AD SENSE

domingo, 29 de outubro de 2017

Prova da existência de Deus e o porquê do sofrimento - Por que a Bíblia não prova nem explica isso?








Proliferam-se os títulos de literatura que, de forma antagônica, procuram, de um lado, provarem que Deus não existe, e por outro, provarem que Deus existe, assim como cresce também, à medida em que cresce no mundo o destempero da fome, das guerras, da violência e do sofrimento em geral, enquanto o Ser Humano, cada dia mais mergulhado em dúvidas, caminha numa corda bamba ao sabor de ventos que disputam sua crença em uma e outra ideologias.

Mas afinal, Deus existe ou não existe? E se Ele existe, qual a Sua posição diante do mundo, do Universo e do Ser Humano, diante do crescente sofrimento em sua travessia pela vida, uma vez que estamos à mercê de nossa fé, que é fundamentada em nossas crenças, sejam estas na existência ou na inexistência de Deus, ainda que crer e não crer sejam ambos baseados em fé,por estranho que possa parecer, uma vez que para ser uma pessoa descrente, precisa ser descrente em algo ou em alguém, e a obsessão por não crer no Deus transcendente e invisível é mais passível de fundamentação do que a crença no Deus que oferece esperança, uma vez que esperança torna-se assim o esteio da fé, e a fé é sempre cercada por argumentos que promovem conforto em tempos de crise, ou serenidade diante da descoberta do extraordinário, seja este ser um pôr-do-sol, ou o primeiro sorriso de um bebê no colo da mãe.
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Mas isso ainda não prova a existência de Deus, e aqui usamos o conceito monoteísta judaico-cristão, onde tem nas Sagradas Escrituras as referências dos diálogos e manifestações atribuídas ao Deus Criador, assim como ao Deus que participa das ações humanas, como se Humano também O fosse, com intenção didática para que o Homem seja conduzido de volta à vida eterna e à plenitude da perfeição, pela qual foi criado.

O livro Santo expõe através de seus profetas e autores sagrados, uma permanente interação de Deus com a humanidade, completando Sua participação através da restauração da ordem original das coisas, e de um grande julgamento daquilo e daqueles que subverteram esta ordem, pisoteando na criação, na criatura, e blasfemando assim de Seu Criador. Eis aqui descritos então princípio e causa, ação e efeitos, e finaliza assim com recompensas e consequências dos desvios ou das ações coerentes com as instruções contidas no manual do Fabricante, para que possa o homem caminhar pelas sendas da vida e alcançar o destino final, onde pleiteia sua felicidade plena.

Esta busca pelo lenitivo às dores da vida é uma constante em todas as crenças. Sejam os cristãos, judeus e islâmicos, que esperam o Paraíso depois da ressurreição; ou os budistas, que esperam atingir o Nirvana, a perfeição total, a iluminação, ou as milhares de crenças tribais que esperam de um modo ou de outro,uma recompensa além da vida, seja esta apenas sob a ótica espiritual, isto é, intangível, seja da forma carnal, ou seja, da ressurreição e continuidade da vida, sem o risco da morte e do sofrimento.
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A grande questão é: Mas Deus de fato existe? E se existe, por que permite o sofrimento?

Tenho passado por alto pela literatura que tenta provar que Deus não existe, e chega a ser quase pueril, de tão óbvia a forma e os argumentos que apresentam, começando pelo estilo literário:  Começam chocando o leitor com relatos horrendos das atrocidades que acontecem no mundo, e para corroborar o clímax da maldade de um deus insensível, usam como modelos as crianças, os idosos, os inválidos, os inocentes em geral, e esmiúçam com requintes de sadismo cada um dos detalhes que exaltarão para comprovar seus argumentos de que, diante disso, o mais lógico seria pensar que Deus não pode existir, e este não existir, seria mesmo um ato de generosidade para com Deus, uma vez que caso exista, nesta óptica, seria um monstro de proporções cataclísmicas. Portanto, para benefício de Deus, para eximi-lo de Sua culpa, que seja bom para Ele próprio que não exista. E desta forma, com o leitor devidamente temperado, continuam despejando sequências retóricas de fatos que, pela crueza do que mostram, Deus de fato,ainda que exista, está perdido pelos  outros lados do Universo divertindo-Se em criar galáxias e outras criaturas para abandoná-las também à sorte evolutiva, em aperfeiçoarem-se sozinhas, para quem sabe, depois de selecionadas espécies geneticamente aprimoradas, juntá-las em outro planeta perfeito, livre dos erros que tenha cometido na criação da Terra e seus habitantes.

