AD SENSE

domingo, 15 de outubro de 2017

A Igreja e D's (Deus) - Você busca respostas ou faz perguntas?






A primeira ideia para este artigo seria de dar o título: "Saia da igreja e conecte-se com D's". Seria um ensaio provocativo, não no sentido de desmantelar a prática religiosa de comparecer ou pertencer a uma determinada denominação, mas no sentido de questionar a respeito do verdadeiro motivo que nos leva a buscar este pertencimento, e quais as consequências disso na formação do nosso caráter e sobretudo da nossa espiritualidade.
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Fui criado na igreja. Minha avó, muito religiosa, ao fim da vida, que O Eterno, Bendito Seja, guardou para a ressurreição muito em breve, ela já havia lido o Santo Livro mais de cem vezes. Ela lia outros livros também,  mas nenhum deles ocupava tanto a sua mente quanto a Bíblia. Desta forma, fui criado em um ambiente onde a relação de valores era iniciada pelo tripé: Igreja-Família-Trabalho, e destas três colunas, todos os seus desmembramentos, sejam eles morais, profissionais, culturais, mas acima de tudo, religiosos. Foi a religião quem sempre norteou meus passos desde a tenra infância até hoje. E este era o costume de modo geral, nos meus contemporâneos, independente do credo que professavam. A vida era resumida em: casa, trabalho, igreja, e moldado pelos princípios destes, a vida social e lazer.

O primeiro pensamento que aflora nestas lembranças direcionadas mais ao espírito do que ao corpo, pelo menos em teoria é: mas e por que, mesmo com todas estas informações e costumes, continuo sendo um pecador,  consciente desta condição, e por que, mesmo dentro da igreja, sentia-me com culpa continuada? Por que, de tempos em tempos, a igreja e o convívio religioso tornavam-se mais e mais tediosos, ao ponto de precisar de bons sermões para que abastecesse minha adrenalina espiritual, e dada àquilo que penso ser um pouco de discernimento cultural, tornava-me cada dia mais exigente quanto á qualidade técnica do pregador para que voltasse saciado e abastecido de motivação espiritual, que duraria cerca de dois ou três dias, mas ao final destes, novamente o tédio e a falta de vontade de cumprir o rito de ler a Bíblia, ouvir um hino de louvor ou contrição, e dedicar o restante do dia a examinar minhas dúvidas, porque para respondê-las, necessitava de um "maior relacionamento com D-s", segundo ouvia dos mais "espiritualizados", e que isso só seria possível com total arrependimento pelos pecados e continuada oração e estudos da "Palavra de D-s", ou seja, do caminhão de livros, livretos, panfletos, apostilas, programas de reavivamento e louvor, e no clímax disso tudo, abarrotar meus ouvidos de "Louvor" esganiçado com luzes piscantes e caras de sofrimento cuidadosamente ensaiadas pelos artistas que trocavam suas carreiras falidas no mercado secular, e encontravam no meio religioso um prato cheio para seus espetáculos, onde decibéis e luzes enchiam de êxtase as pobres criaturas de mãos erguidas balançando com suavidade em direção aos céus, na ânsia de receber aquela "paz" e tremor espiritual, a qual chamam de "encontro com Jesus".

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Eu, que venho de uma geração onde os quartetos eruditos ainda procuravam somar vozes ao conjunto, em lugar de disputar decibéis, como se D-s fosse um julgador do "The Voice", que viraria a poltrona para aquele que alcançasse as mais altas notas ou produzisse os melhores efeitos e falsetes, comecei a esvaziar-me de religião, de convívio religioso, e ensimesmar-me à minha rebelde insignificância, ruminando minhas culpas por desejar ficar o mais distante possível daqueles espetáculos da fé.

Mergulhei nos estudos,mas tudo o que lia, convergia quase sempre para uma coisa, que me incomodava: Havia resposta pra tudo! E isso me incomodava,porque haviam respostas para perguntas que eu não tinha feito, e de uma forma que não me permitiam pensar em modificar as perguntas, ou pior que isso, se eu ousasse perguntar algo que não estava previamente estabelecido pela cartilha, que mais parecia uma tabelinha de perguntas à esquerda e respostas à direita, e que não havia sequer a possibilidade de ter mais que uma alternativa, porque neste pensar doutrinário, D-s era absoluto, isto é, não O Ser Onipotente, Onisciente e Onipresente, mas aquilo que estava estabelecido acerca de D-s era um pacote fechado e sem direito à escolha, porque um único desvio da pergunta previamente combinada, levar-me-ia ao julgamento antecipado por apostasia da fé. Complicado isso. Mas assim que era.

