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Foto: Internet - Usina da Cultura
Um dos temas sugeridos por leitores, diz respeito ao crescimento de Gramado, e esta é uma história antiga já, que vem desde quando Gramado era ainda uma pequena aldeia, lá pelos anos 40, durante a Segunda Grande Guerra, em que, por visão empreendedora de um imigrante, outros empreendedores foram sensibilizados da necessidade e oportunidade de progresso no vilarejo. Os anos se passaram, e Gramado atravessou diversas fases em seu crescimento. Diversos motes (motivos, eixos temáticos) foram aparecendo, e cada vez mais, Gramado elevou-se à condição de brilho constante no cenário nacional, e hoje, internacional. E continua a crescer, mais e mais. Daí vem a pergunta: Quanto deve ainda Gramado crescer, nestes moldes atuais, e será que vale a pena crescer tanto e tão rápido? Vamos pensar juntos então.
Aqui vai o que pode parecer saudosismo, mas são apenas vivências, de um velho metido a escriba, que tomou gosto por pensar o seu livre pensar, e neste livre pensar, elucubra algumas utópicas paisagens que estão armazenadas em sua já bruxuleante memória, coisa de priscas eras, um pouco além do tempo do guaraná com rolha, do avião à lenha, que remonta sua infância e tenra juventude.
Para ilustrar, falemos agora, daquilo que não falamos na publicação anterior (veja aqui): Segurança! Vale dizer que esta palavra não existia como parte do Poder Público nos anos 70, e recordo que em 1975, se não me falha a memória, houve um crime de morte na cidade, quebrando um intervalo de 25 anos sem um único assassinato, sendo que haviam alguns suicídios, o que não se pode contar como índice de violência, e sim casos de depressão, que também era chamada de "Melancolia". A cidade cresceu, e o turismo foi tão redentor quanto predador, pois na minha parca (e não porca) leitura, o turismo deveria ser aquele movimento humano, onde o visitante conhecia costumes locais, e deles levava boas lembranças, ao passo que inverteu-se esta lógica, e foi o público local que absorveu o que havia de bom e também de nefasto na bolha luminescente do turismo, pois com este chegaram certos costumes que mudaram completamente o modo de viver do habitante local, do autóctone. Dou como exemplo o hábito de abrir o comércio nos fins de semana, antes dedicado apenas à família, ao lazer, e à religião. Fossem os sabatistas, uns poucos gatos-pingados naquele período, fossem as demais religiões, ou ou outro dia, eram exclusivos para este fim: repouso, alegria, confraternização. O turismo acabou com isso, pois ofereceu dinheiro, e muito dinheiro, em troca deste pequeno ajuste, considerando que eram nos fins de semana que o lazer dos turistas em subir a serra, era fazer compras nas poucas lojas e encomendar seus móveis sob medida, em raras marcenarias locais.
As casas, até então, modestas, e confortáveis, descortinam-se em nova exuberância, mas descobrem também, seus moradores, que uma bela casa, na avenida principal, pode também tornar-se uma bela loja, primeiro na frente, e mais tarde, o andar térreo inteiro, até que, finalmente, a avenida principal não tinha mais casas, mas apenas lojas. Belíssimas e sofisticadas lojas. E não era mais apenas na avenida principal, mas nas ruas adjacentes, nos becos românticos, nos recônditos ocultos dos bosques, e um dia, um belo e ensolarado dia, Gramado torna-se cenário para as mais belas fotos, dos mais belos lugares do mundo. E nem demorou mil anos, como a encantadora Bellagio, no Lago de Como, ao norte da Itália, ou Lugano, na Suíça, e todas as demais do Velho Mundo. Isso aconteceu em pouco mais de cinquenta anos, na perfumada Gramado.