Mas e a Bíblia, o que diz destas duas perguntas? Onde está, na Bíblia, a prova da existência de Deus? Em que exato Livro, Capítulo e Versículo se encontra uma palavra ou uma frase que prove a existência de Deus, e que após provado, que explique por que Deus permite o sofrimento de suas criaturinhas inocentes pelas outras criaturas culpadas? 

Respondo agora: Em nenhum lugar! A Bíblia não prova e não tem nenhuma preocupação em provar que Deus existe. Ela apenas diz que Ele existe, diz o que Ele fez, faz e fará, e como Se relaciona com a Sua Criação. Não vai além disso, por uma razão muito simples: Se um Livro, ainda que seja O Livro da Vida, tivesse a capacidade de conter em suas páginas uma única prova da existência de Deus, este Deus deixaria de Ser Infinito, Supra-Universal, isto é, muito Além do Universo ao qual contém (Deus contém o Universo, mas o Universo não pode conter a Deus), e seria um Deus manipulado pela compreensão do leitor, uma vez que a leitura é um agente do Extraordinário, que materializa espiritualmente o intangível, e  cristaliza o imaginário, fazendo brotar a fé. E não é tarefa da Bíblia provar a existência de seu  Autor. Seria como se eu, Paulo, além de escrever e publicar minhas ideias, ainda tentasse provar que eu existo, para que possa ser lido e minhas palavras sejam melhor interpretadas e tornem-se críveis.  Não faz nenhum sentido.

Evidente que O Livro tenha sido escrito por mãos humanas, contendo palavras humanas, e proporcionando soluções também humanas. Seria anti natural que para falar com o Ser Humano, Deus usasse linguagens alienígenas (há quem gostaria e até cavoca isso para convencer-se que o Deus da Bíblia não passe de um alienígena deslumbrado tentando se comunicar com o Ser Humano em uma língua que só alguns iluminados por Andrômeda possam interpretar), e que para comunicar Sua vontade, não descrevesse situações perceptíveis para o entendimento humano.  Desta forma, entender que a finalidade das Escrituras sejam apenas de instrução para uma jornada que teve início, meio e fim, estes sim, descritos com minúcias em todas as suas letras e palavras.

Acerca do sofrimento,a questão é de fácil compreensão, embora de difícil aceitação, uma vez que parece mostrar um Deus impassível, sádico e violento, mas também contraditório e indeciso, de personalidade fraca e que para demonstrar Sua misericórdia, propõe um fim trágico àqueles que não obedeceram às Suas Leis. Aqui entram o entendimento de grande parte do mundo cristão, de uma forma  um tanto distorcida, que o Deus do Antigo Testamento, que criou todas as coisas, andou meio atrapalhado com a educação de suas criaturas, e que tinha lapsos de bipolaridade, perdendo a paciência e ateando fogo do céu pelo menor deslize que tivessem, e que entra então o Filho, que por ser de uma geração mais dócil desce à Terra para consertar as coisas, e trazer belas mensagens de paz, amor e fraternidade ao mundo. Assim, se o judaísmo de Moisés era permeado do "aqui se faz aqui se paga", o cristianismo de Jesus viria propor que tudo  deveria ser perdoado, deixado pra lá, porque somos todos irmãos, e que a Graça seria o antídoto para toda a maldade do mundo. Desta forma, o Antigo testamento deveria ser jogado no esquecimento, porque a Cruz havia determinado um divisor de eras, onde tudo o que era imperfeito, agora seria aperfeiçoado e na segunda vinda de Jesus, todos  teriam uma nova chance para consertar seus erros. Mesmo aqueles que cometeram as atrocidades descritas no prefácio dos livros destes autores incrédulos na justiça ou na misericórdia divinas, segundo algumas doutrinas o pregam.

