AD SENSE

domingo, 20 de outubro de 2019

"Pequeninos da Democracia" - O Poeta e a Professora




Escrevi sobre os principais e eventuais pré-candidatos às majoritárias de 2020 em Gramado (veja aqui), mas como a política é mutante e progressiva, deixei de fora (o que corrijo agora), dois personagens que merecem o respeito deste escriba, ainda que não os conheça com a profundidade que gostaria. Faço isso, porém, pelo critério de equidade literária e analítica, o qual tenho pautado meus ensaios, e principalmente para uma reflexão sobre o papel do cidadão, individualmente, no processo político e social, e não apenas por valoração numérica exponencial, que blinda os grandes partidos e coligações, e por acharmos que apenas os grandes tem responsabilidade.

Recebo, por minhas fontes, a notícia de que dois cidadãos, ao que sei, em pleno gozo de seus direitos civis e eleitorais, expõem-se ao sabor da crítica, tal como o fazem os demais pré-candidatos; o ativista Elias Vidal Sobrinho (PATRIOTA), e sua parceira, compondo como pré-candidata à Vice, em sua chapa sugestiva, a Professora Tatiana Dalle Molle (PARTIDO INDEFINIDO). Antes da análise, porém, gostaria de pincelar rapidamente as biografias dos personagens.

Elias Vidal Sobrinho, cujas façanhas e bravatas dispensarei do comentário, haja vista que há amplas publicações a respeito de sua conduta pouco regulamentar, se comparada aos moldes desejados aos que ousam buscar púlpitos e cadeiras públicas por meio do voto, e em se resultando favoráveis, se eleitos, a cargos que exijam certa liturgia e posturas formais à liturgia do cargo que pleiteiam. Ainda assim, e assim me parece, que suas emocionadas demonstrações de cidadania, em teatrais espetáculos, o sejam motivadas pelo marketing pessoal de fazer-se notar e prevalecer seus direitos, os quais, entende no momento das acaloradas manifestações, tenham sido, à sua leitura, desrespeitados. Resumindo, quem não chora, não mama. (Veja mais) (Veja ainda..) (Mais...)

De sua biografia pessoal, pouco se conhece, senão o que consta na sua ficha de ex-candidato à Vereador, junto ao TRE, declarando-o "Empresário". Então, Empresário e Ativista político, podem bem definir o pré-candidato.

Sua parceira e pré-candidata à Vice, ainda que também ativista política e educacional, é Professora, trabalhando na Rede Estadual, e também foi candidata à Deputada Estadual nas eleições de 2014 (Veja aqui...), além de ter sua biografia agregada à uma dobradinha com a ex-Senadora Ana Amélia Lemos, pelo PP, onde após ter sofrido impugnação, entendo como solucionado, posto que a candidata concorreu e recebeu a soma de 210 (duzentos e dez) votos, ao final do pleito. De família tradicional de Gramado, Tatiana retorna à terra, e milita então na política local,desta vez, ao que é divulgado nas redes sociais, ao lado de Elias Vidal Sobrinho, mais conhecido como "Poeta".

Encerradas as apresentações, numa análise fria, insensível, resumida, as circunstâncias parecem ser completamente desfavoráveis, à que a dupla vença uma eleição onde com absoluta convicção, será liderada pelas duas grandes formações históricas, de um lado UPG, e de outro, o nome que for criado para o pleito. Historicamente Gramado nunca ofereceu grandes surpresas. Historicamente nunca houveram  "azarões" que tenham dado uma reviravolta nos resultados esperados, ora de um, ora de outro lado.

O fato aqui não se trata das pessoas envolvidas, mas do que representa esta eventual candidatura para o fortalecimento democrático da eleição. Fica demonstrado que qualquer cidadão, eleitor, e com sua situação jurídica e fiscal em dia com a sociedade, pode, e deve entregar-se aos braços do povo, por meio do voto, se sua competência em convencer seja maior que seu histórico político, e principalmente suas "costas largas". E aqui, cito o presente caso do Presidente Bolsonaro, conhecido por sua língua destravada, e por defender posições diametralmente contrárias ao "bom senso politicamente correto" vigente, que, sem dinheiro, sem Partido, sem aliados profissionais, sem estrutura publicitária, dobrou a coluna de gigantes do Marketing Político, da Mídia, e da colossal máquina administrativa de outros candidatos, e promoveu a primeira revolução democrática com base nos ´pilares do inconformismo com a classe política, e com as Redes Sociais ao alcance de qualquer pessoa que possua um teclado de Smartphone , e alguém disposto a fazer uso devastador destas ferramentas a serviço de uma campanha.

O Poeta e a Professora, sem perceberem, fazem "leading", (Pé-de-Chumbo) abrem espaço e caminho para que qualquer cidadão perceba que de que tudo o que ele precisa para ser também um candidato à Prefeito é de um partido que o apoie, de ideias  que o diferenciem, de credibilidade que dê sustentação à arregimentação de prosélitos, e de algumas contas gratuitas no Instagram, Twitter,  Youtube, Whatsapp, Skype, Google Talk, e outros que nem lembro mais. Não precisa nem mais de Megafone, estúdio de gravação de rádio, e muito menos de impressos caríssimos. O santinho é binário e às vezes, santinho de caseiro também faz milagres. Quem se habilita?

Nota ao Leitor:
Este espaço destina-se à divulgar minhas reflexões acerca de fatos e personagens políticos. Todos terão o mesmo espaço e todos estão sujeitos à críticas, análises independentes, e também observações favoráveis, dentro do que estabelece a Lei de Imprensa, a Lei Eleitoral, e a Constituição Brasileira.

Quando os leões rugem, e Gramado treme




Muito contrário ao que se pensa, os animais rugem, vociferam, e mostram os dentes, não é quando desejam confronto, mas é quando se veem cercados por inimigos fortes, colocam-se no ataque, demonstrando que não querem briga, mas se a peleja vier, estão preparados para mostrarem toda a sua força e ferocidade.

Fedoca mostrou os dentes, e mostrou que podem estar afiados, quando respondeu com notável agressividade de modo genérico, aformando que "seu governo não é igual aos anteriores", ou especificamente, que os anteriores seriam com clara definição, Nestor e Pedro. governos que não tiveram, segundo a leitura e interpretação de Fedoca, a qualidade, e ainda sendo mais específico, a ética que supostamente, numa leitura imparcial de ambos, tenha seu atual governo.

Em resposta curta e muito direta, Nestor também expõe as garras afiadas e ruge, como o leão desafiado, dizendo que de fato, "em seus governos, a Prefeitura apenas adquiriu patrimônio, e jamais precisou vender, para honrar compromissos, ou fazer investimentos".

Um e outro expõem com bastante antecipação o ambiente que preparam para o embate em 2020. Nestor não responde como candidato, porque responde no momento à Justiça na condição de Réu, ainda que esta condição não o tire do embate, mas precavê a possibilidade de atuar apenas como líder partidário, em suporte a outro candidato dos PROGRESSISTAS. Nestor mostra que, apesar da eventual desvantagem jurídica momentânea, não vai permitir que Fedoca encontre facilidades na disputa, que não será nem um pouco diferente das que os antecederam, com bravatas, discórdias, e de um proselitismo feroz, pernicioso, onde cada força arregimenta valentia dos militantes, novamente jogando-os, eleitores e militantes, uns contra os outros. Sempre foi assim, e não será desta vez que vejo mudanças. Não nesse tipo de comportamento.

Eu vi e participei de muitas eleições em Gramado. Quase vi uma união de Nelson e Pedro, em certa ocasião, mas ao mesmo tempo vi que, ainda que os líderes se entendam e se respeitem, os apaixonados pela confusão e pelo ego exaltado formarem muros intransponíveis, e esta sonhada união nunca aconteceu. Por questão de poucas horas, por questão de poucos votos. Assim, ainda que dentro da mesma casa haja divergência de opiniões sobre este ou aquele candidato ou partido, tais divergências se dissipam após a eleição, por laços de afinidade. Eu mesmo, que não tenho partido, nem inclinação política, no tocante a Gramado, sou amigo de militantes de diversos Partidos, de diversas lideranças, e procuro deixar que minhas palavras sejam refletidas antes de manifestá-las aos leitores, mas sei que não é assim com todas as pessoas, e sei que a semente da ira é mais vitaminada que as pétalas da harmonia. Assim, faltando um ano para a eleição, muito antecipadamente, vejo posicionamentos afiados e a escadaria de egos cintilando para que subam nela, um e outro. Uns e outros, os que querem o poder em Gramado.

E o eleitor torna-se um títere, um boneco articulado, uma vaquinha de presépio, onde permanece na posição em que a colocarem. E as mãos que dispõem dos personagens deste presépio, que manipulam as cordas para movimentação das pernas e braços, e até mesmo da articulação das mandíbulas de madeira dos eleitores, são as vozes que se desafiam, que nos desafiam a compreender de que lado estaremos nos próximos meses e anos.

