AD SENSE

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

A Casa de João e Maria Fiorese - As casas com tramelas, penicos, e capungas, na GRAMADO de priscas eras


Casa de João e Maria (Fiorese)

Dona Maria Fiorese era velhinha já, quando a conheci. Também conheci seu João, por pouco tempo. Mas dona Maria foi nossa vizinha por alguns bons pares de anos. Comprávamos couve, limões, e tempero verde dela. Ia na horta, com uma faquinha de ponta redonda, e com suas mãos pequeninas, enrijecidas pela artrite, e cuidadosamente escolhia e cortava os legumes, pelos quais pagávamos alguma coisa entre o barato e o quase de graça. Até o momento em que escrevo esse texto, a casa ainda permanece lá. Caidinha, despencando, mas está lá, testemunhando que atrás dela havia uma hortinha, ao lado, junto à rua, um limoeiro, e na frente uma cerquinha puída.



Capunga, Casinha, ou Patente, ou ainda, "Lá fora"

Desejar que a vida volte ao natural, é algo assim, quase jurássico, pois é quele momento saudosista em que a pessoa empunha uma chave de verdade, de metal amarelinho e tudo, enfia no buraco da fechadura (desculpe-me por esse linguajar tão chulo, pois deve ter alguma senhora ou senhorita lendo isso), gira a chave e, ...AHHH! Sua casa! Você está vivo!

Aí volta a ser tudo como era antigamente: a pessoa vai pro seu computador, conversar com seus amigos virtuais, ler cinco ou seis artigos ao mesmo tempo, teclar com oito pessoas pelas plataformas binárias, e checar sua conta eletrônica, que está cheia de avisos piscando sobre seu atraso nas contas.

Aí lembrei do lugar onde cresci, no rancho de tábuas velhas, da minha avó, Maria Elisa, onde também usávamos um cartão de crédito (ou uma faquinha qualquer) para abrir a porta. Era só enfiar o cartão (ou a lâmina da faca) pela fresta e ir empurrando a tramela pra baixo, que em poucos
minutos, a porta estava aberta.
Foto Internet










E lá tinha bolinhos de arroz, pra comer, com chá de mate.
Aquilo sim, que era tecnologia sem estresse. Nem existia essa palavra.
Pois a tecnologia da tramela perdurou por milhares de anos. Assim que alguém inventou um jeito de abrir e fechar um tampão em um buraco, e deu o nome de porta, surgiu a necessidade de manter o tampão sobre o tal buraco, e inventou-se um dispositivo mecânico com mobilidade tal que ao girar sobre um eixo, permitindo interromper o movimento do tampão, ao qual foi lançado um concurso em âmbito nacional, para o nome de tal dispositivo, e parece que um jovem membro de um clã em uma aldeia dos Germanos, alcunhado de Klaus Von Taramella, certamente em louvor a si próprio teve a ideia de chamar de "Tramella", assim com dois "L", mas os gauleses, dados ao misticismo druida, apresentaram um mapa numerológico, que mandava eliminar um "L", pois dois "L" juntos, traria mau agouro. E assim, nasceu a tramela.

Essa história parece por demais absurda, posto que de fato o seja, mas como poderia eu descrever algo tão singelo, mas com tamanha importância, sem recorrer às longínquas civilizações e ao engodo? E é assim que é.
Sua casa nunca teve tramela? Nem penico debaixo da cama? Sério mesmo que não tinha nem patente atrás da casa, com uma caixinha de jornal picado, ou sabugos de milho? Que tristeza, então. Você não tem mais de 50 anos, não viveu em Gramado nos anos 60 e 70, e nem comeu ovo curtido no boteco do Stopassola.

Foto: Google







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Abração
Pacard







De Wanda Ducszynka a Débora Irion - A Cerâmica de Gramado em priscas eras

Na parte de cima do Casarão dos Castilhos (veja matéria a respeito aqui), funcionava um atelier de cerâmica artesanal, com peças pintadas à mão pela artista plástica Dudi Ribeiro. Dudi acompanhou o estilo predominante nesse tempo, na cerâmica que foi levado à Gramado pela ceramista polonesa, judia, Wanda Duckszynka (Não sei se está correta a grafia do nome), egressa de um campo de concentração em seu país, que foi liberta (Wanda levava no braço, uma tatuagem de seu número de prisioneira), graças à sua profissão, Engenheira Agrônoma, porque os nazistas estavam recrutando agrônomos para algum projeto agrícola.