Um dia, seus moradores perceberam que não tinham mais vida própria, pois haviam se tornado reféns de seu próprio sucesso de bem servir, de sua hospitalidade e comida farta. Perceberam que não eram mais empregados, mas empregadores, e que seus carros eram mais novos, que havia mais e mais ruas asfaltadas, perceberam que o velho Cine Embaixador, passou a chamar-se Palácio dos Festivais, ostentando sua imponência ao Brasil, e acolhendo mais e mais visitantes a cada dia, a cada evento, a cada ano. O gramadense tornou-se uma máquina de hospitalidade. Sua rotina era servir, servir e servir. Então, o churrasquinho com uma pelada domingueira, e um chimarrão na casa dos parentes, deu lugar a encontros profissionais, em festas de aniversário organizadas por profissionais, e as quermesses de igreja e escolas, deram lugares a eventos regulamentados pelo profissionalismo de garçons, Mâitres, Recepcionistas belíssimas, cheirosas e bem vestidas. Então, a amizade ficou restrita a encontros nos bancos, no início da tarde, aos coquetéis de lançamento de alguma loja, ou aniversário da empresa, ou eventos sociais bem mais sofisticados nos clubes, ou nos hotéis, tanto fazia, pois ambos estavam preparados para suprir esta demanda já mais comercial do que social.

Foi aí que sobraram as crianças. Claro! Para as crianças, o melhor! Melhores escolas, melhores lojas, melhores calçados, melhores dos melhores intercâmbios, mas começou a faltar o melhor da vida: a Família! Os encontros de primos, as histórias dos avós, as receitas da família, os tio brincalhão, o primo safado,a prima vaidosa, começou a faltar humanidade, daquele tipo que só os lugares pequenos e simples podem proporcionar. Gramado enriqueceu, e claro, nem todos enriqueceram, pois com o enriquecimento de uma comunidade, há necessidade do crescimento, e o crescimento demanda mão de obra, e a mão de obra local já estava comprometida em crescimento próprio. Então, começa-se a buscar fora, serviços, produtos, mantimentos. E percebem os vendedores que seria um bom negócio montar filiais em Gramado, ou quem sabe levar suas matrizes, pelo marketing que a cidade proporcionava. E assim Gramado é o que é e o quanto é. Mas este não é o fim da reflexão.
O fim nunca vai chegar, enquanto se tratar de pessoas, e o Ser Humano, graças à D-s (Deus, mas como respeito meus irmãos judeus, o Santo Nome não é pronunciado, e em lugar de vogais, usa-se separação por apóstrofe ou hífen entre as vogais) é mutante, cada dia haverá novo direcionamento social, político, religioso e humanitário para ser interpretado pelos escribas desta Caverna de Platão. Assim, nesta livre leitura sobre o futuro que Gramado deve escolher, eu quis apenas demonstrar, em rápidas letras, como funciona a máquina do progresso, e que o mundo é um composto de vasos comunicantes, onde a água que sobra de um lado, falta de outro. Então, há que pesar-se se Gramado quer mesmo forçar a barra para um aeroporto no meio do vazio habitacional, para gerar ali novos núcleos urbanos, ou se quer um aeroporto em Canela, pela irmandade entre as duas cidades, mas que terá que suportar o gargalo perene do tráfego congestionado contumaz, ou se quer ampliar seus loteamentos populares, para buscar mais mão de obra, e consequentemente, mais votos, ou se quer redesenhar seu urbanismo, quebrando a rotina de quase um século, ou se quer multiplicar o números de acomodações para abocanhar mais e mais fatias do turismo nacional e estrangeiro, enfim, o que Gramado quer para seu cidadão? O que quer o velho que calejou as mãos na árdua jornada de construir um legado? Um asilo, para encontrar outros velhos saudosistas, porque suas famílias não tem mais tempo para ouvir suas repetidas lembranças? Será mesmo, que é tão bom assim ser uma grande cidade? Perguntemos aos parisienses, por que é que são tão ranzinzas e impacientes com os turistas? E por que é que abriram tanto suas fronteiras para mão de obra barata, que hoje são reféns de sua própria ambição?
Eu não sei a resposta, mas a resposta que sei, é que hoje moro em uma cidade tão pequena, tão pequena, e oro todos dias para que eu tenha sido o último forasteiro a aqui amarrar meu burro, para que eu não sinta falta de mim, no dia em que não me reconhecer mais nas vitrines das lojas pelas quais passarei em meu vagar.
