como se estivesse coçando algo imaginário sobre a mesa. Reflexos. Apenas reflexos.....
Causo 2
Paquito* era um rapazote de poucos atributos intelectuais, que perambulava pela cidade, dormindo aqui e ali, mas que pela simpatia, e certa sagacidade, descobriu que deixar-se troçar (debochar) pelos frequentadores do Café, poderia ser lucrativo, o que de fato se confirmava, uma vez que tinha seu lanche garantido, uma vez que retribuía com risadas. Se isso fosse hoje, seria chamado de "Bullying", mas na época eram apenas patacoadas mesmo, sem danos à pessoa, exceto pelo deboche.
Conta-se que Frajola*, o bonitão da roda, era o mais debochado,e que sempre que Paquito chegava à mesa, abanando a cabeça pelo trejeito de caminhar, perguntavam à ele:
- Quem é teu pai?
- Atalíbio Fortuna* (Outra personalidade local, cujo aquilíneo da protuberância nasal oferecia certa similaridade caricata com o Paquito).
- Quem é tua mãe?
- Fulana de tal?
- Quem é teu padrinho?
- O Frajola!
E lá ía Paquito feliz da vida matando a fome com um pastel ou um sonho...
Causo 3
Frajola* era um rapazote de pouca prosa, mas com respostas certeiras. Certa feita, indo à cavalo, buscar uns mandados na venda, encontra um sujeito que resolveu rir às custas do efebo.
- Aonde é que vão os dois? (Em associação do moço ao cavalo).
- Buscar pasto pra nós três!
Causo 4
A Escola Estadual Santos Dumont tinha a grande maioria de seus alunos à noite. E entre cerca de quinhentos ou seiscentos alunos, que apareçam uns dois ou três mais avançadinhos, não é difícil. Numa feita, alguém descobriu que provocando um curto-circuito numa determinada tomada, fazia cair a energia em toda a escola. Daí tinham que desligar e depois ligar um por um dos disjuntores do prédio. Isso tomava cerca de meia hora. E religiosamente, todas as noites, na mesma hora, alguém ia lá e provocava o curto. Ja começava a ficar chato aquilo. E fomos conversar com o vigilante, um italianinho que falava grosso.
- Que chato isso, né Sêo Genaro?
- Mas ahh se "botêmo" a môn nesse veiáco! Vomo CAPÁ ele!
Bueno! O Café Cacique era um dos patrimônios que deveriam ter sido preservados. A memória de Gramado passou por ali até início dos anos 80. Nunca inovou. Nunca alterou o cardápio. Nunca mudou o jeito de atender. Mas foi derrotado pelo turismo predatório, aquele que chega e não se satisfaz em usufruir da casa alheia. Se instala e destrói todos os valores que encontra pelo caminho, porque ele mesmo não tem nenhum por oferecer. O Café Cacique faz falta em Gramado.
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