Levada à Gramado pela amiga Elisabeth Rosenfeld, Wanda abriu um atelier, onde trabalhou por menos de uma década, e depois vendeu o ponto de vendas e a marca.
Dos auxiliares de Wanda, alguns deram continuidade ao seu estilo e trabalho, que se proliferou pela cidade, e seu estilo também. Gramado, em cada tempo, teve seu auge em algum tipo de economia criativa. Ainda falaremos disso. Foi a economia criativa quem deslanchou e fez crescer Gramado, e foi o ímpeto empreendedor e ambicioso quem fez, a partir de certo tempo, perder a pureza da fonte, onde bebiam os pioneiros. Isso é ruim? Não! É o progresso, e quem não convive com seu tempo, joga o futuro no passado e o passado no futuro, passando pela vida sem vivê-la no melhor que ela tem, no tempo em que se apresenta.
Gramado não se tornou melhor e nem pior. Gramado evoluiu, se transformou. Não se pode culpar as novas gerações pelo desaparecimento de velhos costumes, porque não faria nenhum sentido isso. O que é importante é resgatar o melhor de cada tempo, para servir de esteio aos tempos que chegam. A arte tem esse papel e função. Lembrar que temos uma alma, que pode ser saudosa ou esperançosa.

No entanto, falar em Arteiro, sem mostrar o belíssimo trabalho das artesãs Dudi Ribeiro,  e Wanda, seria incompleto, embora eu não tenha encontrado imagens da cerâmica original de Wanda Ducszynka, encontrei obras de seus sucessores, ainda em atividade, e aqui seguem algumas imagens de seus belíssimos trabalhos.

Outros ceramistas tiveram seu lugar de destaque nessa arte, em Gramado: Ricardo Dinnebier (Diniba); Marlene Peccin, e também, um grupo de uruguaios, que imigraram durante a ditadura em seu país, e quando chegaram à Gramado, eram ceramistas. Seu estilo era diferente. Trabalhavam pequenas peças em terracota, delicados pássaros, e outros animais, eram sua marca, de fácil identificação.

Eu procurei por imagens destas cerâmicas que mencionei, dos uruguaios, mas nada encontrei. As peças abaixo, são bastante parecidas.

Se você conhece alguém remanescente destas famílias, por favor, passe meu contato, que eu complementarei esta matéria. (48) 999 61 1546 (whatsapp apenas).

Também trabalhou em Gramado, durante certo tempo, um ceramista pernambucano, chamado Daniel (não recordo o sobrenome), que fazia figuras em barro queimado, da arte do "Mestre Vitalino", célebre artista popular nordestino.


Imagem: Internet (Arte do Mestre Vitalino)

Imagem: Internet (Arte do Mestre Beto Pezão, SE)

Imagem: Internet
Imagem: Internet
Imagem: Internet
Imagem: Internet


Eu não poderia concluir esta matéria, sem mencionar, e finalizar com o belíssimo trabalho desenvolvido na atualidade, pela Artista Plástica, de fama internacional, Débora Irion. 
Débora é natural de Santa Maria, RS, mas vive em Gramado desde a década de 1980.

Débora Irion - Artista Plástica - Ceramista
Débora Irion

Débora Irion
Débora Irion
Débora Irion
Débora Irion

Imagem: Facebook - Wanda (Atual)


Imagem: Facebook - Dudi Ribeiro


Imagem: Facebook - Dudi Ribeiro


Imagem: Facebook - Dudi Ribeiro




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domingo, 5 de dezembro de 2021

Sobre o amor e a consolação - Pétalas



Na dor devemos consolar, e confortar. No ódio, devemos perdoar.
Não, nunca é fácil, nunca foi, mas tanto a dor quanto o ódio, são barreiras que travam a vida em sua plenitude, que rompem o fio de prata entre a vida e a eternidade, que enterra a esperança, e que conduz ao esquecimento.

Confortar não é a cura, mas a companhia, o abraço, as mãos estendidas e o caminhar junto, enquanto a cura não vem, enquanto a jornada não se encerra.