O papel desta coluna não é escrever para agradar aos políticos, mas para despertá-los a caminharem par e passo com os eleitores, ao mesmo tempo que permitir aos eleitores que questionem as verdades amalgamadas com as bravatas por trás dos leões que rugem. Eu estava silenciosamente observando a superfície das águas, quando fui despertado por leitores e pelos próprios políticos, que pediram que eu voltasse a escrever e livremente expressar minha leitura sobre a política em Gramado. Eu não posso mudar o mundo. Não posso mudar o Brasil, e nem mesmo posso mudar Gramado. E nem quero isso. Mas posso demonstrar que por trás de gestos aparentemente particulares, existem movimentos silenciosos que podem ser desvendados à luz do pensamento e da reflexão isenta. Gramado merece que seus cidadãos pensem, e merece meu respeito e gratidão, porque de alguma forma tenho contribuído para que isso aconteça. Fiz uma revisão do blog, desde que surgiu, em 2017, percorrendo o gráfico de leituras, que hoje chegam a 298 mil visitas, considerando que se trata de um espaço reflexivo, de linguagem, por vezes, difícil, mas que ainda assim, os 30 mil leitores de Gramado reputam como respeitável. É nesta respeitabilidade que atrevo minha ousadia em trazer ao lume da razão o comportamento político dos personagens que se expõem a tal, uma vez que sejam figuras públicas, e o fazem espontaneamente, seja por amor à Gramado, seja por amor ao próprio ego. Que seja então. Não é pecado apreciar seu nome em placas de bronze, contanto que sejam placas que façam memória à bons serviços. O povo merece isso.
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sábado, 19 de outubro de 2019

Pra não dizer que não falei de flores





De modo algum irei falar de política, de movimento de resistência contra o regime militar no Brasil, embalado pela canção de Geraldo Vandré, com o título dado a este ensaio. Devidamente explicado, passo a falar de flores então.

Dar flores é um comportamento próprio dos Seres Humanos, mas também entre os animais há certos hábitos de oferecer mimos às fêmeas, como forma de demonstração de disponibilidade ao acasalamento.  Os bowerbird, ou “pássaro pavilhão” masculino, são arquitetos incríveis, mas reservam suas habilidades para apenas uma finalidade – encontrar uma companheira. Eles constroem esses ninhos elaborados e deslumbrantes para impressionar as fêmeas – talvez eles pudessem ensinar aos homens, uma coisa ou duas sobre decoração, diz um artigo no blog "Tudo Curioso". Nestes enfeites, tantos, há também flores. Há espécies de peixes que fazem o mesmo, constroem ninhos elaborados com design sofisticado, linhas precisas, geometria perfeita, para que sejam escolhidos como os progenitores dos filhotes das fêmeas, pois sua capacidade de construírem e lidarem com esta matemática inata, demonstra que seus filhotes possuirão uma genética selecionada. 



Assim como os animais que presenteiam com cores e flores seus parceiros, também as flores se oferecem, por meio do perfume e cores, aos insetos e também pássaros e morcegos, que em troca destas dádivas, são por eles, polinizados. É uma moeda de troca. É por instinto e por interesse.

O Ser humano é o único que, não só presenteia com flores, por interesse, amor, paixão, reconhecimento, como o faze também por dor, gratidão, ou saudade.  São as pessoas quem produzem flores para venderem sentimentos, e embora eu não deixe de reconhecer a preciosidade de uma arranjo de flores numa floricultura, são as flores do campo e das matas, ou ainda dos jardins antigos, das vovozinhas, quem mais fazem aflorar minhas lembranças de tempos felizes, ou até mesmo melancólicos.

O costume de ofertar flores, é mais afeto ao mundo feminino, e mesmo os homens que oferecem flores, o fazem à mulheres: Mãe, namorada, esposa, amante, amigas, e em ocasiões significativas, na maioria.  Jamais vi um homem levar flores a outro homem (hetero), senão em velório, e mesmo assim, opta por comprar uma coroa com flores artificias, onde gravam em uma fita dizeres mecânicos de :Saudade eterna, Repouse em Paz, Homenagem da família tal.


Não sei dizer em outras culturas, mas na nossa cultura ocidental, um homem oferecer flores a outro, o carimba como homossexual. Nem mesmo um pai oferece flores ao filho, e tampouco vice-versa. Flor "é coisa de mulher", sentencia-se.

Pois eu ganhei flores, por duas vezes na minha vida. E confesso que foi uma sensação indescritível. Ganhei flores de duas mulheres, e não, nenhuma das duas mulheres estavam interessadas em mim, tenho absoluta certeza disso. O que me dá esta certeza é o motivo e circunstância em que recebi tais flores, e não era um raminho de dente-de-leão apanhado á beira da estrada. Não senhor! Eram frondosos buquês, que necessitavam abraços, exuberantes, perfumados. O primeiro recebi de uma Arquiteta, em reconhecimento ao trabalho que fiz, e fico feliz em crer que, ao respeito com que tratei os profissionais envolvidos neste trabalho. Foi a Arquiteta Melissa leite, em Lages, SC, por ocasião do lançamento de uma coleção que criei, e do Show Room de uma empresa que ajudei a montar.

A segunda ocasião, foi ao término de um Seminário de Economia criativa, Motivacional, que realizei, na cidade de São Martinho, SC, onde ao final das palestras, no segundo dia, fui homenageado com flores, inesquecíveis, de valor inestimável, oferecido pela Primeira - Dama do Município,  Turismóloga Ângela Back, e em nome da Comunidade inteira, o fez. D-s sabe o quanto aquilo significou para mim. Não as flores: o gesto, materializado em flores.

Então, agora posso dizer que falei de flores. As flores que não constroem muros, mas as que edificam e solidificam amizades. E foi muito bom. Agora é só esperar pelo velório, que talvez ganhe mais algumas, embora as prefira em vida. O perfume é bem melhor.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Ética na Política - Fazer campanha sem assumir que está em campanha, é ético?

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Imagem: Internet
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Quando você corre atrás da honra, a honra foge de você. Quando você foge da honra, é a honra quem corre atrás de você. (Talmude)

A mentira é algo que foge  das boas práticas da política, isso é unânime, mas que todo político mente, é um conceito aceito também por todas as pessoas. Nesta leitura, gostaria de demonstrar que ambas as verdades podem ser incompletas, e isso torna-as necessariamente outra mentira. Assim, verdade e mentira podem ser a mesma face em um espelho. Uma é real, enquanto a outra é ilusória, no entanto, está ali, pode ser vista, fotografada, comparada. Ainda assim, não é real, e portanto, não pode ser verdade.

Toda mentira precisa ter um componente de verdade para tornar-se crível, caso contrário, entra na categoria do absurdo, e absurdo, todos concordam comigo, é linguagem da loucura, do fantástico, do extraordinariamente inútil para a composição da história.

Toda história tem uma mescla de verdade com mentira, porque história é o relato de fatos, e relato é algo abstrato, que necessita de um agente, um "cavalo", um portador das palavras e do testemunho, para que outros também tomem conhecimento do fato.

Já os fatos, ainda que verdadeiros na sua origem, são falsificados pela memória traiçoeira, ou pelo senso teatral de quem os conta. Assim, dizer que chove, pode ser interpretado de muitas maneiras, pois pode ser que chova no lugar onde você está, mas é estio em outro lugar. Pode ser que chova muito ou pouco, mas muito ou pouco em relação a que? Percebe-se que até mesmo para existir, a verdade necessita de suporte, de testemunhas, e de quem a interprete também ao ouvir. Como na anedota de dois distraídos, ao celular, onde um caminhava com uma vara de pescar às costas, e outro o encontra e pergunta:

- Vais pescar?
- Não, respondeu o outro. Vou pescar!
- Ah, disse o primeiro: Pensei que você ia pescar!


Podemos falsear a verdade não em contá-la com distorção, mas em ouvir mal e a partir deste ruído na comunicação, levar adiante a parte distorcida que ouvimos. Eis então, um breve ensaio sobre o que é verdade e como a mentira se desenrola, com todos as ferramentas da verdade.

Minha sogra tinha uma vaquinha. Gostava muito e a tratava bem, com muito carinho. E todos os dias, ia à estrebaria para ordenhar a vaquinha. Usava para esta tarefa, uma roupa simples, de uso da roça. E a vaquinha liberava sua cota diária de leite. No dia, porém, que minha sogra ia sair, arrumava-se para sair, como fazem geralmente as pessoas do interior. Uma roupa para o trabalho, e outra para passeio. Assim, antes de sair, já perfumada e arrumada, minha sogra passava antes, na estrebaria, para a ordenha do dia. Naquele dia, porém, a vaca não dava leite, ou dava pouco, porque percebia que naquele dia ela estava sendo traída, abandonada. Depois de entender isso, minha sogra tornou-se mentirosa. Passou a ir ao estábulo com suas roupas velhas e suadas, e só depois, retornava à casa, e vestia-se para passeio.

