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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Largo da Carriére de Gramado - O Buraco Negro do Planalto




Um buraco negro, dizem os que entendem,, é uma concentração de energia tão grande, e de massa tão compacta, que captura até a luz que passa ali por perto, e não devolve nada ao Universo, além de não termos a menor ideia do que acontece lá dentro.

Pronto! Inicio esta reflexão com uma breve aula de astronomia, ciência da qual eu não entendo patavina, mas que sempre impressiona, quando falamos dos corpos celestes. Passa uma ideia de grandiosidade inalcançável.  Então, vamos falar de outro buraco obscuro, inútil, um vazio etéreo, perdido no topo de uma montanha (tá, é apenas um morro, mas "morro" não tem a mesma poesia emblemática que "montanha") no nobilíssimo bairro Planalto, em Gramado, nas cercanias (olha eu com mais sinônimos vernaculares insólitos)do não menos majestoso Lago negro.. Falo eu da "Carriére", à qual, e pela proximidade do Lago Negro, ouso denominar de "Buraco negro de Gramado.  Mas por que uma expressão tão pejorativo para descrever um lugar tão  valioso? Exatamente por isso mesmo: É um lugar valioso, um bem público, completamente vazio, que foi construído pelo pioneiro Leopoldo Rosenfeldt, como parte de um complexo imobiliário de lazer, acompanhado pelo Lago negro, e Lago Joaquina Rita Bier, além do urbanismo necessário para enriquecer seu loteamento, vendo na década de 1940-50, aos "veranistas", na maioria, porto-alegrenses, que deram origem ao ainda nobre Bairro Planalto, e mais tarde desmembrado, para Lago Negro, Ipê Amarelo, e outros.

A Carriére Hípica, ou Carriére, tem cerca de 14 traduções diferentes, mas a mais adequada aqui é a de "círculo", "espaço vazio", "arena circular", o que é exatamente isso. Um espaço vazio, construído como atrativo de lazer para os filhos das famílias mais abastadas, que passavam o veraneio inteiro em Gramado, e precisavam oferecer alternativas para que os jovens não se entediassem. A partir disso, e com o crescimento da cidade, por meio de seus atrativos turísticos, suas paisagens deslumbrantes, um clima saudável, receitado para tratamento de tuberculose, de uma culinária convidativa, e das novas casas construídas pelos veranistas, a Carriére Hípica tornou-se um atrativo complementar da cidade, onde eram realizados torneios com belíssimos alazões, ornamentados, cheios de obstáculos alegóricos, ornados de hortênsias, a flor símbolo de Gramado, desde aquele momento.

Ao longo dos anos seguintes, com a emancipação de Gramado, é também criada a "Festa das Hortênsias", em uma espécie de confraternização entre os habitantes locais, e os veranistas, que com o passar do tempo, foram permanecendo na cidade, tornaram-se cidadãos, e passaram a participar da vida cotidiana da cidade.

Durante a Festa das Hortênsias, haviam eventos que caracterizavam bem o evento, criando tradição, e atrativo, não só para a população local, quanto para todos os visitantes. Um destes atrativos era então, os torneios de saltos, na Carriére Hípica, que por sua formação topográfica, formava, naturalmente, um anfiteatro, uma arena, coroada por milhares de hortênsias azuis e brancas, exalando um perfume que faz recordar a infância de muitos que me leem agora. Era o cheiro das hortênsias em flor. Era o cheiro de Gramado.

Os anos correm depressa (Tempus Fugit, diziam os romanos), e Gramado agigantou-se com dinamismo, elegância, pujança, riqueza, novas belezas, nova arquitetura, novos moradores, no entorno deste espaço, que tornou-se quase um umbigo (aquele orifício que só teve utilidade por certo tempo, mas fica ali, assombrando e recolhendo flunfas, aquelas penugens que se acumulam neste outro buraquinho negro) de Gramado, porque, mesmo depois de não ter mais Festa das Hortênsias, nem provas de salto em obstáculos, passou a servir como um curral coletivo, onde alugadores de cavalos amealhavam uns tostões para "interar" o orçamento. Tornou-se, literalmente, um potreiro sem pasto, com chão batido e bosta de cavalo pisoteada e misturada à terra amarelada de seu chão. E tempos depois, nem isso era mais.

