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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Ética na Política - Fazer campanha sem assumir que está em campanha, é ético?

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Imagem: Internet
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Quando você corre atrás da honra, a honra foge de você. Quando você foge da honra, é a honra quem corre atrás de você. (Talmude)

A mentira é algo que foge  das boas práticas da política, isso é unânime, mas que todo político mente, é um conceito aceito também por todas as pessoas. Nesta leitura, gostaria de demonstrar que ambas as verdades podem ser incompletas, e isso torna-as necessariamente outra mentira. Assim, verdade e mentira podem ser a mesma face em um espelho. Uma é real, enquanto a outra é ilusória, no entanto, está ali, pode ser vista, fotografada, comparada. Ainda assim, não é real, e portanto, não pode ser verdade.

Toda mentira precisa ter um componente de verdade para tornar-se crível, caso contrário, entra na categoria do absurdo, e absurdo, todos concordam comigo, é linguagem da loucura, do fantástico, do extraordinariamente inútil para a composição da história.

Toda história tem uma mescla de verdade com mentira, porque história é o relato de fatos, e relato é algo abstrato, que necessita de um agente, um "cavalo", um portador das palavras e do testemunho, para que outros também tomem conhecimento do fato.

Já os fatos, ainda que verdadeiros na sua origem, são falsificados pela memória traiçoeira, ou pelo senso teatral de quem os conta. Assim, dizer que chove, pode ser interpretado de muitas maneiras, pois pode ser que chova no lugar onde você está, mas é estio em outro lugar. Pode ser que chova muito ou pouco, mas muito ou pouco em relação a que? Percebe-se que até mesmo para existir, a verdade necessita de suporte, de testemunhas, e de quem a interprete também ao ouvir. Como na anedota de dois distraídos, ao celular, onde um caminhava com uma vara de pescar às costas, e outro o encontra e pergunta:

- Vais pescar?
- Não, respondeu o outro. Vou pescar!
- Ah, disse o primeiro: Pensei que você ia pescar!


Podemos falsear a verdade não em contá-la com distorção, mas em ouvir mal e a partir deste ruído na comunicação, levar adiante a parte distorcida que ouvimos. Eis então, um breve ensaio sobre o que é verdade e como a mentira se desenrola, com todos as ferramentas da verdade.

Minha sogra tinha uma vaquinha. Gostava muito e a tratava bem, com muito carinho. E todos os dias, ia à estrebaria para ordenhar a vaquinha. Usava para esta tarefa, uma roupa simples, de uso da roça. E a vaquinha liberava sua cota diária de leite. No dia, porém, que minha sogra ia sair, arrumava-se para sair, como fazem geralmente as pessoas do interior. Uma roupa para o trabalho, e outra para passeio. Assim, antes de sair, já perfumada e arrumada, minha sogra passava antes, na estrebaria, para a ordenha do dia. Naquele dia, porém, a vaca não dava leite, ou dava pouco, porque percebia que naquele dia ela estava sendo traída, abandonada. Depois de entender isso, minha sogra tornou-se mentirosa. Passou a ir ao estábulo com suas roupas velhas e suadas, e só depois, retornava à casa, e vestia-se para passeio.

Muitos políticos tratam seus eleitores como vaquinhas ciumentas, depressivas, com medo de abandono. Vestem roupas velhas e surradas, com cheiro de povo (aí do palhaço que interpretar errado isso, pois falo do cheiro do suor do trabalho, da fadiga, das dores). E muitos eleitores apaixonados, tornam-se surdos diante da evidência dos tambores e das fanfarras que seus políticos desfilam, sem perceberem que são objetos de artifícios marqueteiros para acostumarem o povo à rotina burlesca de um crescente para as campanhas eleitorais.

Não se enganem. Nada é de graça. Nem mesmo apresentações festivas de feitos, como se sem defeitos o fossem, alardeados pelos arautos de homens públicos, que dão pão e circo, por antecedência, visando anestesiar o livre arbítrio de sua grei, enquanto estabelece em torno de si um território indevassável, para perpetuidade no poder.

O poder é uma inebriante bebida, que não apenas entorpece a alma, como desfigura o caráter, transfigurando o bom, e sobretudo o mau que habita dentro de cada um, e utilizando os recursos do conhecimento científico sobre a mente humana, espargindo iscas que brilham, luzes que cintilam, para que continuem, como a vaquinha dengosa, que não dá leite para quem não pode confiar.

O eleitor continua sendo o mesmo, e suas decisões, ao longo da construção da democracia, tem, pouco a pouco, trocado o voto do coração pela escolha da razão. Eis a tarefa destes ensaios. Despertar a reflexão sobre a vida que deve ser vivida com o melhor, apesar daqueles que vestem roupas surradas para se passarem por pobres, enquanto os verdadeiros pobres desejam com intenso ardor, comprarem roupas perfumadas, para esquecer da pobreza.

Daí novamente a pergunta: É ético chamar o cidadão de irmão, enquanto deseja-se chamá-lo na realidade é de eleitor? Não seria mais verdadeiro assumir que está em campanha e que tudo o que mostra de sua vida e biografia, nada mais é do uma forma de sensibilizar o eleitor para que o escolha, quando o pleito chegar? Esta é uma pergunta retórica, cuja resposta está na ponta da língua de todos, mas que ainda assim, deveria levar-nos à reflexão do uso da mentira para vender uma verdade? Reflita e faça outros refletirem sobre isso. Estamos construindo uma história. Que personagem seremos, quando os historiadores contarem sobre a nossa biografia? Contarão eles que fomos "vaquinhas de presépio, e ainda assim, ciumentas"? Ou que fomos a geração que mudou a história pela força das ações e pensamentos ornamentados apenas com o manto da ética?






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