Muitos políticos tratam seus eleitores como vaquinhas ciumentas, depressivas, com medo de abandono. Vestem roupas velhas e surradas, com cheiro de povo (aí do palhaço que interpretar errado isso, pois falo do cheiro do suor do trabalho, da fadiga, das dores). E muitos eleitores apaixonados, tornam-se surdos diante da evidência dos tambores e das fanfarras que seus políticos desfilam, sem perceberem que são objetos de artifícios marqueteiros para acostumarem o povo à rotina burlesca de um crescente para as campanhas eleitorais.

Não se enganem. Nada é de graça. Nem mesmo apresentações festivas de feitos, como se sem defeitos o fossem, alardeados pelos arautos de homens públicos, que dão pão e circo, por antecedência, visando anestesiar o livre arbítrio de sua grei, enquanto estabelece em torno de si um território indevassável, para perpetuidade no poder.

O poder é uma inebriante bebida, que não apenas entorpece a alma, como desfigura o caráter, transfigurando o bom, e sobretudo o mau que habita dentro de cada um, e utilizando os recursos do conhecimento científico sobre a mente humana, espargindo iscas que brilham, luzes que cintilam, para que continuem, como a vaquinha dengosa, que não dá leite para quem não pode confiar.

O eleitor continua sendo o mesmo, e suas decisões, ao longo da construção da democracia, tem, pouco a pouco, trocado o voto do coração pela escolha da razão. Eis a tarefa destes ensaios. Despertar a reflexão sobre a vida que deve ser vivida com o melhor, apesar daqueles que vestem roupas surradas para se passarem por pobres, enquanto os verdadeiros pobres desejam com intenso ardor, comprarem roupas perfumadas, para esquecer da pobreza.

Daí novamente a pergunta: É ético chamar o cidadão de irmão, enquanto deseja-se chamá-lo na realidade é de eleitor? Não seria mais verdadeiro assumir que está em campanha e que tudo o que mostra de sua vida e biografia, nada mais é do uma forma de sensibilizar o eleitor para que o escolha, quando o pleito chegar? Esta é uma pergunta retórica, cuja resposta está na ponta da língua de todos, mas que ainda assim, deveria levar-nos à reflexão do uso da mentira para vender uma verdade? Reflita e faça outros refletirem sobre isso. Estamos construindo uma história. Que personagem seremos, quando os historiadores contarem sobre a nossa biografia? Contarão eles que fomos "vaquinhas de presépio, e ainda assim, ciumentas"? Ou que fomos a geração que mudou a história pela força das ações e pensamentos ornamentados apenas com o manto da ética?






quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Trotes memoráveis em lugar incerto - II O Documentário da Rainha



Corria o ano tal, onde tal sujeito era o Prefeito, e também havia o Vice Tal, que como o título diz, era o Vice Prefeito do Fulano de Tal. Isso aconteceu em tal lugar, que era, digamos, o clube social do pequeno burgo, e era no clube social, que os melhores e mais suntuosos bailes aconteciam. Era lá que a sociedade V.I.P comparecia, para mostrar o automóvel tinindo de novo, ou as matronas, para exibirem seus suntuosos trajes de gala, enquanto os abobalhados maridos, servindo o braço como apoio, olhavam e sorriam o tempo todo, abanando a mão e curvando levemente a cabeça, como se quisessem dizer, entre os dentes cerrados, como fazem os ventríloquos: "Esta é minha mocréia, e este foi o vestido que ela mandou vir da capital, com meu cartão de crédito. Ai que ódio!"

Era a festa de escolha da rainha, de uma festividade local, e lá estavam reunidos todos os convidados da finesse local, e ora, onde há boca livre, o escriba que vos tecla, entendia necessário se fazer presente. E assim foi! Dez horas da noite, lá estava o galalau, enfeitado como "pixixê de china", cheiroso como mão de barbeiro, subindo as escadas que levavam ao local dos arregabofes, eis senão quando, o longo braço do porteiro ficou estendido à altura de seu pescoço, do galalau.

- De onde vens, perguntou, solene!
- Venho de um seio! - Respondeu o tararaca.
- E onde vais?
- A um coração!
- De quem és filho?
- Do acaso!
- Como te chamas?
- Paixão!
- Saiu-se bem, mas cadê o convite, malandrinho?
- E malandro precisa de convite?
- Aqui, sem convite, não entra!
- Que seja! Voltarei!

Saindo dali, o escriba voou lépido a largos passos à casa de um amigo, que possuía uma filmadora "Super 8". Tomou-a por empréstimo, e mais rápido que o pensamento, estava de volta ao refestelo.

-Tu de volta? Sorriu o porteiro.
- Sim, tenho que filmar o evento para um documentário, o qual enviarei à uma organização na Bahia!
 Sorrindo, quase aos frouxos, o porteiro o deixou entrar.

O lugar estava repleto de gente elegante, gente distinta, gente importante, políticos, autoridades, belas senhoras, senhoras,jovens exuberantes e perfumadas, e eu. Com uma filmadora Super 8, novinha.

- Boa noite, senhoras e senhores, gentis senhoritas! Estou aqui na missão de enviar um documentário à uma instituição na Bahia. Permitam que filme vossas magnificências?
- Naturalmente, caríssimo amigo (virei amigo, assim, de repente)! mas antes, aproveite o "Côck Téilll" (acentuando o L em coquetel).
Não me fiz de rogado. Bracei uma imenso prato descartável, e abasteci-me de guloseimas. Fartei-me até arrebentar a cincha. Forrei meu bandulho (sim, o galalau era eu). E disse:
- Bem! (Burrp), Senhoras e senhores! (Burrp..arrôt) hehe...desculpem...coca cola..! Vim aqui pra trabalhar, então tenho que trabalhar, Compromisso é compromisso! Só que temos um probleminha técnico ( nessa altura eu já era praticamente um Fellini, entendia tudo de iluminação,dramaturgia, cenografia, e após olhar significativo, sentenciei:
- Teremos que descer ao Hall de entrada, onde existem espelhos. Lá a iluminação é PER-FEI-TA! (e estalei a boca, como fazem os profissionais satisfeitos).

Descemos ao Hall, aquele pixurú de gente, Prefeito, Primeira Dama, Vice Prefeito, Segunda dama, autoridades civis, militares e eclesiásticas, Rainha, Princesas, blá, blá e blá. Entupiu o hall. E eu comecei a função.
- Prefeito com a rainha!
- Rainha com a Segunda Dama!
- Rainha com princesas!
E assim, sucessivamente, filmei á todos, por cerca de meia hora, a quarenta minutos, sem parar.
Agradeci e fui embora.

O tempo  longe passou. Por esta nova ocasião, a moça que havia sido escolhida como rainha, foi comigo e outros amigos, subtrair ameixas, em uma frondosa ameixeira que havia lá pelos fundos de um terreno pouco habitado. Ao voltarmos, ela disse assim:
- Paulinho! Tu te lembras daquele filme que fizestes, de nós?
- Mas claro que lembro!
- Posso vê-lo?
- Não!
- Por que não?
- Não havia filme na câmera. Além disso, o Super 8 tinha fita para três minutos, e eu filmei mais de meia hora. Ainda bem que as pilhas eram novas!










quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Nestor responde à Fedoca: "Nós só compramos, e nunca vendemos terrenos"



"Com certeza não tem como comparar , nossas administrações compraram terrenos e nunca venderam, Está contente agora?", foi a curta e lacônica resposta do Ex Prefeito de Gramado, Nestor Tissot, em resposta à afirmação direta de Fedoca, Prefeito atual, onde disse, em entrevista ao Jornalista Caíque Marquez, após justificar a venda dos imóveis públicos para investimento em ações comunitárias, obras de interesse da população, teria afirmado Fedoca, e ao final da entrevista, como é de seu estilo, quando se zanga, respondeu à "queima-roupa", que "Não se pode comparar sua administração e seu estilo aos seus antecessores".

Este estilo não é o mesmo estilo e postura que Fedoca vinha mantendo nos últimos dois anos, mais arredio e misterioso, especialmente quanto à sua eventual reeleição. Eventualmente, e num crescente, perguntam-me se eu acho que fedoca será ou não candidato. Respondi que da cabeça de juiz e político, nunca se sabe o que sai, mas podemos antecipar alguns movimentos de Fedoca que demonstram sua intenção de continuar no gabinete, a quem, diz-se à boca pequena pelas rodinhas de café da vida, que se de um lado ele confessa a chegados que tem dias que sente-se enjaulado no gabinete, já em outros, dispara réplicas ácidas e agressivas aos seus futuros oponentes, numa demonstração que, se na campanha anterior ele foi mais cartesiano, fazendo as coisas certinhas, e deixando as bravatas em palanques para seu vice, Evandro, já nesta eleição, se candidato for, Fedoca demonstra que amadureceu para as plateias, e que seus discursos não expelirão flores. Os ataques serão cirúrgicos e diretos, e ao que tudo indica, está apenas tomando fôlego.