Perdoar, não é aprovar o mal feito, mas jogar água fria no calor da ira, para que se fechem as comportar do destempero. Perdoar é seguir em frente sem o cadáver da ira nas costas. É libertar-se do que nos ata ao que nos ofende. Perdoar não é concordar, mas não dar lugar ao lenitivo, a fim de que este  aplaque  a dor do embate, e abrir as janelas do tempo, para que entre e nos acompanhe em suas asas.

Não perdoamos o mal feito, mas o que deixou-se enredar pelo desejo de fazer o mal, e por fim, o executou. Perdoamos a condição humana, de humanos atos, para que façamos perceber o contraste entre o divino que cria e a criatura que destrói. Não fomos lançados ao mundo, vindos do nada, mas fomos moldados pelas mãos, e soprados pela boca do que É, acima de tudo. Somos a imagem e semelhança, do Tudo, e assim, Tudo em nós que somos nada, torna-nos em tudo habilitados para sermos plenos, ainda que aparentemente insignificantes.

 "Ama ao teu próximo" não é uma opção. É uma condição. É uma orientação positiva, sem ser impositiva. É uma necessidade do outro que deve ser considerada como alternativa de viver saudável, não no sentido físico, mas mental e espiritual.

Em hebraico, "Ahavá", se traduz por: doar-se, independente de afeto envolvido. Amar não é bem querer, mas quer o bem. Amor não é a sobremesa. Às vezes, pode ser a casca dura da noz a ser rompida. Porém,  romper a casca é porque outro necessita  do conteúdo. Já quando a casca de rompe de dentro para fora, acontece a germinação, e a vida se renova.

Amar é deixar-se brotar para que seja quebrada a casca, e a árvore cresça.

Amar não é escolha. É oportunidade.

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

O homem que vendia solidão

Solidão? - Perguntou, ensimesmado o caixeiro da loja de roupas, que recebeu uma filipeta, um panfletinho em preto e branco, anunciando a venda de nada mais, nada menos que "solidão". Isso mesmo, essa mesmo que o leitor está pensando aí.
- Mas e alguém compra isso?
- Evidentemente que sim" - Respondeu o filólogo, que oferecia solidão em promoção. Infelizmente, apenas uma por freguês, pois como se trata de solidão, não há um coletivo. Por acaso você sabe qual é o coletivo de solidão?
- Creio que seja "multidão"! - Respondeu o caixeiro, meio desconfiado de que talvez fosse uma pegadinha.
- Pois aí que está" Isso mesmo. Multidão. Ocorre que multidão é algo que descaracteriza a pessoa, compreende? Qualquer um na multidão, desaparece completamente, e assim, fica pior que antes.
- Nunca havia pensado a respeito disso! Respondeu, pensativo o caixeiro. E como funciona isso?
- Ah, não é tão simples, mas é um recurso para que o indivíduo se torne novamente um indivíduo, e não uma estatística, um número, uma sombra. A coisa funciona assim: Nesse tempo em que vivemos, onde cada louco contamina outro doido com sua loucura, fazendo com que dois loucos multipliquem seus disparates e desta forma, teremos uma multidão de loucos. Assim como acontece em uma pandemia, por exemplo. Um louco avisa o outro, e ambos se enroscam na loucura coletiva, e tornam-se alvos, presas fácies dos dominadores, que capturam doidos com redes, sabe. Redes de mentiras, rede de intrigas, rede de fofocas, redes e mais redes, até que estejam todos dominados, e por estarem em bandos, perdem sua individualidade, não são mais ninguém, ainda que amontoados com outros milhares de ninguéns. Compreende?
- Não!
Veja bem, vou dar um exemplo: Se você caminha entre muitas pessoas, e se todas elas falarem ao mesmo tempo, você conseguirá entender o que falam?
- Pois então! Aqui está a chave da questão. As pessoas precisam ouvirem suas próprias vozes, ouvirem seus nomes, conversarem com quem as ouça, e ninguém melhor que nós mesmos para ouvirmos o que dizemos. Assim, se você for capaz de caminhar sozinho, ainda que na multidão, você voltará a ser você e mais ninguém.
- Mas e por que as pessoas não fazem isso?
- Porque perdem suas vontades, pelo medo, pela falta de esperança, pelo exagero de informações que receberam, e saturaram a credibilidade em tudo. Pois é aqui que eu entro, e vendo para elas o meu projeto de "Solidão Responsável!"
- E como funciona:
- Vendo à você a pergunta "coringa", para todas as respostas, que é uma pergunta padrão, capaz de afastar as pessoas negativas de sua presença, e assim, você tem possibilidade de caminhar livre por entre elas, sorrindo, enquanto choram, sereno, enquanto gritam, altivas, enquanto se dobram ao desânimo.
- E tem garantia isso?
- satisfação garantida, ou recebo em dobro o que você pagou, em espécie.
- Não estou precisando ainda, mas por favor, embrulha pra viagem, pois vou ligar a tevê, e posso precisar disso logo, logo.
- Pois não! Débito ou crédito?
- Faz no carnê?
- Infelizmente não. Carnê pressupõe um monte de parcelas, e isso descaracteriza o negócio. Solidão é tudo, é o nosso lema. Vai querer uma sacolinha?
Não tenha medo. A verdade será sempre verdade, independente dos fanáticos que tentam constrangê-lo com suas próprias crenças do que seja a verdade.
Aquilo que é verdade para alguns, e não para outros, não se torna em verdade absoluta apenas porque entopem-lhes os ouvidos com fatos e opiniões na intenção de demover-lhes as crenças.
isso acontece na política.
isso acontece na religião.
isso acontece em tudo.
Pelo fato de que temos e emitimos reflexões, não nos coloca na posição de donos de nossas verdades ou de verdade alguma. Apenas diz que exercemos nossa liberdade de construirmos o conhecimento dos fatos pelo contraditório das opiniões.
O que passar disso, é lavagem cerebral.

