Projeto da Rena excluída por antissemitismo
Parece um contra senso imaginar que um artigo que preste homenagem a um país, em uma mostra denominada: O Natal pelo Mundo, e este país, Israel, possa ser motivo de tanta controvérsia em um dos mais famosos eventos natalinos do mundo, e que por mais estranho que pareça, homenagear Israel, um país que tradicionalmente nega Jesus como Messias, sejam também o alvo de uma clara e vergonhosa demonstração de antissemitismo, ainda que dentro deste contraditório. Vamos entender a questão.
Debora Irion com uma de suas obras que nesse momento estão em exposição coletiva no Louvre,em Paris.
Em primeiro lugar, vamos estabelecer duas coisas que são bastante distintas. A primeira, no tocante a crer que Jesus, judeu, seja O Messias, trata-se de uma questão de fé, que é vista por um viés de interpretação teológica, e em se tratando de fé, nenhum mecanismo ou artifício humano relacionado com a ciência, pode comprovar que Ele seja, ou deixe de ser O Messias prometido a Israel e ao mundo. Isso é crença.
Por exigência do Edital, Débora usou um pseudônimo "Cristal" no envio do projeto. Porém, antes disso, ela comentou com um funcionário da Cultura, que viria a ser depois um dos pareceristas, e que segundo ela, sua expressão mudou, com ar de espanto, quando ela disse que seu projeto seja uma "Rena Judia". Começou ali.
Por outro lado, negar que o personagem Jesus, que nasceu, viveu e morreu judeu, isso é burrice, desinformação, falta de entendimento histórico e visão distorcida dos fatos.
Um terceiro componente desta atitude que apequena a arte, porque oferece uma interpretação com componentes de inveja e ganância, é que a seleção dos artistas para a confecção de um dos componentes do Natal Luz, as famosas Renas do Papai Noel, é feita de maneira inteiramente ditatorial, autoritária, e ao arrepio da Lei Federal 866/93 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666cons.htm)Lei que regulamenta o repasse aos artistas, que estabelece a forma de contratação de profissionais nesta situação, isto é, necessitam estarem conectados a uma entidade sem fins lucrativos, que pode ser uma Associação, uma Escola, etc, para que possa receber pelo trabalho, os recursos públicos. Traduzindo: o artista precisa ser associado a algum grupo e este grupo dará a Nota Fiscal e receberá os recursos, repassando-os ao artista.
Ocorre que em 2012, quando começaram os trabalhos com as Renas, só havia uma única associação de artistas em Gramado, e como tal, passou a oferecer estes serviços. Só que o problema não começa aí e sim no momento em que outras associações surgiram, mas aquilo que era apenas um apêndice legal, tornou-se a regra não escrita, mas acordada, e os costumes passaram a determinar as regras.
Ainda assim, não reclamou-se, pois os artistas, poucos que eram, sentiam-se acolhidos na oportunidade de demonstrarem seus talentos, e seguiam em frente. O problema começou, e de uma forma grave, gravíssima, quando a artista Debora Irion, consagrada internacionalmente, teve sua proposta negada, censurada e deixada ao sabor do esquecimento, com a alegação de que o tema fugia ao contexto natalino. Eu explico ainda melhor.
Débora ofereceu ao edital uma Rena decorada com motivos que contavam a história de Chanucá, a Festa das Luzes da cultura judaica. Belíssimo trabalho, por sinal. Mas não foi aceito. Teoricamente qualquer trabalho poderia ter sido preterido, talvez por injuria racial, atentado ao pudor (embora atualmente prefira-se jogar o pudor no lixo em nome da arte),ofensa moral, motivação de ódio ou qualquer outro motivo, seria sim, passível de censura, uma vez que em nome do patrimônio público não possa ser permitido esse tipo de coisas, e ainda mais no objetivo simbólico da festa do Natal, que para o povo judeu, não tenha nenhum significado senão emblemático e de um povo com quem partilha até mesmo um país, Israel, com outros povos de outras crenças, até mesmo com os cristãos, que acreditam em Jesus, embora também discutam a festa do Natal, como sendo o nascimento do Messias, mas vale pelo simbolismo e pela alegria da festa.
Ainda detalhando um pouco Chanucá (lê-se "Hanucá"), que se traduz como "Festa das Luzes", é uma lembrança emblemática da fé e perseverança do povo judeu durante a opressão helenística, pelo gregos que invadiram O Templo Sagrado (o mesmo onde Jesus foi apresentado aos Sacerdotes, portanto não era um ambiente estranho ao Personagem Jesus, judeu)e ali o profanaram, sacrificando animais imundos de acordo com a Lei mosaica, e com isso causando horror nos judeus. Estes, liderados pelos Macabeus (de Maccabi, martelo, pois usavam martelos como armas de combate, uma vez que eram proibidos de portarem espadas pela lei grega), expulsaram os invasores, e neste episódio, aconteceu um milagre, em que o óleo sagrado, destinado ao candeeiro do Templo, a Menorá, lançado em terra pelos gregos, antes de fugirem, milagrosamente durou oito dias, sendo apenas o suficiente para um único dia. Desde então, todos os judeus celebram esta festa, que embora não seja bíblica (não consta na Bíblia Judaica), foi incorporada, inclusive por Jesus e seus Apóstolos e seguidores, que celebravam este evento, conforme os relatos dos evangelhos.