Se de um lado, os Progressistas estão aparentemente desarticulados (sim, fui bondoso, os Progressistas estão notadamente desarticulados), por conta da condição de Réu de Nestor, e consequente pré campanha em curso de Ubiratã e Luia, por outro lado, o MDB parece o pai da virgem que espia na janela: Uma mão no facão e outra na porta! MDB é um mistério, e assim o será até o dia da convenção, o que aliás, é uma característica deste Partido, decidir no último minuto do segundo tempo, no espaço da prorrogação, quem, como e de que forma sustentarão candidaturas, aliados, e o próprio partido. Mas não esperem pão francês de nenhum dos três lados citados. Fedoca não tem um Partido sólido, mas tem o poder da convicção de manter ao seu lado, e ainda mais fortalecido, o MDB, e os demais partidos penduricalhos, que existem dos dois lados das duas plataformas finais.

Nestor está quieto, tomando conta da sua defesa no Judiciário, mas continua sendo o homem forte do seu Partido, e o comandante da coligação que virá, que pode ou não ser ainda a UPG, ou se será criada uma nova sigla para combate. Seja como for, os Progressistas ratearam feio na última eleição, e perderam o comando do Município, e querem voltar a todo custo, ao passo que Fedoca gostou do cargo, e não vai querer largar nem tapado de mutuca.

Fedoca, de uma entrevista em resposta, deu um recado: "Tenho na mão uma oliveira e na outra uma espada! Não deixem que eu largue a oliveira!" (Na verdade esta frase é de Yasser Arafat, ex líder terrorista e fundados da OLP, mas cabe a metáfora nesse caso. Fedoca não é nenhum terrorista, mas está dizendo que tem duas armas para usar: A poesia das palavras, ou a fúria das bravatas. O Caudilho acordou!

O professor de Ballet



Aprontar trote é mais comum que a posição de defecar, e não há quem não tenha alguns memoráveis para contar, o que alias, faz até bem pra engrossar o couro, tomar um trotezinho aqui e outro ali. Eu, pelo menos, prezo por este modo de pensar, só pra não pensar em cada trote que tomei. Por misericórdia, como eu fui tonto nessa vida, gente do céu! Tá, eu também passei alguns, e vou contar aqui uns dois, com o mesmo mote: O "Professor de Ballet"!.

Vou omitir os personagens, mas os fatos são aproximadamente verdadeiros.

Trote número 1

Eu alugava uma sala em um prédio de salas comerciais, no centro de Gramado,tinha meu escritório. No mesmo prédio, haviam outros escritórios, sendo um de engenharia e decoração, e outro era um consultório médico, cujo titular era (e continua sendo) um grande amigo. Todos eram meus amigos, diga-se pelo bem da verdade. Volta e meia, nos visitávamos, para jogar conversa fora, tomar cafezinho, chimarrão, ou contar lorotas das boas.

Certa ocasião, passei no consultório do amigo médico, e vi que havia uma atendente nova, começando naquele dia. Estiquei o pescoço porta adentro, cumprimentei, e perguntei se o "Dr Fulano" estava.
- Gentilmente disse que não, e perguntou se era urgente. Respondi que urgente não era, mas que ele havia marcado comigo para que, dentro da próxima meia hora, nos encontrássemos no Tênis Clube, próximo dali, pois ele teria aula de Ballet comigo e outras pessoas. A moça achou aquilo muito estranho e perguntou quem eu era. Respondi que era o professor de Ballet do doutor, e que passei para lembrar que ele não poderia faltar à aula, porque iríamos experimentar nos alunos os novos collants e sapatilhas que eu trouxera de Porto Alegre, e que contava com o doutor em aula.

Apertando os lábios para evitar uma risada, saí dali e fui para a sala no fim do corredor, do escritório de engenharia. Lá trabalhava uma mocinha, que tinha um irmão de tamanho avantajado, e contei à ela a situação, e pedi que não me denunciasse. Ela então tomou a iniciativa de chamar o irmão,e juntos foram até à sala do doutor, e se apresentando, perguntaram se ela já havia localizado o doutor, porque o professor de Ballet deles estava na cidade, e eles não poderiam faltar. E eu voltei pra minha sala. Poucos minutos depois recebo uma ligação do doutor, perguntando se eu era o autor do trote. Depois de rir um bom bocado, ele disse que ela havia ligado para todos os lugares por onde ele passava e deixava o recado para que ele entrasse em contato com o tal professor de Ballet.

Trote número 1.1

Mesma situação aconteceu, num dia, em que fui, acompanhado de um vendedor de minha equipe, a uma fábrica de móveis, e o vendedor era bastante alto também. Lá nos deparamos com uma secretária nova, e pense no formigamento que me deu em ver uma secretária nova perguntando quem queria falar com sue chefe.

- Sou o professor de Ballet do fulano (o dono da fábrica, que era um sujeito bem encorpado, grande mesmo, e sues irmãos não eram muito menores, Maiores até, eu acho). Vim entregar o collant  que ele encomendou, e também a tiara com cristais e pérolas porque ele faria o papel do Cisne Negro, na peça Lago dos Cisnes.

A moça desatou a rir, e aí me "enfureci".

-"Por que você está rindo? Como você é preconceituosa. Só porque o sujeito é um armário de grande, acha que ele não tem direito de ser delicado? Por favor, assim que ele chegar, peça para contatar urgente comigo. Ele tem meu número! Este rapaz que está aqui comigo, parece um armário também, mas ele faz o cisne negro, que agora é seu chefe quem irá tomar o lugar dele"

Disse isso e saímos, segurando os frouxos de riso.

Depois do meio dia, fui ao centro da cidade, e lá encontrei os três irmãos, e mais alguns amigos, à porta do banco, e contei a história.

Malandros, de igual ou ainda piores que eu, o empresário chegou na fábrica, logo mais tarde, e ao chegar logo perguntou para a secretária:

- Meu professor de Ballet esteve aqui me procurando hoje?


Depois disso, toda vez que eu ia lá, ela nunca me oferecia cafezinho. Rancorosa!







Quanto deve Gramado ainda crescer? Será que é tão bom assim ser grande?

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Foto: Internet - Usina da Cultura

Um dos temas sugeridos por leitores, diz respeito ao crescimento de Gramado, e esta é uma história antiga já, que vem desde quando Gramado era ainda uma pequena aldeia, lá pelos anos 40, durante a Segunda Grande Guerra, em que, por visão empreendedora de um imigrante, outros empreendedores foram sensibilizados da necessidade e oportunidade de progresso no vilarejo. Os anos se passaram, e Gramado atravessou diversas fases em seu crescimento. Diversos motes (motivos, eixos temáticos) foram aparecendo, e cada vez mais, Gramado elevou-se à condição de brilho constante no cenário nacional, e hoje, internacional. E continua a crescer, mais e mais. Daí vem a pergunta: Quanto deve ainda Gramado crescer, nestes moldes atuais, e será que vale a pena crescer tanto e tão rápido? Vamos pensar juntos então.

Aqui vai o que pode parecer saudosismo, mas são apenas vivências, de um velho metido a escriba, que tomou gosto por pensar o seu livre pensar, e neste livre pensar, elucubra algumas utópicas paisagens que estão armazenadas em sua já bruxuleante memória, coisa de priscas eras, um pouco além do tempo do guaraná com rolha, do avião à lenha, que remonta sua infância e tenra juventude.

Para ilustrar, falemos agora, daquilo que não falamos na publicação anterior (veja aqui): Segurança! Vale dizer que esta palavra não existia como parte do Poder Público nos anos 70, e recordo que em 1975, se não me falha a memória, houve um crime de morte na cidade, quebrando um intervalo de 25 anos sem um único assassinato, sendo que haviam alguns suicídios, o que não se pode contar como índice de violência, e sim casos de depressão, que também era chamada de "Melancolia". A cidade cresceu, e o turismo foi tão redentor quanto predador, pois na minha parca (e não porca) leitura, o turismo deveria ser aquele movimento humano, onde o visitante conhecia costumes locais, e deles levava boas lembranças, ao passo que inverteu-se esta lógica, e foi o público local que absorveu o que havia de bom e também de nefasto na bolha luminescente do turismo, pois com este chegaram certos costumes que mudaram completamente o modo de viver do habitante local, do autóctone. Dou como exemplo o hábito de abrir o comércio nos fins de semana, antes dedicado apenas à família, ao lazer, e à religião. Fossem os sabatistas, uns poucos gatos-pingados naquele período, fossem as demais religiões, ou ou outro dia, eram exclusivos para este fim: repouso, alegria, confraternização. O turismo acabou com isso, pois ofereceu dinheiro, e muito dinheiro, em troca deste pequeno ajuste, considerando que eram nos fins de semana que o lazer dos turistas em subir a serra, era fazer compras nas poucas lojas e encomendar seus móveis sob medida, em raras marcenarias locais.