Fui buscar dentro do próprio judaísmo primitivo a resposta para a questão do sofrimento e da salvação, e para falar de judaísmo primitivo, é necessário entender que tudo começou com a Torá, traduzida como Lei de Moisés, embora a tradução literal de Torá seja "Instrução" e não Lei.  Por que no judaísmo, se minha formação e entendimento teológico estejam afetos aos ensinamentos de Jesus, que nasceu, viveu e morreu judeu, e que todos os seus ensinamentos sejam estritamente ligados à Bíblia hebraica (Antigo Testamento) e ao Talmude (Tradição Oral), e que ainda tenham sido os judeus (outrora chamados de Hebreus  e Israelitas) quem tenham escrito a Bíblia, seja ela apenas no Antigo Testamento, ou ainda nos denominados Escritos Apostólicos, ou Novo Testamento. Todos judeus. Discordantes nos detalhes, mas unânimes na essência.

Sendo então os ensinamento de Jesus concordantes com os Escritos originais, e para o estudioso isento de paixões, torna-se claro que o Novo Testamento não cria nenhuma nova prática que não esteja firmada nas práticas originas, ainda que apenas  com as traduções a partir do Grego (posteriores aos escritos, pois também estes o foram na língua hebraica), e suas versões contemporâneas, vamos encontrar nomenclaturas que parecem distanciar os textos apostólicos da essência judaica. Não é assim. Os nomes próprios, assim como costumes foram contextualizados nas línguas de tradução.Nada mais que isso.

Quando Jesus fala de amar ao Próximo como a si mesmo, está citando Hilel, que está citando Moisés. Quando Paulo de Tarso diz: "Sede meus seguidores como sou de Jesus", está apenas parafraseando a intenção dos hebreus que seguiam Josué, cujo nome original é Yehoshua, e que significa: "Eu sou O caminho", então: Um escolhido por Deus, que recebe um nome que corresponde à sua posição de General de Israel, que tem como missão de conduzir um povo até a Terra prometida, e antes dele, outro líder, com um nome egípcio, Moshê, que significa: "Tirado das águas", para que retirasse este povo da escravidão, o fizesse atravessar um mar e um deserto, e recebe instruções, a Torá, para que sua jornada fosse o mais suave possível. Desta forma então temos na Torá um manual de ética para que o povo caminhasse com segurança, e também promovesse o bem estar social, afim de que houvesse ainda um povo que pudesse herdar a Terra Prometida.

Porém, se analisarmos a Torá, do primeiro ao último capítulo, não encontraremos, nem prova de que Deus é Deus, pelo contrário, a única oportunidade em que Moisés teve de perguntar-Lhe O Nome, O Altíssimo apenas declara de Si mesmo que: "Serei O Que Serei".  Traduzindo: Ele É. Ponto. Mas ainda assim, não existe uma única palavra que diga que não haveria sofrimento na travessia até Canaã, como também não fala do Olam Habá, o Mundo Vindouro, ou como queiram, a Vida Eterna. Não tem. Não diz nada. Silêncio como um deserto.

Onde então encontraremos alento de crermos em um Livro que não prova a existência de seu Autor, não fala da vida eterna, e que mostra todo tipo de atrocidades pelo caminho, como apontam seus críticos?

A resposta está em uma única expressão que Deus usa,no penúltimo dia de vida de Moisés, à frente das margens do Rio Jordão, antes da travessia, quando diz: " Ponho diante de vós a bênção e a maldição; a vida e a morte. Proponho que escolham a vida. E para que vivam, é necessário que cumpram as minhas instruções (Leis) e as orientações (Estatutos) que deixei neste Livro (Torá).