Foto: Internet - Usina da Cultura
Um dos temas sugeridos por leitores, diz respeito ao crescimento de Gramado, e esta é uma história antiga já, que vem desde quando Gramado era ainda uma pequena aldeia, lá pelos anos 40, durante a Segunda Grande Guerra, em que, por visão empreendedora de um imigrante, outros empreendedores foram sensibilizados da necessidade e oportunidade de progresso no vilarejo. Os anos se passaram, e Gramado atravessou diversas fases em seu crescimento. Diversos motes (motivos, eixos temáticos) foram aparecendo, e cada vez mais, Gramado elevou-se à condição de brilho constante no cenário nacional, e hoje, internacional. E continua a crescer, mais e mais. Daí vem a pergunta: Quanto deve ainda Gramado crescer, nestes moldes atuais, e será que vale a pena crescer tanto e tão rápido? Vamos pensar juntos então.
Aqui vai o que pode parecer saudosismo, mas são apenas vivências, de um velho metido a escriba, que tomou gosto por pensar o seu livre pensar, e neste livre pensar, elucubra algumas utópicas paisagens que estão armazenadas em sua já bruxuleante memória, coisa de priscas eras, um pouco além do tempo do guaraná com rolha, do avião à lenha, que remonta sua infância e tenra juventude.
Para ilustrar, falemos agora, daquilo que não falamos na publicação anterior (veja aqui): Segurança! Vale dizer que esta palavra não existia como parte do Poder Público nos anos 70, e recordo que em 1975, se não me falha a memória, houve um crime de morte na cidade, quebrando um intervalo de 25 anos sem um único assassinato, sendo que haviam alguns suicídios, o que não se pode contar como índice de violência, e sim casos de depressão, que também era chamada de "Melancolia". A cidade cresceu, e o turismo foi tão redentor quanto predador, pois na minha parca (e não porca) leitura, o turismo deveria ser aquele movimento humano, onde o visitante conhecia costumes locais, e deles levava boas lembranças, ao passo que inverteu-se esta lógica, e foi o público local que absorveu o que havia de bom e também de nefasto na bolha luminescente do turismo, pois com este chegaram certos costumes que mudaram completamente o modo de viver do habitante local, do autóctone. Dou como exemplo o hábito de abrir o comércio nos fins de semana, antes dedicado apenas à família, ao lazer, e à religião. Fossem os sabatistas, uns poucos gatos-pingados naquele período, fossem as demais religiões, ou ou outro dia, eram exclusivos para este fim: repouso, alegria, confraternização. O turismo acabou com isso, pois ofereceu dinheiro, e muito dinheiro, em troca deste pequeno ajuste, considerando que eram nos fins de semana que o lazer dos turistas em subir a serra, era fazer compras nas poucas lojas e encomendar seus móveis sob medida, em raras marcenarias locais.
As casas, até então, modestas, e confortáveis, descortinam-se em nova exuberância, mas descobrem também, seus moradores, que uma bela casa, na avenida principal, pode também tornar-se uma bela loja, primeiro na frente, e mais tarde, o andar térreo inteiro, até que, finalmente, a avenida principal não tinha mais casas, mas apenas lojas. Belíssimas e sofisticadas lojas. E não era mais apenas na avenida principal, mas nas ruas adjacentes, nos becos românticos, nos recônditos ocultos dos bosques, e um dia, um belo e ensolarado dia, Gramado torna-se cenário para as mais belas fotos, dos mais belos lugares do mundo. E nem demorou mil anos, como a encantadora Bellagio, no Lago de Como, ao norte da Itália, ou Lugano, na Suíça, e todas as demais do Velho Mundo. Isso aconteceu em pouco mais de cinquenta anos, na perfumada Gramado.