As casas, até então, modestas, e confortáveis, descortinam-se em nova exuberância, mas descobrem também, seus moradores,  que uma bela casa, na avenida principal, pode também tornar-se uma bela loja, primeiro na frente, e mais tarde, o andar térreo inteiro, até que, finalmente, a avenida principal não tinha mais casas, mas apenas lojas. Belíssimas e sofisticadas lojas. E não era mais apenas na avenida principal, mas nas ruas adjacentes, nos becos românticos, nos recônditos ocultos dos bosques, e um dia, um belo e ensolarado dia, Gramado torna-se cenário para as mais belas fotos, dos mais belos lugares do mundo. E nem demorou mil anos, como a encantadora Bellagio, no Lago de Como, ao norte da Itália, ou Lugano, na Suíça, e todas as demais do Velho Mundo. Isso aconteceu em pouco mais de cinquenta anos, na perfumada Gramado.

Um dia, seus moradores perceberam que não tinham mais vida própria, pois haviam se tornado reféns de seu próprio sucesso de bem servir, de sua hospitalidade e comida farta. Perceberam que não eram mais empregados, mas empregadores, e que seus carros eram mais novos, que havia mais e mais ruas asfaltadas, perceberam que o velho Cine Embaixador, passou a chamar-se Palácio dos Festivais, ostentando sua imponência ao Brasil, e acolhendo mais e mais visitantes a cada dia, a cada evento, a cada ano. O gramadense tornou-se uma máquina de hospitalidade. Sua rotina era servir, servir e servir. Então, o churrasquinho com uma pelada domingueira, e um chimarrão na casa dos parentes, deu lugar a encontros profissionais, em festas de aniversário organizadas por profissionais, e as quermesses de igreja e escolas, deram lugares a eventos regulamentados pelo profissionalismo de garçons, Mâitres, Recepcionistas belíssimas, cheirosas e bem vestidas. Então, a amizade ficou restrita a encontros nos bancos, no início da tarde, aos coquetéis de lançamento de alguma loja, ou aniversário da empresa, ou eventos sociais bem mais sofisticados nos clubes, ou nos hotéis, tanto fazia, pois ambos estavam preparados para suprir esta demanda já mais comercial do que social.



Foi aí que sobraram as crianças. Claro! Para as crianças, o melhor! Melhores escolas, melhores lojas, melhores calçados, melhores dos melhores intercâmbios, mas começou a faltar o melhor da vida: a Família! Os encontros de primos, as histórias dos avós, as receitas da família, os tio brincalhão, o primo safado,a prima vaidosa, começou a faltar humanidade, daquele tipo que só os lugares pequenos e simples podem proporcionar. Gramado enriqueceu, e claro, nem todos enriqueceram, pois com o enriquecimento de uma comunidade, há necessidade do crescimento, e o crescimento demanda mão de obra, e a mão de obra local já estava comprometida em crescimento próprio. Então, começa-se a buscar fora, serviços, produtos, mantimentos. E percebem os vendedores que seria um bom negócio montar filiais em Gramado, ou quem sabe levar suas matrizes, pelo marketing que a cidade proporcionava. E assim Gramado é o que é e o quanto é. Mas este não é o fim da reflexão.

O fim nunca vai chegar, enquanto se tratar de pessoas, e o Ser Humano, graças à D-s (Deus, mas como respeito meus irmãos judeus, o Santo Nome não é pronunciado, e em lugar de vogais, usa-se separação por apóstrofe ou hífen entre as vogais) é mutante, cada dia haverá novo direcionamento social, político, religioso e humanitário para ser interpretado pelos escribas desta Caverna de Platão. Assim, nesta livre leitura sobre o futuro que Gramado deve escolher, eu quis apenas demonstrar, em rápidas letras, como funciona a máquina do progresso, e que o mundo é um composto de vasos comunicantes, onde a água que sobra de um lado, falta de outro. Então, há que pesar-se se Gramado quer mesmo forçar a barra para um aeroporto no meio do vazio habitacional, para gerar ali novos núcleos urbanos, ou se quer um aeroporto em Canela, pela irmandade entre as duas cidades, mas que terá que suportar o gargalo perene do tráfego congestionado contumaz, ou se quer ampliar seus loteamentos populares, para buscar mais mão de obra, e consequentemente, mais votos, ou se quer redesenhar seu urbanismo, quebrando a rotina de quase um século, ou se quer multiplicar o números de acomodações para abocanhar mais e mais fatias do turismo nacional e estrangeiro, enfim, o que Gramado quer para seu cidadão? O que quer o velho que calejou as mãos na árdua jornada de construir um legado? Um asilo, para encontrar outros velhos saudosistas, porque suas famílias não tem mais tempo para ouvir suas repetidas lembranças? Será mesmo, que é tão bom assim ser uma grande cidade? Perguntemos aos parisienses, por que é que são tão ranzinzas e impacientes com os turistas? E por que é que abriram tanto suas fronteiras para mão de obra barata, que hoje são reféns de sua própria ambição?

Eu não sei a resposta, mas a resposta que sei, é que hoje moro em uma cidade tão pequena, tão pequena, e oro todos  dias para que eu tenha sido o último forasteiro a aqui amarrar meu burro, para que eu não sinta falta de mim, no dia em que não me reconhecer mais nas vitrines das lojas pelas quais passarei em meu vagar.









segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Largo da Carriére de Gramado - O Buraco Negro do Planalto




Um buraco negro, dizem os que entendem,, é uma concentração de energia tão grande, e de massa tão compacta, que captura até a luz que passa ali por perto, e não devolve nada ao Universo, além de não termos a menor ideia do que acontece lá dentro.

Pronto! Inicio esta reflexão com uma breve aula de astronomia, ciência da qual eu não entendo patavina, mas que sempre impressiona, quando falamos dos corpos celestes. Passa uma ideia de grandiosidade inalcançável.  Então, vamos falar de outro buraco obscuro, inútil, um vazio etéreo, perdido no topo de uma montanha (tá, é apenas um morro, mas "morro" não tem a mesma poesia emblemática que "montanha") no nobilíssimo bairro Planalto, em Gramado, nas cercanias (olha eu com mais sinônimos vernaculares insólitos)do não menos majestoso Lago negro.. Falo eu da "Carriére", à qual, e pela proximidade do Lago Negro, ouso denominar de "Buraco negro de Gramado.  Mas por que uma expressão tão pejorativo para descrever um lugar tão  valioso? Exatamente por isso mesmo: É um lugar valioso, um bem público, completamente vazio, que foi construído pelo pioneiro Leopoldo Rosenfeldt, como parte de um complexo imobiliário de lazer, acompanhado pelo Lago negro, e Lago Joaquina Rita Bier, além do urbanismo necessário para enriquecer seu loteamento, vendo na década de 1940-50, aos "veranistas", na maioria, porto-alegrenses, que deram origem ao ainda nobre Bairro Planalto, e mais tarde desmembrado, para Lago Negro, Ipê Amarelo, e outros.

A Carriére Hípica, ou Carriére, tem cerca de 14 traduções diferentes, mas a mais adequada aqui é a de "círculo", "espaço vazio", "arena circular", o que é exatamente isso. Um espaço vazio, construído como atrativo de lazer para os filhos das famílias mais abastadas, que passavam o veraneio inteiro em Gramado, e precisavam oferecer alternativas para que os jovens não se entediassem. A partir disso, e com o crescimento da cidade, por meio de seus atrativos turísticos, suas paisagens deslumbrantes, um clima saudável, receitado para tratamento de tuberculose, de uma culinária convidativa, e das novas casas construídas pelos veranistas, a Carriére Hípica tornou-se um atrativo complementar da cidade, onde eram realizados torneios com belíssimos alazões, ornamentados, cheios de obstáculos alegóricos, ornados de hortênsias, a flor símbolo de Gramado, desde aquele momento.

Ao longo dos anos seguintes, com a emancipação de Gramado, é também criada a "Festa das Hortênsias", em uma espécie de confraternização entre os habitantes locais, e os veranistas, que com o passar do tempo, foram permanecendo na cidade, tornaram-se cidadãos, e passaram a participar da vida cotidiana da cidade.

Durante a Festa das Hortênsias, haviam eventos que caracterizavam bem o evento, criando tradição, e atrativo, não só para a população local, quanto para todos os visitantes. Um destes atrativos era então, os torneios de saltos, na Carriére Hípica, que por sua formação topográfica, formava, naturalmente, um anfiteatro, uma arena, coroada por milhares de hortênsias azuis e brancas, exalando um perfume que faz recordar a infância de muitos que me leem agora. Era o cheiro das hortênsias em flor. Era o cheiro de Gramado.