O Ex-Secretário Luciano Peccin, mandou construir um palco para pequenas apresentação, mas também este foi fazer companhia aos destroços do tempo. Hoje, a Carriére é um enigma à espera de respostas. Para entender melhor a questão, fui conversar com fontes confiáveis, acerca do destino daquele espaço, e ouvi coisas interessantes, desafios mesmo. Uma delas me informou que aquela região é uma APP (Área de Preservação permanente), o que inviabiliza certas edificações lá. Já outra fonte disse que há vizinhos no entorno, que qualificam o lugar como um "Jardim do Éden dos pássaros" (silogismo meu), e que qualquer outra forma de ocupação do lugar, desagradaria aos "irmãozinhos de bicos e penas" (mais um silogismo meu)., e que por esta razão, não querem que nada mude ali naquele lugar. Há um certo egoísmo nisso, pois o sujeito é dono do portão pra dentro, mas aquilo que é público (e a Carriére é pública, pertence ao povo de Gramado), deve ser decidido pelos que representam este público, a saber, Prefeito e vereadores. Resta então saber, o que deve ser feito para otimizar aquele espaço nobre, para franquear á toda a população, e também turistas, óbvio, considerando as seguintes condições:
1 - É uma área nobre, portanto todo investimento ali deve valorizar ainda mais o espaço, não apenas no equilíbrio estético, arquitetônico, e principalmente paisagístico, como também  no uso correto do ambiente onde se encontra;
2 - Está situada em uma APP (Área de Preservação Permanente), protegida por Lei Federal, que tem forte tendência de desencadear protestos tanto dentro, quanto fora de Gramado, considerando que em seu entorno, possivelmente habitam pessoas com relativa influência em meios de comunicação de relevância estadual e nacional, e que tudo o que precisam é de um motivo simples, para organizarem um levante "patriótico!, e até quem sabe, chamarem uma garotinha sueca para berrar a plenos pulmões que as autoridades "destruíram seus sonhos! Que direito tinham de mexer no barro fertilizado daquele espaço "santo", naquele portal de energias cósmicas, no receptáculo dos fluídos menstruais da "Mãe natureza", etc, etc e etc. Enfim, delicada a coisa, mas aí, vale lembrar que se a Amazônia é brasileira, e sim a Amazônia é brasileira, também Gramado, e cada cantinho, ou buraquinho negro ou colorido deste chão, é dos gramadenses, e cabe aos gramadenses todos, sem privilégios, decidirem o que deve ser feito lá.

E para que não se diga que eu não falei de flores, hortênsias e Amor-Perfeito, no caso, fui ouvir sugestões de meus queridos leitores e minhas perfumadas leitoras, e posso dizer com absoluta segurança que houve unanimidade nas ideias: Aquele espaço deve ser transformado em um belíssimo Anfiteatro, numa arena de espetáculos, e houve quem detalhasse ainda mais a ideia, sugerindo que seja feito um estacionamento subterrâneo, que permita liberar as circunvizinhanças e o tráfego, em dias de espetáculo. E sabem que eu tive que concordar com elas? Afinal, Gramado não tem um teatro, não tem uma casa apropriada para espetáculos, recitais, que tenha o formato e a acústica desenhadas para aquele objetivo. É verdade, Gramado tem o Palácio dos festivais e o teatro Elisabeth Rosenfeld, onde, o primeiro, não foi desenhado para recitais ou dramaturgia, apenas para projeção de filmes, e o segundo, é tão pequeno, que não comporta mais do que uma ou duas salas de aula ao mesmo tempo.

Este assunto não termina aqui. Penso que o Prefeito deva ser incomodado, assim como deve continuar sendo incomodado sobre o Hospital, sobre o lago dos Pinheiros, que além de um belo espaço, precisa ter suas águas limpas e potáveis, e que cuspam no caminho por onde passar mais um candidato, durante a campanha, que prometer despoluir o arroio do Bairro Piratini, e depois der de ombros à outros assuntos. Penso que agora começa a temporada de caça ao voto, mas acima de tudo, começa a temporada de caça aos desinformados, aos que não tem opinião formada, aos que não gostam de debater os temas relevantes de sua cidade, aos que se contentam com abraços e tapinhas nas costas, e palavras fáceis, e depois se conformam coma felicidade alheia, esquecendo que as promessas de campanha seriam para si próprio.

Você votou. Você vai voltar a votar. Então ao menos lembre que Gramado é a sua cidade, e que quem decide o que vai ser feito na Carriére é você. Ninguém mais.

Minha sugestão: Seja esmiuçado o conhecimento da legislação sobre o lugar e depois elaborado um concurso público para escolha de um projeto que sintetize Gramado em todo o seu esplendor, num dos lugares mais altos e mais belos, e que os milhões de visitantes anuais, passem por este portal e saibam que Gramado é cada dia mais Gramado, e que a beleza é apenas um dos muitos atributos desta cidade, deste município.









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