Levante-se, meu herói!
Filho, já brilha o primeiro raio
dos muitos que cairão após a noite
eis que é manhã, quase a chegar
e eu preciso que me levantes.
Há fogo a acender, café por passar, o pão para assar
o leite quente para beber, o açúcar, o queijo
para o desjejum da manhã.
Levanta-te, filho, porque preciso de um herói em minha casa.
nada mais que isso, não um general, não um escrivão, não um desembargador que nos desembargue a dor
nem um doutor que nos entregue e bula
não o deputado, o senador, o governador, o vereador
nem o ator, nem o doutor
apenas tu, meu filho, com tua coragem insana
com tua voz silente
contra a dor tirana
que pisoteia nas gentes.
Levanta, filho, é manhã
busca o poeta que dorme
apesar de tanto barulho
levanta o menestrel calado
levanta o ator calado
levanta pelos que calam
levanta pelos que falam
levanta pelos que morrem
levanta pelos que vivem,
ainda que morram de novo
esperando depois voltarem
corroídos, combalidos, caídos, sofridos
mas que voltem vivos
voltem livres e não mais cativos
voltem porque lembram
do que é sentir saudade,
voltam apenas por vontade
por liberdade
pela ânsia de voltar.
Levanta, filho, da escuridão do medo
caminha desde cedo pelas vias que te esperam
caminha livre, não te demores em chegar
ainda que não haja mais para onde voltar,
ainda assim, volte
pelo prazer de voltar.
Triste mundo que precisa de heróis
tristes heróis que não tem mais mundo
triste é ser triste sem saber o porquê
triste é saber
que não saber é a ordem
não é é útil conhecer
de que importa viver
se viver não é viver?
levante, meu filho, e abrace a aurora
recolha o amanhecer
guarde os raios da vida
para libertá-los janela afora.
Abra as janelas e deixe sair a luz da esperança.
deixe a esperança viver.
Levante-se filho, porque preciso de um herói em minha casa,
preciso de um herói no mundo
minha casa é o mundo.
(Pacard)
As crises manifestam três tipos de pessoas:
As que sabem o que está acontecendo.
As que tem opinião sobre o que acontece.
As que ouvem as duas primeiras, e perdem o juízo.


Aconteça para te aconteçam os que em ti se espelham
Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer.
Jeremias 18:4

Do mesmo modo que milhões, talvez, bilhões de pessoas, tenho atravessado, primeiro, perplexo, depois, irado, desesperançado, resignado, os primeiros dias em que temos lutado com incontáveis demônios ocultos pelo diminuto tamanho, mas que como os seres espirituais da trevas, que tiram a nossa paz, sem que possam nossos olhos vê-los, também estes minúsculos seres sem alma, fazem tombar ricos e pobres a cada instante, reduzindo as forças e o ânimo das autoridades, e do mundo em geral.
O que dizer? O que fazer?