Nos longos diálogos com minha avó, uma velha cheia de defeitos e péssimas virtudes, foi minha grande referência religiosa. Era teimosa como uma mula, mas era o que eu tinha. Era o meu patrimônio de conhecimento acerca da fé, e então era com esta "ferramenta" que eu deveria trabalhar minha construção. Os anos passaram, ela se foi, outros vieram, e um dia, entediado, comecei a recompor nossas conversas. E nestas reminiscências, resgatei o histórico familiar que ela entretecia  com maestria de memória, e lembrava as minúcias dos casamentos  da família de até cinco, talvez seis gerações atrás, relacionando seus costumes e historia à nossa ancestralidade judaica. Eu me divertia com aquilo, e dava pouca ou nenhuma importância ao fato. Porém, um dia resolvi investigar isso mais a fundo, e descobri que a organização religiosa à qual eu era filiado (e continuo), aceitava que seus membros de origem judaica, praticassem a forma de serviço religioso deste formato, e que se reunissem em separado, diferente dos cultos tradicionais do restante dos membros. 

Foi assim que despertei para o judaísmo, e esta é a primeira vez que escrevo sobre o assunto, uma vez que não o faço por razões proselitistas, nem anti-igrejeiras, mas como uma análise pessoal de meu relacionamento com D-s, isto é, como parte de um processo de conhecimento daquilo que fugi por tantos anos, o estudo da Bíblia. O que mudou foi que antes eu estudava a Bíblia, ou fazia a leitura do ano bíblico, contando as páginas que faltavam para terminar. Hoje, simbolicamente eu "raspei" a numeração das páginas, e passei e estudar como se descascasse uma cebola: camada por camada. Passei a estudar a Bíblia sob um viés de quem a escreveu:os judeus!

E o que eu aprendi neste formato de estudo e comportamento? Aprendi o fundamental para entender que durante cinquenta anos (eu tenho sessenta hoje) de religiosidade de cartilha, eu não sabia nada, e estes recentes dez anos que se passaram, me mostraram que cada dia eu sei menos ainda. O que mudou foi esta percepção: saber que nada sei. Mas algo ainda maior foi agregado ao meu modo de compreender as coisas da fé: Desisti de ler as respostas, e passei a buscar pelas perguntas. Descobri que eu não sabia perguntar, e quando o fazia, era por razões apologéticas, isto é, eu já tinha uma resposta pronta para a eventual resposta que poderia ouvir. Meu mundo era formado de contrarrazões e dificilmente um debate agregava algo,porque em lugar de ouvir, eu estava sempre pronto a falar. Em lugar de perguntar para entender, eu era treinado a derrubar argumentos. Em lugar de assimilar as palavras de um sermão, fui condicionado a perceber o clímax, para poder chorar quando todos choravam, uma vez que todos os sermões que ouvia, estavam impregnados de frases de efeito e sonoridade estética para "tocar corações" e despertar sentimentos na congregação.

Cheguei a um ponto onde ser chamado de "irmão" passou a me incomodar. Não era espontâneo, ainda que sincero. Era uma obrigação formal de pertencimento. Quando você passava a fazer parte daquele mundo, agora você era "de Jesus", isto é, seu querer não era mais seu, mas dÊle. E eu aceitava isso tudo, sem questionar, porque questionar era "artimanha de satanás" para me desviar da fé. Mas que fé? Eu não tinha nenhuma fé. Tinha era culpa, e então criava calo nos joelhos quando a situação ficava calamitosa, e senti certo alívio, porque importunava D-s com minhas súplicas e remorsos, até  que as coisas normalizassem. daí começava tudo de novo.

Cheguei ao ponto de ouvir sermões e passar o tempo analisando a técnica do orador, prevendo com muita antecedência o clímax da mensagem. Era quase capaz de repetir como num jogral, as palavras de efeito que ouvia, e naquele momento do apelo, sentia-me constrangido a ser o único sentado e sério, enquanto todos estavam se derramando em lágrimas lá na frente esperando a bênção do vitorioso pregador, embevecido com tão belas palavras que "D-s colocara em seus lábios". Entrava vazio e saia murcho. Esperando que o  sábado terminasse logo, para eu poder retomar minha vida pessoal. E como quem espera sempre alcança, o sábado terminava, logo estava eu radiante e cheio de culpa porque estava feliz em poder ser eu mesmo, ainda que de um modo mais secular.