Os anos correm depressa (Tempus Fugit, diziam os romanos), e Gramado agigantou-se com dinamismo, elegância, pujança, riqueza, novas belezas, nova arquitetura, novos moradores, no entorno deste espaço, que tornou-se quase um umbigo (aquele orifício que só teve utilidade por certo tempo, mas fica ali, assombrando e recolhendo flunfas, aquelas penugens que se acumulam neste outro buraquinho negro) de Gramado, porque, mesmo depois de não ter mais Festa das Hortênsias, nem provas de salto em obstáculos, passou a servir como um curral coletivo, onde alugadores de cavalos amealhavam uns tostões para "interar" o orçamento. Tornou-se, literalmente, um potreiro sem pasto, com chão batido e bosta de cavalo pisoteada e misturada à terra amarelada de seu chão. E tempos depois, nem isso era mais.

O Ex-Secretário Luciano Peccin, mandou construir um palco para pequenas apresentação, mas também este foi fazer companhia aos destroços do tempo. Hoje, a Carriére é um enigma à espera de respostas. Para entender melhor a questão, fui conversar com fontes confiáveis, acerca do destino daquele espaço, e ouvi coisas interessantes, desafios mesmo. Uma delas me informou que aquela região é uma APP (Área de Preservação permanente), o que inviabiliza certas edificações lá. Já outra fonte disse que há vizinhos no entorno, que qualificam o lugar como um "Jardim do Éden dos pássaros" (silogismo meu), e que qualquer outra forma de ocupação do lugar, desagradaria aos "irmãozinhos de bicos e penas" (mais um silogismo meu)., e que por esta razão, não querem que nada mude ali naquele lugar. Há um certo egoísmo nisso, pois o sujeito é dono do portão pra dentro, mas aquilo que é público (e a Carriére é pública, pertence ao povo de Gramado), deve ser decidido pelos que representam este público, a saber, Prefeito e vereadores. Resta então saber, o que deve ser feito para otimizar aquele espaço nobre, para franquear á toda a população, e também turistas, óbvio, considerando as seguintes condições:
1 - É uma área nobre, portanto todo investimento ali deve valorizar ainda mais o espaço, não apenas no equilíbrio estético, arquitetônico, e principalmente paisagístico, como também  no uso correto do ambiente onde se encontra;
2 - Está situada em uma APP (Área de Preservação Permanente), protegida por Lei Federal, que tem forte tendência de desencadear protestos tanto dentro, quanto fora de Gramado, considerando que em seu entorno, possivelmente habitam pessoas com relativa influência em meios de comunicação de relevância estadual e nacional, e que tudo o que precisam é de um motivo simples, para organizarem um levante "patriótico!, e até quem sabe, chamarem uma garotinha sueca para berrar a plenos pulmões que as autoridades "destruíram seus sonhos! Que direito tinham de mexer no barro fertilizado daquele espaço "santo", naquele portal de energias cósmicas, no receptáculo dos fluídos menstruais da "Mãe natureza", etc, etc e etc. Enfim, delicada a coisa, mas aí, vale lembrar que se a Amazônia é brasileira, e sim a Amazônia é brasileira, também Gramado, e cada cantinho, ou buraquinho negro ou colorido deste chão, é dos gramadenses, e cabe aos gramadenses todos, sem privilégios, decidirem o que deve ser feito lá.

E para que não se diga que eu não falei de flores, hortênsias e Amor-Perfeito, no caso, fui ouvir sugestões de meus queridos leitores e minhas perfumadas leitoras, e posso dizer com absoluta segurança que houve unanimidade nas ideias: Aquele espaço deve ser transformado em um belíssimo Anfiteatro, numa arena de espetáculos, e houve quem detalhasse ainda mais a ideia, sugerindo que seja feito um estacionamento subterrâneo, que permita liberar as circunvizinhanças e o tráfego, em dias de espetáculo. E sabem que eu tive que concordar com elas? Afinal, Gramado não tem um teatro, não tem uma casa apropriada para espetáculos, recitais, que tenha o formato e a acústica desenhadas para aquele objetivo. É verdade, Gramado tem o Palácio dos festivais e o teatro Elisabeth Rosenfeld, onde, o primeiro, não foi desenhado para recitais ou dramaturgia, apenas para projeção de filmes, e o segundo, é tão pequeno, que não comporta mais do que uma ou duas salas de aula ao mesmo tempo.

Este assunto não termina aqui. Penso que o Prefeito deva ser incomodado, assim como deve continuar sendo incomodado sobre o Hospital, sobre o lago dos Pinheiros, que além de um belo espaço, precisa ter suas águas limpas e potáveis, e que cuspam no caminho por onde passar mais um candidato, durante a campanha, que prometer despoluir o arroio do Bairro Piratini, e depois der de ombros à outros assuntos. Penso que agora começa a temporada de caça ao voto, mas acima de tudo, começa a temporada de caça aos desinformados, aos que não tem opinião formada, aos que não gostam de debater os temas relevantes de sua cidade, aos que se contentam com abraços e tapinhas nas costas, e palavras fáceis, e depois se conformam coma felicidade alheia, esquecendo que as promessas de campanha seriam para si próprio.

Você votou. Você vai voltar a votar. Então ao menos lembre que Gramado é a sua cidade, e que quem decide o que vai ser feito na Carriére é você. Ninguém mais.

Minha sugestão: Seja esmiuçado o conhecimento da legislação sobre o lugar e depois elaborado um concurso público para escolha de um projeto que sintetize Gramado em todo o seu esplendor, num dos lugares mais altos e mais belos, e que os milhões de visitantes anuais, passem por este portal e saibam que Gramado é cada dia mais Gramado, e que a beleza é apenas um dos muitos atributos desta cidade, deste município.









quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Gramado em Pensamentos - Para que servem os pobres?



Se eu pudesse definir, dentro do campo espiritual, quem são os pobres, diria que os pobres são o termômetro que define a humanidade divina que há em nós. Sei, no entanto que esta não é, de longe a melhor definição da pobreza, pelos padrões clássicos de interpretação da menos valia do Ser Humano em comparação com outro Ser Humano. Isso por si já determina que pobreza se encaixa no relativismo entre o que tem mais e o que tem menos, sendo que o que tem mais, terá sempre mais em relação ao que tem menos, e vice versa, e assim, começa minha primeira definição da pobreza: um mal necessário à interpretação de riqueza de quem tem mais, em relação ao que tem menos. Eis aqui a primeira importância da pobreza: regular o padrão de quantificação e estabelecimento gráfico sobre o quanto tem a mais o rico, e nunca o contrário. O rico então mede sua fortuna em proporção ao pobre. Eis a primeira necessidade e definição da importância da pobreza: Padronizar a riqueza. 


Um bom exemplo de que é o objeto de menos valor quem define o objeto de mais valor: a unidade monetária. Nenhuma moeda começa seu padrão por, digamos, $ 675,57. É impossível quantificar a riqueza ou a pobreza, se o parâmetro da moeda não for a unidade, "1". Este é o padrão então da fortuna do rico, porque parte da linha da pobreza para estabelecer a riqueza. Este é também, por excelência, O Número que Define D-s (Deus). D-s é UM (Echad). Outro modelo é a montanha, que para ser medida, precisa da planície, e até mesmo a profundidade de um vale, é medida com relação de seu rebaixamento ao nível do mar, o que é o ponto de equilíbrio entre a riqueza e a pobreza, e aqui chamaremos a depressão, como extrema miséria, suscetível à sofrer os reveses de uma possível inundação ou desmoronamento de parte da montanha. Este equilíbrio é o que propõem as ideologias socialista, onde, de um lado buscam elevar os padrões dos que estejam na extrema miséria, e para isso, rebaixam os que estejam na montanha, igualando à todos a um único nível. Não cabe aqui discutir as razões de um e de outro, o que talvez eu venha a fazer em outro momento. Aqui vou restringir-me  ao título desta análise: Gramado e seus caminhos - para que servem os pobres?


Se buscarmos nas Sagradas Escrituras informações acerca do que O Todo-Poderoso diz sobre os pobres, a uma simples leitura superficial, poderíamos encontrar uma dicotomia de duas teologias: Uma que eleva espiritualmente os pobre às camadas privilegiadas de bênçãos e benefícios (pleonasmo) espirituais, e de outro, encontraremos os grandes personagens extremamente prolíferos nas riquezas a quem chamamos de mundanas: ouro, prata, joias, rebanhos, trabalhadores (a quem a tradução arcaica insiste em chamar de escravos). Estas as definições de quem seriam, um e outro, ricos e pobres. Há, no entanto, a interpretação que inverte estes conceitos, a partir da leitura cristã, que favorece o conforto pela pobreza, construindo desta forma o clássico cristianismo medieval e até mesmo contemporâneo, que inverte os valores morais de um e de outro, colocando o pobre como preferencial, no reino de D-s, e o rico, como escroque e opressor do pobre, motivando o fiel à preferir a pobreza, com pão seco e paz, do que a abundância de carne, com contenda (Prov. 17:1). Ainda nesta inspiração, relatando sobre a pobreza, há na frase de Jesus, proferida no Sermão das Bem-Aventuranças (felicidade), o termo: "Pobres de Espírito", onde quase unanimemente erram sua interpretação, levando à falsa compreensão que "Pobres de Espírito" sejam pessoas ruins, enquanto é exatamente o contrário, significando" Pessoas dóceis, cordatas, de bom trato. Vê-se aqui então que ainda mais uma vez, a pobreza, isto é, a falta de soberba, é tratada como um aspecto positivo do caráter do Ser Humano.