A palavra é RESILIÊNCIA, a capacidade de retomar o que foi machucado e refazer sua essência, para moldar nossa existência. Afinal, que história teremos a contar aos nossos herdeiros? Quem fomos nós, no meio da calamidade? Fomos os que sentaram a chorar pelo que foi perdido, ou os que se erguerem a reconstruir uma nação, um mundo, uma existência?
Se eu não for por mim, quem o será? Mas se eu for só por mim, que serei eu? Se não agora, quando? (Hilel)

O dia de chorar foi ontem. O dia de pensar é hoje. A hora de recomeçar, é agora. Aquele projeto guardado no canto envergonhado dos sonhos, traga pra fora. Aquela palavra de conforto e ânimo, entre tantas críticas e acusações, faça acontecer. Aquela vontade de escrever seu livro: O que te impede? Aquele tempo para fazer melhor, senão agora, quando será? Aquele que te ampara, senão D-s, mas humano, não é você mesmo? E quando a te amparar para que não caia, senão já?
Caminhe em frente. Caminhe só, pois os mini demônios te negam companhia, mas vá. Olhe para o GPS, não o que te denuncia às autoritárias, mas o que te mostra onde quer estar no amanhã, e diga: Comece a navegar, pois a vida tem pressa. Eu tenho pressa e preciso acontecer.
(Pacard)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Tio Março e Tiní - Marcílio e Irani Cardoso, visitados por GRAMADO de priscas eras

Não se se já observaram, que a maioria das casas não tinham cercas, muros de isolamento, ou portões

Tio Março e Tiní

Marcílio Andrade Cardoso, e Irani Casagrande Cardoso, chamados carinhosamente de “Tio Março, e Tiní”, eram pessoas ímpares.


Vou contar um pouco do que conheço de sua história, mas especialmente, da parte em que nos ligamos à essa narrativa. Marcílio era contado entre quatorze filhos de Manoel Ignácio Cardoso e Maria Emilia de Andrade. Trabalhava com madeiras, especialmente pinheiro Araucária. Junto com seus irmãos, Horácio, e Ademar, era comerciante. Sobre os demais irmãos, falarei em outra oportunidade. Agora quero discorrer sobre nossa história de família entrelaçada com Tio Março e Tiní. Falarei mais deles, do que da casa, pois a casa fala por si mesma. Um chalé de madeira, de tábuas horizontais, que acomodou muito da minha história pessoal. Esse tipo de chalé, já comentei em outras descrições, era bastante comum em Gramado, pela mão de obra e estilo dos carpinteiros, e pela disponibilidade dos materiais empregados, resumidos à telhas francesas, tijolos maciços, e madeira de pinheiro. Algumas eram caiadas, as mais humildes, com tábuas verticais, espaçadas, para dilatação, cujas frestas eram fechadas por tiras finas de madeira, denominadas de “Mata juntas”. Eram assim. Já as casas de famílias um pouco mais abastadas, eram de madeiras mais nobre, conhecida como de “Primeira, Segunda, Terceira”, isto é, classificação contada a partir da base da árvore, em direção aos galhos, e do cerne (miolo) em direção à casca (Alburno), mais clara, pois o cerne, avermelhado, era rico em resinas, e mais suscetível à rachaduras, apenar da durabilidade ser muito maior. Assim, mesclavam-se as funções das madeiras em uma casa, por exemplo, usando o cerne como parte estrutural (caibros, tirantes), e as paredes com material mais limpo, sem nós ou manchas vermelhas da resina.

Assim era então a casa dos Cardoso. Mas vamos à história das pessoas de dentro desta casa, em especial.

Acervo de família

A chegada à Gramado de minha família

Gramado, nos anos 40 do século XX, era uma pequenina aldeia, um distrito isolado, de uma cidade maior, que era Taquara. Não vou me estender nisso, porque já existem muita literatura a respeito do fato, mas vou relacioná-los à minha família próxima, com os Cardoso.