Um dia, seus moradores perceberam que não tinham mais vida própria, pois haviam se tornado reféns de seu próprio sucesso de bem servir, de sua hospitalidade e comida farta. Perceberam que não eram mais empregados, mas empregadores, e que seus carros eram mais novos, que havia mais e mais ruas asfaltadas, perceberam que o velho Cine Embaixador, passou a chamar-se Palácio dos Festivais, ostentando sua imponência ao Brasil, e acolhendo mais e mais visitantes a cada dia, a cada evento, a cada ano. O gramadense tornou-se uma máquina de hospitalidade. Sua rotina era servir, servir e servir. Então, o churrasquinho com uma pelada domingueira, e um chimarrão na casa dos parentes, deu lugar a encontros profissionais, em festas de aniversário organizadas por profissionais, e as quermesses de igreja e escolas, deram lugares a eventos regulamentados pelo profissionalismo de garçons, Mâitres, Recepcionistas belíssimas, cheirosas e bem vestidas. Então, a amizade ficou restrita a encontros nos bancos, no início da tarde, aos coquetéis de lançamento de alguma loja, ou aniversário da empresa, ou eventos sociais bem mais sofisticados nos clubes, ou nos hotéis, tanto fazia, pois ambos estavam preparados para suprir esta demanda já mais comercial do que social.

Foi aí que sobraram as crianças. Claro! Para as crianças, o melhor! Melhores escolas, melhores lojas, melhores calçados, melhores dos melhores intercâmbios, mas começou a faltar o melhor da vida: a Família! Os encontros de primos, as histórias dos avós, as receitas da família, os tio brincalhão, o primo safado,a prima vaidosa, começou a faltar humanidade, daquele tipo que só os lugares pequenos e simples podem proporcionar. Gramado enriqueceu, e claro, nem todos enriqueceram, pois com o enriquecimento de uma comunidade, há necessidade do crescimento, e o crescimento demanda mão de obra, e a mão de obra local já estava comprometida em crescimento próprio. Então, começa-se a buscar fora, serviços, produtos, mantimentos. E percebem os vendedores que seria um bom negócio montar filiais em Gramado, ou quem sabe levar suas matrizes, pelo marketing que a cidade proporcionava. E assim Gramado é o que é e o quanto é. Mas este não é o fim da reflexão.
O fim nunca vai chegar, enquanto se tratar de pessoas, e o Ser Humano, graças à D-s (Deus, mas como respeito meus irmãos judeus, o Santo Nome não é pronunciado, e em lugar de vogais, usa-se separação por apóstrofe ou hífen entre as vogais) é mutante, cada dia haverá novo direcionamento social, político, religioso e humanitário para ser interpretado pelos escribas desta Caverna de Platão. Assim, nesta livre leitura sobre o futuro que Gramado deve escolher, eu quis apenas demonstrar, em rápidas letras, como funciona a máquina do progresso, e que o mundo é um composto de vasos comunicantes, onde a água que sobra de um lado, falta de outro. Então, há que pesar-se se Gramado quer mesmo forçar a barra para um aeroporto no meio do vazio habitacional, para gerar ali novos núcleos urbanos, ou se quer um aeroporto em Canela, pela irmandade entre as duas cidades, mas que terá que suportar o gargalo perene do tráfego congestionado contumaz, ou se quer ampliar seus loteamentos populares, para buscar mais mão de obra, e consequentemente, mais votos, ou se quer redesenhar seu urbanismo, quebrando a rotina de quase um século, ou se quer multiplicar o números de acomodações para abocanhar mais e mais fatias do turismo nacional e estrangeiro, enfim, o que Gramado quer para seu cidadão? O que quer o velho que calejou as mãos na árdua jornada de construir um legado? Um asilo, para encontrar outros velhos saudosistas, porque suas famílias não tem mais tempo para ouvir suas repetidas lembranças? Será mesmo, que é tão bom assim ser uma grande cidade? Perguntemos aos parisienses, por que é que são tão ranzinzas e impacientes com os turistas? E por que é que abriram tanto suas fronteiras para mão de obra barata, que hoje são reféns de sua própria ambição?
Eu não sei a resposta, mas a resposta que sei, é que hoje moro em uma cidade tão pequena, tão pequena, e oro todos dias para que eu tenha sido o último forasteiro a aqui amarrar meu burro, para que eu não sinta falta de mim, no dia em que não me reconhecer mais nas vitrines das lojas pelas quais passarei em meu vagar.
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