Não escrevi isso tudo até aqui para terminar de forma tão negativa. Escrevi para justificar o título que dei e o título que gostaria de ter dado:Saia da Igreja e conecte-se com D-s. Repito:Não saia de sua igreja de forma nenhuma! Não existe outro  lugar no mundo para que você vá, se abandonar a sua congregação e as suas doutrinas. Seu vazio será completo,porque dentro da igreja existem pessoas que sofrem as mesmas angústias que eu sofria e que talvez você desde agora passe a perceber que também sofre. Mas então, qual a respostas disso? Nenhuma! Exatamente. Nenhuma resposta. Eu não encontrei respostas quando redirecionei minha conduta espiritual e ancestral. O que aprendi foi que antes do ovo, veio a galinha, uma vez que foi criada por Quem criou todas as outras coisas, e aprendi que antes das respostas, devem vir as perguntas, e caso você não saiba como começas a perguntar, comece por estas três perguntas (esta é a única resposta que darei): Quem eu sou? De onde eu venho? Para onde eu vou? E não aceite as respostas simples que poderá ouvir para calar sua curiosidade. Busque a origem das suas perguntas. O que diziam Platão e Aristóteles sobre quem é você? o que dizia Descartes sobre as mesmas perguntas? O que dizia Moisés, Jesus, Paulo de Tarso? O que disse D-s ao Homem quando o viu escondido por ter encontrado respostas sem ter feito as perguntas a Quem devido para respondê-las?

Depois da queda pela desobediência, o primeiro método que D-s usou para comunicar-Se com o Homem e a Mulher, foi perguntá-los. Quando Moisés duvidou de sua capacidade de enfrentar o Faraó, O Eterno perguntou-lhe: O que tens à mão? Diz-se que a mãe judia recebe o filho, vindo da escola e pergunta a ele: "Meu filho! Você fez uma boa pergunta hoje?" Somos um compêndio de desconhecimento. D-s disse ao profeta: "Meu povo está morrendo por falta de conhecimento!". Jesus disse: "Conheçam a Verdade e a Verdade vos libertará!" Mas o que é "A Verdade"? Bem, a resposta pronta é: "Eu Sou A Verdade, O Caminho e A Vida!". Simples assim. Simples? Simples coisa nenhuma. Resolvi buscar a origem desta expressão, percorri a Torá (Pentateuco), para buscar lá na fonte, na raiz, e como se tivesse encontrado um lago de águas límpidas, percebi que o que via era apenas um espelho do que estava à frente: as respostas.Mas aquilo que eu realmente queria ver, era o que estava sob as aguas. E para que visse o que o espelho visível escondia, era necessário que mergulhasse no invisível. Não estou falando de misticismo, mas de acender uma luz mais forte para vasculhar os recônditos da fonte de conhecimento que conduz à vida eterna.

Descobri que eu tinha um armário abarrotado de respostas, e um porão entupido de perguntas, mas que  não havia conexão entre um e outro. E assim, tateando no escuro, com um pequeno candeeiro chamado "ânsia por saber", fui apanhando coisas pelo caminho, coisas que se encaixavam nas coisas que eu tinha naquele armário, e à medida que estes encaixes aconteciam, como num quebra-cabeças de tabuleiro, um "puzzle", imagens começavam a formar cenários, e nestes cenários eu começava a entender mais e mais cada vez.

Durante muitos anos fui doutrinado pelas circunstâncias e pré-conceitos. Imaginava que ter as respostas na ponta da língua para um debate apologético, serviria para um ranking de pontos acumulados que dariam acesso ao céu. Vi que não. Vi que por mais que procurasse na base da Bíblia que é a Torá, os cinco livros de Moisés, não encontrava nenhuma referência de céu ou vida eterna como recompensa pelo meu conhecimento e devoção. Aceitava por aquilo que entendia como fé, que aquelas atrocidades eram algo necessário para aquele tempo, e que no fritar dos ovos, tudo passou a ficar bem depois da morte de Jesus, e quando encontrava alguém que colocada o D-s do Antigo Testamento como um D-s estúpido e cruel, mas que tinha sido disciplinado e tornara-se comportado quando Seu Filho fora entregue à morte por minha causa de moto tão atroz, e que aquele sofrimento deveria me trazer alegria, porque agora eu estaria salvo. 