Marcílio (Tio Março), era um proeminente líder político de Gramado, que particularmente tinha um profundo carisma, tanto ele, quanto ela, sua esposa, Tiní. Eram ricos, para os padrões de riqueza que eu podia compreender (rico pra mim, era quem tivesse um carro, uma Rural Willys, por exemplo), mas não ostentavam o patrimônio que possuíam. Terras, florestas de pinheiros, serraria, madeireira, indústria de móveis, e muitos, muitos amigos. Tinham também inimigos, mas sua casa costumava ficar com a porta destrancada. Sei disso, porque eu chegava e entrava a qualquer hora que chegasse lá.

Já contei de uma tragédia que se abateu sobre minha família, no final dos anos 50, onde meu pai, Valdomiro Borges dos reis, meteu-se numa querela com seu sogro, meu avô Assis Brasil Cardoso, e num lufa-lufa que sucedeu-se, após os xingamentos de apresentação, Valdomiro teve razão, pois nesse tipo de embate, tinha razão quem permanecesse vivo. Foi isso. Assim, minha avó, Maria Elisa, juntou as matalotagens que tinha, bem poucas, vendeu as terras, cerca de 50 hectares, a um indivíduo, que pagou a primeira das seis parcelas pelo negócio, e até esqueceu de pagar as restantes (conta que irá saldar no Dia do juízo), e desta forma, minha avó, com três filhos, a tiracolo, e um penduricalho dentro duma sacolinha de farinha de trigo, que é o escriba que vos narra essa serie, aparentemente absurda, porém, verídica.
Pois, em chegando à Gramado (pensem, na confortável situação, de voltar com a cola entre as pernas, após uns 20 anos, para a aldeia de onde saiu. Pois foi), ajeitados os mijados e tendo onde recostar o lombo ao final do dia, todos foram à luta. Eu também, mas fui discriminado porque não havia completado ainda dois anos de idade. Tive que esperar até os nove anos para começar a trabalhar fora de casa. Só aí pude engraxar sapatos (em casa, pois minha mãe me proibia de vagabundear pelas ruas. Assim, eu ia nas casas e recolhia os sapatos, engraxava e os devolvia, mediante um pagamento de resgate pela devolução. Foram tempos de fartura. Tinham uma bela carteira de fregueses: Um! Erich Rosenfeld), e pelar moranguinhos para Dona Elisabeth Rosenfeld. A cada dez moranguinhos pelados, eu poderia comer um. O negócio não prosperou, por culpa da confusão matemática que fazia, pois pelava e devolvia um, e comia dez.

Minha mãe, senhora dona Ester, conhecida por "Prefessora Istéla", como diz o título, tornou-se professora. Com o quinto ano primário. É aqui que começa a narrativa ligada aos outros Cardoso, Tio Março e Tiní. Ainda tinha Esaú, meu amado tio, levado ao repouso tragicamente aos vinte e quatro anos, mas ao chegarmos à Gramado, ganhou emprego na serraria do Tio Março, onde aprendeu a dirigir caminhão e "puxar" toras dos matos para a serraria. Samuel,  com cerca de sete ou oito anos nesse tempo, foi à luta, trabalhar no lugar onde todos os meninos dessa idade em diante iam trabalhar, para não vagabundear pelas ruas: Nas fábricas de vime ou de doces. Vimes Dinnebier, Accorsi e Masotti. Doces Masotti (primos dos vimeiros).

Vamos ao ponto. Ocorre que meu avô, Assis Brasil Cardoso, filho adotivo de Ermínio Gil, era muito bem relacionado no Quinto Distrito, e sua morte causou comoção nos seus amigos. E entre seus amigos, estavam Marcílio Andrade Cardoso, Orlando Koetz, e o então Prefeito, Arno Michaelsen. Foi quando o casal Cardoso, Tio março e Tiní, assumiram o suporte, e levaram a jovem Ester, com dezoito anos, primeiro, para sua casa, onde tornou-se cuidadora das crianças (Manuel Inácio, Alexandre, e Caetano Raphael). Não sei dizer qual foi primeiro, mas o certo é que ambos tiveram seus cuidados. Contou-me certa vez que todas as crianças eram muito bem educadinhas. Relata que os filhos de Orlando e Teresa Koetz, eram tão educados, que sabiam a hora de irem dormir, e eram corteses e gentis. Bem, eu os conheço todos, e acho que isso não mudou muito. É o que eu acho. Só não uso a expressão "educadinhos", porque não cairia bem à quem já é avô e avó. Fora isso, sim, fica bem o adjetivo "cortês".