Ao ser confrontado por Judas, o traidor, acerca do perfume valioso com o qual a mulher, aos prantos, lavara os pés de Jesus, e os secara com seus cabelos (algo que , para a cultura da época, simbolizava quase uma relação sexual), o Rabi assim definiu a situação: "Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me tereis (Jo 12:8). Aqui começo a reflexão acerca do rico e do pobre convivendo harmoniosamente na mesma sociedade, dividindo, em muitos casos, a mesma rua, e frequentando os mesmos lugares, sem constrangimento de um e de outro. Aqui começo a falar sobre o tema que deu título a esta reflexão.


A própria Torá (Lei de Moisés) estabelece as relações de cordialidade e mútuo suporte entre as duas classes de pessoas. Determina como o pobre deve portar-se diante do rico, e como o rico deve proteger o pobre em sua adversidade, e um e outro, como são iguais perante um justo juiz. 


O judaísmo tem uma visão um pouco mais esclarecedora acerca deste relacionamento, e o talmude (Tradição Oral, Jurisprudência rabínica sobre a Torá), onde estabelece as leis de Maasser (Dízimo) e Tsedacá (Justiça Social, erroneamente traduzido por "esmola"), e determina inclusive que uma das doze tribos de Israel, a Tribo de Levi, não receberia herança, e sua herança seria "O Senhor", isto é, seriam encarregados do serviço religioso, e de cuidarem da parte espiritual do povo. Recebiam, os Levitas, a décima parte de tudo o que ganhavam as outras onze tribos, e a despeito de não possuirem terras, os levitas eram mais ricos, e ao mesmo tempo mais pobres que as demais tribos, para que soubessem que sua riqueza não estaria naquilo que era seu, mas dependiam da riqueza dos demais. Eram os pobres que ensinavam humildade aos ricos, e recebiam sua paga pelos seus ensinamentos, promovendo a devoção contínua a´Criador.


Em um anacronismo, interpretamos a necessidade da existência dos pobres, para que os ricos não esqueçam de seu dever com outro Ser Humano, e se necessário, que enterneçam o coração pelo sofrimento alheio, uma vez que a pobreza tem alguns capítulos capazes de fazer esmorecer a dura cerviz dos mais abastados, seja pelo sentimento puro de generosidade, seja pelo medo de vir a encontrar-se na mesma situação, ou alguém a quem estimam, e correm, então, a abrir os bolsos, alguns com mais, outros com reservada generosidade, e é assim que a sociedade se confronta com seu espelho, e o espelho do pobre, por nada possuir, é sua consciência e bom nome, pois é a única coisa que vai permanecer depois da morte. Já o rico, sabendo que nem na morte poderá ser melhor que o pobre, e sendo consciente, trará a lume sua generosidade em atender aos necessitados.


E Gramado, tem o que com isso? Gramado é uma cidade peculiar. Não é, em definitivo, uma cidade pobre e nem tem na pobreza o seu espetáculo dantesco, como o tem tantas outras cidades não muito distantes. No entanto há certa quantidade de pobres em Gramado, assim como há uma generosa porção de pobres no País, e aqui acendo uma polêmica, categorizando a pobreza com um bem necessário á humanidade, assim como também à Gramado, e vejamos a razão desta afirmação.


As casas não se constroem sozinhas, Os banheiros não são auto-limpantes. Ainda não chegou-se ao auto-atendimento perfeito, ainda que o café da manhã nos hotéis, necessita de quem os sirva. As janelas, de quem as lave. As ruas, de quem as limpe. Os estragos, de quem os conserte. As fábricas, dos que nelas produzem (ok, quase tudo já vem da China, e os pobres de lá são problema deles..e solução nossa, mas mesmo assim, seja na China, no Egito, ou na Coreia do Norte, há pobres a nosso serviço, independente da distância em que se encontrem de nós.


Faço eu, aqui, apologia à pobreza? De jeito nenhum! Faço apenas uma reflexão sobre o equilíbrio das coisas, porque o rico precisa do pobre da mesma forma que pobres dependem dos ricos. Ricos são objetivos, mas pobres são criativos. Isso explica porque eu sempre pendi para a criatividade, a quem o rico chama de loucura, mas é apenas uma forma de desdenhar aquilo de que não foi dotado, a inteligência criativa. Pobre que não é criativo, inventivo, morra na casca, não prospera, não sobrevive. Os alimentos mais saborosos, são provenientes da miséria. E depois de testados e aprovados, os pratos criativos das cozinheiras pobres, em casas ricas, tais pratos recebem nomes sofisticados, e tornam-se iguarias nos banquetes entre ricos. Rico não é criativo, e nem precisa ser. Não precisa criar. Basta ter relacionamento à distância segura do pobre criativo, e comprar-lhe o feito. Saem os dois felizes com a troca. Assim, pobre e ricos, convivem de maneira salutar no mesmo espaço social, no mesmo coletivo. 


Gramado precisa de seus pobres. Na verdade, pobres são um bom negócio. às vezes se tornam objetos de negócios, de forma obscura, desumana, como os refugiados de países em colapso, cujos vizinhos não são muito melhores, mas que recebem verbas de outros países ricos para que estoquem os pobres confinados em acampamentos de refugiados, e fazem assim, um negócio bastante promissor. Isso acontece sempre e acontece muito. É um ótimo negócio para pequenas repúblicas que tem como vizinhas, ditaduras extremas, disputas tribais, acolherem em suas fronteis, milhares de refugiados, cobrando da ONU, e como supracitado já, de países europeus, para que mantenham estes seres de línguas e costumes estranhos, confinados nas jaulas em forma de barracas, cercadas de arame farpado, porque um pobre fora dali, são centenas de dólares por dia fora do tesouro nacional.


Gramado não tem refugiados, mas tem necessidades, Gramado tem ricos, remediados, e pobres, mas até onde chega ao meu conhecimento, não há miseráveis, paupérrimos, indigentes, mas até estes são necessários, úteis às causas sociais de ricos comprometidos em manter aquecida a chama da generosidade em si, e como assunto nas rodas sociais. O sofrimento alheio é um bom negócio, e se não rende dividendos em espécie, em cifrões, rende em ocupação para o vazio do tempo entre uma conferência de saldo e outra. Assim, Gramado, de pobre em pobre, gera riqueza, que não seria possível, sem os braços da pobreza que a edificam.


Gramado não tem pobres que justifiquem estado de calamidade, mas graças aos seus pobres, verbas Federais, e Estaduais, são alocadas para estruturas que acolham mais pobres. Gramado, e o resto do Brasil. Todos precisam de pobres nas suas receitas, pois muitos projetos apenas se justificam, graças a certeza de que mais pobres serão beneficiados. Tentem as autoridades (que contam com os pobres para serem eleitos) buscar verbas em Brasilia, e que no escopo de tais verbas, não sejam contemplados os menos favorecidos, para ver se ganham alguma coisa. Não ganham, Assim, pobres valem também dinheiro. Muito dinheiro. Digam as grandes marcas. Ricos não tomam Coca-Cola. Quem toma coca-cola é pobre. Em domingo. De litrão. Pobre não compra orgânico. Quem compra é rico e remediado, mas remediado é um pobre com dinheiro, nada mais. remediado é brega,tem mau gosto, e é medito a rico. Rico não anda de SUV. Quem anda de SUV é remediado e novo-rico que precisa ostentar que se não tem cultura, tem grana. E tem seus pobres para ostentar. Assim, pobre tem seu valor, e alguns tem preço. Bem baixo. e outros ainda, são medidos em custos. Mesmo assim, custos são convenções estatísticas, e pobres fazem parte destas convenções, pois quem determina se alguém é rico ou pobre, são os próprios pobres, que potencializam gráficos de tendências de mercado, de acordo com rendimentos e faixa etária, em avaliação de consumo e lançamento de produtos, Para pobres. E não há ricos escritores. Há escritores, que deixaram de ser pobres, pois quem faz análises entre pobres e ricos, é certamente um pobre.