Só que não não trouxe. Trouxe apenas conformação. Sou porque sou, e pronto. Se crer, serei salvo, se não crer, serei condenado. Escolho crer para ser salvo. Simples assim. Mas crer como? Crer em Quem, se O D-s que Se identifica comigo por Um Ser Humano, não me permite sequer conhecer Seu santo Nome, para que possa adorá-lo? A quem vou adorar, se O Messias, O qual creio ser Jesus, diz que não pode ser adorado, e deixa esta honra exclusivamente Ao pai que está nos céus. e que ensina a orar do mesmo modo que já se orava desde tempos bíblicos? Como vou conhecer A Verdade, se Ele diz Ser esta verdade, e desta forma me oferece aquela resposta pronta da qual estou tentando fugir?

É aqui que vejo no livro dos Provérbios, a profundidade da Sabedoria que clama pelas ruas. É aqui que vejo a sublimidade do entendimento de ter sido criado à Sua Semelhança, porque começo a perceber que D´s não criou um robô programável pela tabelinha de perguntas e respostas, e que se busquei a resposta para a promessa de vida eterna no Pentateuco, quebrei a cara, porque não irei encontrá-la desta forma objetiva, mas encontrarei de forma subjetiva, e portanto mais íntegra, porque como um garimpeiro precisa varrer a areia do rio para perceber algumas poucas pedrinhas de ouro e pedras preciosas, também é  o entendimento contido na Torá, onde D-s não Se esconde, mas Se mostra a cada letra, cada sinal, cada parágrafo, e que mostra a Sua infinita sabedoria,e ao final de tudo, fala da vida eterna de uma forma que "aquele que lê, entenda", segundo disse Jesus, isto é, que para encontrar as pegas de D-s eu preciso primeiro retornar (em hebraico, "teshuvá"), voltar à fonte onde a água é mais fresca (em tupi-guarani é "acangaú") e ali encontrar em uma única palavra todas as respostas que  procuro: Vida! 

É preciso  retornar à Torá e perceber que lá diante do rio Jordão, D-s fala a Moisés, diante do povo e diz: "Ponho diante de vós a Vida e a Morte, mas quero que escolham a vida". Aqui está a chave de toda a redenção: Vida! Vida prometida lá no deserto pelo Autor da vida, e vida em D-s não é vida pela metade, mas vida eterna. Aqui encontro a chave de alcançar esta continuidade de vida, chamada de "Graça" lá adiante por Paulo de Tarso, através dos mandamentos, das instruções, das orientações, que de forma tão pobre foi traduzido por Lei. É Lei, mas só assume o aspecto jurídico, julgador, policialesco, para quem não as cumpre,porque o inocente não tem que ser julgado, e mais ainda, mesmo o julgamento torna-se um ato de misericórdia, porque cabe ao Juiz conceder o perdão ou efetivar a sentença condenatória. Aqui entra o entendimento que esta Lei não é um aguilhão que fere para escapar do inferno, mas como um guia experiente que convida a segui-la para alcançar os portais da vida.

É neste conjunto de livros, seguido dos profetas e dos escritos, dos salmos, cânticos e provérbios, que começo a aprender a perguntar e deixo de fornecer respostas que eu desconheça a qual pergunta pertence.

Este é meu compêndio de busca, e se a igreja ou a congregação estiverem atrapalhando minhas perguntas, então as respostas que ouço serão também vazias de sentido. Não vou deixar aqui nenhum conselho porque conselho também é uma forma bondosa de responder àquilo que nem foi perguntado. 

Quais respostas o banco de minha igreja ou congregação tem para me oferecer, e o que exige em troca de fornecer-me tais respostas? Meu lugar neste banco está apenas preenchendo espaço de uma plateia que chora diante de um bom pregador, e sente-se aliviada após o êxtase do apelo, e saio dali cheio de respostas, ou a quietude do lugar conclama meu vazio a que se desnude das respostas prontas enlatadas e que retome a minha relação com D-s pela fórmula do Profeta Isaías que diz: "Kav kav lacav, Kav kav lacav. Çav, çav, laçav, Çav, çav, laçav, Zeer sham, zeer sham!" (Regra sobre regra, preceito sobre preceito e mais preceito; um pouco daqui, um pouco dali)?

Não sei você. Mas eu estou começando uma jornada longa. Minhas crenças não mudaram uma linha, mas minha fé começa a aquietar minha alma,  sequiosa por saber o que vou perguntar a cada manhã. 

Você busca respostas ou apenas faz perguntas? Se D-s que é D-s, faz perguntas, quem sou eu para dar respostas?

Shalom


*Se deseja conversar comigo e tem perguntas a fazer, talvez eu não dê as respostas, mas vou acrescentar as suas perguntas à minhas para mergulharmos juntos na profundidade das águas da vida, e talvez encontremos respostas que preencham nossas expectativas.
(48) 999 61 1546




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