Os planos dos Cardoso ricos para os Cardoso empobrecidos, ia além de trocar fraldas e limpar bundinhas sujas de pirralhos, e Marcilio levou Ester para uma visita ao Prefeito Michaelsen, e a apresentou desse modo:
- "Arno! essa menina é filha do Assis!"
- "Ah, é filha do Assis? Então temos que conseguir uma colocação para ela. Vai ser professora!"-respondeu Arno.

Assista aqui o causo da VÉIA FRÓCA

E foi assim que Ester foi lecionar na Escola Municipal da Curva da Farinha. (Leia dois relatos sobre o caso da "Véia Froca". Relato 1, Relato 2). Depois, por influência de Tio Março e Tiní, prestou concurso estadual, e foi aprovada, como Professora paga pelo Estado. Nesse tempo, o Governador era Leonel Brizola, e recém havia criado o projeto das suas famosas Brizoletas (Ainda falaremos a respeito disso, com imagens e tudo). Pouco tempo depois, Ester foi transferida para a Escola Getúlio Vargas no Bairro Piratini, nesse tempo, chamado popularmente de "baixada". E por fim, conseguiu uma vaga na escolinha em frente da casa onde morávamos, na Vila Moura (hoje centro).

A moçoila formou-se "Professora"
E eu aproveitei a carona e fiz pose

Minha infância foi uma infância, dentro da leitura que eu fazia da vida, bastante feliz. mesmo. Eu não tinha noção da tragédia. Não tenho nenhuma lembrança de meu pai ou meu avô. Mas lembro com nitidez do jeito de andar do Tio Março e da Tiní. Lembro com nitidez da bondade dele, permitindo que eu passasse horas brincando na calculadora Facit, manual, do escritório da madeireira. Lembro do cheiro da madeira dos pinheiros Araucária sendo serrados, e da maciez da serragem onde pulávamos brincando e correndo. Lembro da voz grave e bondosa do Tio Março, e firme e doce da Tiní. Lembro dos passeios de Rural, e jamais poderia esquecer dos jogos da Copa de 1970,l que assisti na casa deles, e que fomos comemorar de Kombi, toda a piazada, gritando pela rua junto com outras dezenas de carros, com o mesmo propósito. Nós gritávamos, e Tio Março sorria, ria, sem parar. Do jeitão dele.


Acervo de família
Assim relata Mariângela, esposa do Manuel Inácio, filho mais velho do casal Irani e Marcílio:
"Conheci o Sr. Marcílio quando era criança, ele negociava pinheiros com uma "velha" fazendeira que era minha vizinha.
Jamais imaginei que um dia seria meu sogro .
Naquela casa, morava com 3 netos que são filhos do Dirceu Cardoso, em um passeio de visita lá no campo sem saber eu os reencontrei e lembramos de nossas peraltices.
Mundo muito pequeno!!"

Acervo de Familia

Osvaldina e Fúcio

Pelo bem das boas lembranças, falarei sobre Osvaldina e Fúcio, um casal de pessoas gentis, que moravam em uma casinha, nos fundos de uma oficina que fabricava carrocerias de caminha, daquele tipo com laterais enfeitadas, que não se vê mais por aí.

Fúcio, cujo nome eu, e todas as pessoas a quem consultei, também não sabem como se chamava aquele italianão corpulento e generoso, de dócil trato, e simpático com as crianças. Fúcio era ferreiro, e trabalhava em sua ferraria, que ficava atrás da casa onde morava, com sua esposa Osvaldina. Também desconheço o sobrenome desta mulher que nos tratava com voz de “tia” e doçura de mãe. Osvaldina trabalhava nos cuidados da casa e da cozinha, em especial, dos Cardoso, e em suas horas vagas, era confeiteira, com fama de estar entre as melhores da época, em Gramado. Já comi algumas das tortas da Osvaldina, e bem, eu era criança, mas lembro bem de coisas que comi e não gostei, o que não foi o caso das guloseimas de Osvaldina.


Esta foi uma das casas onde coloquei o coração em cada traço, e com alegria, compartilho com todos neste espaço.







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Minha "quase esposa" do Tadjiquistão

Pois parece um pesadelo doido, mas o fato deu-se como verdadeiro. Eis o causo: No cotidiano da faina, lá pelos idos de 2012, recebo pelo mes...