No dia em que se acabarem os pobres, os primeiros que morrerão de inanição, serão os ricos. E neste paradigma, pobres e ricos devem e precisam coexistir, e este paradoxo de sua proximidade, valoriza um ao outro ainda mais, pois diante do rico o pobre é ainda mais pobre e o rico, fica mais rico ainda á medida em que se acotovela com o pobre. Voilá!






quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Velho, meu querido velho....



Envelhecer é um mistério. Um daqueles mistérios tão grandes, quanto o mistério de nascer, ou acordar. Nascer, porém, são compreensíveis, porque é onde se abrem as cortinas para o espetáculo da vida. Despertar, é onde há o medo e o mistério do dia que nos espera. Mas envelhecer não tem mais nada disso, não. Envelhecer é um conjunto de mistérios que se abraçam desesperadamente ao desconhecido para formularem suas esperanças e sublimarem seus medos.

Envelhecer é algo vergonhoso para a civilização moderna, ocidental ou oriental, isso já tanto faz, em nossos dias. Já não se envelhece mais como antigamente. Nosso envelhecer é visto de duas formas, e em tempos diferentes, de uma terceira forma. Na leitura antiga, a palavra "ancião" tinha certa reverência. Hoje, significa apenas "velho". E velho é descartável. Então ancião, é lixo.

Na cultura antiga, o idoso era visto com poderes espirituais notáveis, quase mágicos. Uma bênção proferida por um avô, era um decreto de prosperidade, de santidade. Um colóquio com o macróbio era sinal de sabedoria, de aprendizado, de reflexão. Hoje, o velho vale quanto pesa, ou melhor, quanto recebe de pensão. Um grande percentual de pessoas consegue suprir suas contas com a aposentadoria dos pais ou avós. E outra grande porção, administra os bens dos velhos, em parceria com o depósito de velhos, carinhosamente e gentilmente chamada de "Lar". Que lar, que nada. Lar é bem diferente disso. Lar é um lugar onde podem ser ouvidos gritos, choro, gargalhadas, queixas, elogios, gente insistindo na vez de ir ao banheiro, rezando, discutindo, aconselhando, negando conselhos. Isso é um lar. Então, até mesmo o significado de lar mudou. Mudou pra pior, é o que acho.

A beleza e a formosura da idade são guardadas nas gavetas do tempo. Antigas caixas de camisas ou sapatos, abarrotadas de fotografias. Excelente opção para sentir saudade, rir junto, ou emocionar-se, em tardes de chuva, visitando as lembranças dos instantâneos amarelados, e desbotados  pelo tempo. Beleza e formosura são raízes profundas, que dão vigor á árvore da existência, onde só o que se vê é o tronco, e no inverno, de muitas delas, a nudez do inverno, a casca grossa retorcida, as cicatrizes dos machados, e até de, talvez, uma marca antiga de um coração com duas iniciais dentro.

Formosura não diz respeito à imutabilidade da pele, mas ao frescor da alma. Vencemos o desprezo pelas pregas dos anos pelo perfume da vontade. Somos por demais, comparativos, e estamos sempre a comparar o presente, que somos, ao passado, que nos deixou. Por esta razão, perdemos tempo em lutar contra a velhice, em lugar de abraçá-la como algo que de fato nos representa. Não estamos envelhecendo. Estamos apenas caminhando dentro do nosso tempo.  Somos a civilização do consumo, e para consumo deve haver produção, e para que haja produção, são necessários braços fortes e pernas ágeis. Antigamente os velhos previam as chuvas e a estiagem. Hoje, o metabuscador resolveu tudo. Desaprendemos a fazer perguntas, porque antes mesmo de as formularmos, o sistema já nos apresenta opções de perguntas que nem mesmo sabíamos que poderiam ser feitas. Hoje as perguntas são mais ágeis que nossa capacidade de assimilação do enunciado das coisas. Nem mesmo sabem, muitas pessoas, o que é um enunciado.

Outro dia mesmo, fiz uma brincadeira em uma rede social, propondo um desafio, onde eu responderia a qualquer tipo de pergunta formulada, sem nenhuma exceção. Em poucas horas, respondi a várias perguntas. O meu espanto não era que eu sabia tais respostas, mas que as pessoas não tinham lido o enunciado de meu desafio: eu "responderia a qualquer pergunta formulada, por mais difícil que fosse". O que não entenderam é que eu não disse que sabia as respostas. Mas que responderia, e até um "essa eu não sei", seria uma resposta. Perdemos o enunciado da vida. perdemos a necessidade de fazer perguntas do modo correto, e muito menos de respondê-las, pois uma máquina nos precede nas respostas. Antes, eram os velhos quem respondiam as perguntas. Todas as perguntas. Hoje há mais velhos e menos perguntas a fazer.  Então, não somos nós que envelhecemos, mas a sociedade nos torna obsoletos pela falta de uso. A sociedade de nossa civilização binária, está completamente confusa, perdida, desamparada.

Não são apenas os velhos, os esquecidos (e que também se esquecem), mas os pequeninos, aqueles que choram, fazem birra, sujam fraldas, sujam roupas, as crianças, se alguém não lembra o que são estes espécimes. O Ser Humano inverteu os valores  e supriu de forma mais econômica e prática seus valores. Trocou pele por pelo. Passou a chamar cães e gatos de filhos, e filhos, se tornaram alunos. As crianças vão para as creches e aulas integrais, para serem educadas, em lugarem de serem instruídas, enquanto os pais vão para o trabalho, manicure, passeio com o animalzinho para que faça cocô e xixi nos jardins alheios. Lógico que manicure, empresa e compromissos são necessários, e isso não os torna irresponsáveis.

Quando éramos crianças (nós, os velhos), nossas mães e avós levavam um lanchinho na bolsa, porque sabiam que em algum momento, a fome ia atacar valendo. A fome continuou, e hoje basta um cartão de débito ou crédito, e um tablet. Assim, envelhecemos na obsolescência da vida, e então chega o medo. Ninguém quer envelhecer (ninguém, exceto eu), porque a velhice pressupõe a lembrança da morte. Eu penso diferente disso. Minha velhice pressupõe o perfume da eternidade.

Na sociedade moderna, a ciência avançou na cura e prolongamento da vida, mas não deu conta de ocupar a mente de quem teve a vida esticada pelos anos, e assim, este vazio existencial das pessoas. Esta falta de vontade de largar tudo e cair pela vizinhança ajudando a carpir uns lotes. Temos alimentos mais saudáveis, apesar da gritaria contra os agrotóxicos e transgênicos. Vivemos esta geração, dos transgênicos e dos transgêneros, porque, pelo primeiro, ou se muda a genética dos alimentos, para que sejam de gosto ruim para as pragas, ou se come apenas orgânicos, caros, inacessíveis, e insuficientes, ou morremos de fome. Ou carcinomas, que atacam pessoas (na maioria) acima de meio século, e isso não era assim antes. Não. Não era mesmo. As pessoas morriam de diarreia, verminose, difteria ou varíola aos quarenta anos, se tivessem a sorte de escaparem das doenças da infância. Mesmo assim, naquele tempo parecia ser melhor. Não era. Apenas éramos crianças, jovens, e a vida é sempre melhor quando temos sonhos para o futuro.

Os velhos ultrapassaram correndo pelo futuro, e quando perceberam, sua felicidade voltou a permanecer no passado, na infância, como um sonho em engenharia reversa. Eu mesmo, me pego sonhando e pensando, como seria bom se aqueles sonhos já sonhados tivessem dado certo. Aí sonhamos sobre o que faríamos com os sonhos que deram certo. Sonhar olhando pra trás. Quem nunca?

Eu gosto de envelhecer, e também gosto de pensar na eternidade, coisa que de certo modo, para ser atingida, temos que passar naquela portinha apertadinha, onde a obesidade do desânimo nos impede de atravessar. Mas temos que chegar lá, então não tenho medo de morrer, pois todos os meus medos acontecem apenas durante o tempo em que eu estiver vivo: sofrimento, dor, angústia, fome, etc. Estes medos são reais, mas o descanso solene, esse não. Mesmo porque, estou envelhecendo rápido demais. Não é opinião minha, mas dos espelhos que debocham de mim quando os enfrento. Morremos sempre que deixamos de sonhar, mesmo que seja pelos nossos sonhos que não chegaram a acontecer. Há quem morra em vida e passa anos nessa condição. Há quem viva esperando a morte chegar, com a boca escancarada sem nenhum dente mais. E há quem faça empréstimo da vida que corre em turbilhão, pela gritaria dos netos e palavreado chulo dos jovens, ou pelo prazer em delongas ao olhar o verde da mata, ou estasiar-se diante de um broto que rasga a casca dura da árvore, atento a cada detalhe, como se fosse o último de tantos que perdemos, porque o tempo não nos deu tempo, e avida nos tomou da vida, enquanto perdidos em nossas reminiscências, envelhecemos, a não poder mais.






804 - O Número do Senhor X (Decifre isso)

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