Sendo assim, Débora buscou nas raízes do cristianismo um simbolismo que unisse e ilustrasse a alegria das duas festas, e o fez com grande sabedoria.Porém, não foi assim que entendeu a pessoa, ou o grupo de pessoas que negou sua participação com este projeto. Desta forma, não apenas estas pessoas pisaram na arte, pisaram no artista, pisaram na Lei Federal, de isonomia de direitos, pisaram na ética, pisaram no bom senso, pisaram nos sentimentos e pisaram na própria história, porquanto teriam afirmado que "isso é coisa de judeu e não tem nada a ver com o Natal, que é uma festa cristã". Pisam finalmente no pouco que lhes restara de inteligência, porque aformar que a origem judaica de Jesus não tenha fuundamento, não é uma questão de fé, mas uma questão de burrice! E olha que nem disso se pode chamar quem comete tamanha estupidez, porque o burro, aquele animalzinho útil e com opinião própria é visto na Bíblia inteira como simbolo de mansidão, de servilismo e de nobreza, uma vez que na festa da Páscoa (Pessach), segundo contam os Evangelhos, Jesus adentrou Jerusalém, pela Porta Dourada, que era a porta dos reis, montado em um jumentinho. Assim também fez o Rei Davi, e também foi um jumentinho quem transportou o casal hospedeiro do Messias em sua fuga para o Egito. Portanto, não cabe nem mesmo a alcunha de burro para quem pisa na arte de um conterrâneo. Não cabe nem mesmo que seu nome seja citado. Nem mesmo isso.
O mal foi feito, mas o costume continuou. A Lei que nunca foi Lei, continuou servindo, segundo minhas fontes (e foram muitas), a uma única Associação de Artistas, à qual não atribuirei culpa, senão ignorância em desconhecer que esteja descumprindo uma Lei Federal, e também um alerta ao jurídico da GramadoTur que tem a obrigação de confrontar os contratos que assina com o que diz a legislação pertinente. Assim, injustiças continuam sendo cometidas e pessoas isoladamente tomam decisões que caberiam a colegiados de pareceristas técnicos, embasados nas letras da Lei e de seus regulamentos. Assim, Gramado de evento em evento, acumula deslizes, cujos titulares, muitas vezes inocentemente, acabam tropeçando e depois cobrados nos tribunais,por algo que desconheciam.
Longe de mim o intento de ensinar leis aos governantes. Não é preciso, mas é importante lembrar que elas existes, e caso não existam, cumpre ao legislativo elaborá-las, e caso existam e um e outro as desconhecem, cabe ainda ao Legislativo fiscalizar para ter a certeza de que estão sendo cumpridas com o rigos necessário.
Como nada faço às ocultas, enviei ao Prefeito Fedoca uma prévia do que iria publicar, acrescido a uma sugestão: Convide a artista Plástica gramadense Débora Irion, e ofereça à ela um lugar de honra para a rena que nunca saiu do papel, e dê a ela oportunidade de mostrar que Gramado não tem lugar para antissemitismo, para despotismo nem tampouco para idiossincrasias discriminatórias a quem quer que seja.
Fazendo isso, Fedoca terá dado à Gramado e a si uma oportunidade de fazer-se grande no coração dos artistas, ainda que seja corrigindo uma injustiça não cometida por seu governo, e que chame Nestor, o então Prefeito, que certamente não tinha a menor noção do que acontecia nestas minúcias de sua administração, para que oportunize em nome de seu governo, um pedido de desculpas não apenas à Débora, mas à todos aqueles que foram injustamente manipulados por aqueles que visavam iluminar o próprio umbigo e subir na carreira usando pescoços de colegas como degraus.
Para elaborar este artigo, entrevistei vários artistas gramadenses, aos quais prefiro manter a identidade em sigilo. Também entrevistei advogados, pesquisei leis, e, a propósito, eu também conheço um pouquinho disso, porque fui Conselheiro setorial de um Colegiado do Ministério da Cultura por três anos. Devo ter alguma credibilidade no que escrevo então.
A propósito, o nome Débora, é característico da cultura judaica. Foi uma Débora foi uma juíza e profetisa de Israel, que liderou o povo na guerra contra o rei de Canaã. Ela convocou o povo para a batalha e profetizou sua vitória sobre um exército muito grande.
No tempo de Débora não havia rei sobre Israel. O povo era liderado por juízes – pessoas influentes, usadas por Deus, que se tornavam líderes políticos, espirituais e militares. Quando Deus levantou Débora, os israelitas tinham se desviado de Deus e estavam sendo oprimidos por Jabim, rei de Canaã (Juízes 4:1-2).
Débora era profetisa e uma mulher sábia. Ela se sentava debaixo de uma tamareira e o povo vinha até ela para resolver suas questões (Juízes 4:4-5).
Também o nome IRION, é proveniente de judeus da Hungria. Mesmo lugar de onde provém também o sobrenome Cardoso (Portugal), lá traduzidos como Kardushinski. Ambos traduzem:Plantador de Cardos (planta).