Neste raciocínio, e na crença que Deus É O Criador, e que Sua palavra sejam fiéis, vamos perceber que nada do que Ele diz, é pela metade. Portanto, vida em Sua promessa, é vida eterna. Assim, dividindo entre promessas materiais e espirituais, teremos, de um lado, Canaã, como bênção material, como a vida eterna, como bênção espiritual. Temos elementos intrínsecos e subjetivos, como o livre arbítrio (escolha entre vida e morte), e temos um deserto a atravessar. Isso de certa forma é  profético e didático,porque está dizendo que, entre a queda de Adão e Eva até o reino eterno do Messias e a felicidade plena, existe um deserto cheio de perigos, e conhecendo a natureza falha do Homem, Deus alerta para tais perigos, e apresenta instrumentos para que o Homem atravesse este deserto com relativa segurança, empunhando as Leis e os estatutos como salvaguarda para esta travessia, e que ainda que tropecem e caiam pelo caminho, tem um Condutor, que os guiará ao destino em segurança. Aqui há um desvio de entendimento, onde tendemos a achar que a segurança seja material, e nem sempre o é, mas que a segurança espiritual seja estabelecida ao fim da jornada que é o objetivo maior.

Mais objetivamente, temos uma origem (o Egito), uma travessia com perigos (o deserto) e um destino (Canaã). Isso chamamos de predestinação. Temos um General (Moisés e Josué), temos placas no caminho que orientam para os perigos (Leis), e finalmente, temos o livre arbítrio de voltarmos ao Egito e aceitarmos a escravidão, que simboliza o vazio, a morte, o sofrimento. No aspecto espiritual, temos uma origem (o Éden), uma travessia (o mundo) um destino (a eternidade), uma escolha (vida ou morte) e Um Guia que conhece e É o Caminho (O Messias).

Desta forma, o sofrimento não tem justificativa, mas tem explicação. Não é uma punição de Deus, mas uma consequência pelas escolhas que quem pode decidir seus caminhos, não sem carregar o peso das consequências de que suas más escolhas levem seus descendentes ao fracasso. 

Dou exemplo prático disso, para que fique em casa o testemunho do que quero demonstrar: Meu bisavô traía o concunhado, e por esta razão foi assassinado, deixando viúva e filhos pequenos lutando contra os perigos deste mundo. Depois disso, meu pai matou meu avô, deixando quatro órfãos e duas viúvas. Em consequência disso, cresci no meio da pobreza. Então, meu sofrimento foi punição de Deus pelas inconsequências de meus ancestrais? De modo algum! O que houve foi uma reação em cadeia,um efeito dominó de  atos irresponsáveis de alguém que viu apenas o próprio ego. Da mesma forma, quando temos criancinhas sofrendo, velhos maltratados, drogados perambulando pelas ruas, famílias destroçadas pelas guerras,precisamos olhar lá atrás, de quem foram os atos irresponsáveis que desencadearam esta rede de atrocidades como bolas de neve montanha abaixo, e separarmos o castigo da consequência.

O que encontramos na Bíblia são relatos que de forma profética ilustram os juízos de um Deus apresentado como Justo, que responderá o mal com a justiça, o que nos tempos bíblicos era mais imediato, não apenas como punição, mas também como exemplo para as gerações futuras. Infelizmente não deu certo por enquanto. É por esta razão que também como no simbolismo do deserto, que era a Graça, isto é, a oportunidade de durante a travessia, emendar os defeitos para alcançar a recompensa, também vivemos um tempo onde as oportunidades ainda existem, e quanto aos que sofrem (e todos sofrem), há dois caminhos a seguir: Um diz que Deus não existe caso exista, é injusto ou desligado, e estamos condenados de qualquer madeira, então vivamos, comamos e bebamos, porque amanhã morreremos, e de outro, que diz que há sim Um Deus Justo, que ouve o pranto dos que choram, e está Ansioso por celebrar o fim deste sofrimento, enviando o Messias o quanto antes para secar todas as lágrimas daqueles que Nêle creem e esperam.

Eu quero estar no segundo grupo.





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